Odisseia da Epifania
A fitar a imensidão, há chuvas perenes que revoam em aleatórias tempestades no compasso do piscar de seus cílios.
Observando-lhe, vivo no anseio da eterna espera. E neste período suspenso, lânguido e obscuro, componho e desfaço, em silêncio, intrincadas melodias. Odes pérfidas e celestes figuradas como a magia antiga entalhada no templo das Deusas.
Mas do que me vale o resgate de esotéricas harmonias sem a bênção de seu floreado sorriso? Se tu, a rainha perdida do panteão de ídolos que atravessa os tempos, anátema da imortalidade dos prazeres, é apenas um símbolo efêmero de minha fervente melancolia sombria?
Procuro preencher os vazios da complacência, essa inútil inércia, intitulando erroneamente musas, não enxergando meu real reflexo incutido no jogo de espelhos da devoção alheia.
Agora, desprendendo-me da névoa do seu feitiço, com clareza de um raio e frescor da chuva do início, viro-te às costas para finalmente edificar meu átrio, com pedras delicadamente esculpidas de amor-próprio.
Além de melodias, a densidade mística de cada espaço deste santuário, será repleta de cristais e flores espiraladas na superfície ondulante das águas. Miríade de cores assíncronas à luz natural tingirão todo singelo fragmento encontrado. Pérola, púrpura, índigo, dourado e fúcsia. Tapeçarias solares e escuras mesclando com os tons diversos nos tecidos, pórticos e colunas.
Assim, sendo minha própria alquimista, reconstruo o paraíso vasto e primitivo a tanto negligenciado - A simbologia densa e sânscrita de minh’alma. E nesta ocasião, não mais permeada pelo inconstante temporal de outrora, mas sim pela serena névoa de encanto selada a aliança das estrelas e do arco-íris.