COLETÂNEA POÉTICA DE BENTO JÚNIOR - VOLUME SEGUNDO - DE 0602 A 1202

0602. BOCA

Facialmente fatal

é olhar

e ver

duas pétalas

sangrando

no leito dos teus

lábios.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 21 de setembro de 1986

0603. TEU SORRIR

Teu sorrir

Mexe com meu lado

Metodológico

E me ensina

Nas escolas da vida

Todo teu lado

Pedagógico.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de outubro de 1986

0604. POEMA PARA OS OLHOS TRISTES

Teus olhos brilham

à natureza desconhecida

e têm a sutileza de navegar

nas águas profundas

do meu oceano.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de setembro de 1986

0605. TROCA

Na troca de olhares

e estranhos abraços

naveguei nas águas dos rios

e cantei no delírio

do teu silêncio.

Abri os olhos...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de setembro de 1986

0606. LUGAR

Uma prima

é algo muito marcante

muito marcante será

conduzi-la até

ao encontro artístico.

E pra contorná-la

de como lidar

é essencial sair

e buscar no fundo

bem no íntimo do ego

um lugar reservado

para uma prima morar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de janeiro de 1987

0607. MUNDO DE MOÇOS E MOÇAS

Agora o mundo é sonho

acordo no sonho e o mundo

se torna eu

eu sou um ser humano

O cão come lata

e como a lata vazia está

o cão não sabe

late

o lixo tá pouco

o homem roubou do cão o pão

Mudanças da casa

das coisas

dos troços

da roupa

mudanças dos quatro elementos

do interior

A moça chorava no canto da sala

não via seu moço com os olhos ao lado

a moça sentada gostava de flores

e flores amadas ficam mais vivas

e vivas às partes fizeram-se úteis

a moça e o moço

Bento Júnior

Aracaju-SE, 25 de dezembro de 1984

0608. SONHO DE SONHAR CONTIGO AO LUAR DA MINHA RUA

Adoro o sonho

de sonhar

contigo

adoro o sonho

de te ver comigo

adoro o sonho

de amar como

uma criança

no amanhecer

de nossas vidas

adoro o sonho

de sonhar contigo

ao meu lado

sorrindo

cantando

adoro o sonho

no amanhecer

frente a frente

no sexo

complexo

adoro o sonho

de sonhar contigo

no aconchego

dos braços

no laço

adoro o sonho

de viver

sonhando

pra vida

se alegrar

comigo

e meu sonho

se alegrar contigo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de março de 1984

0609. CORAÇÃO PENSANTE

Amo o sol

como amo a lua,

quero o sol brilhando

amando você nua.

Meu coração é sol

que brilha na lua,

enquanto meu sonho

é vida que canta

na manhã tonta

de chuva e nuvens

no espaço do coração.

Pensa demais esse coração

que não se cansa de amar,

mesmo que a espera

seja feita de lutas

o sol brilha no alto

de cada sonho vivido.

O sol convida a lua

e a lua não se encontra,

esse lugar antes habitado

hoje é recordação

no coração de tanta gente.

Continuam pensando

batem igual a tambor,

querem que cada sol

seja lua na chuva

que bate no íntimo

de um coração sonhador.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de março de 1990

0610. CRIATIVIDADE DE ESPAÇO

Para criar

Sem criatividade

Eu uso criatividade

E para ter criatividade

Eu tenho você

Em todo meu espaço.

Bento Júnior

Alagoa Grande-PB, 25 de setembro de 1984

0611. PERDIDO NA LUZ

a luz brilha

na parte superior

de quem se olha

a luz brilha

na parte inferior

de quem se vê

a luz brilha

na parte íntegra

de quem se pergunta

a luz brilha

na parte tirada

de quem responde

a luz brilha

na parte dada

de quem retira

a luz brilha

na parte perdida

de quem se encontra

a luz brilha

na parte achada

de quem tem pressa

em vencer

em se estabelecer

num mundo cão

sem coração

sem pensamento.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de julho de 1987

0612. OLHOS VIVENTES

Com olhos de vida

o mundo encontra

seu espaço

Com olhos de morte

o homem encontra

seu mundo

Com olhos de espera

o mundo continua mundo

Com olhos de chegada

o homem

pensa no final do mundo

Com olhos de sonhos

o mundo nos encontra

por trás das árvores

o homem se esconde

Com olhos de vida

o mundo não se acaba

o homem pensa na vida

e a vida morre

Com olhos de certeza

tem-se a clareza

do nascer do novo

Com olhos de criança

nalgum dia foi criança

o mundo prepara o mundo

para o homem

que a muito tempo morreu

viveu

nasceu

e hoje busca seu encontro

consigo e comigo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de janeiro de 1985

0613. PERDÃO AOS OLHOS MEUS...

peço

ao todo

poderoso

lá de cima

que ilumine

o sol

que a muito tempo

não brilha

no olhar

desse povo

peço

ao todo

lá de cima

que proteja

o povo

que sofre

calado

peço ao todo

lá de cima

que acompanhe

o processo

do resto

imposto

pelo posto

capital

peço ao todo

lá de cima

pela metade

em nome

da verdade

que mostre

o certo lado

da vida

mesmo que

a esquina

seja pecado.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de março de 1997

0614. TERCEIRO MILÊNIO

Ano 2000

Terceiro Milênio

Viva o Brasil

É preciso oxigênio

Para suportar

o estranho

É preciso amar

o cheiro do banho

Que limpará

As impurezas

Como as águas do mar

Buscam nossas certezas

De ver o mundo

Mais humano e feliz

Que a paz seja algo profundo

Na cabeça daquele aprendiz

Da vida que nos guia

Para a liberdade

De sermos uma franquia

Do amor que brota saudade

Do irmão ao lado

É tudo que se quer

Um por todos amado

Seja homem ou mulher

Esta sua estrela ascensão

Será cada vez mais

Brilhosa e evolução

Trará no caminho da paz

Esta paz que todos nós buscamos

No aqui e agora

Que é preciso que reivindicamos

A luta dos direitos de outrora

Mas o hoje é importante

E o milênio chega com propaganda

Que não será algo constante

Isso certamente ficará de banda

Onde os sonhos talvez

Sejam realidades

De um por sua vez

Saciando suas verdades

Que certamente terá seu preço

Não esse absurdo inflacionário

E sim de um todo um terço

Como pagamento de crediário

E sendo assim o milênio que vem

É expectativa demais meu irmão

De sangue nas veias um preparo ao além

No acalmar de cada coração

Terceiro Milênio

Viva o ano 2000

Abastecemos nosso oxigênio

Para vivenciarmos as coisas do nosso Brasil.

Bento Júnior

Campina Grande-PB, 18 de fevereiro de 1994

0615. EVASÃO ESCOLAR

A evasão escolar é uma realidade.

O que fazer pelo professor

pra segurar os seus alunos?

Mais de 30% de abandono.

O que fazer pelo aluno

pra vê-lo mais criativo?

A evasão escolar é assustadora.

Se assusta a nossa educação

por não saber qual o caminho.

Qual alternativa?

Qual método?

Qual justificativa contempla

a evasão de nossa escola?

O que fazer pelo professor?

O que fazer pelo aluno?

A resposta é o esforço coletivo:

meu, seu e de toda sociedade!

Bento Júnior

Alhandra-PB, 11 de dezembro de 1998

0616. CORAÇÃO DESPREPARADO

DE AÇÕES CONTÍNUAS

Meu coração

é um fracasso

não sei o que

tem com ele

na hora que

é pra agir

não sai

nunca do lugar

meu coração

está despreparado

de tudo

na vida

na sombra

na água

não sabe

o que fazer

meu coração

é um desmantelo

desse que não

tem tamanho

na hora

em que é pra agir

não sai nunca

do lugar

meu coração

está despreparado

da cabeça aos pés

não tem diabo

que aguente

esse tal coração.

Bento Júnior

Cabedelo-PB, 09 de janeiro de 1999

0617. A ARTE DE AMAR ATRAVÉS DO CORAÇÃO DE POETA

O amor sendo um sentimento

expressa no meu coração

a arte de amar...

Deixe-me pensar palavras

que meu coração expressa:

O sentimento que é “Amor”.

Sei não...

De maneira que não sei ler!

Como vou saber o sentido

da palavra amar?

Sei não professor!

A arte é um divertimento,

e sendo divertimento, ela tem sentimento

que falam ao nosso coração:

Cultura

Criatividade... é a vida caminhando

e nós aqui fazendo poesia

em sala de aula

esperando a hora acabar,

e quem sabe na ida

ela possa está pronta

na nossa cabeça, no nosso coração

de seres humanos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 11 de agosto de 1998

0618. DIA DO ESTUDANTE

Eu canto porque sei amar.

Eu danço porque sei doar

o amor que trago dentro de mim.

Eu vou partir porque o meu ser quer comer, pular, andar e sorrir. Mas, também quero brincar, mesmo que eu não tenha que falar.

Eu preciso é viver para paquerar e namorar;

quem sabe viajar, sem ter medo de chorar.

Eu quero transar a vida

numa boa, seja no tempo de

qualquer maneira , ou mesmo com uma pessoa.

Só assim vou vencer para pintar o mundo

e poder permanecer na vida.

Vou seguir as trilhas da minha missão , e em cada caminho vou agir e depois de bem velho

morrer sem ter que matar o próximo amigo que comigo aprendeu o sentido da palavra amar.

Bento Júnior

Alhandra-PB , 12 de setembro de 1998

0619. NATUREZA POÉTICA

No amanhecer do dia

nossa janela se abre

entra um clarão

em toda parte

é o sol que nos ilumina

com sua força e arte.

Na palmeira da minha terra

canta o pássaro

que alegremente solta

seus festivos cantos.

A abelha pequenina

pelo campo voando

vai fazendo o seu mel.

A andorinha sai em bando

ao cair da tarde

em direção ao céu.

A rã sapeca passeia

entre as folhas

esperando água

pra sua sede matar.

Lá distante da serra

aparece um gato feliz

que pula e dança

ao som das águas do rio.

O coelho metido a sabido

faz acordo com todos os bichos:

- “não deixem invadir nosso chão,

não deixem comer nosso pão”.

Todos aceitam o desafio

de lutar pela floresta

até o cachorro, grande caçador

fez promessa de não mais caçar.

A tartaruga no seu passo devagar

comenta por onde passa:

- “é preciso se unir para amar”.

Correm os bichos pela floresta

na terra que deus criou

só faltava no grupo a cobra

que logo a grande causa abraçou.

Chamaram todos: da terra,

da água e do ar

foi uma festa constante

fez parte dessa euforia

o rei dos peixes

com seu poder e sabedoria.

Enfim, todos juntos

fizeram a maior diversão

de um lado os bichos

do outro a natureza

viveram em harmonia

transmitindo grande emoção

pra vida que precisa

de união, com certeza.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de outubro de 1998

0620. CHEGA DE HORROR!!!

Chega de horror!

Nada de giz, nada de apagador.

Quero uma escola

com vídeo, slide, retroprojetor,

nada de giz, nada de apagador!

O aluno consciente

não é aquele que passa,

não é aquele que se reprovou.

Quero uma escola

sem giz, sem apagador.

O estudo vai além

de uma parabólica.

Chega de nenhen-nenhen...

educação não rima com cólica.

Chega de Horror!!!

Nada de giz, nada de apagador.

Façamos da nossa escola

o ensino através do amor!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 27 de fevereiro de 1996

0621. FÓRMULA

As palavras guardam fórmulas

enquanto a espera emerge o saber

de nunca nada saber.

A ocasião do agora

reflete o espectro

do caso ontem vivido.

Sempre sonhar é importante

mesmo que o sonho

nos encontre mesclados

de vício e medo.

De pensar no amanhã insistimos

quando não tomamos ciência da sua chegada

e passamos a sentir o hoje

existente em nós.

Quanto mais se ama

mais e mais o coração

se afasta dos sinônimos do amor.

Onde caminham os sintomas habitados em cada neurônio?

Odiar seria o caos

pra todas as ansiedades

buscadas em cada silêncio.

Bento Júnior

João Pessoa-PB , 03 de outubro de 1990

0622. ESPOSA

Há muitas entre muitas

E tantas entre poucas

Uma esposa nas bocas

Dos passantes

Que comentam da mulher

E falam de sua fé

Religiosa aos domingos

Na paróquia local

Uma esposa, às vezes anormal

Que trafega e se respeita

Que passa e comenta

O mundo talvez não se contenta

Em ser a esposa do próximo

Tão bela e tão sensível

Às contradições do impossível

Onde a fidelidade é plena

De amor e sentimento

Uma esposa pra todo momento

Mesmo que esse momento

Entre linhas, seja de perplexidade

Sendo a esposa apenas saudade.

Bento Júnior

Monteiro-PB, 08 de agosto de 1989

0623. SÃO JOÃO CAMPINENSE

Cheguei aqui

para brincar o São João

eis quando chego

tive a grande decepção

Brasil perdeu para a Argentina

me esqueci até daquela menina

Copa do Mundo se acabou

para o Brasil

o consolo foi

torcer pela América do Sul.

Bento Júnior

Campina Grande-PB, 22 de junho de 1990

0624. FETO

Convida meus olhos

para habitar

no âmago do teu coração.

Faz de mim tua morada

e abrigo mais discreto

do teu querer

irei penetrar.

Sou apenas teu feto

Ao nascer deixa-me sobreviver

deliciando os teus seios

e ao crescer

serei teu

eterno

APAIXONADO!

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,25 de maio de 1986

0625. TE AMO

Te amo

Por me deixares nascer

Te amo

Por uma família autêntica

Por uma família desajustada

Por tudo que fizeste por mim

Por tudo que me deste

Por tudo que não fizeste

Po um olhar de criança

Por um olhar de velhice

Por ter uma mãe e um pai

Por nunca tê-los visto

Te amo

Por me deixares viver

Te amo

Por uma morada ao sol

Por chegar sempre em casa

Por uma compra digna

Por uma saudade de voltar

Por uma feira feita

Por nunca nos faltar o pão

Por me faltar o pão

Por nunca saber de nada

Por um bom relacionamento

Por um rompimento feliz

Por me dá um beijo

Por me tratares bem

Por me jogares pedra

Por uma livre constituição

Por tudo que a gente observa

Por tudo que a gente não vê

Por tudo que nunca pára

Por uma liberdade de sentir o sol

Por uma liberdade entre aspas

Por uma liberdade plena

Por uma liberdade concreta

Por uma concreta exibição

Por tudo que o homem entende

Por tudo que não tenha nome

Por uma educação praticada

Por uma Pátria amada

Por várias bandeiras rasgadas

Por uma guerra de poderes

Por um governo viciado

Por um cessar fogo

Por uma guerra santa

Por uma paz sangrenta

Por um não salário

Por um remédio barato

Por um aumento de salário

Por tudo que ainda aspiramos

Por ótimos resultados

Por dias melhores

Por um voto bem dado

Por não saber votar

Por seres um artista

Te amo

Por tudo que é sagrado

Por tudo que é blasfêmico

Por andar sempre correndo

Por um emprego decente

Por uma bíblia nos braços

Por uma condenação

Por tudo que o pobre tem

Por uma religião do coração

Te amo

Por amar o amor

Por uma palavra complexa

Por uma compreensão

Por um conforto de amor

Por um compromisso sério

Por tudo que não seja sério

Por tudo que nós praticamos

Por tudo que nos chega à cabeça

Por tudo que quero

Por tudo que não quero

Por um coração aventureiro

Por me amares

Por te amar demais

Por tudo que odeio

Por um sorriso feliz

Por um sorriso forçado

Por um amor livre

Por tudo que não detesto

Por um beijo na boca

Por um ato sexual

Te amo

Por Deus e por Cristo

Por nossos amigos

Te amo

Por tudo que não seja nada

Por andar e saber da volta

Por tudo que não seja farto

Por tudo que falta

Por ter um pedaço de terra

Por tudo censurado

Por tudo liberal

Por um cara dura

Por uma algema nas mãos

Por uma educação de qualidade

Por uma saúde preventiva

Por uma palavra de carinho

Por uma formatura decente

Por ter consciência política

Por todos os teus atos

Te amo

Por me deixares morrer

Te amo

Por um atestado de óbito

Por um ataúde

Por uma cova medida

Por uma cama larga

Por todos os sonhos

Por todas as alegrias dos seres

Por todas as dores dos seres

Por ler esta poesia

Te amo

Em nome do Pai

do Filho e do

Espírito Santo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB , 31 de dezembro de 1984

0626. DE ONDE ME VEM ESSE SOM?

Qual desse senhor

de tanga

que perambula pela

região da liberdade

cruzou mares

e veio brotar

cultura na praça do

Brasil?

Qual dessas senhora dos

seios à vista

do português invasor

que chegou entre nós

esborrotando os sonhos

de uma raça

de duas raças?

Entre a certeza

do medo

há a beleza

do acaso

de encontrar

pela vida

a incerteza

de sermos filhos

lusos!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de janeiro de 1980.

0627. NATUREZA POÉTICA II

Pela manhã

ao abrir da janela,

o sol brilha

com seus raios de vida.

Uma árvore no jardim

aumenta a beleza do lugar,

é uma palmeira com suas folhagens

balançando ao vento.

Ouve-se o canto

de um pássaro,

que diante da paisagem

passeia livre

acompanhado da dona abelha.

A cegonha com seu enorme bico

dar bom dia a todos,

e convida a senhora rã

para caminhar

como antes sempre fizera.

O gato de cima do telhado

olha a cena e pula

para brincar

com o coelho.

O coelho ao entrar na roda

chama também o cachorro,

e este por sua vez late de alegria.

A amiga tartaruga

bem devagarinho

vai saudando ao dia:

“Bom dia, senhora cobra”.

