Dama da noite

Toda vez que te vejo Dama da noite, reluzente a ofuscar o brilho das estrelas, lembro da velha choupana perdida na campina, rodeada por paredões de rochas e pela relva exuberante.

Lá, onde não se ouve nada além do canto dos pássaros ou do coaxar dos sapos à beira da lagoa no entardecer, uma parte de mim está enraizada, nutrindo minha mente e meu espírito, dando-me forças para suportar a realidade que enverga os ombros.

Ó formosa Dama! Quantas e quantas noites me fizeste companhia, tu que, regendo a orquestra noturna, convidavas os vaga-lumes a prestarem um colorido único ao teu espetáculo diuturno.

Jamais esquecerei a sensação indescritível do vento tocando minha face, lá no alto das rochas: eu, de braços abertos, e tu, a projetar minha sombra na imensidão escura sob meus pés.

Formosa Dama, teus reflexos prateados ainda correm intensos em minhas veias. Mesmo que holofotes ofusquem teu brilho e que a arquitetura grosseira da cidade prejudique a tua contemplação, sei que velas o meu sono.

Noite ainda chegará em que poderemos nos reencontrar a sós sobre a relva. Contar-te-ei todas as minhas angústias, meus desejos, e tenho a certeza de que iluminarás o meu caminho.

Enquanto isso, rogo a ti que não esqueças da noite, pois temo a escuridão...