A DINÂMICA DO VAZIO
Casa de esquina no centro daquela pequena urbi interiorana
Casa que sustentou gerações com fornos de pão
Um criou, outro construiu, outro reformou, outro mudou, outro aumentou
A base sempre a mesma
Esquina barulhlenta e paredes silenciosas
Janelas de madeira, depois de vidraças
Tempo do lampeão a gás nas ruas e lamparinas de azeite em casa
Tempo de energia elétrica e tempo de tudo renovado
Tempo de muita energia humana
Crianças brincando, correndo, sujinhas e felizes
Um pouco de tempo, adolescentes e jovens
Um tempo, familiares dentro de casa,
Outro tempo, cada uma na sua casa
Os novos ficando velhos
Os velhos indo e não vindo, tempo passando
Uns deixando legados, outros deixando pecados
Uma casa movimentada,
Bonita de bem pintada
Esquina conturbada
Noticias da cidade alí eram todas faladas
A casa se desbotou
A dinâmica do barulho interno cessou
Hoje ela continua na esquina barulhenta, barulhos novos, sons novos
Ela no silêncio de suas paredes e cômodos vazios
Ela está estática, apenas na eletrônica do barulho
Onde havia gente o dia todo indo e vindo,
Apenas não indo e às vezes vindo
A velha casa continua na esquina do inferninho, digo, vida
Muitas histórias gravadas em suas silenciosas e segredadas paredes
No seu interior, uma vida passando pelo tempo, espaço e vida
Uma vida que às vezes cria barulhos para vibrar o silêncio
Ondas sonoras brigando com as ondas do tempo
Casa de esquina, agora vazia!
É isso aí!
Acácio Nunes