A cobra rastejando vai ao encontro de todos,

quando de repente, eis que surge

do rei dos peixes

com sua enorme cauda,

num ritmo de festa,

dança ao som de viver.

No abrir da janela a manhã se vai,

surge a tarde e o sol se põe.

Hoje é dia de lua nova,

saudamos numa só voz:

-Bem vinda lua nova!

As noites se passam

e as luas também,

agora o momento é de lua cheia,

que clareia o coração

dos seres.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de novembro de 1996

0628. FUNDO MUSICAL

Em meio ao fundo musical

fúnebre do meu pensamento

de poeta perdidamente

reconciliado com seu lado

lúdico e metido

a entendido de paixão

nos muros escritos

da rua da agonia

da morte súbita

em dose dupla

investido a gole

de sadismo patriótico

se perdeu no sonho

do não entendido.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de junho de 1989.

0629. TEMPO

Esquecendo o tempo

o tempo de esquece

e quando esquece

o homem cresce.

Correndo contra tudo

o céu ficou para trás,

e o sonho fechou o tempo

que o tempo se esqueceu.

Homem

se quer mudar o tempo

muda o tempo da idéia

ultrapassada, muda a visão

do teu ser, pois bem dentro

do tempo resta o silêncio.

É o resultado do tudo,

resultado da parte

que formou um todo

guardado nos alfazeres

de lutar por um novo ideal.

Sendo fagulha

do Criador

no Cosmo ( infinito, finito?)

o homem pensa

estuda, fala e pergunta:

- Quem de nós será capaz de definir

material/espiritual/mente

qual segredo desse nome?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 28 de fevereiro de 1996

0630. ANTIGOS SONHOS

Sonhei por onde andei na vida

Sonhei por onde passei na vida

Sonhei por onde passa o carro

Sonhei por onde o carro não passa.

Passou a vida em sonhos

Passou os sonhos na vida

Passou o homem e a mulher

Passou o tempo para tantos...

Bento Júnior

Araruna-PB, 14 de março de 1986

0631. DE VEZ EM QUANDO

De vez em quando

eu me pego no frio

das mãos

e no calor do coração

De vez em quando

eu me pego

no frio das mães

e no tenor

daquela canção

De vez em quando

eu me pego

de bafo quente

sopro ardente

não me renego

quando emprego

meu mundo

no fundo

da causa perdida

achada no seguinte dia da minha mania

Bento Júnior

Feira de Santana-BA, 11 de setembro de 1987

0632. QUEM DE NÓS?

Quem de nós

não queria

ser filho

de “Rei”

ser guerreiro

libertador

de uma raça

ser brasileiro

de outrora

participar

dos canhões

ir de encontro

aos patrões

e sacudir Jorge Velho

dos livros

de história

não teve glória

e só um foi herói

para a nossa glória

e só um foi

herói

para a nossa

memória explodir

viva o “Rei”

da guerra

coração valente

viva Zumbi

a cara da nossa gente.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1995

0633. FUSO HORÁRIO

Doze horas

na rua apenas a lua.

A namorada dorme,

os sinos badalam.

Uma hora

na rua apenas as nuvens.

A namorada sonha,

os galos cantam.

Duas horas

na rua apenas a chuva.

A namorada abre os olhos,

os cachorros latem.

Três horas

na rua apenas os sapos.

A namorada levanta-se,

os gatos e os ratos brincam.

Quatro horas

na rua apenas vozes.

A namorada se veste,

os moleques se acordam.

Cinco horas

na rua não mais apenas.

A namorada se maquila,

se acalma e pensa nos pais.

Seis horas

na rua todos.

A namorada pega a bolsa,

na bobeira é assaltada.

Sete horas

na rua as armas da ordem.

A namorada chora,

os moleques ficam felizes.

Oito horas

na rua a sirene toca.

A namorada volta,

o ônibus quebra-se.

Nove horas

na rua os tiros são dados.

A namorada sente a falta,

outros documentos providencia.

Dez horas

na rua os cadáveres.

A namorada finge sorri,

pensa nos outros.

Onzes horas

na rua imensidão de curiosos.

A namorada se entristece,

os parentes se aproximam.

Meio dia

na rua o sol queima a pele.

A namorada dorme,

a notícia se espalha.

Treze horas

na rua o cheiro de lama.

A namorada sonha,

O calor lhe sufoca.

Quatorze horas

na rua vários pirralhos.

A namorada se mexe,

os cavalos trafegam.

Quinze horas

na rua jovens desportistas.

A namorada se acorda,

o funeral acontece.

Dezesseis horas

na rua os carros buzinam.

A namorada chora,

seus pertences são encontrados.

Dezesseis horas

na rua toda espécie.

A namorada se alegra,

seu namorado chora.

Dezoito horas

na rua a notícia.

A namorada procura,

seu amado foge.

Dezenove horas

na rua a voz do rádio.

A namorada estuda,

seu professor canta.

Vinte horas

na rua os idosos.

A namorada cola,

é pega e tira zero.

Vinte e uma hora

na rua a televisão.

A namorada ama,

repete as ero-cenas.

Vinte e duas horas

na rua os seresteiros.

A namorada morre,

o amante se vai.

Vinte e três horas

na rua apenas o céu.

A namorada se santifica,

a porta da Divindade se abre.

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,24 de março de 1990

0634. CENSURADO

Ando

Porém bem próximo

dizem que não vou chegar

Paro

hipocritamente interrogam

se não vou continuar

Desejo

mesmo me realizando

falam que estou errado

Desisto

quando estou quieto

repreendem o meu estado

Brigo

vencendo várias batalhas

todos chegam a me reclamar

Protesto

totalmente certo

só me querem censurar

Opino

um pouco com certo apoio

me sinto mais que enganado

Critico

mesmo sendo até honesto

sou eu o mais criticado

Grito

mas nem usando a fúria

ninguém quer me escutar

Sofro

e os felizes ainda perguntam:

-Tu és capaz de chorar?

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,08 de agosto de 1982

0635. EMOÇÃO E CHÃO

A emoção

invadiu o quarto

levou o travesseiro

e hoje

eu durmo

no chão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,22 de janeiro de 1991

0636. SE ALGUM DIA...

Levaram meu tudo, pra longe levaram

e nunca pensaram que o dono era eu.

Levaram minha vida, meu louco pecado,

meu grande passado, levaram o que era meu.

Levaram o fogo que forte ardia

na minha ousadia em querer amar,

e apenas deixaram na minha visão

tão forte ilusão a me machucar.

Levaram o motivo do real sorriso

por mim desprendido sem me preocupar,

pois era inocente e jamais sabia

que num melancólico dia iria chorar.

Guardarei no meu pensamento

uma cópia bem clara,

de grandes eventos que alegre passei.

E se algum dia, trouxerem novamente

meu tudo de repente, feliz ficarei.

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,28 de fevereiro de 1980.

0637. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DO OPERÁRIO

A fábrica

se aproveitou

da minha

boa vontade

e me explorou.

A exploração foi tanta

que ao perceber

já estava “bem vida “

com os pratos lavados

pedindo papel emprestado

para pagar as contas

que faziam morada

nos agiotas de cada apito.

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,06 de dezembro de 1985

0638. SAUDADE II

A saudade

da espera

é muito

maior

do que

a verdade

dos que

falam..

Bento Júnior

João Pessoa-PB , 07 de julho de 1985

0639. SAUDADE

Eu sou

você

quanto

sinto

saudade.

Bento Júnior

João Pessoa-PB , 09 de setembro de 1984

0640. UMA HISTÓRIA CONTADA POR UMA SENHORA BURGUESA DE APENAS 15 PRIMAVERAS, DIZIA O SEGUINTE...

O meu amor é um pouco idêntico ao estúpido.

Tira minha blusa, dá de cara com os meus seios, coloca-os na boca e depois maliciosamente vai descendo as suas lindas mãozinhas, tocando meu sexo deliciosamente. Eu sem peça íntima, fico perplexa, observando até onde aquela sensível iria dar.

Aos poucos meu coração se glorifica com tal atitude de um ser, que na plenitude gosta de ver dois amigos em plena ejaculação!

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,08 de setembro de 1980.

0641. EU SOU ESTUDANTE

A minha primeira poesia

Agradeço a Painho

Agradeço a Mãinha

Hoje estou na escola

E só ando na linha.

Obrigado Painho

E Mainha também

Hoje eu sou um estudante

Quero ir avante

E só fazer o bem.

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,31 de dezembro de 1970.

0642. RELEITURA POÉTICA DE COELHO NETO, BASEADO NA REALIDADE COTIDIANA DE UMA POETISA

A mulher nasce,

vive e morre só!

Às vezes no meio

de uma grande multidão

ela permanece sozinha.

As poetisas são as mais

solitárias das sós,

que vivem e morrem.

Alguns poemas

feitos pelo poeta

falam dessa mulher que,

isoladamente, olha seu íntimo

e busca a si mesma.

Noutras vezes, no meio de uma grande multidão,

olha para o seu lado e... continua sozinha.

A poetisa, mesmo neste caso caminha ao encontro

de sua aprendizagem.

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,25 de abri de 1980.

0643. SE A LUA TIVESSE DONO

Se a lua tivesse dono

e dono dela eu pudesse ser

eu juro que eu te entregava

amor

um pedacinho dela

só pra ocê.

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,01 de janeiro de 1991

0644. ANTES QUE SEJA TARDE

Vou pegar meu bonde

de bode à meia noite

Vou pegar minha sacola

de coisas proibidas

para que o mundo todo

se esqueça que a vida

só precisa ser curtida

Preciso muito mais

do que droga para sobreviver

aos momentos felizes

que passamos lado a lado

na penumbra

Tu não lembras?

Até eu que estou de bode

lembro com precisão

Tu estavas tão linda

que todos os soldados

da quinta

queriam provar da tua droga.

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,25 de outubro de 1984

0645. HOJE FOI ASSIM...

Eu queria provocar

os sentidos da minha

amiga carne

para dizer o quanto

eu sou incapaz de

pronunciar uma só palavra

de conforto ao meu

estranho

e pacato lado de cidadão

desencontrado

na vida

e no sonho de ser feliz

Por mais que tentemos

ou melhor, por mais que tento

não consigo superar as minhas

imperfeições de homem

cobrado pela sociedade

É difícil perceber o quanto somos incapazes

de perceber o que somos acostumados

a nunca perceber pela caminhada

de nossas vidas

Agora neste momento

estou só

busco no meu inconsciente

a palavra perdão

Encontro na minha ousadia

apenas a palavra

não quero mais

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,18 de outubro de 1989

0646. O MONSTRO E A SELVA

Em meio a tudo e a todos,

No meio do nada e na sombra

Do tudo, ele, monstro

De multidão no mundo

Se abastece da flora

E come tudo que dela explora.

É um sarcástico monstro,

Louco na escuridão do tempo,

Que, aparentando ser autêntico,

Pediu a selva em casamento.

A selva, que antes fora queimada,

Achou no palavreado do pedinte

Um tanto falso pedante.

Riu do monstro, zombou da lira

Dentre os mortos da flora,

Onde hoje se encontra

O cemitério do homem...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 16 de junho de 1990

0647. É TUDO QUESTÃO DE TEMPO

Passa-se o tempo

Passa-se o vento

As flores no jardim

As flores feitas de amor

Passa-se o vento

Passa-se o tempo

Foi-se o tempo

Em que o vento

Por não ter tempo

Morava de aluguel

Na pensão do fim do mundo

Foi-se o tempo

Em que as moças

Andavam de laços

E rapazes amigos

Buscavam na noite

O abrigo

Enquanto os vícios

Da carne

Perdiam-se na madrugada

Febril de dor e paixão

Passa-se o tempo

E o vento

Não mais passa no meu tempo

Foi-se o tempo

Em que as esperanças

Eram palavras bem ditas

Bendito seja o fruto do amor

Que trafega nas minhas veias

De ter na mente uma inconstante

Solidão de dar água na boca

De todas as vidas

De todas as saudades

Que ainda se faz presente

No coração do jovem maluco

Mas que de maluco

Apenas os cabelos encaracolados

Quando se tem

Outros raspam na moda do ano

Mas que no fundo da análise

São dóceis seres

São dóceis e ao mesmo tempo

Quando passa o vento

Amargos como a incerteza da espera

Passa-se o tempo

Passa-se o vento

Com eles o perdão

Se lamenta do coração

Se lamenta pelo simples

Fato de não perceber o quanto

A vida é bela

Enquanto a vida é simples

E sendo simples

Vivamos o amor

Na plenitude do cálice

De mais um ano que se aproxima

De mais um final de século

Que chega carregado

De tudo um pouco

Na calada do tempo

Na calada do vento

Que sopra ao mundo

O prazer de viver!

Bento Júnior

João Pessoa-PB ,30 de dezembro de 1998

0648. PROFESSOR PUTO

Professor puto

Dia de luto...

Dia de luta...

Um... dois... três...

Empregos...

Professor puto

Puto com o salário

Funcionário do governo

Funcionário do patrão

Professor puto

Que tal um dia na vida

Dar uma aula de como

Ser um bom cidadão?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de maio de 1991

0649. AUSENTE DE TI

Se em tua vida, sentires a ausência

desse que é teu esplêndido amigo

contemplas esse momento, na essência

de um dia voltares a falar de abrigo.

Vejo em ti, pétalas de uma linda flor

que desabrocha em meu lúcido peito,

contracena com um coração, talvez amor

cavalgando em busca de seu leito.

És, enfim, na plenitude, um tudo

que se infiltrou em minha visualidade

contida de paz, dum mundo que não me iludo.

Espero, realmente batalho, quero

sentir tua voz meiga de saudade

de quem sempre fala sincero.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 27 de fevereiro de 1983

0650. CANÇÃO PARA RITA

Rita o que fazer?

Rita o que será?

Se um dia eu te perder

sei que vou chorar.

Sei que vou sofrer

meu bem

sei que vou morrer

também,

se um dia eu te perder, Rita

sei que ruim será

e muito vou chorar,

Rita se eu te perder.

Rita fica comigo

não me deixes assim.

Rita se você ficar

vai ser tão bom pra mim.

O mundo inteiro vai saber

se Rita me deixar,

então fica comigo, Rita

mesmo sem de mim gostar.

Vai ser um prazer

se você comigo ficar.

Não vou mais sofrer,

nem vou mais chorar,

Rita vou me conformar.

Bento Júnior

Patos-PB, 15 de junho de 1984

0651. QUEM É ELA?

Dedicada para uma mulher perdida

Sei o que se passa com tua cabeça

essa cabeça perdida, de ilusão vencida

essa cabeça de sonhos, sonhos perdidos

és uma mulher perdida, e sendo perdida

não há como explicar o que quero saber

pergunto a quem quer que seja

quem és, nada me convém, nada me consola

tudo me enrola, pura enrolação

só sei que dentro deste argumento fictício

você mora dentro das pancadas batidas

do meu coração...

quem é ela, quem é ela?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de maio de 1986

0653. CABEÇA QUE PENSA DE NOITE

Não dar para pensar

com a cabeça fervendo

assim vou morrendo

Aos poucos como

todos que morrem

e ninguém lhes socorrem

Nem ao menos

para livrarem do vício

como eu em artifício

Bebi e fui bebido

nas duas tragadas

o melhor das jogadas

Dadas em sonhos

ou quem sabe tantas

dadas em plantas

Que pensava ser

um jardim particular

mas apenas quis parar

De beber e sorrir

dar gargalhadas ao vento

para poder parar no tempo.

Bento Júnior

Brasília-DF, 14 de setembro de 1987

0654. ANDEI, ANDEI

Andei por estradas

que na noite escura

os faróis eram cigarros

fumados por todos

os passageiros...

eram loucos famintos

que comiam fogo

e cuspiam água...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de março de 1985

0655. SAUDADES JÁ TENHO DE AGORA

Tenho saudades bastantes no peito

no peito de solitário viajante,

cavalgo meu mundo em sonhos

amo meu tempo errante...

Assim na calada da noite

entre sons e barulho,

canto a tristeza da saudade

na solidão me mergulho...

No hoje bem ontem passado

já tenho saudades do agora,

sou um sujeito nostálgico

chorar, se preciso, toda hora.

