"Desnorte"
"Desnorte"
Não quero.
Que as vozes dos que mais sofrem fiquem para todo o sempre silenciadas pelas acções dos poderosos que lhes estabelecem fronteiras e lhes confiscam o direito ao sonho.
Não quero.
Mais túmulos para aqueles cujos corpos esbarram em fronteiras fechadas, por uma vigilância e violência castradoras de um direito a ser e viver em liberdade, sustentadas por acções punitivas e construídas pela intolerância, pela ambição, pelo descaminho racional, que induzem ao medo, ao desespero, à morte.
Não quero.
Mais assumir esta visão de um planeta que está a arder, devorado por chamas que tudo engolem , que está a sofrer, a colapsar pela falta de uma vida natural e equilíbrada, carecido de uma forma vital, orgânica,
sustentável porque a Sociedade Humana está enferma e padece do maior equívoco que é viver o seu lado mais irracional, sustentado pela vertigem da indiferença, da cobiça, do mal.
Não quero,
Mais guerras, esta ignominia terrível e monstruosa em que a humanide se torna canibal de si própria , numa ânsia que a devora, um desnorte existencial, que conduz o ser humano a assumir a sua metamorfose mais inumana e irracional.
Não, não quero.
Este cenário que nos conduz a um futuro inseguro, mortífero, ameaçado por esta cegueira, constantemente fustigado pela ideia de extermínio e de fim porque o padecimento já é real, geral, não fruto de uma qualquer imagética, particular, ocasional, virtual.
Quero.
Desejo ver, pois, concretizado um cenário existencial, em que o Amor por si e pelos Outros seja o mais seguro e aplanado caminho e porto de abrigo para todos, para que o Homem se permita prosseguir o seu destino, sem ter de automutilar a sua consciência de ser, e poder cair no precipício que ele mesmo criou e em cujo percurso quase atracou, não pelo acaso, mas por mero desnorte...
Não quero este "fatum" , esta intranquila "moira " este absoluto " delirium*.
O abismo chama o abismo.
"ABYSSUS ABYSSUM INVOCAT"
Beatriz Barroso