NO SOFÁ COM A SAUDADE

Não sou muito de receber visitas, apesar de ter bons amigos...

Mas, uma visita é constante porque possui a chave pra entrar.

Seja bem vida saudade, vejo que trouxe com você o álbum de lembranças...

Ofereci um café, mas, agradeceu dizendo que o sabor que veio provar, estaria nas histórias guardadas em meu coração e memória.

Fechar os olhos tendo a saudade como companhia, é um mergulho em um infinito que tem a minha idade...

Especialmente hoje, lembrei dos carnavais da minha infância, onde a única "sujeira" eram das tintas e do trigo no velho bloco do "mela-mela".

O colorido das ruas se misturava ao brilho dos sorrisos de um tempo em que a malícia esbarrava na boa moral de quem brincava apenas para ser feliz.

Apesar de viver um tempo ainda de bons ventos, desejava ainda retroceder um pouco mais, lembrando das histórias que minha mãe contava dos carnavais que ela brincou...

Estandartes caprichados, desfilavam nas ruas numa disputa saudável, onde a única coisa que se queria provar era a resistência e alegria pra chegar até a quarta feira...ninguém queria ser melhor que ninguém.

Famílias, amigos, vizinhos...todos saiam e brincavam sem medo. A violência era rara e banal. Éramos pobres, sem nada pra ser roubado. E o que tínhamos de mais valioso não podia ser tirado de nós...amor pelo próximo e alegria de viver.

A saudade fechou o álbum e se levantou dizendo ter que ir...

Agradeci a visita e pedi que nunca se afastasse...

Ela me olhou, disse que vive do amor que cada um tem por suas histórias, suas raízes.

_ Até amanhã !!!

ANDRÉ L C MELO
Enviado por ANDRÉ L C MELO em 19/02/2023
Código do texto: T7722944
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