Você tem mesmo sorte...
Me diz como não te amar?
Você deu sorte. Volto às letras como quem volta ao teu cheiro perseguidor pelas áreas da casa. Volto pela saudade, que nem dorme à tua espera. Volto pelas tuas palavras doces que acordam e não me deixam dormir.
Começo a me lembrar de tudo, como se as coisas fossem se construindo por elas mesmas, escalando os dias que parecem tantos.
Uma menina, pedras num lago no fim de uma tarde quase chuvosa. Um homem que esperava. Um homem, uma cabeça, incerteza e sonhos.
Sei que peguei a sua mão, deixei que deitasse no meu colo. Sei que nos beijamos e eu já sabia o quanto seria bom. Mas não sabia ainda... de quase nada.
Se é que existe, um toco de paz. Um grito silencioso, uma epidemia. Foi assim que nos gostamos, nos descobrindo em dores já acomodadas nos destinos.
Você deu mesmo muita sorte. Mesmo que eu não diga, veio estampado em meu sorriso o quanto te gosto. Acabei ligando. Acabei não me desprendendo de ti, o que, de fato, não é culpa exclusivamente sua.
Volto às letras como alento por esta noite fria, na qual o vinho e a solidão não me farão recorrer ao tédio como última alternativa. Recorro a ti, que me escuta mesmo sem saber da geografia.
Volto às palavras, aos versos, às conjecturas, porque nem sei o que se passa na minha cabeça. Perguntas? Tédios? Saudades estúpidas que nem me deixam dormir direito. Vontade... Eu volto às conversas como se você me ouvisse. Eu digo...
É um pedaço indefinido do dia, porque não se enxerga sem luz artificial. E nesse instante não se confia no escuro, porque é um pedaço de luz ausente, difusa e inconcreta. Então te lembro. Ou você se lembra a mim, não sei ao certo. Sei que é um dia de sorte, porque a boa música te evoca ao primeiro dia.
Acordo suada, como se você me abraçasse no meio de tantos dias. Às vezes sinto que estou quase enlouquecendo, como se não o fosse bastante. Acordo como se dormisse. Não durmo, nem esqueço, no máximo adormeço a tua lembrança, nos dias em que mais trabalho. Mas logo vêm as músicas, as letras e todos os dias. E eu me vejo encarcerada em vontades irrealizáveis. E eu te vejo, dormindo em mim, esperando apenas o dia de me acordar e dizer que foi só um sonho – ruim.
Peco pela saudade - em demasia.