Zéfiro, o ditador
indizível
é o contentamento
ao ver-te girar
no contínuo espiralar
dos próprios temores
não posso prescindir
de tua presença
esteja, pois,
com tua crença em dia
(neste dia estonteante)
achei por bem matricular-te
em minha notável companhia
de balé invisível. Simplesmente
não me agradeça
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mas agora serei furacão
para esvair-te as esperanças
ainda presentes no peito
despedaçarei a palavra amor
para o triunfo do absurdo
e com isso, suspendo tudo,
todas as posses e riquezas
interrompo o belo gracejo
das paisagens
e semblantes deslumbrados
a vertigem, o rodopio
é para que sinta
o desvario do incerto
a desordem é a lei
que prevalecerá em ti
até que eu cesse de ventar
vamos às alturas
e tocaremos os trópicos
(Hosana dos cânticos
e ladainhas nos aguarda)
vasculharemos do alto
os incautos e pecadores
diga-me: por que gritas,
se a latência do trovão
te emudece, te amedronta?
era gente importante,
dono das terras todas,
essas que faço voar
para que se reconheça
gente e só
vejo-te o desconforto
nas feições
e um punhado de orações
pelos cantos da boca
reze para que sobreviva
ao caos que te imponho
o chão – nesta hora – é um sonho
inconcebível, impraticável
tenho o dever de mudar a norma,
de contestar a forma e a solidez
não sei onde começo
e nem onde irei terminar
sorte ou revés
de quem comigo valsar
está dito, eu decido
o que fica e o que vai
reles mortal, ai de você
que acha e que prevê
a infinitude da sua glória,
pois basta que eu sopre
e tudo será memória
esses senhores de si
tão cheios de si
e tão fáceis de esvaziar
dar-lhe-ei clemência
a toda inconveniência
causada, mas antes,
vale a pena dançar
esta última cantilena.
— mais palmas, animação!
que tal tomar a benção
das nuvens de tempestade?
sua idade avançada
já o coloca mais perto do céu
Sou aqui mero serviçal,
vento atlântico, ocidental
em trabalho de elevação
eu ordeno
eleva-te agora e, para isso,
desvivo-te, descolo-te
a alma do corpo
em estado absorto
vagarás pelo purgatório,
pelo limbo hermético
de teus desatinos
— silêncio
o coral dos diáfanos
cantareja em sol menor
a tua sentença
rodopiar em si
perder-se em si
desabar em si
tua prisão perpétua
jaz certeira, infalível
no âmago de ti