SOBRE A PUREZA DOS CÃES
Considero-me meio irmão de todo cão. Sobretudo os vira-latas. Em um paralelo com os seres humanos, os vira-latas seriam os poetas do mundo canino. Os loucos, os incompreendidos. Louvo neles a coragem de devorar até o último cálcio o osso da renúncia do glamour. Os olhos do vira-lata são a estreita janela por onde escapam o belo da tentativa, o incerto da aventura, o crepúsculo do medo. Os olhos do cão vira-lata são portadores da luz que apenas os mendigos humanos conseguem se alimentar. A luz que ilumina a poesia eterna da simplicidade de ir vivendo.