Bento Júnior

Maceió-AL, 08 de maio de 1992

0656. DUPLA PALAVRA

Chovia forte

Forte como a resposta

de um não

resposta esta

que penetrou fundo

num lado criança

criança tal

que brincava de armas secretas

secretas eram as noites

que manobravam os meus terríveis dias

dias aqueles

que expandiram dos meus pensamentos

todas as alegrias contidas na mente

de um jovem que aprendera desde cedo

o nome lutar

lutar era preciso

para vencer na vida

vida nobre camuflada

nos olhos contraditórios

contraditórios eram os momentos

vividos por amigos meus

meus eram apenas os silêncios

silêncios que gritavam ao mundo

o nascer do sol

sol que deixou de brilhar

brilhar com as pessoas

que trafegavam nas ruas

ruas alagadas

alagadas pela própria natureza

de fazer de cada despedida

um grito de vitória

vitória obtida

pela caminhada do universo

universo límpido

que ensina aos homens

o gosto de cada angústia

realizada pelos amores sádicos

ainda não descobertos

pelos seres vivos

vivos são os meus atos

de observar o romantismo

agregado à loucura

loucura é o cotidiano

cotidiano que será futuramente

o pedido da falta de algo

algo faltará em ti

se não notares

a presença do vício

mendigado ao patrão

pelo pão de cada hora

hora se passa no

compasso do ventre

ventre que brotou-me à vida

determinante razão de viver

viver será necessário

para descongestionar

cada um desses obstáculos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de março de 1985

0657. ACREDITEI QUE TU ME AMAVAS

Acreditei que tu me amavas

e te encontrei

Acreditei que tu me amavas

e te conheci

Acreditei que tu me amavas

e fomos amigos

Acreditei que tu me amavas

e namorei contigo

Acreditei que tu me amavas

e brigamos muito

Acreditei que tu me amavas

e noivei contigo

Acreditei que tu me amavas

e rompemos tudo

Acreditei que tu me amavas

e renovamos tudo

Acreditei que tu me amavas

e nos casamos

Acreditei que tu me amavas

e chegamos ao ápice do ciúme

Acreditei que tu me amavas

e tivemos vários filhos

Acreditei que tu me amavas

e nos separamos

Acreditei que tu me amavas

e dormimos em leitos anteriores

Acreditei que tu me amavas

e resolvemos nos juntar

Acreditei que tu me amavas

e nos deram tantos netos

Acreditei que tu me amavas

e nos mudamos para muitos lugares

Acreditei que tu me amavas

e sofremos tantas despedidas

Acreditei que tu me amavas

e ficamos bem velhinhos

Acreditei que tu me amavas

e veio a dose da doença

Acreditei que tu me amavas

e fomos voltando à infância

Acreditei que tu me amavas

e esquecemos de tudo

Acreditei que tu me amavas

e fomos ficando carentes

Acreditei que tu me amavas

e só nos restava a lembrança

Acreditei que tu me amavas

e buscávamos a importância do outro

Acreditei que tu me amavas

e foram chegando os filhos dos nossos netos

Acreditei que tu me amavas

e apenas os acariciava em pensamentos

Acreditei que tu me amavas

e fomos ficando dependentes

Acreditei que tu me amavas

e fomos ficando cada vez mais fortes

Acreditei que tu me amavas

e a comunicação foi ficando complexa

Acreditei que tu me amavas

e numa explosão cósmica nos questionamos:

- “Quem de nós dois amou mais??????”

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de setembro de 1980.

0658. MÓRBIDO CONVITE

A morte

quando

vista de cima do muro

é linda.

Mas, quando vista

debaixo do muro

é bela.

A morte é bonita

quando morre

meu eu

de morte matada.

A morte

essa companheira esquerdista

virou oposicionista

e insiste que o coração de poeta

se atire nas terras sagradas

das ilusões das paixões.

Bento Júnior

Ibiara-PB, 23 de dezembro de 1990

0659. DEPENDENTE VERBO

Eu não quero pensar em você

Penso

Eu não quero falar de você

Falo

Eu não quero chorar por você

Choro

Eu não quero sofrer por você

Sofro

Eu não quero implorar por você

Imploro

Eu não quero gritar por você

Grito

Eu não quero reclamar por você

Reclamo

Eu não quero ouvir você

Ouço

Eu não quero silenciar por você

Silencio

Eu não quero olhar pra você

Olho

Eu não quero permitir por você

Permito

Eu não quero perceber você

Percebo

Eu não quero planejar por você

Planejo

Eu não quero sonhar com você

Sonho

Eu não quero recordar você

Recordo

Eu não quero depender de você

Dependo

unicamente de amor.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de abril de 1986

0660. PRIMEIRO FILHO

Quando está pra nascer

é uma espera profunda,

quando nasce o sorriso inunda

o coração de quem queria ter.

O filho já bem crescido

acaba o aperreio,

um filho no outro seio

toma o leite prometido.

Ser primeiro é bom demais

quando é único o filho,

o casal quer mais brilho

e pra isso, sexo a mais.

Um reclama da falta

de carinho que lhe cabe,

o primeiro ainda não sabe

que do leite se faz a nata.

O primeiro cuida dos outros

que estão se criando,

mas sempre pensando

desse jeito vou ficar louco.

Cuidados especiais teve o primeiro

e nada lhe foi permitido,

aos outros tudo se faz sentido

dizem os pais: “é coisa de brasileiro”.

Tomar conta dos irmãos

é isso que lhe restou,

ainda precisa dar as mãos

e ter bastante amor.

Quando o primeiro cresce

que os outros estão crescendo,

o número um vai perdendo

o esforço que sempre oferece.

Na vida tudo tem sua vantagem

como também as suas desvantagens,

a lembrança fica nas imagens

e o sonho é pura miragem.

Quem foi o primeiro sabe de cor

a barra que lhe causou,

quanto mais fina a dor

mais arrochado é o nó.

Quem é primeiro, um conselho

dado de bom sentimento,

não se aveche no sofrimento

que a vida é o reflexo do nosso espelho.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de janeiro de 1985

0661. MADRUGADA NO VÃO DA VIDA

Na madrugada onde galos cantam e sabem

Muito bem cantar a vida dos boêmios,

Um pseudo emaranhado de assuntos rondam

A cabeça estraçalhada de um poeta

Que em frases soltas no tempo

Vai decifrando o motivo de ser palavra

Quando a palavra de ser um dia

Não mais é uma palavra entre tantas

No mundo onde galos cantam e sabem

Muito bem cantar a vida vã e sã de um sonâmbulo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de junho de 2000

0662. TEMPO QUE NÃO TE VEJO

Tempo que não te vejo

por essas ruas,

andavas pelado,

soltando piadas,

dando gargalhadas.

Tempo que não te vejo

por esses mares,

andavas vestido,

gritando eufórico,

perdendo sentidos.

Tempo que não te vejo

por esses caminhos,

andavas sorrindo,

cantando, falando,

mostrando os dentes.

Tempo que não te vejo

por esse bairro,

vivias cansado, calado,

cabisbaixo à vida.

Tempo que não te vejo

por essa cidade,

andavas apressado,

óculos na cara,

jogando milhar,

eras desconhecido.

Tempo que não te vejo

por esse Estado,

andavas tristonho,

diariamente sonhando,

tinhas manias,

vivendo de fábrica em fábrica.

Tempo que não te vejo

por essa Região,

sertanejo bravo,

cor da pele morena,

homem de compaixão.

Tempo que não te vejo

por essa Pátria,

andavas preso

com nó na garganta

e desapareceste.

Tempo que não te vejo

por esse mundo,

andavas de barco,

surgiu um naufrágio

profundo e nos perguntamos:

- “Estás vivo ou morto? “

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de dezembro de 1984

0663. MUITOS MUNDOS

Para que houvesse apenas um

Mundo no nosso mundo,

Pouco seria ao mundo

Apenas um no nosso mundo.

Muitos mundos existem no mundo,

No mundo de poucos mundos,

Uns são tantos no mundo

Que o mundo por ser tão pouco

Se perdeu no mundo de muitas

Ilusões de sonhos e mundos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de março de 1991

0664. UM SER E O OCEANO

O mar não chorava e nem entendia

que alguém tinha melancolia

por se chamar eu.

O mar não cantava, porém jamais sabia

que num melancólico dia iria chorar.

O mar furioso, às vezes tristonho,

idêntico ao tristonho que se chama eu.

No exato momento o mar comentava

que a lua pousava no leito que é meu.

O mar descontente com aquela calmaria

de um ser sonolento que se chama eu.

O mar reclamava do mar entristecido,

do universo que é meu.

O mar se agitava e o vento levava

as lágrimas magoadas do meu viver.

A lua me olhava, o mar me chamava,

eu apenas chorava por nada saber.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 28 de fevereiro de 1979.

0665. TEATRO COMUNITÁRIO

Somos nós que devemos armar nossa tenda.

Ela sobreviverá.

Nós temos esse pequeno espaço.

Ele deverá ser útil.

Entre um representar

e um aplauso, trocamos idéias.

Somos nós que devemos

armar nossa tenda. Ela foi útil.

Nós temos a arte como vida, portanto:

cantar será preciso, mesmo que esse destemido canto

se perca nas cordas vocais

dessa idéias.

Somos nós que devemos armar

nossa tenda. Ela sempre será útil.

Entre um representar e um aplauso

colocamos em prática nossas idéias.

Somos nós que devemos armar nossa tenda.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de abril de 1987

0666. UM GATO DESPROVIDO

Desprovido da vida

sem garras, sem nada

nada me atrapalha

eu vivi da palha

que cobria os campos

do meu coração.

Desprovido de tudo,

minha solução única

foi colocar minhas unhas

nos laços do mundo

e dizer num segundo

tudo é emoção.

Desprovido do sexo

leviano das ruas,

comi carne crua

e nasci para morrer,

e assim vou viver

desprovido de paixão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de outubro de 1981

0667. CRIANÇA

Criança

tu és

como a flor

que germina

outras flores

e no decorrer

dessas transfigurações

és deserto

e teu oásis

se expandiu

porque foste

mal compreendido

és como o natal

sem papai noel

enfim

és a vida

mal vivida

e encenada

por alguém

criança

homem

criança.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de julho de 1985

0668. SUJEITO VOLÚVEL

Bebe desgraçado

Vinga-te da vida

Embriagando outros

Que são loucos

Iguais a ti.

Amas um copo

E o trago composto

No interior do diafragma.

Se faltar ar

Culpa tua, não nossa.

Ajuda teu filho

De tua própria carne.

Controla teus nervos

Pois, se os mesmos

Estão trêmulos

Culpa tua, não minha.

Traze de novo

Teu meigo olhar

Não esse vermelho cachaça.

Agora toma teu filho

E o conduze ao mundo

Do liberalismo.

Tudo isso

É culpa tua

Não nossa.

Tudo isso

Culpa tua é

Minha que não é.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 03 de março de 1984

0669. MOLEQUE

Recalcitrante

Por natureza.

Levado, moleque

Traquino.

Calças curtas,

Um gurí repleto de entono

Cobiçado pela redondeza,

Cercado de glória, sua vida é um estória.

Seu perfil bonito,

Nos olhos a púrpura do meio dia

Transfigurada do sol... Assim segue

Mundos e fundos

Moleque gáudio, imensos cabelos.

Dentes pequenos,

Moleque célere,

Buscando da vida o lazer.

Moleque recalcitrante por

Natureza.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de fevereiro de 1985

0670. SE FOI UMA VIDA

Se foi uma

VI DA

Que com outra

VI DA

Te deu

VI DA

E hoje com essa outra

VI DA

Vives na melancolia

das reminiscências.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de agosto de 1983

0671. QUEIRA DEUS

Queira Deus

que o verbo escrito

seja profundamente

inválido

Queira Deus

que o pecado

do mundo

seja profundamente

perdoado

Queira Deus

que o princípio de tudo

seja profundamente estudado

e que as promessas não feitas

sejam esquecidas

pelo tempo

Queira Deus

que tudo sagrado

entre o céu e a terra

encontre resposta

na boca sedenta

de quem na vida aprendeu

entre socos e pontapés

o beabá da

cartilha

Queira Deus

que no rosto pé de galinha

surja a nova maquilagem

enquadrada na pele do verão

Queira Deus

meu Deus

que pecado tem o homem

pra comprar no infinito

seu lugar de morar?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de novembro de 1990

0672. CISCO NO OLHO

Um cisco no olho

de quem quer ver

pela manhã, logo cedo

é de amargar, pode crer

O olho da gente é engraçado,

sem cisco fica todo enxerido,

olha quem passa longe, perto

e fica todo pousante e metido

O cisco por sua vez

vendo um olho desprotegido

disse: é aqui que eu fico

para desespero do seu dono

O olho não podendo

mais nada enxergar,

fez um trato com o cisco

não querendo lhe expulsar

O cisco em tom de professor

lhe pronunciou uma série de cuidados,

para que naquele olho

nunca mais ficasse plantado

O olho leu o panfleto

e ficou agradecido,

colocou-lhe água corrente,

viu mais feliz um monte de gente

e começou a contar o ocorrido

O cisco vendo a limpeza

que circulava ao seu redor,

se escondeu por uns tempos

na casa do amigo sol.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de maio de 1996

0673. SEMIOLOGIA

Mãe,

no morro do meu pai

morro sem você,

corro o risco de não mais

ter paz,

sobre os meus cabelos, mãe

pai se declina

me ensina, mãe

como sentir prazer

sem que pai saiba.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de dezembro de 1983

0674. CABEÇA

Tenho na cabeça

uns pensamentos confusos

mexem com os sentidos

mexem com as estruturas

mexem com minha definição

de sim ou não

nesse exato momento

de indefinições

dos motivos

tudo é motivo

para um descontrole emocional

tudo é motivo

rumo às contradições.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 22 de janeiro de 1999

0675. FRIO

este frio tremendo

tremendo de frio

banho quente suportável

frio jamais pensar

que cidade tão linda

faz o frio esquecer

gaúchos em festa

chimarrão

e churrasco

jogo de futebol

este frio

de bater queixo

faz o amigo adoecer

desafiou o frio

ficou acamado

na espera do quente

dos lençóis

Bento Júnior

Porto Alegre-RS, 13 de julho de 1988

0676. QUOTIDIANO

Em páginas discretas

escrevo poesias

transcrevo os meus dias

que ecoam do além.

Transpassam mil considerações

nos brindes à vida

sorrisos de despedida

eu transcrevo também.

Noites de inverno

gestos me enlouquecem

pois os humanos se esquecem

do meu seguro perdão.

Nos dias bem quentes

problemas me rolam

e então me consolam

num final de verão.

Em papéis indecisos

descrevo alardes

mas sempre às tardes

irei depender.

Percebo

analiso

transcrevo

e reviso

para me envolver.

Bento Júnior

Alagoa Grande-PB, 15 de junho de 1980.

0677. QUEM SOU EU NO MOMENTO

Eu sou uma folha solta que vaga no ar

Eu sou um rio que transborda para o oceano

Eu sou um barco sem vela

Eu sou um jovem sem planos

Eu sou quem você não pensa

Eu sou quem nunca pensou

Eu sou o dia da noite

Eu sou a noite do dia

Eu sou o mundo dos homens

Eu sou o homem da terra - da água - do fogo e do ar

Eu sou o homem do mar e das florestas

Eu sou a vida dos outros

Eu sou o outro pensamento do viver

Eu sou a média exata da química

Eu sou a qualidade da física

Eu sou a média inexata da biologia

Eu sou a realidade dos sábios

Eu sou o vício da sabedoria

Eu sou o ser da mente encoberta

Eu sou o embalo divino mal visto

Eu sou o passado do presente

Eu sou o fácil e nunca desisto

Eu sou a máquina de datilografia

Eu sou o datilógrafo dela

Eu sou as palavras corretas

Eu sou o bom preso na cela

Eu sou o pouco de tudo

Eu sou o muito do pouco

Eu sou a metade do nada

Eu sou o nada do louco

Eu sou o observador das estrelas

Eu sou o medíocre do observador

Eu sou a lua no quarto minguante

Eu sou o que se agita pelo saber

Eu sou o dia após uma vida

Eu sou a vida após um perecer

Eu sou o nascimento do sangue

Eu sou uma despedida

Eu sou uma pessoa capacitada

Eu sou tudo - eu sou você

Eu sou alguém que procura resposta para cada pergunta...

Bento Júnior

Brasília-DF, 20 de setembro de 1987

0678. VISÕES DOS MEUS OLHOS SOBRE

O FIM DE OUTROS OLHOS

Foram tão pretos teus cabelos brancos

Tão cetinoso teu sofrido rosto

Teria sido tanto teu desgosto

Que assim marcou teu juvenil semblante

Foram decerto atrozes desenganos

Que envelheceram-te em muitos anos

Observei-te sem que me notasses

Julgava ver aquela mocidade

Que entrevia nas névoas da saudade

Da esquiva e sedutora esfinge

Resta somente uma recordação

É qual uma suave aparição

Que maculada mão jamais atinge

Seguiste altiva, pisando ilusões

Calando na alma a agrura do abandono

Nunca pensando que tão perto o dono

Desse sofrer que tanto sofrendo estava

Tentei seguir-te

Quis chamar-te ao menos

Não me movi

Os lábios meus cerrados

Permaneceram

Onde a minha alma aflita

Estorceu-se na mais cruel desdita.

Bento Júnior

Cuitegi-PB, 06 de dezembro de 1989

0679. SEMPRE CALADO

Se falo da vida, apressados me reclamam

Se falo do final, nada compreendem

Se falo de beijos, jamais se amam

Se falo de Jesus, logo me repreendem.

Se falo de sonhos, rápidos adormecem

Se falo de afagos, céleres se afastam

Se falo do universo, conhecer não querem

Se falo de batalhas, tão logo se desgastam.

Se falo de estórias, imediatamente me ignoram

Se falo de heróis, eles os desafiam

Se falo de risos, tristemente choram

Se falo da lágrimas, todos já sorriam.

Se falo de palavras, gestos me ensinam

Se falo gesticulando, me mandam cessar

Se falo de loucuras, em protestos se animam

Se falo de observações, percebo logo que devo me calar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 17 de maio de 1979.

0680. ADEUS DIA

Adeus dia

descansa o sol no momento em que não sinto o vento.

Estão calmas as flores, são senhoras dessa hora.

Mas parecem querer ir embora em busca de novos amores.

Fim de tarde

frialdade no horizonte... também os montes bem distantes

sem a luz no local.

O sol despede-se com o rosto entristecido

e as nuvens bem felizes, inspirações me oferecem.

Fim de dia

Estou triste com a serra, que nunca se encerra

numa conexão de perfeição.

E o céu me justifica, tudo que Deus criou

e sempre o conservou na vida sem inibições.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de maio de 1979.

0681. SER VIVO ATUAL

Olham o sol com seus olhos de progresso

mas esquecem o credor que com ele teremos.

Curtem a inteligência das máquinas operadoras

mas esquecem que o amanhã, duelo com elas teremos.

Olham o zodíaco com olhos de esperança

mas esquecem o certo do amanhã não é realidade.

Olham o ouro negro com seus olhos de virilidade

mas esquecem que é superior nossa impossibilidade.

