Zéfiro, o ditador

indizível

é o contentamento

ao ver-te girar

no contínuo espiralar

dos próprios temores

não posso prescindir

de tua presença

esteja, pois,

com tua crença em dia

(neste dia estonteante)

achei por bem matricular-te

em minha notável companhia

de balé invisível. Simplesmente

não me agradeça

+++++++++++++++++++++++++++

mas agora serei furacão

para esvair-te as esperanças

ainda presentes no peito

despedaçarei a palavra amor

para o triunfo do absurdo

e com isso, suspendo tudo,

todas as posses e riquezas

interrompo o belo gracejo

das paisagens

e semblantes deslumbrados

a vertigem, o rodopio

é para que sinta

o desvario do incerto

a desordem é a lei

que prevalecerá em ti

até que eu cesse de ventar

vamos às alturas

e tocaremos os trópicos

(Hosana dos cânticos

e ladainhas nos aguarda)

vasculharemos do alto

os incautos e pecadores

diga-me: por que gritas,

se a latência do trovão

te emudece, te amedronta?

era gente importante,

dono das terras todas,

essas que faço voar

para que se reconheça

gente e só

vejo-te o desconforto

nas feições

e um punhado de orações

pelos cantos da boca

reze para que sobreviva

ao caos que te imponho

o chão – nesta hora – é um sonho

inconcebível, impraticável

tenho o dever de mudar a norma,

de contestar a forma e a solidez

não sei onde começo

e nem onde irei terminar

sorte ou revés

de quem comigo valsar

está dito, eu decido

o que fica e o que vai

reles mortal, ai de você

que acha e que prevê

a infinitude da sua glória,

pois basta que eu sopre

e tudo será memória

esses senhores de si

tão cheios de si

e tão fáceis de esvaziar

dar-lhe-ei clemência

a toda inconveniência

causada, mas antes,

vale a pena dançar

esta última cantilena.

— mais palmas, animação!

que tal tomar a benção

das nuvens de tempestade?

sua idade avançada

já o coloca mais perto do céu

Sou aqui mero serviçal,

vento atlântico, ocidental

em trabalho de elevação

eu ordeno

eleva-te agora e, para isso,

desvivo-te, descolo-te

a alma do corpo

em estado absorto

vagarás pelo purgatório,

pelo limbo hermético

de teus desatinos

— silêncio

o coral dos diáfanos

cantareja em sol menor

a tua sentença

rodopiar em si

perder-se em si

desabar em si

tua prisão perpétua

jaz certeira, infalível

no âmago de ti

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 13/04/2023
Reeditado em 13/04/2023
Código do texto: T7762574
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.