Suicídio
“ Escolhi o escuro. Não preciso mais enxergar. Não quero enxergar. Tudo que vejo é feio, tudo que sinto fede, tudo que ouço dói. Quem dera fosse hélio para subir. Infinito, escuro, sem rumo, sem prumo. Eu escolhi. O escuro.
Aqui onde tudo é calma, lembranças me vêm como raios. Relâmpago! Um barulho. Sussurro. Distante. Silêncio. Só, vejo nada. Vejo escuro. Vejo meus pensamentos, minha história. Não quero! Por isso. Escolhi. O escuro.
Mecho-me e encolho-me e recolho-me e choro e canto e durmo. Quando adormeço há luz. Estranho. Sinto falta de luz, quando durmo. Mas depois é tudo escuro. De novo. Sozinha, escuto nada. Silêncio não é nada. Silêncio é silêncio. O nada que escuto, quando escuto nada, tenho medo. Frio. Vazio. Escuro. Janela!
Tudo girando. Girando. Girando. Cansei. Quero acabar. Com isso. Estou fraca. Caindo. Caindo. Caindo. Chão.
A luz, de novo. Quero isso, pra sempre. A luz, pra sempre. Dormir, pra sempre. A luz não foi embora. Demora. Nunca ficou tanto tempo. Sirene!
Silêncio. Não escuto mais nada. Não escuto o nada. Escuto silêncio. O silêncio que é silêncio.
Ainda é luz, faz tempo. É o fim. Não, o começo. A luz. Meu fim. Escuro. Fim obscuro.”