Surrealidades

A NOITE VEM. Começo a me perguntar por todas estas surrealidades, como se em um momento qualquer não pudesse definir se é mesmo real a tua presença inebriante. Flocos de um passado que me parece tão distante... E eu te evocando, como um fantasma que me persegue por todo o tempo.

Vejo a silhueta daquele homem momorável, que a minha mente teima em desacreditar; dos quilômetros que nos separam. Meu destino enlaça a concretude dos versos que me brotam, inevitáveis. Chego a sentir o suor da pena que ora me faz chegar... até você. Sinto-nos pedaços de um quebra-cabeças que monto e desmonto, numa obsessão. Quebro versos não – ditos, quebro versos malditos. Quebro-me em pedaços mil, tentando juntar os cacos já passados.

A melodia que me persegue é quase tão... mais que poema, ou que qualquer das coisas que me prendem à pena. Aos “aindas”, aos nuncas, ou; quem sabe?

O quarto me parece apenas foco de uma escritora aspirante. Uma contadora de causos, de versos, de cordel. Nada que se possa eternizar. A cama é enorme. Não aceito a distância, a saudade, os flocos, as partes, tudo aquilo que eu sempre idealizei e que você teima em materializar. Contesto o seu amor e a sua magnitude; contesto a sua bondade comigo.

O amor. Sufocos e pedaços de tocos, feixes, muralhas que nos afastam, mesmo quando somos só nós.

Um espelho me faz mais falta que nunca. Um espelho que me choque, pelo rosto teu que não quero ver refletido em mim.

A madrugada grita, como se me lembrasse que a negrura é passageira. Fiascos de sol se habilitam a entrar sem convite, mas – insignificância. Cada qual sabe o que lhe fere, o que lhe toca e o que se lhe contempla.

Tatuado. No corpo, na pele, no passado e no futuro que já não desmembro. Apenas espero – oportunidades, certezas - ou à hora certa. Chego a pensar que família, um casal que a forma um dia, é um misto de ternura e putaria. Ternura e verso, putaria e arranha-céus. Pedaços de unha cravados numa pele fresca, um cheiro impregnado de sentidos e sentimentos.

E eu volto a ser uma menina iludida, a sua menina. Aquela que acorda todas as madrugadas em busca do teu peito aconchegado nas minhas costas já cansadas de um trabalhoso dia.

A pena me sorri. Volto às letras como quem triunfa ao terminar de ler um romance de final feliz, como se o nosso fim não findasse nunca, na busca pelos braços teus.