DOSSIÊ - SEXTA PARTE.
Carinho de minha vida, retorno ao compromisso de deixar a ti as narrações de teu desenvolvimento. Recordações essas que, não grafadas, seriam prazerosamente tragadas pelo Papa-tudo, o Sr. Tempo.
Retornei pelo marcante fato de teres já conquistado teus lindos três anininhos. Passam os dias e segues, ainda mais, prazenteiro. A bem de toda verdade andas um bocado teimoso.
E às vezes me pergunto a quem saíste, porque choras por tudo!
Realiza a situação: Faz poucos dias, choravas por algo que não me lembro, então, tentando livrar meus ouvidos de tuas lamurias disse a ti que, a cada dia que passava, tu estavas ficando ainda mais chorão. Simplesmente, como por encanto se abriu uma lacuna no tempo – Paraste de chorar, por uns segundo, e me conteste a frase dizendo-me: “E você tá ficando velha”. Hilária foi a minha admiração, não há como negar a originalidade de tua tão espontânea e prematura comparação - É quem diz o que quer ouve o que não deseja!
Estamos um pouco mais separados, agora -, assim é a vida Sementinha a distancia é assim como o medo, necessário se faz enfrentá-la -. Fico feliz que sejas assim de tão forte, já nem choras quando nos despedimos.
No decurso a saudade!
Não obstante tudo se apaga e voltamos a ser um para o outro quando nos reencontramos.
Sabes, meu querido, as barreiras que separam os que de verdade se amam são absolutamente ilusórias, pois são os elos do espírito que facultam a proximidade das almas afins, assim é que te sinto pertinho de mim quando estamos na realidade a quilômetros de distância – Fico tranqüila por ter te confiado a mãos cuidadosas quão amorosas. Sendo através desses abnegados seres que tenho sabido de tuas criativas peripécias cotidianas, ou seja, do teu desabrochar infantil.
Lindo é quando respondes quantos anos já tens ao que com um largo sorriso contestas: “Ganhei três anininhos”.
Encanta-me essa tua maneira tão própria de resposta!
Fazes jus, por Divino que és!
Presenteia-nos Deus com a vida e a cada ano de vida nos vai dotando de talentos. Competindo-nos sejam eles multiplicados -, porquanto, na prestação de contas “dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que pareça ter”.
Faço, melhor dito meu lindo, deixo esse registro primeiro para que lá naquele tempo chamado Futuro consigas afugentar de ti a preguiça e o medo diante das do deveres que te forem impostos; segundo, porque saíste do aconchego das Tias da Creche fazendo-te parte agora de uma outra comunidade. Conquanto, podes ainda contar com calor materno das professoras -, pois bem sei que andas tirando cochilos, em seus regaços, o que me deixa feliz que tenhas a teu favor anjos amigos que amorosamente te acolhem.
A cada situação e em cada sitio devemos nos situar, isto é estaremos sujeitos às suas regras onde se desfruta dos direitos, assim como das obrigações.
Ontem minha Sementinha de Gente, a ti foi dada a tua primeira obrigação; a trouxeste em teu caderno amarelo de capa dura o teu 1º Para Casa – tarefa escolar que deverá ser apresentada hoje para a tia da pré-escola. Estamos no 25º do mês de março de 2008.
Tem sem dúvidas tudo para ser prosaico esses registros que ora deixo para a tua apreciação futura, não fosse a poesia pura do momento em que, com toda a tua admiração e encanto sentaste à escrivaninha improvisada para colorir a folha xerografada recheada de círculos pontilhados, uns grandes outros miúdos – Dizia o enunciado da tarefa: “Cubra as bolas de gude que Pedro espalhou”.
Seduziram-te as canetas hidrográficas e as várias tonalidades dos lápis de cores.
_”Tudo meu, mamãe?”
Para afugentar a tua dispersão e estimular a tua vontade de continuar a tarefa a cada circulo que colorias palmas como elogio.
E quando por ventura eu deixava passar, o teu alerta a mim:
_ “Bate palma, mamãe”.
E como não bater palmas ao teu empenho!
Oriento-te a mão sobre os tracejados desenhos, te fazendo reconhecer os limites das figuras, no cumprimento dos teus primeiros deveres – Hoje Para Casa. Amanhã meu Serelepe, Para Sociedade.
Parabéns!!!!
Meu pequeno Grande Aprendiz.
PS. Tudo deixa de ser vulgar quando, ainda que, prosaico, abrigar em si verdades que de belas, harmonizam-se, compondo maravilhosa poesia.
Constituindo-se a Vida, cada uma, em particular, dentre todos; no mais original Poema.
Composto pelos versos do fazer,
Do acreditar que Ser vai além do ter. (Mamãe)