Natal, vinho e fios mal traçados...

A menina recordou os momentos antigos.. Artigos mal escritos de uma história sem fim. Natal. Dia de natal... Uma depressão quase anêmica; uma data que fatalmente a fazia nostálgica e chorosa. A menina sabia que de agora em diante nada mais seria como antes, porque embora a história se repetisse e tudo fosse tão igual; alguma coisa mudara. Um pedaço de gente ressurgia em meio a tantas incertezas e gritos que lhe abordavam dentro, mais dentro ainda.

Lembrou o jeito dele de afastar a sua franja, como na primeira vez. E como em tantas vezes sentiu-se pequena diante de um amor naufragado em lágrimas antigas e infindadas.

A menina hoje era uma mulher, lendo um livro num verão tardio e cansado. Uma mulher, apenas...

Observava-se a todo instante, em busca da menininha frágil. Hoje só uma mulher amargurada e sem esperança, num natal sozinha. Pensou no namorado e sentiu pena de si mesma. Pensou no homem... e seus olhos faiscaram. Antes de tristeza que de ternura. Pensou no céu e viu as estrelas mais bonitas desenhadas no seu passado. Então pensou em si.. terna, pura e incandescente. A lágrima que caiu foi apenas demonstração de tudo o que lhe transbordava dentro. pensou, pensou, pensou e caiu num copo de vinho.

O vento lhe soprava dentro, a brisa vinha... Faíscas de luz lhe transportavam pra cada vez mais dentro. Quis mesmo ficar só... Quer companhia melhor do que si mesma?!? - pensou.

A previsibilidade do seu destino antes a apavorava, hoje a deixava amarga e impotente. Dominada por um amor antigo que a fazia sofrer infeliz... Mas que a completava por inteiro. E hoje, justo na noite de natal, ele simplesmente desaparecera. Sempre assim: com seus sumiços eternamente previsíveis. Ele a curava com flores, sem saber dos espinhos que deixava cravados em sua carne, alma e destinos. Sabia apenas do cheiro da reconcliação bordado nas pétalas das rosas tão murchas por dentro.

Pétalas, flores, invernos, sussurros.... "Fix you" - uma música antiga gravada ao vivo. Pedaços de passado que iam e voltavam, como papéis picados e jogados de um prédio alto... e que pelo vento se espalhavam por todas as partes, pra serem reencontrados algum dia. Reviveram-se, tantas vezes em tantos momentos... Versos velhos e quebrados de um poema que soava como música, nos inícios.. e se entoava como grito byroniano nos demais momentos.

A menina se olhou no espelho com um misto de dor e medo. Sabia do seu destino. Mais - sabia da sua insanidade em persistir numa história sem destino algum. Nem lacrimejou, nem partiu-se em mil. Apenas indignou-se com aquela ausência, com as pétalas, com os espinhos, com os cacos de vidro que ele tantas vezes le ofertara em forma de vinho... Deixou-se cair no sofá, já cansada até se ser nostálgica. Natal, vinho e fios mal traçados de destino...

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abraços e beijos..

tendo um tempim:

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