Lembrança
É ela que me move, que me faz continuar quando a vontade é desistir. Aqui neste túmulo de ilusões, a lembrança em minha memória é a responsável por minha morte em vida. Tudo o que eu queria era esquecer, tentar viver a minha vida sem nunca perceber, o quê? Não sei! Era difícil para mim aceitar o fato de que o que eu acreditava ser vida era apenas o sopro de uma brisa primaveril, era um instante, um momento, apenas uma lembrança.
Recordo-me que um dia parei para pensar, não refletir ou imaginar, mas sim pensar! Aquele dia fora o primeiro, o primeiro de muitos outros dias que sentada em minha lápide olhando um fim de tarde invernal, senti pela primeira vez a vontade de chorar. As lágrimas correram por minhas faces quase como um desfile de carnaval, uma atrás da outra sem desviar do seu destino final. Foi engraçado notar aquilo, porque eu própria não as sentia correr, só as notava em meu rosto, porque em meus lábios elas iam morrer. Então ouvi a voz que me perguntava, porque eu estava tão triste a chorar? Eu não soube responder.
Eu havia passado muito tempo esperando. Não foram minutos, nem horas, nem dias, foram séculos de solidão e esquecimento. A resposta não viera durante todo aquele tempo, e o consolo do silêncio também foi o meu tormento. Pensar para mim tornou-se uma tarefa penosa, a consciência de uma luta, cujo fim, eu sabia ser a derrota, a angústia dominou todo o meu ser, me fez correr por entre as lápides e me perder.
Após aquele momento de desespero, me veio novamente uma lembrança. Uma tênue e fina esperança de que tudo tivesse sido um sonho. O sorriso que há muito tempo eu esquecera, em meus lábios novamente viera a bailar. Mas foi somente um momento, um raro e inesquecível sentimento que poucos conhecem é bem verdade! Será que ele se chama felicidade? Não me lembro. Afinal sou apenas mais uma a vagar por esta cidade, que construída de mármore, faz deitar os seus moradores, por toda eternidade.