Olham para a guerra e gesticulam seus planos

mas esquecem que a paz seria a melhor ideologia.

Olham para o bem com os seus olhos de exagero

modificando desairoso o próprio bem em burocracia.

Olham para a vida com pressa em evidência

mas esquecem que com calma chegaríamos mais rápidos.

Olham o final de um trabalho científico

mas esquecem a dedução que desde já é plácito.

Olham o progresso com seus olhos de segurança

mas esquecem um dos olhos que pode ser incapaz.

Olham o presente com seus olhos de abertura

mas esquecem infelizmente que estão fechados para a paz.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de dezembro de 1979.

0682. CONTRADITÓRIO

Correndo e sumindo de tudo que é triste

eu fico mais triste por nunca correr.

É grande a distância que tenho em mente

confuso e demente estou a viver.

Desprezo um sorriso, às vezes amargo

e num mundo largo me perco a chorar.

Ninguém me encontra, e sempre perdido

me encontro iludido e começo a soluçar.

Por chorar demais meu choro se cansa

minha vida se lança para nunca cair.

Os meus movimentos de todos os dias

são de alegrias que tento fingir.

Se encontro um amigo, ele nunca me encontra

e sempre do contra eu vivo a sofrer.

Se chega a morte, minha vida a mata,

meu silêncio acata ao menos um gemer.

Bento Júnior

Araruna-PB, 08 de setembro de 1980.

0683. INGÊNUA MENTE

Interpretando problemas

revela tamanha simplicidade

se aprofundar no fato, jamais

é sempre superficial

as suas conclusões.

Aborda que o passado foi melhor

e se utiliza de um ser bem simples

argumenta sobre uma concepção científica

é um mero jogo simples de palavras.

Explica com plena mágica

mas, vai se tornando frágil

na discussão aprofundada do problema.

Partindo sempre do princípio

de que realmente sabe de tudo.

Passionalmente é ágil no conteúdo,

mas cai sempre no sectarismo dizendo:

- “A realidade é sempre estática e não mutável”.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de novembro de 1980.

0684. SONHANDO

Deitando -se em pedras a curtir a lua

sentia a minha vida amarga e crua

e voava em tédios sem nunca pousar.

E aquela noite vazia e fria

encontro marcante eu planejaria

se existisse a musa que me fez amar.

Eu via volúpia no meu pensamento

e pensava em alguém, mas sentia

o vento como querendo me aliviar.

E então nesta noite de tantos desejos

só tinha incertezas nas redondezas

do meu amargo falar.

Se por acaso eu dormisse

teria esperança de ao menos em sonho

matar meu lado tristonho e com ela sonhar.

Então eu seria um ser bem contente

iria esquecer que nunca fui gente,

pois que de repente

tenho que acordar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de janeiro de 1981

0685. CARNIFICINA

Nas carnificinas do pasto bruto

urge ao vento o nome de Augusto,

entre todas as situações do mundo

canta o dissabor de um vagabundo!

que de um bar a outro bar se senta

e ouve dos ouvidos de Benta

o sermão bendito da vida

e a podridão da pele derretida!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de maio de 2000

0686. QUANDO TUDO PARAR

Quando a saudade apertar

Quando velho eu tiver

Quando o amor chegar

Quando tudo passar

Quando surgir o encanto

Quando minha vida passar

Quando a morte for pranto

Quando tudo em mim morrer

Quando o encanto não existir

Quando as mãos se fecharem

Quando o silêncio permitir

Quando, quando, quando

Tudo parar, o relógio do tempo

Grudado na parede ficar

O mundo terá o seu final.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 28 de fevereiro de 1976.

0687. CALMA COMPANHEIRO

Calma companheiro

Onde se encontra

Teus sonhos loucos?

Por ventura um poeta

Louco os pegou?

Nada disso...

Chora meninos pagãos

Na cova dessa encruzilhada.

O choro do pagão

Cansado chora.

Chorou seu último soluço,

Morreu o companheiro!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de maio de 2000

0688. PAPEL BRANCO

Papel branco

Voando

Perdido

Buscando

Outros ventos

Sorrindo

Se depara

Com o menino

O menino

Tem papel

Ficou sujo

Caiu no mundo

Gritou a senhora

De véu na cabeça

Caiu o papel

No muro

Pegou o coveiro

Enterrou o papel

Morreu o branco

Que voava

Nos céus

Daquela infância!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de maio de 2000

0689. CANTAROLANDO

Tal qual andorinha cantando feliz

Sou eu aprendiz na arte de amar

Meus mil professores me ensinam sorrindo

E assim vou partindo para o meu eterno lar.

No meu longo caminho

Vou formulando estórias

Que sempre em histórias eu vivo a contar

Não trato assuntos e nem tampouco choro

Na casa onde moro ninguém vai me olhar.

Sem armas e sem livros

Cadernos e coragem

A minha viagem manera o meu fim

Vou sempre cantando e estudo atento

Para que o vento me imite assim.

Bento Júnior

Brasília-DF, 21 de setembro de 1987

0690. MOMENTÂNEA SOLIDÃO

A solidão

desse momento é sofisticada.

Uma sinfônica orquestra

mexe os meus tímpanos

e me faz refletir

que o silêncio às vezes é barulhento

e o barulho às vezes é silencioso.

Me conformo apenas

com mil pensamentos

a rondar meu cérebro

mostrando aos meus olhos

o tocar das minhas mãos.

E uma vontade imensa de repartir um anseio erótico contigo,

fazendo dessa solidão um brinde à vida.

Pois é nela que solidão me evapora

solidificando os meus nervos,

deixando em minha pele um amontoado de sorrisos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 17 de março de 1986

0691. ESPERANDO UM OUTRO DIA

Ao cair do sol,

meus cabelos encaracolados sacodem-se.

De repente surge o crepúsculo.

Minha visão avista América do Sul.

Os pássaros cantam, as ondas do mar

silenciam-se.

O arco-íris transfigura meu ego. Permaneço ali.

Chega a noite, consigo vem algo estranho: a dor de cabeça. Uso óculos. Vem a puerilidade das coisas. Perpetuo inerte com o coração super lívido contracenando estrelas.

Lua clareia

todo espaço ofertado a mim. Continuo noite adentro,

tragando fumaças alheias, fumo impróprio da vida.

Outro dia, trabalho na certa. Uma porção de tarefas.

Me conformo apenas em esperar talvez um outro dia.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 1985

0692. POEMA SOLTO NA CABEÇA DO MUNDO

Nessa de fazer

Poema de amor

encontrei um poema

solto na cabeça

do mundo

do mundo qu’eu habitava

do mundo

que tu não vias

avistei teu mundo

explosão ingênua

maldita cena

de um espetáculo

sem fim...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 13 de abril de 1986

0693. SER HUMANO

o homem foi

feito para brilhar

por favor

não apague

a luz

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de abril de 1991

0694. CARA

Cara que conhece gente

que é tão contente

não conhece o mundo

quer ser vagabundo

amigo de um fulano de tal

de identidade fria

mora com a tia

não tem emprego

vive de arrego

culpa do seu passado

que foi

bom

bom

bom

bom

bom

bom

bom

bom

bom

bom

bom

bom

bom

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de abril de 1984

0695. NO MUNDO DA LUA

Migalhas torradas

Querubins domados

Bêbados ecléticos

No caos do país

O transeunte

Intransigente

Emperra o trânsito

Congestionado

Em tese

O espectador adormece

...E perambula no mundo

A lua tá linda

O espectador e todas as gentes

Constróem a claridade

E moram nesse lugar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de janeiro de 1999

0696. LUA QUE VEM SAINDO

Lua que vem saindo

redonda como um coração

mata os meus anseios

e provoca a minha emoção

esconde-se dentro das nuvens

como se fosse então

um cometa desconhecido

cavalgando sem direção

contracena com os meus olhos

no palco dessa escuridão

ilumina os meus sentimentos

faz de mim tua sensação

irei tocá-la com as mãos

sem que ela me veja

mas presa são as mãos

de quem tanto te deseja

Vai caminhando por aí

mas deixa o teu endereço

a foto já tenho comigo

quero apenas ser o teu amigo

que noite maravilhosa

céu lindo e estrelas no céu

despertando a minha saudade

lua bela com gosto de mel

num canto do muro

estou a te observar

querendo saber se em teu cantinho

existe alguém para te amar

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de maio de 1979.

0697. SEMBLANTE ENTRE ASPAS

Havia no semblante da “princesa”

um gosto amargo de não querer

ser ela nunca

Meu Deus

ela é um tédio

de arrepiar sonhos e vaidades

Havia no semblante do poeta

a vontade de esmurrar sua face

para ter certeza se ela chorava

e sentia a dor que outrora minha face

tivera lágrimas

Seu mundo tecnológico

num egoísmo de corroer a alma

seu egoísmo foi tanto que tanto fez para o poeta

passar a noite no benefício

que dela somente era

no final deu o troco e não respeitou os limites

e eu quisera está noutra, puto com a situação

mas feliz em aprender com a lição.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de maio de 1988

0698. PROCURANDO UM POEMA

Andei pisando pela sala

Pelo quarto, pela cozinha

Buscando um poema vivo

Para ter vida eterna

Na linguística da minha vida.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de setembro de 1982

0699. LIVRE

Hoje

me sinto só

quero voar

livre

sair de mim

não sei dos

outros

quero comer

tenho fome

necessito água

tenho sede

o corpo é vazio

a cabeça voa

o pensamento fica

livre

na mente

preso no corpo

o bastante é ter

fé na tenda

onde o possível

se delonga

somos apenas rebeldes

e sim

eu sou o oposto

quero voar

livre

sair de mim

não sei dos outros

hoje me sinto

quero voar

livre

sair de mim

quero voar

livre

sair de mim

não sei dos outros

quero voar

livre

livre

livre

livre

livre

livre

livre

livre

livre

livre livre

livre

livre

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de outubro de 1982

0700. CORAÇÃO DE ENCANTOS

Nos encantos do teu pensamento

me perdi de emoção.

Contemplei o dia adulto

e me perdi exclusivamente de amor.

Ah! solidão

joga sobre mim

toda essa saudade

brotada de minha vida.

Ah! solidão

observa as pessoas

pedaços desse mundo

e depois me conta

se sou a favor ou contra

esse tipo de amor.

Ai! meu coração

soluça

com a não terminação

se perdeu em cada esquina

pelo amor de uma menina

cresceu e depois...

Ai! meu coração

bate forte nesse peito

toque, toque com defeito

e espera quem sabe

um novo dia para dizer

ai coração.

Bento Júnior

Areia-PB, 13 de dezembro de 1982

0701. CONDIÇÕES SOB CONTROLE

Sobre o natural

das minhas entranhas

estranho amor anormal

capta mensagem do meu inconsciente coletivo

tenho minhas condições controladas

pelo dono do dinheiro

faço do pouco que ganho

tudo de muito que preciso for

ao vício do álcool

das minhas vísceras

dilatam-se as pupilas do meu amor

sobre as roupas rasgadas da minha imagem

adquiro permanência de cidadão honesto

bate o coração

no esplendor do dia

em mim guardo Josés e Marias

abençoadas pelo divino esforço

de todo meu exato verbo

quem me dar?

quem me dar?

quem me dar?

quem me dar?

quem me dar?

quem me dar?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 26 de janeiro de 1999

0703. FRAÇÃO

Ontem, sábado

Hoje, domingo.

Ele completa ano

E ela depois de um dia

Volta para casa.

Não trás consigo aquela barriga

Fez um crime às escondidas.

Namorou, se beijou, se encantou,

Transou, gozou, fez-se o feto.

Hoje, foi-se uma vida, e ela perdeu, quem sabe, talvez,

Ninguém sabe explicar o que seja certo ou errado.

Sabe-se portanto que uma vida tem que ser admitida.

Ela sofria nos braços da mãe,

Todos brigavam e lançavam palavras ao mundo.

Bento Júnior

Guarabira-PB, 28 de fevereiro de 1990

0704. PERMISSÍVEL

Entre

sente

ponha a mão

na comida

coma

permita

a fome

ceder

olhe

e engula

tome água

enxugue

a mesa

bote o prato

na cozinha

experimente

a sobremesa

gostosa

deliciosa

sorria

por hoje

deu para levar

amanhã

ele está aqui

proibido sou

de fazer o que fiz

apenas permiti

teu desejo

Bento Júnior

Belém-PB, 24 de dezembro de 1987

0705. PARE POR FAVOR, COMPANHEIRO!

Parou e olhou de lado

e nada viu. Buscou alguma coisa

e nada comeu. Sorriu para a tela

e num riso sem face dormiu...

Era tarde. Cansado no mundo

O companheiro ouviu o toque

de recolher de toda guarnição...

Morreu com os olhos tristes

que de tristeza tinha tantas

tantas que difícil seria contá-las...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de maio de 1990

0706. SENSÍVEL À FLOR DA PELE

Ele era um tipo elegante

e por ser elegante por natureza

sofria os encantos do mundo

e no mundo que vivia

sorria a todos com um sorriso

que mal cabia na face

cabia na palma da mão

que pegava lenço

e as lágrimas iam consertando-as

no rosto sagrado da sensibilidade.

Bento Júnior

Pilões-15 de novembro de 1988

0707. SENSIBILIDADE

Quando ela na sua sensibilidade

ouviu do outro

os sinônimos da ida

deu bons risos

e hipocondríaco

delirou seu pensamentos

na alegria efervescente

de falar demais

para um calar se preciso for.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de setembro de 1985

0708. FILOSOFIA DE INSTRUMENTO

Olha que tua cabeça

comanda o teu corpo

o momento, o tempo e a ação.

Conduz os teus passos

pra cima e pra baixo,

os teus braços pro sim e pro não.

Olha que tua cabeça

girando num mundo

que não gira em vão,

carrega lembranças,

teu riso, teu grito, teu parto, teu nascer,

teu morrer e até mesmo o teu perdão.

Olha que tua cabeça tem vida, é carga de força,

fogo e de luz... para tua cabeça pensar, pensar

e pensar, viver, viver e viver.

Verifico eu que a minha cabeça

pode ser uma arma poderosa que levada

às mãos me permite ser instrumento e mudanças.

E a mudança, sabendo que sou parte ativa

no seu processo, uso essa arma para

conseguir a igualdade social do

ser humano, daí, com a minha força,

destruir o poder da força.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1988

0709. UMA VELHA

Aonde a donzela mijou

eu mandei plantar roseira

sessenta léguas já cheira

muito mais do que canela

mandei fazer capela

vigário missa rezou

dez menino se batizou

todos dez foram cristão

eu vi um pagão

aonde a donzela mijou.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de julho de 1989

0710. ESTÓRIAS DE UM BÊBADO

Hoje em dia pra viver tá muito sacrificoso

se come pouco é biqueiro

se come muito é guloso

se anda limpo é pilantra

se anda sujo é seboso

se correr fica no frio

se matar é criminoso.

Por isso eu peço quando eu morrer

eu não quero que vá muita gente

só quero na minha frente

cinco garrafa de aguardente

que é uma coisa santa

pra quem bebe

dança

e canta.

Também serve de alimento

pra quem dar o nó na garganta.

Meu Avô tem dois alambique

pra vender a quem quer que seja

nessa medida se achou

um dia se embriagou

e teve uma grande peleja.

Minha mãe o dente lateja

com a grande decaída.

No Reino do Céu apareça

quem inventou essa bebida.

Da garrafa eu quero a vela

da tampa eu quero o caixão

deixe eu cumprir minha sina

morrer com o copo na mão.

Aí de baixo de um alambique

vou querer a sepultura

só quero que o povo diga

que eu morri dessa fartura.

Eu nasci em Uirapuru

bebo pingo molestada

e como carne de urubu.

Do casamento sou viúvo

e não gosto de confusão

bebo pra esquecer minhas mágoa

dentro do meu coração.

Um amigo de ignorância

mais do que a minha

disse que pra me curar

só um sapo de boca fechada

e uma preta galinha.

Eu pego no copo

me vergo e fico corcundo

levanto as sobrancelhas

e fico governando o mundo.

Observe que é um copo bem florado

sem nenhum dinheiro no fundo

quem vai pagar essa conta

é algum vagabundo.

Já enchi a paciência

e pra vocês eu peço

uma palavra amiga

que me tire dessa condição

e desse mundo de perdição.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 03 de janeiro de 1988

0711. MALUCA

Tenho minhas recordações

inseridas na minha cachola

de mulher feminista

maluca

apaixonada

politizada

tudo isso para viver

um grande amor.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de junho de 1987

0712. CRIANÇA CIRCO - DECLARAÇÕES

Num Circo

Nós admiramos, rimos e choramos

Mas choramos de alegria

De tanto Riso.

CRIANÇA CIRCO II

É no circo

que nós encontramos

um novo mundo

de felicidade.

CRIANÇA CIRCO III

Um circo sem estar

com as portas abertas

para o público

deixa na criança

um gosto amargo

tudo isso por não poder

sentir a pureza

para gritar o nome do

palhaço.

CRIANÇA CIRCO IV

O circo é um mundo

de artistas

que mesmo recebendo

o pouco que ganha

com a venda dos bilhetes

vivem no circo

para que ali

seu mundo

seja mais de alegria.

CRIANÇA CIRCO V

Toda criança

quer fazer parte de um circo

quer ser famosa

sendo malabarista

trapezista

ou equilibrista

uma criança que brinca quer

ser um desses personagens.

CRIANÇA CIRCO VI

O circo tem sua mágica

e com isso, todos que um dia

pisarem num circo, jamais

conseguirão esquecer

a alegria da brincadeira

de palhaçada.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de maio de 1979.

