do tempo
A poética, o tempo dos absurdos, do absurdo de ser, de viver, do absurdo das não-respostas que acabam gerando outras! Acabo de descobrir : eu sou, tu és, ele é ... desse tempo mesmo, do meu tempo, do tempo do vizinho da casa em frente e do apartamento do lado, da criança que puxa a barra da saia da mãe na fila, da voz - do outro- lado do telefone, do grito afiado varando a rua, do depois do silêncio da rubra tarde, é desse tempo que todos somos, do instante-já e de uns cinzas de memória. Tempo de poesia, de vozes conjugadas, de não-pertencimento e hibridismo, das distâncias que se aproximam e se “elas tecem” novamente, de movimento ainda que aparente inércia dentro de si mesmo, de estranhamento sempre, de repensar conceitos, palavras, coisas, tempo de acender as tochas na escuridão dos labirintos, descobrir o que há depois da curva daquela (in)possibilidade, tempo de ver o que há depois da lâmina, de inventar luas, traçar uns riscados, uns brilhantes no fundo da íris, uns azuis voadores, umas saídas ou uns alargamentos nos escuros ocos, de soprar uns ventos dentro dos ossos, de recolher os destroços da alma, de revolver-nos o pensamento e o corpo, de devolver-nos o amor, a loucura, a embriaguez, porque o inevitável, o inominável, o imponderável, o inescrutável eu já tenho! (nós já temos)