Entrelinhas, sebentendidos e fatos.
- "É preciso esquecer pra poder lembrar.." (Fernando Pessoa)
Jogou-se no sofá...
sentiu a pele roçar-lhe o osso, o cheiro invadir os tímpanos e os pedaços de medo fatiando a boca.
Não deixou de pensar nele desde o início daquela ligação ao fim dos comentários. Aquele homem jamais seria apenas uma peça do quebra-cabeças de sua vida.
Aquele homem jamais seria, porque o imperfeito não traduzia o que sentiam.
Buscou nas paredes pré moldadas em seu peito subsídios pra não deixar que os turbilhões de sentimentos voltassem e a enganassem. Lembrou-se de toda a sua irracionalidade, seu instinto ferido, sua loucura por versos e por aquele homem que tanto a fazia versar... O homem eternamente do passado e do presente.
Deixou cair uma lágrima ressabiada, ardida, instintiva.
Olhou-se como quem faz um experimento. Não quis saber dos depois, ou dos antes. Fez o que lhe deu na telha naquele momento sagrado, dias depois de ouvir - À queima - roupa - que ele ainda a amava. Não quis sentir novas esperanças perdidas, mas ligou. A mesma voz rouca de dias antes. O mesmo "oi" estendido quando descobria que era ela. O mesmo de há sete anos.
Dizem que os casamentos falidos que duram mais de um ano se rasgam aos sete.Os nossos relacionamentos se rasgavam sempre, embora soubéssemos que viver distantes sempre foi uma tarefa estúpida e dificílima. Aos sete anos, restaram muitas cinzas, lágrimas e ferimentos. Sabíamos disso, mas a vontade de saber, de ouvir, de dar risadas juntos sempre nos impelia ao telefone. E deste, às visitas. E das investidas, as voltas.
As palavras surgiam como versos desbotados no sol, observando os sussurros dele. Os poemas, proferidos dos pós preteridos de dor e pensamentos insistentes.
Ele veio. Veio como quem retorna ao lar de uma viagem longa e cansativa. E agora.. A geografia, os anos afastados, os muros internos e todos os amores bem falidos depois dos "nós" e dos finais consecutivos. Éramos sempre pessoas diferentes, apesar de ou por causa de? O tempo.. implacável, inegável e presente. Nos traços, nos dedos ágeis, nas mãos entrelaçadas.
Os poetas...! Evocados para suprir as dores e os anseios verdadeiros de quem ama os versos. Os poetas, os deuses e os pedaços de sentimentos, fatiados em linhas obtusas de poemas sem rima específica.
Deixou-se cair em braços nunca dantes navegados nele. Deixou-se cair nas insanidades que memoriavam os amores perdidos por eles tantas vezes, e tão certamente futuramente também esfarolados pelo tempo, pelo desgaste, pelo próprio amor latente.
Deixou-se cair pelo sono, pela saudade e especialmente pela indefinição daqueles presságios. Fechou os olhos e acabou por dizer:"te amo..."
sentiu-se piegas e divinamente romântica. Ele estava mais de volta que das outras vezes.