NOITE DE ANO NOVO, um poema para Maria Olímpia Alves de Melo
Desceu a ladeira, o corpo magrinho sendo levado, empurrado.
Sentia-se inutilmente livre e desobediente, na realidade daquela rua estreita e escura. Era uma moça de vinte anos, sem direção. Nem sonhos.
A vida a empurrava ladeira abaixo. Seguia ao contrário das moças especiais.
Das moças noivas de mãozinhas delicadas.
Comprara um vestido branco para usar naquela noite de Ano Novo.
Olhara-se no espelho comparando seu rosto com o rosto das moças de mãozinhas delicadas e casamentos luxuosos. Filhas de alguém.
Perguntou ao espelho porque ela era tão livre. O espelho a olhou em seu longo silêncio e mudez.
Um moleque de bicicleta lhe disse qualquer coisa lá no fim da ladeira.
Moleque feio. Perdido na noite iluminada do reveillon.
A vida lhe deu um moleque feio.
Uma corja de molequinhos lombriguentos.
Um punhado de menininhas feias, perdidas na noite de Ano Novo.