carta
Como? Como nos falamos tão pouco? de repente, me pergunto.
Esses silêncios dos campos que levam tempos e distâncias para que algum pássaro cante e retorne a cantar, eternidades de faixo de luz do sol sob os olhos, sob as facas cortando canas, cocos, cachos de bananas, raspando plantas, sendo afiadas por mãos de esperança em movimento, e nós esperamos, contemplamos mudos, sempre as quase noites, as cores do ocaso.
Me pergunto também, o que é que nos basta? O que no caminho vai nos bastando? O seguir caminhando com o outro!? Caminhas comigo e meus olhos te falam silêncios, a poeira planta sede nas nossas almas, secura em nossos lábios, a garganta se abre sedenta e faminta como a dos filhotes nos ninhos, minha língua flama, brincamos com o mistério do encontro de nossos pedaços infinitos que se entrelaçam, luzindo disforme no aparente fim da obscura estrada. Somos esses difusos esboços de incertezas, se apagando enfim, no tempo, na poeira, na distância. Um vento que nos faz parar não sei onde.
Mas não queria estar à margem do rio de mim, receio perder-me, mas perco-me mesmo no rolar das águas, longe o mar... olho-me na fundura das coisas, das águas que rumorejam ainda mais para o fundo até que escute o silêncio outra vez, o olhar se perdendo, se apagando no ofuscado brilho das águas, para os confins, para um fim seco de poço encravado numa casa qualquer.