0713. SANGUE

Nasci não sei quando

morri diversas vezes

acorri no corpo de cristo

das dores, da gente pobre

da miséria, fome, desgraça.

Sou visível aos olhos

sou importante demais

como substância interna.

Faço parte da menstruação

tenho a cor do coração.

Na guerra podem me encontrar

na paz também me encontro presente.

Sou o resultado de uma briga

morte, etc e tal.

Muitos não podem me ver

outros brigam para me ter.

Se quiserem meu nome

eu sou a vida, eu sou a vida, eu sou a vida...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de abril de 1987

0714. VÍCIO DAS MINHAS INTIMIDADES

O vício comeu

minhas roupas

minhas peças íntimas

comeu o relógio

da minha hora certa

o vício comeu

minha paz

meu silêncio

o vício corroeu

minha vida.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de março de 1985

0715. DOMINGO POPULAR

Oh! Domingo

Vá na casa de Domingo

Diga a Domingo

Que domingo eu vou lá

Domingo pai

Domingo filho

Domingo neto

Domingo que mora perto

Domingo de carnaval.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de fevereiro de 1987

0716. HOMEM PACATO

Pacato homem

de barba

bengala na mão

encantando por onde passa

uma criança adulta

que brinca de circo

leva consigo as crianças

leva consigo as esperanças.

Bento Júnior

Pilões-PB, 19 de fevereiro de 1984

0717. ROSTO MARCADO

Marca de baton

o peito

e deixa

a boca

rodopiar

o corpo,

e quando

o gosto

mover esse jeito

não tem pressa,

cada rosto

se soma à vida

e cada ser oposto

se multiplica ao sonho.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de dezembro de 1987

0718. CLARO

Claro é o sol

que no claro do dia

brilha na luz

desse luar.

A arte é feita

de som, imagens

C l a r i d a d e!

Somos as letras

dessa esfera,

e nessa espera

se vai um segundo.

Pinta o sete

me ensina

a encenar,

canta este verso

que nossa arte

vai clarear.

Bento Júnior

Porto Alegre-RS, 15 de julho de 1988

0719. TÃO LINDA

Ela tem um rosto

tão lindo

como se fosse

a primeira vez

ela fala

coisas lindas

como se fosse

a única

ela canta e se encanta

com o primeiro amor

ela chora sorrindo

como se fosse a primavera

tão linda

minha cadela.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de janeiro de 1985

0720. TÃO FEIA

Ela tem um rosto tão feio

Como se fosse a última vez

Ela fala de coisas feias

Como se fosse a derradeira

Ela canta e se espanta

Com seu feio amor

Ela chora chorando

Como se fosse a morte

Tão feia

Era uma boneca.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1984

0721. DE BEM COM A VIDA

Hoje

por volta da meia noite

uma estrela acesa brilhou

no caminho lá de casa

Hoje

por volta do meio dia

a chuva iluminou meu mundo

e mostrou minha vida.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de março de 1983

0722. DE MAL COM A VIDA

Ontem

por volta do meio dia

uma estrela apagada

apagou a minha caminhada

Ontem

por volta da meia noite

a chuva inundou meus sonhos

e mostrou meus erros.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de abril de 1985

0723. DISTANTE DE MIM

Distante de mim

e perto dos outros

meus pensamentos

são balas.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de maio de 1986

0724. PERTO

Tão perto de mim

e distante dos outros

meus pensamentos

são luzes.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de junho de 1987

0725. SOLIDÃO

a solidão

era uma

pedra preciosa

flutuando

no pomar

da minha casa

pego pelas

mãos e começo

a imaginar

que minha vida

é uma solidão

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de julho de 1982

0726. COM TODOS QUE QUERO

Todos que quero

Estão dispostos a

Não ficar comigo

Culpa desse

Meu jeito

De ter todos

Em mãos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1988

0727. NÃO HÁ REMÉDIO QUE CURE

Não há remédio que cure

a dor que estou sentindo

não há remédio que faça

parar a dor que estou sentindo

Não há tristeza no mundo

maior do que estou sentindo

não há esperança de vida

que faça voltar os sentidos

Não há dinheiro no mundo

que pague a dor que estou sentindo

não há esmola das esquinas

que contribua comigo

Não há luz que clareie

o sol que queima minha face

não há promessa tão feita

que pare a dor que estou sentindo

Não há razão nessa vida

que mostre quem mais errou

não há certeza de nada

só há gemidos e dor.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de novembro de 1979.

0728. NOSSO

é a saudade

que nunca mais voltou

o nosso sonho

se perdeu pela calçada

nosso amor

que era lindo

se acabou

era preciso

dois carrões

daqueles grandes

para levar as lágrimas

do meu amor

Bento Júnior

Solânea-PB, 24 de outubro de 1978.

0729. EMBORA EU TENHA UM MUNDO DE

AMIGOS

Embora eu tenha um mundo de amigos

meu conviver é uma eterna solidão

comigo tenho apenas no peito

o sentimento de ter um irmão

um irmão que faça pirraça

e diga que não vai fazer

um irmão bem camarada

desses que a gente não consegue ter

eu tenho no coração de solitário

a lembrança amarga da dor

perdi meus grandes amigos

que se casaram e se mudaram

para bem longe dos olhos meus

agora eu tenho apenas no peito

a solidão de amigos do passado

que foram embora...

Bento Júnior

Florianópolis-SC, 14 de julho de 1988

0730. ISTO É BRASIL

Olha o Brasil aí, gente!

Onde já viu se exigir de kit?

Um nome estrangeiro

não é do País

e ainda faz parte da Lei

do Código de Trânsito Brasileiro

Onde já se viu

Constituição do Brasil, 1988

esforço social para barganhar

alguns ganhos

reforma constitucional

tudo que se ganhou , perdeu

onde já se viu

isto aqui é o Brasil

CPMF

imposto sobre imposto

paga você que passa cheque

paga você que saca cheque

isto é a cara do Brasil

O kit de primeiros socorros

tem tesoura cega

não corta nem sequer papel

imaginem um cinto de segurança

nas agonias da vida

Os políticos do Congresso

apadrinhados do Presidente

aprovaram um pacote

imaginem vocês

inativos que trabalharam o tempo todo

agora irão pagar Previdência

nós pagamos pelos erros dos outros

ainda soam nos ouvidos

é a crise e temos que tomar cuidado

As verbas públicas diminuíram

o assalariado é o que mais sofre

nesse sobe e desce das bolsas

na flutuação do câmbio livre

e viva nosso Fundo

só podemos, enquanto brasileiros

tomar alguma decisão

acompanhada dos homens do dinheiro

que emprestam bilhões

e têm de volta trilhões

O Brasil está quebrado

o que fazer nesse momento?

Temos muito o que aprender

e a votar será a nossa primeira aprendizagem

Estamos de olhos vendados

para algo que nos acontece

os canais de televisão

dão a notícia com a maior tranquilidade

como se tudo estivesse bem

e o povo (consumidor) é que tem que fiscalizar

Tem taxa de conta corrente

dizem que a poupança não tem imposto

mas quando se pega o extrato

o que se tem de disponível

é inferior ao que de fato se tem

Acabaram os órgãos de defesa do povo

não se tem política de preços

o Brasil está pelo avesso

o pobre está cada vez mais pobre

o rico cada vez mais rico

com a desvalorização do Real

é motivo para muita especulação

sobe o dólar em dobro

e ainda dizem que vão controlar a inflação

Nossa economia está falida

esperamos que o Brasil

retome o seu crescimento

ligar a televisão é sofrer demais

todo preço tem o seu aumento

o País precisa acordar

o povo não tem que cruzar os braços

precisa lutar pelos seus direitos

mas antes precisa saber seus

representantes escolher

No Brasil tem

homem que guarda dinheiro

dinheiro esse sem nenhum valor

ainda diz que fez um pacto com o capeta

para sua vida melhorar

o fantástico parece uma coisa engraçada

o jornal nacional uma brincadeira de criança

as novelas podem ser substituídas

tendo o título de “motel”

fazia jus ao que assistem

Trocaram a nossa língua

o inglês invadiu a nossa praia

um homem chamado chinco

botou na praia, um

e colocou o nome de “chico’s bar”

Nossos equipamentos eletro-eletrônicos

os dizeres são internacionais

língua estrangeira é matéria obrigatória

reprova mais do que português

Ao sair nas ruas

observem as placas que têm

o tanto de palavras americanizadas

nosso português fica para trás

nas propagandas contínua do nosso dia a dia

O que significa dizer que no Brasil

as leis são feitas de cima para baixo

não passa pela análise da população

e quando chega se torna obrigatória

A privatização dizem que é um mal necessário

estão vendendo as nossas riquezas

empresas brasileiras são poucas as que restam

até quando isso vai durar?

Estão privatizando tudo

nesses dias vão privatizar a nossa raça

mas como privatizá-las

se somos africanos, índios, portugueses, holandeses,

franceses, alemães, japoneses, latino-americanos

e acima de tudo norte americanizados?

o Brasil tem jeito

basta a união de todos

pelo amor ao nosso País

lutamos com unhas dentes

para no futuro ficarmos conhecidos

como “República Federativa do Brasil”

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de fevereiro de 1999

0731. MULHER QUE MORA DO LADO ESQUERDO

DA RUA SOLIDÃO

A moça que mora do lado

do lado da rua direita

é macumbeira

gosta de encruzilhada

faz trabalho pra Zé Pilintra

fica o dia na calçada

dança rumba

e considera a melhor rumbeira

essa mulher é um perigo

se sente a dona do mundo

tem lá seus dois metros de altura

seu corpo escultural

é corpo pra homem nenhum botar defeito

aquela mulher é um castigo

desses que se ocorrem de milênio em milênio

se veste de saia curta

não dar bolas para os machões

o seu negócio é com os menininhos

se diz feliz e luta pelo grande amor

essa mulher de tudo faz um pouco

usa seu corpo pra chamar atenção

mas se sente só

sozinha canta na sua mansão

essa moça quando quer algo

ela não pede, tira

e os homens ficam de água na boca

pedindo pra ela

que volte logo quando precisar.

Bento Júnior

Porto Alegre-RS, 15 de julho de 1988

0732. ACABOU-SE O QUE ERA DOCE

Seu moço

o que é que o senhor

tem nas suas mãos

se for comida pouca

me dá um pouquinho

pra matar essa fome

que me consome

e vai me matando

devagarinho

tem seis filhos

para dar de comida

olha que a vida

não tá nada boa

tinha um emprego

e fui despedido

enxugamento da folha

foi a explicação

o que é que eu faço

com sete pessoas

para comer o pão?

se o senhor tem piedade

e acredita em Deus

me dá um pouquinho

da tua comida pouca

o pouco com Deus

alivia o coração

o senhor já percebeu

pode me perguntar

por que esse homem tão novo

vive a pedir?

eu explico, seu moço

o que o senhor quiser

tenho saúde física, graças a Deus

mas sofro do mal psicológico

a minha cabeça não anda nada boa

perdi o emprego e todo dia saio

e a resposta “não tem vaga”

e a consciência vai ficando vaga

e o juízo começa a ferver

com sete pessoas

de noite e de dia

pedindo o pão sem nunca encontrar

olhe que já me deu vontade

de usar a força

invadir um supermercado

e pegar feijão, mas só isso não resolve, não

quem sabe o café, a farinha e o açúcar

a mistura deixava pra outro dia

a boca seca, racionamento de água

cortaram a água, energia também

a escuridão é tamanha nessa casa pequena

a indenização só deu para liquidar

as dívidas nas mercearias

já deixei de comprar

se eu morrer de fome

tenha piedade

não deixe meus filhos na ilusão

minha mulher paralítica

não se move não

por favor me dê um pouco de sua comida

não é para mim que estou pedindo

são sete bocas a implorar um bocadinho

desse homem que ganhou um tiquinho

e com o coração abençoado

irá dividir o seu bocado

pra matar a sede de quem tem fome agora.

Bento Júnior

Brasília-DF, 22 de setembro de 1987

0733. ANALISTA FRACASSADO

Enquanto uns se esforçam

para ter o seu carro do ano

a minha amiga

compra sem poder pagar

um carro zero quilômetro

e ainda por cima

não sabe dirigir

A minha vizinha

é um pouco esquisita

gosta de vagabundo

e transa uma maconha

de dia ela é moça

de noite é vigarista

e ainda diz

que precisa pagar

seu carro zero quilômetro

A minha vizinha

de tanto cheirar cola

agora passou a tomar comprimido

chega na farmácia

tá com dor de cabeça

e leva uma caixa pra se embriagar

A minha vizinha

já correu da polícia

terminou dois cursos na universidade

e diz que a vida tá difícil

e que precisa de tudo esquecer

A minha vizinha

já viajou o país inteiro

foi de movimento estudantil

namorou com uma professora de patologia

e diz que seu doutorado tá bem perto de sair

A minha vizinha é um pouco esquisita

transa de tudo que a vida dar

calada e tranquila

gosta de paz

e não se evapora

A minha vizinha

se sente a vontade

pra falar da sua vida

e de seus problemas

quer que eu guarde todo segredo

eu digo pra ela isso é impossível

eu preciso de você para ganhar o pão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de janeiro de 1981

0734. O BRASIL ESTÁ QUEBRADO

Nosso superávit comercial

que era de US$ 10,4 bilhões

se transformou hoje em dia

em déficit de US$ 5,5 bilhões.

Nossa vulnerabilidade externa

o déficit de transações

pulou de 1,7 bilhões

para o montante de 32,1 bilhões.

É o Brasil de Fernando

e quem paga são as Marias e os Josés.

Nossa dívida interna

de R$ 61 bilhões

deu um salto para R$ 304 bilhões.

É o Brasil de Fernando

e quem paga são as Marias e os Josés.

Perdemos mais de 30 bilhões

de reservas cambiais

tudo é passividade no governo do Brasil.

Vamos apertar o cinto

é a frase que se ouve

e quem sofre são as Marias e os Josés.

O juro está elevadíssimo

e o governo diz que não vai

permitir a volta da inflação.

Ameaçou o Mercosul

ameaçou a economia

paga a saúde, paga a educação

greves e mais greves

é instrumento de força

para derrubar o patrão.

A missão americana

chegou ao nosso país

um tal de Fischer

o homem da mala

veio botar ordem na casa

arroche o cinto, presidente

para o Brasil crescer ainda mais.

É triste ser brasileiro

com toda situação

onde fica o amor à pátria

com toda essa confusão?

Tome imposto, mais imposto

como fica o nosso povo?

CPMF, 0,38% de juros

não é o país que nós queremos

nem pra Maria e nem para os Josés.

Ajuste fiscal

demissões e mais demissões

em menos de um mês

dança um tal de Chico Lopes

a valsa da despedida

tocada pelo FMI.

Cadê o Banco Central?

Cadê o Banco do Brasil?

Cadê a Caixa Econômica?

Cadê a Petrobrás?

Pacote e mais pacotes

paga o assalariado

agora no Brasil

aposentado paga previdência

imposto de estradas

como fica o país

nas casas de Marias e Josés?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de janeiro de 1999

0735. PISCIANO PERDÃO

Para que espantar o medo se a vida

É um sonho de portas abertas?

Para que cantar no silêncio

Se o canto só sai nas horas certas?

Não se iluda com a razão do porquê

E nem tampouco aguente as dores da desilusão

Sabemos que o ciúme ajuda a convencer a mágoa

E a mágoa se transforma em perdão.

Esse perdão a gente não abre mão

E por motivo algum vai embora,

todo motivo é pouco porque alguém chora.

O choro é a chegada do querer

E o querer pede passagem ao mundo

Que o pisciano inventou num segundo.

Bento Júnior

Campinas-SP, 13 de outubro de 1987

0736. MUTAÇÕES

Eu era como a lua

às vezes minguava

às vezes crescia

e todos os dias

mendigava do patrão

o pão de cada mesa.

Eu era como o sol

às vezes quente

às vezes frio

e todos os dias

lamentava da sociedade

o retorno daquela cor.

Eu era como o mar

às vezes barulhento

às vezes calmo

e todos os dias

se agitava

em busca de liberdade.

Eu era como o céu

às vezes azulado

às vezes chuvoso

e todos os dias

pela mata virgem

caminhava curtindo

aquela estrela.

Bento Júnior

Mari-PB, 4 de junho de 1985

0737. AFASTA DE MIM

Afasta de mim

qualquer tipo

de incerteza

causadora de algum dano

Afasta de mim

todos os homens

longe dos outros homens

pensando apenas no sangue

derramado nas questões

burocráticas do cotidiano

Afasta de mim

toda feminista

todo machista

e no silêncio da noite

trazes de volta

a minha, a tua

a nossa tão sonhada calma

Afasta de mim

esse soldado

ele não é culpado

mas faz coisas obscuras

Afasta de mim

essa novela

ensinando aos telespectadores

a irrealidade do nosso viver

Afasta de mim

o trabalho que tenho

transmitindo ao patrão

esse capital recebido

nas horas incertas

de cada minuto

Afasta de mim

esse som

colocado pelo vizinho

conturbando

até os loucos

frequentadores

do seu recinto

Afasta de mim

esse cigarro estranho

essa arma estranha

esse fogo estranho

essa guerra maldita

esse medo do pecado

esse medo de errar

esse medo de acertar.

Bento Júnior

Cabedelo - PB, 16 de dezembro de 1979.

0738. PELAS QUE ME...

Pelas forças que me prendem

nas garras dessa prisão,

façamos de conta que tudo é bom

e nada contrário ao coração.

Pelas maldições que me mandam

percorrer mundos e fundos,

noto em cada olhar maldito

a sensibilidade dos vagabundos.

Pelas leis que me evaporam

sou mais ligeiro que os impossíveis,

fico trêmulo na medida

em que os homens ficam invisíveis.

