BATATINHA DA PRAIA
Neste perambular sonambúlico, piso areias molhadas de espumas brancas das ondas que vem comigo brincar, como gangorra de água. Desperto apenas com os sons estridentes das gaivotas que insistem em me acompanhar. O mar é tudo. Infância, juventude, liberdade, pedaços de solidão. Acho que tenho uma ligação cármica com o mar, desde menino. Gostava de me enrolar nas tranças da batatinha da praia, planta rasteira capaz de sobreviver na areia seca, pintando o branco de verde. Hoje vejo a batatinha como uma heroína em eterna batalha com o vento nordeste, na sua luta em fixar as dunas. Em minha vã filosofia penso no que acontece quando ela cresce esparramada ao sol brilhante do verão ou na chuva fria do inverno. E apesar das pisadas e destruição desenfreada do crescimento urbano, ela continua a evoluir e ocupar o seu espaço, para que outras crianças, como eu, possam brincar com seus cabelos verdes de clorofila.
06/03/2008