A Descoberta

Chega uma hora que você pára e se pergunta: e agora? Você não é mais uma criança, mas também não se sente maduro o suficiente para enfrentar o mundo lá fora. O tempo é inimigo, e quanto mais você o vigia, numa sua distração para poder aprisioná-lo, mais ele corre, satírico, apontando para o momento derradeiro. O momento da libertação! Mas por que o teme? Não esperou por ele a sua vida inteira?

Para onde ir? O que fazer? Como fazer? A porta está se abrindo. Um novo mundo está surgindo. Ele lhe espera!

Você sempre quis este momento, mas não está preparado. Vê as pessoas a sua volta cruzando a porta, alcançando o novo mundo. Você se desespera! Por que para eles é tão fácil? A sua mente ferve incessantemente. – Chega! Amanhã eu resolvo.

Não. O amanhã já chegou.

Então você pára. Respira fundo e começa a pensar. Algumas idéias vêm a sua cabeça. Várias idéias surgem. Mas você se sente como uma ave que, aprisionada em um quarto, avista o céu azul, voa no ímpeto de alcançá-lo, mas bate na vidraça da janela. Tenta mais uma vez, mas pára na vidraça. Ela não entende por que, vendo o céu azul a sua frente, não pode alcançá-lo.

Aperta em seu peito uma sensação de tempo perdido, desperdiçado. Poderia ter lido mais, chorado mais, amado mais... Mas tudo isso agora já não importa, pois a porta se abriu. Não há como adiar, não tem como voltar atrás. A vida lhe puxa para seu seio, e não quer saber de choramingos.

Cale-se! Ninguém pode lhe ajudar. É o seu momento. Agora, é com você!

Você resolve enfrentar. Mas quem? A vida, o mundo? Não, você mesmo. E que descoberta maravilhosa! Você é seu próprio obstáculo.

Então você vence a si mesmo. E aquela ave percebe que a janela está aberta, sempre esteve: bater na vidraça era um insistente erro de percepção. Então ela voa, voa em busca do azul infinito...