Pelas aulas discretas que me ensinam

algo de bom na temperatura,

lamento-me com qualquer coisa

na mais cruel e profunda loucura.

Pelas igualdades de classe que me façam

pensar que o amanhã virá azul,

sou tudo que te falei meu bem

na concretização de ficar nu.

Bento Júnior

Belém-PB, 18 de agosto de 1984

0739. COGUMELO

Nos cogumelos

um dia

talvez

me realize

dos tragos

que nus trocamos

um cheiro

quem sabe

fosse o resto

de uma fumaça

entre lábios

lívidos

queria ser

o total sabor de

de toda idéia

para te dizer

o quanto nus

curtimos.

Bento Júnior

Pirpirituba-PB, 06 de junho de 1983

0740. QUERIA PODER

Queria poder

sorrir da tua cara

zombar dos teus olhos

e numa simples mágica

desvendar o mistério

Deus.

Queria poder

ser um carro

andar bem devagarinho

a rodovia é uma estrutura de barro

Queria poder

amedrontar o povo

buscando algo novo

vive mal-encarado

Queria poder

desenvolver uma letra

de uma melodia

dolorindo meus tímpanos

com o nome de latifúndio

Queria poder

comer tua carne

torcer tuas palavras

e numa realidade

provar teu órgão.

Bento Júnior

Guarabira-PB, 24 de setembro de 1985

0741. O HOMEM

depois dos trinta

não há quem segure

a queda do homem

na ida ao médico

a idade longa

problema de cabeça

superior e inferior

não há quem segure

um urologista

inflamações

reclamações

antibióticos

antiinflamatórios

chegou a idade

depois dos trinta

idade da consciência

rumo da ciência

não há quem resista

as tempestades do tempo

é chegada a hora

coração

intestinos

rins

estômago

neurônios

pulmões

coluna

olhos

garganta

nariz

boca

dentes

membro

superior

inferior

veias

sangue

aparelho reprodutor

cuidado é pouco

nessa vida pouca

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de fevereiro de 1999

0742. LAMENTAÇÕES

Quero

espero

desisto

insisto

canto

pranto

morro

não peço socorro

quero e espero

desisto no momento

em que insisto

então meu pranto

será o canto

que tanto insisto

e nunca desisto

no entanto espero

e quero também

meu canto plebeu

socorro - morro

porque espero o que quero

quero tua voz entre nós

para que eu possa plagiar

teu canto - meu canto.

Bento Júnior

Salvador-BA, 20 de julho de 1988

0743. MENINOS PASSARINHOS

Misterioso pássaro

de asas perpendiculares

pousou nos fios

e bateu asas

hoje o canto que se ouve

não é mais de pássaro

são de meninos que voam

ao encontro do chefe

da sub-estação.

Bento Júnior

Santa Luzia-PB, 15 de junho de 1986

0744. A GAIOLA E O MENINO

pequena gaiola

que fazes aberta

se dentro destas comportas

mora o pássaro que canta?

eu abro a porta

pra dar liberdade

ele tem alta idade

e não sabe voar!

se ele não voa

por que não está aí?

deve ser engolido

nessas andanças

coitado do pássaro

dentro de ti

ele está mais seguro

preste atenção

nas palavras que digo

melhor liberdade

correndo risco

do que a prisão

sendo vigiado

pássaro não

mas tem as pernas

e se ele voltar

minhas portas vão

continuar abertas

Bento Júnior

Recife-PE, 20 de setembro de 1993

0745. FELICIDADE DE CORAÇÃO

Os corações que se juntam

pensando ser um

no coração do outro

não sabem o risco

que estão correndo

pois cada um tem

suas individualidades

suas qualidades

suas responsabilidades

suas penalidades

suas maldades

suas amizades

suas funcionalidades...

não é justo, vocês

juntarem os corações

quando na verdade

eles precisam respirar

para terem felicidades.

Bento Júnior

Jaboatão-PE, 06 de maio de 1989

0746. O GUARDA E DONA ZEFINHA

Não foi hoje

Talvez ontem

Ou , para bem dizer

Foi hoje

Que o guarda sumiu

Com todo dinheiro

De toda vizinhança

Foi beber na bodega

E não trouxe o troco

O troco do guarda

Foi levar umas cabadas de pau

De dona zefinha

A verdadeira dona

Do troco do guarda.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de maio de 1988

0747. O CAPITAL NÃO FICA AQUI

Nessas cidades por onde vários

automóveis trafegam

lá bem longe onde

o ônibus faz curva

mora o dono da cidade

de paletó e gravata

ele dar as ordens e leva o dinheiro

de todos que guiam

de todos que moram

de todos que passam

nas ruas daquela cidade.

Bento Júnior

São Paulo-SP, 22 de setembro de 1987

0748. DO TEU SEIO

todo sabor

que trago

no peito

reflito

perante

meu jeito

malandro

de ser

e passo a ver

o sinal bonito

que trazes

da vida

Bento Júnior

Natal-RN, 14 de abril de 1992

0749. A DESDITA

Loucura

Escritos

Renascendo

A vida é boa

O homem sonha

O perdão

Lamentos

De um coração

Que se perde

Na manhã fria

Calar

É preciso

Falar

A essência

Tristeza

De cabeça

Que sacode

Estranhos pensamentos

Vindos de longe

Fechando as portas

Da entrada do aceitar

Sentir

Tudo

Na provação

Do ser saudade

No olhar

Da verdade

E no unir

Da compreensão

Precisa de fé

Para aliviar

Os diabinhos

O orgulho

De nascença

Já é crença

Necessita

Se sentir mundo

Se sentir gente

Olhar de frente

Tudo passou

Presente

À nossa frente

Que se oferece

Conscientemente

A mudar o rumo

Desse destino

Homem

Crescido

Menino

Que empinava coruja

Que jogava bola de gude

Que brincava de pião

Que brincava de festa junina

Que brigava

Que ganhava

Que apanhava

Que cantava

Que sorria

Que banho de rio

Tomava

Que pelada na rua

Jogava

O destino

Um passo

Dois passos

Vários passos

A vida é boa

O sonho

Está começando

É o começo

De mudar um pouco

Do muito

Estabelecido

Pela ordem

Desordem

Das roupas

A união

Daquele coração

E pelos argumentos

Desse roteiro

Não falar

Do visto

Viver

No hoje

Ser por ser

Viver

Por ter fé

No outro

E em tudo

Visto

Que se fará

Esquecido

Pelo tempo

Desbotado

Pelo silêncio

Que tomará

As rédeas

De todas

As canções

Tristes

Cantadas

Pela multidão

Faminta

Do momento

Trépido

Em que se encontra

Os neurônios

Dessa vida

Chamada

Saudade

Dos bons momentos

Passados

No passado

Bem recente

Do ato

Existir.

Bento Júnior

Teresina-PI, 24 de junho de 1995

0750. ADJETIVO DO AMOR

o AMOR

é tão

belo

como

uma flor

mas às vezes

não parece

ser

quando se ama

de puro amor

tudo é lindo

ao amanhecer

Bento Júnior

Maceió-AL, 18 de julho de 1992

0751. MENINA DO DÉCIMO ANDAR

Durante todo tempo

meu momento foi sempre esperar

agora o que fazer

se a menina do décimo andar

em vez de ser só uma

são mais de dez

querendo me amar?

Neste momento duro

de tamanha indefinição

o meu pecado foi

esperar demais

por mulheres vadias

não sabia que naquele edifício

nada era difícil

tudo se tornou fácil

e agora sou feliz.

Não tem problema mão

sacode o tempo

e dar ao tempo

o tempo que preciso for.

Das dez mulheres lindas

tenho certeza que gosto de uma

mas quero ficar com as outras

já esperei tanto tempo assim

e nada melhor

do que não desprezar nenhuma

dessas companheiras

elas ficariam magoadas

e o meu pecado

com certeza aumentaria.

Bento Júnior

Cabo-PE, 15 de outubro de 1985

0752. UM FUTURO QUE SE TORNA PASSADO

Num instante

a reencarnação

da pessoa surge

Deus a fez

cognitivamente divina

Num instante

o corpo físico

estaciona

a mente

se decepciona

A reencarnação

da pessoa

se deu no Oriente

é melhor

fechar os olhos

no Ocidente

e ficar como estar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de fevereiro de 1995

0753. SORUMBÁTICO

Há momentos

num multidão

você olha de lado

e se sente

sozinho

caminha

e o pensar

voa

voando

em dois momentos

um com muitos

um com uma

indiferença

paciência

discussão

corre perdido

sentido

um mais um

coração.

Bento Júnior

Teresina-PI, 24 de dezembro de 1996

0754. PASSANDO ENTRE ESCADAS

Andei batendo copo

duvidando do mundo errado.

Fracassei perante à vida

gostando simplesmente

de horríveis momentos agonizantes.

Imaginei ser um poeta

ou mesmo jagunço dos sertões

lindos da minha terra.

Matei a sede do povo faminto

nas caminhadas gostosas

onde olhava a lua de casa

da rua particularmente do quarto escuro.

Quase tornei-me boêmio

roubando a mulher que hoje vivo.

Sei de coisas poucas

que são muitas

trocadas em versos e prosas

unidos ao lado humano de ser.

Viajei nas sentimentais bocas

que dançam xaxado nesta

perdida ilusão

onde Zé e João

zefinha e Maria são filhos

da minha perdida espera.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de março de 1991

0755. NOITE SONORA

Na noite sonora

De pessoas tantas

Uma santa sem altar

Fez festa

E um diabo a convidou

Para levá-la

De volta aos céus

Ao encontro

De Deus

Um zum zum na cabeça

Risos

Abraços

Protetores dos assaltos

Sequestros

Nos estados da vida

Que se fez sono

Ou insônia

Nas estradas da reflexão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1991

0756. UM POEMA DE LUA MINGUANTE

Não é de nuvem

que se vai falar

se fala de lua

detrás de um céu

entrada de chuva

na noite que cai

deixa minguante ficar

que bom que você veio

me fale escondida

me conte os segredos

dos mistérios escondidos

no fundo do mar

lua branca

em cima de mim

tímida e cruel

pedaços de saudade

guardados do céu

lua de jampa

por onde tu andas?

onde queres que vá, vou depressa

sem papel e remessa na lua morar.

Bento Júnior

Rio de Janeiro-RJ, 25 de setembro de 1987

0757. DISTANTE LUGAR

Um saudosismo

profundo

entre céu

e o mar

o que fica

da praia

são perguntas

sem respostas

de ficar aqui

e pensar

em outro lugar.

Bento Júnior

Aracaju-SE, 25 de dezembro de 1984

0758. UMA PALAVRA APENAS DITA

Mesmo que o sonho

seja uma doce ilusão

e o perdão

um amontoado de conturbações

nada melhor ao corpo

do que se vestir de prazer

e trafegar nu

na praça dos três poderes.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de janeiro de 1990

0759. LIMPA, LIMPA

Limpa que fico bem

bem fico com a minha vida

vida essa que me ensinou

que amar é apenas um verbo

escritos nos cadernos da vovó

e vovó sempre me falava

que amar era mudar

toda uma estrutura

de vocabulários

então modesta parte

vovó tem razão, só não me ensinou

como viveu tanto tempo com vovô

“o tempo era outro”

tudo muda nessa rotina

corriqueira que se chama mundo.

Bento Júnior

Areial-PB, 25 de maio de 1987

0760. PLANOS

Não vou

mais fazer planos

planos

perturbam comigo

viverei apenas de momentos

momentos

estão de bem comigo.

Bento Júnior

Esperança-PB, 26 de maio de 1987

0761. TEMPO POUCO

Na saída com amigos

a vida se faz segredos

de cidade pra cidade

este mundo me causa medo

num encontro casual

a cidade me faz mal

vou morar no interior

pra despertar o senhor

no meu jeito anormal.

Bento Júnior

Sapé-PB, 25 de novembro de 1990

0762. POETA EXPLICATIVO

Não me chamem

de poeta

eu apenas escrevo

o que vai saindo

da minha cabeça.

Bento Júnior

Santa Rita-PB, 20 de março de 1991

0763. UM LUGAR DE FRIO PRA LUA SE SENTIR MEL

Donde me veio a idéia

de tirar o pensamento

esquecer o momento

do grito da coruja

assombração

ilusão

Era a cidade dormindo

nós dois distantes de todos

juntos de todos distantes

era a cidade escolhida

do frio tremendo

nós dois

Agora o tempo se foi

e a lua se escondeu

precisamos de ter

uma resposta

ao menos

O frio tá forte

Bento Júnior

Garanhuns-PE, 26 de março de 1994

0764. TURMA DE NOVOS

esquecemos de tudo, esquecemos da vida

esquecemos dos compromissos

esquecemos daquilo e daquilo, esquecemos dos sonhos

novas amizades, danças e danças

lembramos do compromisso

lembramos daquilo e daquilo

lembramos dos sonhos, novas amizades

danças e danças

Bento Júnior

Garanhuns-PE, 15 de março de 1995

0765. TEATRO AMBULANTE

Na Grécia antiga

já se fazia

um tal de teatro

andando nas ruas

ganhando um trocado

rodando o chapéu

hoje também

apesar do espaço

a história é a mesma

depois de séculos passados

a história se repete

e não há como mudar

isso é que é teatro

feito para o povo

em qualquer lugar.

Bento Júnior

Cajazeiras-PB, 10 de janeiro de 1985

0766. TEMOS MUITO O QUE APRENDER

O sonho que temos

é sinal de discórdia

O sonho que temos

é sinal de concórdia

Bento Júnior

Souza-PB, 11 de janeiro de 1985

0767. EM QUALQUER LUGAR

Em qualquer lugar

onde houver espaço

para habitar um sonho

deixe-o se expandir.

Bento Júnior

Pombal-PB, 13 de janeiro de 1985

0768. DISSE ME DISSE

Acordar cedo

pegar no cabresto

pegar na cela

botar no transporte

ainda com sono

e se mandar

assim é aqui

num disse me disse

casa de amigo

cartão postal

disse me disse

viagens e viagens

por dentro do mato

não há quem resista

acordar cedo

pegar no galope

dar adeus e ir embora

Bento Júnior

Rio Tinto-PB, 24 de novembro de 1980.

0769. TODOS

Todas as mulheres

deste lugar

são boas e bonitas

e no seu olhar

mora a certeza

do coração

sonhador.

Bento Júnior

Mamanguape-PB, 25 de novembro de 1980.

0770. AOS OLHOS DE OUTRA TERRA

Este aqui é o lugar

onde o queijo

se faz mais leite

onde o homem virou futebol

das minas do nascimento

aos olhos desta terra

habita a paz do lugar.

Bento Júnior

Belo Horizonte-MG, 30 de setembro de 1989

0771. FRIO SULINO

Que frio da bexiga

que frio da peste

palavra de homem

que invade o corpo

não tem que dê jeito

o frio é tamanho

aqui desse lugar.

Bento Júnior

Curitiba-PR, 10 de julho de 1988

0772. MINAS ESTAMOS AQUI

Somos paraibanos

filhos da Paraíba

estamos em Minas

estamos em Valadares

somos brasileiros

brasileiros , sim

queremos brincar, brincar de correr

cuidado criança, o ônibus já vai sair

adeus Minas

até breve!

Bento Júnior

Governador Valadares-MG, 25 de setembro de 1989

0773. TANTA SAUDADE

Tanta saudade

faz doer

o peito entristecido

por enquanto

a mulher vai saciando

cada palavra

cada parada obrigatória

faz doer esta saudade.

Bento Júnior

Petropólis-RJ, 03 de outubro de 1989

0774. PRAIA SOLIDÃO

Quando o tempo

disse pro tempo

cuidado para não cair

o tempo foi se cuidar

e a praia se tornou solidão

Quando o tempo

se explicou

e o vento balançou

as palhas desse coqueiro

a praia se habitou

e todos queriam morar.

Bento Júnior

Baía Formosa-RN, 25 de setembro de 1991

0775. FUMANTE

O fumo acabou

o vizinho

do lado de cá,

o fumo

fumado

comprava de tudo,

agora o vizinho

de tanto fumar

acabou sozinho

sem respirar, cansou

não vai mais fumar, sofreu

com a negligência médica

o vizinho do lado de cá,

hoje mora no lado de lá.

Bento Junior

Conde-PB, 15 de maio de 1985

0776. A MENTE

A mente não pensa

mas escuta segredos,

foi ao campo de futebol,

convidou todo time.

E o time

com mais de onze

perdeu o jogo

e brigou com a mente.

Toda torcida gritou:

Mudar o time

por favor.

Esse time tá ficando doido,

falta cabeça pra fazer gol.

Bento Júnior

Caruaru-PE, 05 de junho de 1987

0777. BEIJO DE QUEM SE AMA

Beijo de quem se ama

é beijo bem beijado,

beijo de quem se

apaixona é beijo tarado,

beijo de quem se quer pela vida

é beijo guardado.

Bento Júnior

Parnaíba-PI, 25 de dezembro de 1996

0778. LÁPIS

Um lápis azul

sonhou ser caderno

ao acordar pensou ser papel

o papel ao lado trocou com o lápis

sirvo pra você colocar seu nome

em cima de mim.

Bento Júnior

Itabaiana-PB, 21 de maio de 1984

0779. BOLA NA PRAIA

Brancas estremecem

abertas ondas

rolam bolas

e a saliva

se esfola

no orvalho do céu.

Bento Júnior

Taguatinga-DF, 23 de setembro de 1987

0780. QUANTA SAUDADE

No perplexo

arrependimento

o orgulho se cala

gemem bocas perdidas

choram olhos degenerados

o céu já se foi

outrora o sono

de perder ou ganhar

vencer o mais pusilânime

ao acordar o homem

sente saudade

e lamenta seus prantos:

bem feito o tempo

de ser sempre o ter.

