ESPINAFRE
Iolanda e Fernanda odiavam verduras e qualquer outro verde vivo ou não, soturnas criaturas, com pés de asfalto, concretas moradias e noitadas de teatro experimental, daqueles com performances escuras, esfumaçadas, enlameadas, 'cult' e das quais nada entendiam, mas, sentiam-se fazendo parte de um núcleo desafiador e transgressor. Se misturavam aos atores em suas comemorações cheias de um linguagem 'papo cabeça', meio sem nexo, da qual nada entendiam e não lhes acrescentava absolutamente nada. Seu vazios se preenchiam de outros vazios, que juntos formavam um enorme vazio repleto. Coisa doida para ser explicada.
Iolanda e Fernanda moravam juntas num pequeno loft, cada uma com seu quarto sem portas, cores sóbrias e decoração espartana. Iolanda escrevia colunas para o jornal da cidade, sobre economia e Fernanda era revisora de textos jurídicos. Naquele lugar, tudo estava sempre cartesianamente no mesmo lugar.
Num dia chuvoso, nublado de céu pálido, lindo e perfeito ao gosto delas, alguém tocou a campanhia pedindo emprestado uma xícara de açúcar. Fernanda abriu a porta e com um estrondo tornou a fechá-la. Iolanda correu para perto da amiga que sem conseguir esboçar uma palavra, só apontava para a porta, Iolanda reabriu a porta e estancou diante de uma moça morena clara de cabelos cacheados, trajando um vestido florido lindo de fundo verde bandeira, com sorriso largo obviamente espantando por ter recebido uma portada na cara, mas, parecia não ter se importado com isso e repetiu o pedido do açúcar. Iolanda pediu desculpas por Fernanda, cedeu o açúcar e despachou a moça.
As soturnas amigas se entreolhavam e a única coisa que não saia de suas mentes, era aquele verde bandeira do florido vestido da vizinha. A forma como aquela cor mexeu com elas era no mínimo surreal. A última coluna do jornal de Iolanda foi reescrita umas três vezes, os dois textos que Fernanda revisava se empilharam quase que sozinhos sobre outros cinco, ela estava sem foco. Ambas só viam em qualquer coisa o bendito vestido verde bandeira florido.
Dois dias ôcos e opacos depois a indefectível campanhia toca outra vez, o silêncio dentro do apartamento era de um mausoléu e assim permaneceu por semanas, até que o admnistrador do imóvel mandou arrombar a porta e as amigas foram encontradas abraçadas no chão já em adiantado estado de putrefação, com um estranho limo esverdeado, parecendo espinafre amassado, cobrindo seus olhos. Já a vizinha, morena clara do vestido florido de fundo verde bandeira, não precisou mais devolver a xícara de açúcar.
Iolanda e Fernanda odiavam verduras e qualquer outro verde vivo ou não, soturnas criaturas, com pés de asfalto, concretas moradias e noitadas de teatro experimental, daqueles com performances escuras, esfumaçadas, enlameadas, 'cult' e das quais nada entendiam, mas, sentiam-se fazendo parte de um núcleo desafiador e transgressor. Se misturavam aos atores em suas comemorações cheias de um linguagem 'papo cabeça', meio sem nexo, da qual nada entendiam e não lhes acrescentava absolutamente nada. Seu vazios se preenchiam de outros vazios, que juntos formavam um enorme vazio repleto. Coisa doida para ser explicada.
Iolanda e Fernanda moravam juntas num pequeno loft, cada uma com seu quarto sem portas, cores sóbrias e decoração espartana. Iolanda escrevia colunas para o jornal da cidade, sobre economia e Fernanda era revisora de textos jurídicos. Naquele lugar, tudo estava sempre cartesianamente no mesmo lugar.
Num dia chuvoso, nublado de céu pálido, lindo e perfeito ao gosto delas, alguém tocou a campanhia pedindo emprestado uma xícara de açúcar. Fernanda abriu a porta e com um estrondo tornou a fechá-la. Iolanda correu para perto da amiga que sem conseguir esboçar uma palavra, só apontava para a porta, Iolanda reabriu a porta e estancou diante de uma moça morena clara de cabelos cacheados, trajando um vestido florido lindo de fundo verde bandeira, com sorriso largo obviamente espantando por ter recebido uma portada na cara, mas, parecia não ter se importado com isso e repetiu o pedido do açúcar. Iolanda pediu desculpas por Fernanda, cedeu o açúcar e despachou a moça.
As soturnas amigas se entreolhavam e a única coisa que não saia de suas mentes, era aquele verde bandeira do florido vestido da vizinha. A forma como aquela cor mexeu com elas era no mínimo surreal. A última coluna do jornal de Iolanda foi reescrita umas três vezes, os dois textos que Fernanda revisava se empilharam quase que sozinhos sobre outros cinco, ela estava sem foco. Ambas só viam em qualquer coisa o bendito vestido verde bandeira florido.
Dois dias ôcos e opacos depois a indefectível campanhia toca outra vez, o silêncio dentro do apartamento era de um mausoléu e assim permaneceu por semanas, até que o admnistrador do imóvel mandou arrombar a porta e as amigas foram encontradas abraçadas no chão já em adiantado estado de putrefação, com um estranho limo esverdeado, parecendo espinafre amassado, cobrindo seus olhos. Já a vizinha, morena clara do vestido florido de fundo verde bandeira, não precisou mais devolver a xícara de açúcar.