Nada sei

Nada sei.

A cada palavra escutada, escurece mais a minha pele, alarga mais o meu nariz,

engrandece mais a minha alma preta.

A cada palavra escutada, empina mais a minha bunda, simbologia de Mulher Africana, matrona e matriarca da raíz que constrói minha África, Mãe.

A cada palavra escutada se apagam as estórias, todas as mentiras criadas, inventadas por "eles", deturpadores da minha História.

A cada palavra escutada, avanço, pés descalços nesta terra que, um dia, me receberá de braços abertos, ciente e consciente de que, ainda que nela não tenha vivido a minha vida toda, sou sua filha, retornada, arrependida, em nome daqueles que dela me levaram. África. Mãe.

Sou tua, inteira, inteiramente dedicada a aprender e apreender tudo aquilo que me queres dar.

Escuto.

Sinto.

Recebo.

Sou tua, minha África. Mãe.

A cada palavra escutada, perdoo aquela outra mãe e o pai que, inocentemente, quiseram ver-me evoluir, num chão mais limpo, num céu mais aberto, menos carregado de crenças difíceis de serem entendidas, pelas suas mentes estupradas pelo colonizador.

Sinto muito que assim tenha sido;

Me perdoem por não mais acreditar nas vossas intenções;

Amo-vos, por me terem dado vida;

Sou grata por poder recuperar a minha essência africana.

Sou tua filha, Mãe. África.

Hoje, olho para ti e sinto-me tão pequenina.

Ensina-me, pois eu, nada sei.

AT

2022

Annali Tavares
Enviado por Annali Tavares em 11/07/2024
Código do texto: T8104895
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