Então.. e eu não te senti
... Então o dia veio: sorrateiro e implacável, como se eu quisesse que a noite parasse só porque eu não te senti. E esta dor foi tão pior que as maiores... Tão pior que as outras... Porque foi dor sorrateira, dessas que dão rasteiras antes mesmo que se possa imaginar qualquer reação contrária. Foi uma dor dessas que já se sabe que existe, mas vai-se esperando doer... vai-se deixando ela ir.. até que chegue e nos asfixie. E uma noite inteira me custou tantas mágoas, tantas conjecturas sem ao menos estar você por perto, pra me contradizer. Pensei o que eu podia, dentro do meu coração dolorido por fatos e conclusões precipitadas. Amei um pedaço de você...
A noite veio como quem apunhala um cego. Veio como quem diz que é fato e prova que é mesmo fato. Apenas é .... Porque ela é a noite. E com sua negrura de agouros maus se impõe, apenas...
Quis não te amar nem pedaço. Quis esquecer que um dia... ou que te amo, ainda. Quis não querer, porque é tão calmo o meu gostar.. mas ao mesmo tempo tão aflito e não convicto; das tuas palavras ditas em meio aos nossos dissabores.
As palavras se disseram por elas mesmas. Não preguei os olhos naquela noite, na expectativa de que tudo mudasse dentro de mim. Mas aquela raiva não deu a trégua que podia. Ou que devia. Agora eu era uma noiva que descia de cargo... E a noite veio.. e eu não te senti.
Acho que nem haveria despedida. Nem adeus, nem por Deus, nem aceno de mão. Apenas uma dor insensível e descomedida... Cada um se sentindo menos e menos ainda.