Mulher do saco
Carregava a mulher uma trouxa de umas cinco crianças, não dava pra ter certeza olhando assim de longe, elas se mexiam pouco e pareciam ter muitas mãos por baixo do pano velho que as envolvia; sobre a cabeça como se fossem peças de roupa e como roupa ali socadas, embaladas, talvez assim há muito tempo e quem saberá o motivo... a mulher nem expressão tinha, parecia que sequer carregava coisa viva; às vezes um gemido de dor, provavelmente um pé incômodo entre as costelas, ou um dedo no olho, uma pancada na boca do estômago... mas no saco as crianças estavam seguras de tanta coisa! De olhar inimigo, de repreensão, mesmo quando ali, reprimidas; estavam seguras dos sorrisos contínuos e branquinhos que mordiam bonecos de plástico de todas as cores; bonecos que pareciam gente! Provavelmente aqueles bonecos tinham o que?! cerca de três refeições por dia... em louças limpinhas de plástico rosa, verde, azul, tanta variedade! E por que não roupas?! Roupa de tira, roupa de tecido mole, pano grosso! Roupa de toda sorte! E por que não direitos?! Direito ao copo e ao conteúdo dele, direito à mordida e ao que se corta nela, direito ao pote - de sua tampa aberta - e das mãos limpas se enchendo nele, se derramando na boca, se aliviando na água e se acomodando nos bolsos.