quando acorda...
Gato quando acorda é no sobressalto, porque dorme em qualquer lugar, parece se assusta à toa e logo procura um canto pra se aninhar, você deixa a porta aberta então eu entro. Me enrosco nas tuas pernas, nos pêlos de tuas pernas fazendo um oito deitado, voltas e mais voltas até achar aquela posição que se procura na cama quando se vai dormir.
Na verdade, pareço verme a se revolver nos vincos da noite, no veio das horas. O que faço? Fico mexendo no escuro... com sombras, sonhos, segredos, e feito criança brinco de origami, dobrando e desdobrando o tempo.
Hoje, quando a noite caía, caí junto quando virou o olho dentro da pálpebra, quando virou a tela, a Terra. A noite veio caindo dentro dos olhos, o corpo é todo um crepúsculo lento que vai caindo dentro de tudo, do mundo, do tempo, ou se fechando como cortinas aveludadas avermelhadas depois de um espetáculo.
Outro espetáculo, sentir-se caindo num abismo e não fazer nada, só se deixar cair dentro da própria escuridão. E eu, vendo tudo isso do lado de dentro como se estivesse fora, platéia no palco.