Bento Júnior

Araruna-PB, 09 de setembro de 1990

0781. O JARDIM

Ocupe a mente

e não deixe-a

s o z i n h a

mente só

improdutiva

plante uma árvore

bote águas nas plantas

execute tarefas

cuide bem de sua

mente jardim.

Bento Júnior

Serraria-PB, 07 de maio de 1983

0782. SIGA A RETA

Você vai

se perde

perde

o caminho

e volta

sem seta

ao caminhar

descobre

siga essa reta

volte e viaje

em paz.

Bento Júnior

Guarabira-PB, 07 de maio de 1983

0783. ESTE SAPATO

Dizem que sou um sapato

um sapato, porém, bastante lindo

vivendo por aí a andar

desço ruas, subo ruas, mas ninguém

consegue me ver.

Me usam como objeto

e não lembram que posso desabar

eu deixo sempre o povo belo

comigo nos pés, meu amigo pode crer.

Quando estou em seus pés

me tratam com bastante carinho

sou feito de couro legítimo

tenho dores, estou a sofrer.

Quando estou bem velhinho

me jogam lá pelos cantos

nas ruas, nos matos, em todo lugar

acho que preciso morrer.

Agora não precisa se preocupar

comigo e nem com os meus amigos

estou aqui e vocês bem sabem

estou aqui para viver...

Bento Júnior

Campina Grande-PB, 15 de outubro de 1993

0784. A BOLA

Eu sou feita de couro

couro, matéria forte.

Mas não há coisa no mundo

pior do que a morte.

Falo isso com toda razão

e vocês vão saber o porquê,

quando o couro está estragado

eles me jogam num canto de lado.

Isso pra mim é morte

e não tenha quem me tire da cabeça,

num campo de futebol

consigo belas jogadas,

mas na hora do gol perdido

tome, tome porrada.

Eu sou muito mal tratada

até por incompetentes,

mas quando estou na rede

eu agrado a tanta gente.

0785. ESTE SAPATO II

Eu sou um sapato,

sapato furado,

meu dono é chato,

me deixa jogado no chão.

Ele só usa tênis,

coitado de mim fico a esperar,

um dia talvez ele me use,

vai ser a maior confusão.

Quero pedir ao meu dono

que não faça isso comigo,

tenho família para criar

e preciso de uma mão.

Tenho família grande,

grande de tanta gente,

gente que não acaba mais,

deixe-me ganhar o meu tostão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB,, 24 de outubro de 1994

0786. O CHEFE E A CASADA

De tanto dar em cima

da mulher casada

o chefe a convidou

a mulher o aceitou

foram ao motel da vida

lá foi muito bom

enquanto durou...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 26 de março de 1980.

0787. PASSA, PASSA, AMOR PASSAGEIRO

Amor que passa

Amor que fica

Amor que vai

Amor que vem

Vem amor

Vem amor

Vem...

Amor que rola

Amor que brilha

Amor que encanta

Amor da minha vida

O amor é lindo

O amor é belo

O amor é fruto

De uma grande paixão

O amor é...

O amor é a mais doce emoção

O amor é a mais doce emoção

Amor do mundo inteiro

Amor de todo mundo

Amor de vagabundo

Amor que rola sem dor

O amor rola

Como a bola

O amor é sonho

Todo mundo quer sonhar...

Bento Júnior

Santa Luzia-PB, 06 de dezembro de 1987

0788. ESTE SAPATO III

Sou apenas um objeto

e pergunto: quem sou eu?

Existo de várias cores

e pergunto: quem sou eu?

Sou vários tipos e modelos

e pergunto: quem sou eu?

Sou alto, magro e tenho salto

como também vários formatos.

Quem sou eu?

Às vezes eu sou pequeno

no pé de quem em compra,

mas a culpa não é minha

é do dono que não me provou.

As pessoas falam

que não giro bem da memória,

eu pergunto quem sou eu?

Eu sou um tal de sapato

será se alguém daqui me conhece?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de setembro de 1996

0789. ESTE SAPATO IV

Resolvi castigar meu dono

apertando-lhe o calcanhar,

porque na semana passada

esqueceu-se de me engraxar.

Resolvi castigar meu dono

esmagando-lhe o dedão do pé,

para ele ter mais cuidado

e não me deixar com tanto chulé.

Resolvi castigar meu dono

puxando-lhe pelas pernas,

para ele ser mais gentil

e cuidar do meu solado.

Meu dono resolveu me castigar

por tudo que eu tinha lhe feito,

jogou-me dentro de um saco

e não servi nem pra ser comprado.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 30 de dezembro de 1997

0790. EDUCAÇÃO

Educação , palavra doce

que traz tanto amargor,

ao ver crianças nas ruas

chorando sem ter amor

Uma palavra tão linda

mas tão distante de sentir

E há tanta gente que a escreve

Sem sabê-la traduzir

Educação, tão linda e tão bela

muita gente precisa ter,

palavra que o mundo revela

com os olhos do bem-querer

Um olhar que se lança

nas crianças que sentem dor,

educação - irmã da esperança

educação - filha do amor

Uma palavra tão pequena

mas diz tudo de uma só vez,

por ela valeu a pena

inventar o português.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de janeiro de 1982

0791. JESUS

Jesus é a luz da vida

Jesus é a luz do amor

Jesus é o nosso irmão

Jesus

nosso salvador.

Jesus

morreu na cruz

morreu para nos salvar

Jesus

nos deu a luz

para podermos caminhar

Quem caminha com

Jesus

tudo de bom Ele faz

com Jesus dentro do peito

no coração só tem paz.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de março de 1982

0792. ERA UMA VEZ A NATUREZA

Natureza linda

enche os olhos de quem vos ver

os olhos de quem não ver

é sentido por outro sentido

sentido de ver por dentro

enxergar melhor até

de quem tem como ver

e ver o que não quer.

A natureza é por-do-sol

toda tardinha

feliz daquele que sente

o prazer dessa emoção.

Natureza é vida

natureza é inspiração

natureza é Deus sentido

por todos sem distinção.

Natureza é o mundo

mundo de se viver

quando o homem não pensa

acaba a natureza

mata toda floresta

para enriquecer.

Natureza precisa de força

de força de todos nós

se não lutarmos por ela

o que será de todos nós?

Bento Júnior

Garanhuns-PE, 26 de março de 1994

0793. LOUVA-ME TESÃO

A rapidez dos teus beijos

encheram-me de desejos

quanto mais precisa de ti

mais longe meu amor estava

O que faço com tanto tesão

dentro do meu coração?

O que faço com minha pele

que precisa tanto de ti?

Louva-me Senhor

de todos os males

de todos os sonhos

e aclama o nome tesão

e louva-me junto de ti

Tesão saudade

de vida

tesão de arrepiar

tesão de pura luta

lutar por um amor

amor da minha pele

tesão por uma mulher.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de dezembro de 1982

0794. CRIANÇAS ABANDONADAS

As crianças abandonadas

não têm família nem lar,

são todas desprezadas

não têm como estudar.

Vivem nas ruas

nas ruas pedindo esmolas,

para ter o que comer.

Se drogam cheirando cola

para toda fome esquecer.

Algumas se tornam ladras

são capazes até de matar,

sabem que o futuro

tá difícil para mudar.

O sonho de ser criança

criança livre, livre de família

se esbarra no meio da rua

estão presas numa ilha.

Ilha que não tem volta

não tem volta e nem hora

hora para voltar

se conformam em certos momentos

roubando para a ferida sarar.

Criança ainda há tempo

tempo para tudo começar

joguem de lado essa lata

esqueçam o que tem dentro

e vamos comigo lutar.

Lutar por um mundo melhor

onde haja paz e harmonia

não somos contra esta vida

mas nos falta um pouco de alegria.

Alegria foge do rosto

no rosto às vezes a mágoa

faz morada e não quer sair

tenhamos certeza, crianças

é preciso força para uma nova vida começar...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de abril de 1983

0795. UM POUCO DE PAZ

Se no mundo

não existisse

armas

drogas

e corrupção

e também não

houvesse

fome

miséria

e ambição

seria um

mundo de paz

de amor

e união

ajudávamos

uns aos outros

viveríamos

como irmãos.

Bento Júnior

Natal, 13 de abril de 1993

0796. ANTIGOS CARNAVAIS

Os antigos carnavais

nos enchia de alegria

contagiava nossas danças

animava multidões

Eram fantasias

colombinas

arlequins

e marchinhas animadas

no salão todo mundo dançava

e alegrava seus corações

Nossos antigos carnavais

não tinha esse tal de trio elétrico

lança perfume era o caos

droga nem pensar

era assim nossas tardes de carnavais

Lança de água

bomba de água

água nos ônibus e nos carros

e nas pessoas que passavam

e olhem que tudo era proibido

mas nós que éramos crianças

brincávamos e nos alegrávamos

era um carnaval de tremenda folia

Os antigos carnavais

tinham músicas de profundas letras

e melodias de dar água na boca

hoje em dia dezenas de bandas

tocam a mesma música

apelam para a sexualidade

e dar saudade dos antigos carnavais

Dar saudade demais

no tempo de criança

brincar carnaval

nas ruas da cidade

nas ruas do bairro

tudo era alegria

a máscara da felicidade

era verdadeira naquele tempo

sorríamos sem preocupação.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de maio de 1984

0797. CARNAVAL 75

Carnaval setenta e cinco

é na Praça Castro Pinto

a nêga roda que só um pião

pula tanto nesta praça

que chega a cair no chão

Carnaval setenta e cinco

é aquela diversão

a nêga na folia

faz aquela confusão

brinca tanto nesta praça

que chega a cair no chão

Neste carnaval

se diverte a multidão

confetes e serpentinas

mulheres e meninas

empregado e o patrão

Carnaval setenta e cinco

este ano vai ser bom demais

brinca a moça e o rapaz

cornetas e bombos

é grande a agitação

Carnaval setenta e cinco

vai ser na Praça Castro Pinto

o povo se diverte com maior animação

tem lugar pra todo mundo

traga sua fantasia e caia no salão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 28 de janeiro de 1975.

0798. QUEM DE NÓS TERÁ A CORAGEM?

quem de nós dará um sorriso

na primeira flor morta de metanol?

quem de nós cantará uma música

com a garganta contida de fome?

quem de nós irá ao teatro

para um espetáculo de ingresso alto?

quem de nós terá a delicadeza de ensinar

um analfabeto a ler, se ele nunca soube ler?

quem de nós recitará um poema?

quem de nós recitará um poema?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de junho de 1980.

0799. CASO DE MULHER

É bom sorrir

cantar

caminhar

encontrar no mar

parar

na contra-mão

e deixar o olhar

falar

mais que o coração

e em cada ida

nos transportes da vida

um beijo de despedida

na esfera partida

de cada espera.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de dezembro de 1986

0800. MINHA ATUAL ESCOLA

Esse é o primeiro ano

uma escada

para uma tal escalada

devo observar palavras

o inverso dará em nada.

Um novo estabelecimento

de ensino vou frequentar

rumo à Universidade

mais um passo

com certeza tenho que dar.

Bairro dos Estados

é seu nome verdadeiro

Professor Matheus Augusto de Oliveira

homenagem a este mestre

mas todos aqui conhecem

pelo nome de Bairro dos Estados

ou mesmo pela sigla de CEBE.

Vou prestar atenção nas matérias

pra jamais em recuperação ficar

quero mesmo é saber muito mais

pelos caminhos que tenho que trilhar.

Bairro dos Estados

Bairro dos Estados

nosso colégio estadual

escola pública de qualidade

ensino com bastante empenho

apesar de todos atropelos educacionais

nossa escola busca cada vez mais

se aprimorar em todos os sentidos.

Colégio Estadual do Bairro dos Estados

Escola Estadual de 2o Grau

Prof. Matheus Augusto de Oliveira

precisamos vencer as barreiras

chega de tantas brincadeiras!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 03 de abril de 1978.

0801. COPA DO MUNDO

O Brasil perdeu

a copa do mundo

nas terras da Alemanha.

Mas como pode ser

tudo em questão de segundo

cadê a copa do mundo?

cadê nosso tri campeão?

Espere a próxima, Brasil

que breve chegará

em nossos corações

mais de cem milhões

queremos se alegrar.

Que tristeza foi

no dia da derrota

ninguém acreditou

pareceu até lorota.

Adeus o tetra campeonato

que tanta propaganda foi feita

só nos resta esperar setenta e oito

e colocarmos em campo

uma seleção perfeita.

Cadê nosso Pelé?

O que houve com Pelé?

Cadê o nosso rei?

Cadê o nosso maior jogador?

Cadê a nossa esperança?

Pelé não quis jogar

e tinha toda razão

se por acaso ele jogasse

essa coroa teria perdido.

O Brasil perdeu

a copa de setenta e quatro

somos os únicos tri-campeões

aguenta coração brasileiro

em breve seremos tetra-campeões.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 28 de julho de 1974.

0802. MEUS AMIGOS

Hoje eu tenho bons amigos

Que são grandes amigos

Com eles não corro tais perigos.

Hoje eu tenho bons amigos

Que são grandes amigos

Seja na escola ou seja no lar

Em cada um dos nossos abrigos.

Eles são os meus amigos

Sem nenhuma fantasia

Eles são os meus amigos

Seja de noite ou seja de dia.

Obrigado meus grandes amigos

Isso sempre irei lhes falar

São os meus melhores amigos

E para toda vida irei lhes amar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de junho de 1974.

0803. SEXTA-SÉRIE

Sexta-série

mais um ano

em minha

vida escolar.

Sexta-série

mais provas

mais trabalhos

sétima-série

vem aí...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1975.

0804. A NOITE DA MUSA

Quando a noite cai

e a música toca

por trás da porta

a lua minguante

quase não sai.

Saiu uma dose

nó na garganta

tomada por uma santa

embriagada de saudade.

De porre bebido

bem condicionada

somos seres apaixonados

pelo ato de sermos atrevidos.

Atrevimento é essa tal de vida

e que seja música

e que seja teatro e arte

tudo faz parte

do cortar sem ser ferida.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1989

0805. A NOITE DA MUSA II

Era noite

Tinha lua

Tinha música

Tinha festa

Uns bebiam

Outros dançavam

Outros cantavam

Outros calados

Ficavam pensando

Que a vida

É um mistério

E tudo é de momento

E o momento foi feito de duas rodas

Que nos levou à porta de nossas esperas

De sonos sonhados

Quando a cabeça se agita

É sinal que a vida

Se faz presente em nossas veias.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 16 de agosto de 1989

0806. A NOITE DA MUSA III

Todos os sonhos

em cima da minha mesa

são comidos

pela boca do pensamento

teu viver

é uma armadilha

para minha loucura

amada

são eles

que amam

os sentimentos

do lado escuro

da rua vida.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 17 de agosto de 1989

0807. FADIGA MENTAL

Os olhos cansados

computador à frente

falta inspiração

poesia analítica

cabeça paralítica

armadilha de braços

não sai uma palavra

arquivo encerrado

programa aberto

falta inspiração.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 13 de fevereiro de 1999

0808. BILTRE

És um biltre

de dar medo

de dar arrepio

o teu futuro biltre

não se pode prevenir

cada dia mais indeciso

teu lado animal racional

biltre tome cuidado

o pessoal vai cortar teu rabo

toma cuidado enquanto tiver tempo

biltre biltre biltre biltre biltre...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de novembro de 1985

0809. CANA-DE-AÇUCAR

Tome um caldo de cana

e sinta o doce que essa tem

é tão bom tomar você

minha cana-de-açucar.

Cana-de-açúcar

o verde que faz sonhar

feche os olhos e deixe ver

o sabor desse lugar.

Entre os riachos e córregos

há tanta cana-de-açúcar

facões afiados esperam a safra

o corte já vai começar.

Tratores e máquinas

foices e facões

de manhã logo cedo

os carros a caminhar

pelas estradas do brejo

cana-de-açúcar a cortar.

Um monte de gente

burros também no lugar

crianças também tão acolá

ajudam seus pais a cortar

cana-de-açúcar

é mel, rapadura, açúcar

e outros derivados

cana-de-açúcar

batida que puxa e puxa

caldo de cana é vendido lá

aqui é garapa

feita nos engenhos

na moenda, na fornalha

na bagaceira tem também

cana-de-açúcar.

Pilões-PB, 26 de dezembro de 1983

0810. ONDE HOUVER TRISTEZA

Onde houver tristeza

plante uma certeza

cante uma certeza

invente uma certeza

lute por uma certeza

a tristeza só quer compartilhar

a certeza que se tem do mundo

é força que vem de dentro

quanto mais se entristece

mais a alegria está por perto

o tempo esquece o homem

e o homem se faz de esquecido

quando se quer demais da vida

a tristeza vai ficando

cada vez mais triste

plante uma certeza

no coração da humanidade

e faça uma canção de espera

peça a criança a sua ira

e jogue nos olhos do povo

veja que o resultado

é paz no coração da gente.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de outubro de 1986

0811. RESPEITE NOSSA LÍNGUA

Dizem que podíamos ser

um tupi-guarani

mas como a história não quis

respeite a nossa língua

portugueses chegaram aqui

fizeram a pior desordem

escravizaram negros e índios

tomaram do índio o direito

e quiseram que trabalhassem

do jeito que branco queria

não deu para o índio

negros foram buscar

entraram pela África

muitos negros morreram de banzo

saudade de sua terra

saudade de sua gente

escravizaram por muito tempo

Zumbi fez a história

lutou pela liberdade

morreu como herói

muitas lutas sucederam

mesmo com toda narrativa

que ao português não lhe cabe bem

pedimos em nome da gramática

respeite a nossa língua

as invasões de termos estrangeiros

já são irmãos de nossa gente

muitas vezes não sabem o que ler

apertam os botões da tecnologia

importados e mais importados

respeite a nossa língua

com todo respeito lhe peço

se por acaso num equipamento eletrônico

vendido para o seu país

surgir o nome liga e desliga

é sinal que começamos a mudar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de setembro de 1989

0812. PRINCESA

Na púrpura

do seu rosto

um arco-íris

brilhou

morou o álibi

e na defesa

da princesa

enlouqueceu

seu príncipe

que se desencantou.

