FRAGMENTOS E CISMARES 18
[PELA VITRINA]
Fases ou faces?
Acontece de a vida estar na vitrina e nós a espiarmos através do vidro, ansiarmos por ela, apontá-la.
Entretanto a loja não abre, não se pode nem entrar nem comprar nem se tem dinheiro suficiente para tal.
Barreira. Transparente, mas em enreda.
Olhos e nariz encostam no vidro e apenas olham, apreciam, cobiçam... A boca, também quase colada nele, deixa uma mancha embaçada, o vapor que veio de dentro...
Tentava uma palavra, talvez? Um sinal de interação com a paisagem guardada dentro? De lá? De cá? Da mente? Do útero?...
Estendem-se os braços, que longe não alcançam... Não se tem como transpor a fronteira... deixar de ser estrangeira... alcançar um sonho.
Flerte. Quase súplica... Estar por dentro da caixa de vidro, ser parte do cenário, algum dos objetos, um manequim, ter um preço, um valor, despertar interesse, ter uma utilidade, uma função. Ser comprada!
Mas estou do lado de fora e só espreito a vida...
"As vitrines são vitrines
Sonhos guardados perdidos
Em claros cofres de vidro."
(Gilberto Gil)
imagem: FlickR