CONSUMIÇÃO
Meus dias passo, divinal imagem,
contemplando os teus olhos da janela,
como um fiel devoto, ajoelhado,
a luminosidade de uma vela.
No azul do teu olhar minh´alma encontra
um céu inteiro para se gozar,
porém bem cedo - se ele em mim repousa,
já vai sem ter me convidado a entrar...
Mas estranho... vejo hoje que os teus olhos
parecem úmidos de amargo pranto...
quem roubou a cor viva de tua pele,
dando-te às faces alvadio manto?
Qual vento que, insensível, soprou forte,
a luz minando que te dava vida?
E quem fez com que as lágrimas caíssem
como ceras de vela derretida?
Ah, imagem que adoro, fosse o vento,
que o teu corpo circunda livremente,
não mataria a chama de teus olhos
e nem motivaria a dor plangente...
Seria como a brisa que os cabelos
sem pressa sopraria, lhes beijando...
como uma vaga preguiçosa de ar,
viveria em teus lábios suspirando...