Dia de S. Valentim

Dia de S. Valentim.

Em cartaz uma dança de outros tempos. Romântica.

Comprei todos os bilhetes de entrada. Só para ti.

Dois de saída, que guardei, pelo ponto vazio.

Feito à medida. Entrei pela porta do cavalo. Dois bilhetes bem juntinhos na mão bem fechada.

Olhei-me no palco a primeira vez . E a pequena plateia ficou grande e vazia.

Muito a medo te esperava e tu não vinhas.

O estômago apertava e o coração subia, tocando o céu da boca.

De longe a melodia infiltrava-se no ar, na média luz, nos nervos à flor da pele.

E os tendões entorpecidos aqueciam-se no compasso a convidar à dança.

Mas tu não vinhas. E os meus pés pediam para correr. Correr, saltar para ti.

Juntando os meus passos aos teus abraços.

Mas a dança do amor requer um par, como um beijo não serve sem outra boca.

Num lanço, atravessei o estrado de olhos fechados.

A meio agarrei tua mão e rodei sobre mim e sobre nós. Pairámos suspensos num só coração.

O teu bateu descompassado. O meu esperou.

Fomos tudo, no tempo parado. O ar que respirámos, a água que bebemos nos beijos que demos.

Nas mãos nos soltámos, descobrimos nossos lados e segredos. Tudo ficou claro.

E a dança brotou num círculo de formas perfeitas e movimento certo.

Uma luz no início do caminho traçado mostrou a saída no palco apagado.

E a dança alastrou-se nos dias…

Dois bilhetes bem juntos, perdidos sob o pano caído… que sobe e desce sem cessar às palmas do tempo que corre…