UM BELO E TRANSITIVO SONHO
Por uma afeição sincera e por uma simples e rara elegância, eu me permito descrever o sonho que se levantou do meu inconsciente para apresentar a ti, novamente, as minhas incoercíveis razões de amor.
Eis o sonho!
As tuas mãos como pétalas voltaram a me afagar essa noite e, os teus lábios umedecidos de rubro batom, me beijaram suavemente transbordando volúpia.
Anestesiado pela embriaguez do sono, ainda pude imaginar e sentir o vestígio do calor do teu corpo junto ao meu.
Desesperado e sôfrego, de súbito, me desperto ainda sem compreender os teus noturnos e suaves afagos.
O teu sorriso branco e gostoso me magnetizava oniricamente, transportando-me magistralmente para a mansidão dos teus olhos verdes, serenos e misteriosamente sofridos.
A tua voz era líquida e ressoava dentro desse sonho, como se fosse dentro de uma gruta de pedra em ouro.
Nesse momento eu pressenti o teu medo, a tua fome, a tua sina e a tua desesperança.
Tu me atormentavas e me cobravas torturando-me como um louco súcubo, num sonho incompreensível e cheio de agonia.
Havia nesse campo onírico um pássaro de prata que pretendia te arrebatar de mim, havia também rosas vermelhas que invejavam a tua beleza.
Famélicas, as rosas rasgavam as tuas brancas carnes, descobrindo os teus brancos ossos.
Torturado pela agonia ou pelo visionário sonho vivido, eu declamava para ti os seguintes versos extremos:
Meu pássaro de ouro, eu já não sei mais viver sem o teu doce amor.
Tu és o meu pássaro ardente.
Tu és o meu pedaço bom que havia perdido.
Eu quero estar sempre contigo e beber a esmeralda fugidia dos teus olhos, e descansar para sempre nas sombras das tuas eternas sobrancelhas.
Tu és o meu sonho, porque pensar em ti já é um sonho.
Sonho que falta pouco para chegar a nossa realidade de sonhos.
Sonho que das tuas desventuras do passado, ainda existe uma grande pátria de amor para ser comungada.
Tenho consciência que estou sonhando, mas eu prometo que ao sair desse sonho, eu vou me desagravar contigo.