Difícil...

Difícil conjugar fundo e figura, sonho e realidade, claro-escuro, as partes num todo harmônico.

Difícil viver no lume da lâmina, no veio do horizonte, onde tudo se perde, onde tudo escapa e escurece cortando ao meio, atingindo o centro. Difícil recompor fragmentos espalhados na areia, rastros desfeitos pelo vento, pelo tempo, pela distância.

Difícil achar sentido, reter algo, melhor seria nem entender, nem pensar!? Difícil buscar entender o incompreensível e a pergunta inútil rebatendo no miolo: estamos aqui pra quê?

Pra que isso? sofrer de ser assim sem sentido? Digo a mim num tom irônico, divertido. De tentar o que o braço não alcança, não abraça...?

Difícil estar volta e meia, nas voltas com as estações e no fim delas, estar nas quinas do mundo, nos vértices dos olhos, difícil viver agarrado ao nada, vagalumeando noites sem lua.

Difícil a realidade assim cruinha sem nem uma dose de ilusão.

Melhor falar da realidade disfarçada de sonho. Mas quem não sofre, quem não se dilui, se desilude ao ver o cajueiro de antes, na realidade de agora e a realidade dele agora. O Realismo é estático, e a realidade não parece, mas é dinâmica. Difícil dar conta de tudo, de si mesmo. Difícil ser, gente!

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 26/04/2008
Reeditado em 26/04/2008
Código do texto: T962729