Bento Júnior

Salvador-BA, 20 de julho de 1988

0813. MISTÉRIO

Agora

eu sou

um

entre

todos

entre

mim

e você

resta

uma

esperança

agarre-a

seja dela

o que de fato

me pertenceu

eu sou teu lado confuso

e sobre tua espera

um lindo sorriso

te espera.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de março de 1990

0814. ARGUMENTO

Argumente-se

perante

este júri

e diga

nos olhos

quais olhos

te ferem

e diga nos olhos

quais mentes

te atormentam

argumente-se

perante este mundo

e controle seus nervos

medonhos

argumentações

são bem vindas

ao invés de lágrimas perdidas

enquanto o choro é chorado

os argumentos vão ficando de lado.

Bento Júnior

Petropólis-RJ, 27 de setembro de 1989

0815. CINCO VERSOS CANSADOS

Agora neste momento

as mãos ficam trêmulas

o corpo pede descanso

a mente pede ajuda

e a face se faz tristonha.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de março de 1985

0816. CINCO VERSOS CANSADOS II

Agora neste momento

o corpo cada vez mais cansado

e a mente cada vez mais pedindo para parar

e o corpo todo estremecido

sofrível e com medo de errar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de março de 1985

0817. CINCO POEMAS CANSADOS III

Agora neste momento

coração dispara profundamente

as mãos cada vez mais trêmulas

e os nervos estão cada vez mais

à flor da pele.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de março de 1985

0818. CINCO POEMAS CANSADOS IV

Agora neste momento

o corpo não mais aguenta

ficar dessa maneira

o melhor é ir embora

o melhor é deixar tudo de lado.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de marco de 1985

0819. CINCO POEMAS CANSADOS V

Agora neste momento

o corpo pede parada

a mente por si já parou

os nervos estão confusos

o sangue começa a borbulhar

os olhos se fecham e tenho

que de mim cuidar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de março de 1985

0820. SOBRE TODAS AS COISAS

Sobre todos os alicerces

da tua mente incógnita

misturam-se os límpidos

argumentos plácidos

para exemplificar

a semiótica da tua vida.

Bento Júnior

Pilões-PB, 01 de janeiro de 1987

0821. REVOLUÇÃO

Se continuar

do jeito que vai

morrendo

um

dois

três

quatro

cinco

seis...

a gente

não vai

mais fazer a revolução

sabem por quê?

os homi que a gente

queria matar

todos estão morrendo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de novembro de 1989

0822. DE QUE ME VALE?

de que me vale

ser único

se tantos outros

são muitos

na proporção

determinada

de sermos filhos

variados

de outrora

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de abril de 1986

0823. SER AMIGO...

É deixar que um alguém como você

penetre no âmago dos nossos corações

e sobreviva contracenando com os olhos

de quem na vida sempre te ver...

... sorrindo para esse mundo

que nos ensina no pedaço de cada dia

a simplicidade das realidades...

... introduzidas na mente da gente

que aprende em cada minuto

a benevolência de ter amizade.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de outubro de 1986

0824. PENSAMENTO DE AMIGO

Ser amigo

é nascer

crescer

viver

amar

depois

conhecer.

Ser amigo

é sorrir

cantar

poetizar

contrapesar

viver somente

de amor.

Ser amigo

é perder

baixar a

cabeça

e pensar

no amanhã.

Ser amigo

é ganhar

repartir

o pão

dar graças

pelo recebido

atender ao

irmão.

Ser amigo

é não ter

medo de morrer

lutar pela razão

em nome da emoção.

Ser amigo

é uma estrela

que brilha

na mão

desse país

é um sonho

que não se acaba

é a esperança

que não tarda

é a certeza de

sermos amigos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de outubro de 1986

0825. EU SOU O TEU POETA

Eu sou o teu poeta

sou eu quem faço versos, menina

recito na madrugada incólume

adormeço na calçada da sina.

Sou teu poeta que te ensina

aventuras das palavras

sou teu poeta, menina

razão da tua vida.

Eu sou o teu poeta

garganta brava e serena

lá naquela esquina

daquele lugar

existe uma tal poesia

que te faz sonhar.

Foi nosso primeiro encontro

de mãos dadas ao vento

música e festança

amizade e cortesia

eu sou o teu poeta, menina

mulher, razão dessa poesia.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de abril de 1984

0826. POR PENSAR...

Num mundo repleto de flores

fecundaram em mim, horrores

do mundo que não tem jeito

morreram os meus amores.

Por pensar demais, calei

ao som da madrugada

as vidas do gato de casa

transformou minha verdade

em pedaços soltos de nada.

Somente propagandas cretinas

levou-se todas as sinas,

ficaram as marcas profundas

devastando pensamentos, sonhos de meninas.

Ser humano errante

lapso de uma intransigência

perdão, pelos outros, pelos tantos

que perderam suas coerências.

Por pensar em grandes idéias

me veio poucas sentenças

o que será desse trem

carregado de ilusões?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de novembro de 1983

0827. PARÔNIMAS UM TANTO QUANTO HOMÔNIMAS

Absolve o moço, ele não fez nada

e como nada fez, foi absorvido pela justiça,

quis acender o seu coração, mas não,

preferiu ascender na sua profissão.

Este acento que vem da boca do moço,

retrata um momento, quando este no assento

acostumou-se com toda ladainha,

mesmo quando quis se costumar

amar a mulher que com ela casou.

Aquele moço tem filhos, e ao sair aferiu todos

na certeza que poderia auferir o pão de cada dia.

Ele adentrou mata adentro e não mais quis caçar,

sobrou-lhe umas aves, e destas fez seu alimento,

mas como modelo político, quiseram cassar seu mandato

ganho como presidente do grêmio estudantil.

Foi dormir na cela e teve grandes insônias,

sonhou com vários cavaleiros, e sendo um cavalheiro

pôs a sela no seu transporte e saiu a cavalgar.

Era tarde e tinha cerração

e se preveniu de tudo e de todos,

pensou consigo um instante

que sua fechadura precisava de uma serração.

Era complicado o momento

vivido por aquele moço

de todos as histórias da noite

esta foi a melhor

um conto com palavras parecidas

estória da madrugada.

Rodou o seu pião e saiu pelo mundo a correr,

perdeu tudo que tinha, só restaram-lhe os filhos,

sua mulher era incipiente e insipiente,

desapareceu - “morreu “ - o homem ficou só,

sozinho a caminhar - mesmo que o sonho acabe

seu dinheiro sofreu uma inflação

culpa de suas economias, foi infração para chegar

onde aqui se chegou.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de julho de 1986

0828. SOU PARTE DE UM TODO PARTIDO

Busco minha parte

Faço arte

Encontro os encalços

Nos laços dos sapatos

Na pele do negro

Boto fé na estrada

A partida de todos

São partes divididas

Aperto o cinto das idas

E nas voltas as mortas

Cantam canções de loucos

E aos poucos meu coração

Lapidado de perder

Acertou no poder

E chora com quem

Implora um sonho

De sonhar como se fosse

Medonho metido a besta

Vida fresca de espera

A sociedade se diz fera

Não late e se bate

É a luta do alimento

Que falta no orçamento

Meu tio inteligente

Bebeu aguardente

Foi embora cedo

Nós ficamos com medo

Medo de sair

Precisam se punir

O castigo foi forte

Nada melhor do que a morte

Segundo os filósofos

Riscando seus fósforos

Iluminam caminhos

Guiam cegos e anjinhos

É a lei de momento

Por enquanto a tempo

É o final de tudo

Falam todos e mudos

Ouvem gentes e surdos

Falam em silêncio

Rodam folhas em stencil

Desprezam a informática

Entraram para a carismática

Estão salvos dos pecados

Termine o verso soldado

Aqui se finda um poema

Espero poder afirmar meu dilema.

Bento Júnior

Brasília-DF, 18 de setembro de 1987

0829. UMA FILHA QUE CHORA

Lá do alto do morro

ouço o som de garganta

uma filha no meio no mundo

grita chamando seu pai

eu dentro de casa ao lado

observo o choro do lugar

uma filha que soluça no canto

e seu pai a implorar

que não chore por tudo sagrado

é chegada a hora da partida

está próxima a ida

pra que chorar no momento

se teu pai perto da filha está?

um choro de arrepiar coração

ouve-se do alto da serra

uma criança pede colo

e busca seus olhos ao mundo

esperando a hora do encontro

seu pai distante de tudo

sonha um dia encontrá-la.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de outubro de 1988

0830. ERA TARDE

Era tarde

fazia frio

e o frio que fazia

não era esse

que se passa agora

era um frio triste

desse que congela

o corpo e faz esquecer

o tempo de agora

em que a vida busca

uma resposta

e a resposta fica

a perguntar

se realmente

era tarde...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de setembro de 1987

0831. SANGUE DE HOMEM

Sangue de homem

que brota da face

na face oculta

de um cidadão

cidadão cretino

que badalava

subia escadas

e buscava a torre

e lá no alto

tocava o sino...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de agosto de 1989

0832. OS SEGREDOS

Os segredos que tenho em mãos

Não preservo-os. Falta a essência.

Tomo partido de cada posição

E desvendo o mistério dessa ciência

Que me faz batalhar cantando

Por uma liberdade. Talvez sofrível.

Na ausência do fruto brotando

Caminho nos laços do comível.

É vida, é luz, é cor, é...

Desse universo contraído.

Vou raptar o silêncio bem medido.

Enquanto algo quer carinho

Me desagrego, expando o som.

Sou pueril e gosto de bombom.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 28 de agosto de 1984

0833. PRAZER III

Entre um beijo

e um abraço

continuo me condenando

por pensar

que o beijo bem dado

é causa de um abraço

bem meigo

lamentavelmente meigo

que envolve o ventre

enquanto as palavras

soam nos ouvidos de ambos os sexos

onde depois de todo ritual

as mesmas chegam num momento

“adequado” de contradições

pois o prazer que envolvia nossas cabeças

não mais é prazer

fazemos por fazer

e o melhor foi deliciar o aroma

do tempo determinado por nós dois.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de dezembro de 1986

0834. BELOS APELOS

Ao ouvir o rádio, a canção que toca

É sinal de viver socado numa loca,

Cheia de sonhos de liberdade

E um querer por crueldade...

É o vício de tudo querer acertar

Neste tempo de nada mudar,

Pois se a canção apela agora,

Não se aveche, não vá embora...

Cante meus apelos derretidos

Na camisa suada dos detidos,

Que pensando em voar desse canto,

Sonha algum dia ser santo...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de maio de 1990

0835. ARRIVISTA

Um arrivista

por natureza

deu de cara

com sua cara

e não gostou.

Seu lema

vencer ou vencer

era antipático

metido a besta

passava por cima

de todos

vencer ou vencer.

O mundo precisava

tinha que abrir alas

para ele passar

seu dilema

jamais perder

mesmo que custasse caro

só vencer ou vencer.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de junho de 1982

0836. OPRESSÕES E SUFOCOS

Vivo sufocado

condenado e oprimido

e tudo que eu faço

eu me sinto um comprimido

dizem que o mundo

é um ato consumido

e o patrão dos fundos

é um tanto querido

explora o operário

paga pequeno salário

e ainda vai na casa

passa um fim de semana

e diz aos afilhados

isso que é dinheiro santo

não sei mais o que faço

nessa grande confusão

tá todo mundo louco

nessa grande nação

e pergunto a todo mundo

o que faço comigo?

recebo uma resposta

um tanto desagradável

aparece uma mocinha

e comigo é amável

pega na minha mão

e me mostra a direção

e ainda diz que o homem

não precisa se preocupar

pois em cada esquina

tem sempre uma mulher

louquinha para lhe ajudar

o que faço nessa vida

se perdi a esperança?

pra viver desse jeito

eu prefiro ir embora

tenho família grande

e preciso resolver

qual é o problema

que me atormenta agora

se é este sufoco de pegar nas tuas mãos

ou se é este empregado

que está sempre em opressão?

não tenho a resposta agora

fica a indagação

perdi tudo no tempo

dizem que não sou ninguém

percorro os caminhos

e não encontro uma saída

pois o máximo que eu consigo

é viver de dar problema

e o meu problema agora

é terminar com esse poema.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de junho de 1979.

0837. SONO

Observa, qual senhor te detesta

se todos os teus seios

são sugados, beijos na testa

de quem não tem receios.

Aclama meu nome, tal qual

é fruto do teu único sexo

que produziu um ser normal

busca, pois, realizas teu universo.

Te expande, desagrega desses braços contrários,

conduz teus olhos nos meus

e reduz meu cérebro ao teu

que no compasso desse salário

comprou teu legítimo dono.

Sim, penso em ti, és meu sono.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1981

0838. CONQUISTA

Quem deste solo

chamado conquista

dará o primeiro passo?

Quem desta conquista

chamada ilusão

transformará a pedra em lã?

Quem desta ilusão

chamada paixão

dará o primeiro toque?

Quem matará o desejo

de jogar o medo

e saciar a espera

de horas marcadas?

Quem marcará

o relógio

no coração

da conquista?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 21 de janeiro de 1990

0839. RECORDAÇÕES MODERNAS

Ouço, recordo, a música toca e o coração

Desperta em mim uma vontade de chorar,

Pois os olhos, porém cansados, admiram

A beleza que é se perceber no mundo.

O rádio toca, sinto, o som me envolver

Numa lágrima que ecoa no meu silêncio,

De cada gota de recordação dada,

Solicita ser moderno nesse tempo de espera.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de maio de 1990

0840. ARREPIANDO OS POSSÍVEIS

Há muito tempo

muito tempo ainda

como era de costume

como era de começo

e bem próximo ao final

lá caminhava eu

pelas estradas e esquinas dos bares

buscando em cada encontro meu

a matança da saudade que habitava em mim.

Bem muito tempo

lembro-me bem

quando menino

bem pequenino

me atirava do primeiro andar

e conseguia escapar

mesmo em sonhos.

Assistia filmes de qualidade

e os desenhos eram felizes

e eu não ficava para trás.

Há muito tempo

bem muito tempo

tempo muito

muito tempo

muita saudade

muita tristeza

muita alegria

faziam morada

no coração meu

no coração de criança

rebelde.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de outubro de 1988

0841. PRAZER II

Entre um beijo

e um abraço

não me condeno mais

porque o beijo bem dado

é causa de um abraço

romanticamente louco

que envolve os seios

enquanto as línguas roçam uma a uma

provando o sexo com cheiro do mato

brisa leve que sopra

os cabelos dessa virgem

virgem que presencia esta cena

e encena todo espetáculo

espetáculo tal que não mais é pecado

e sim somos nós a razão do prazer.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de dezembro de 1986

0842. EU SÓ QUERIA

Eu só queria fazer um poema

com a cor dos teus olhos

a capacidade da tua cabeça

e ao mesmo tempo desvendar

os mistérios contidos em teu corpo.

Eu só queria

amar tua voz

gritar o teu nome

e me embriagar de desejo

no mais confuso sono.

Eu só queria

não ser eu e poder dizer que sou tu

para zombar com a cara do eu

e te deixar louca em conflito

com teu próprio atrito.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de março de 1984

0843. UM LIVRO

Um livro é muito mais

do que palavras soltas

é um abrigo ao leigo

um ensino ao estudado

é um pouco de luz

nos olhos da humanidade

também é um pouco de treva

nos atos impensados

é um livro a razão da teoria.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de fevereiro de 1999

0844. UMA DIFERENÇA

Ah! mãe minha

Ah! pai meu

Ah! irmãos meus

Ah! se eu pudesse

Mudar as estruturas

Dessas suas vidas

Sinto uma fibra

Arder no peito

E me contar

Que nada seria

Como agora

tudo seria diferente

Ah! pai meu

Ah! mãe minha

Ah! irmãos meus.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de dezembro de 1982

0845. UM TARDE ACORDE

Acorda meu pai

Acorda minha mãe

Deixem para fechar os olhos

No término de uma jornada.

Enquanto dormem

Filhos e filha vagueiam.

Qualquer dia que eu chegar

E os encontrar acordados

Será o maior milagre

Conseguido por este filho.

Acorda pessoal

Essa vida é maravilhosa

De se viver.

Enquanto fecham os olhos

Mil coisas ocorrem ao redor...

Acorda família...!!!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de dezembro de 1982

0846. MEU LUGAR

Filho de peixes

Carnaval na porta

Maternidade agitada

Nascia - muitos nasceram

Nessa cidade onde

O sol nasce primeiro

E a lua depressa se esconde

Assim se faz João Pessoa

Onde a mulher e o homem

Lutam pelo bem estar familiar

Suas igrejas - Basílica de Nossa

Senhora das Neves

Nosso Museu São Francisco

E o tombado Hotel Globo

Canta o povo nas construções

Ilustres pessoenses

Suas praias pra lá de lindas

Encantam moradores e visitantes

Seu verde é ar puro de respirar

Sem medo de ser feliz

Praça dos Três Poderes

Situada no coração da cidade

Abre espaço para a Lagoa

Na Bica de muitos bichos

A música paraibana

É de tudo uma mescla

De samba-frevo-baião-forró...

Seus teatros - Santa Roza - Paulo Pontes

Lima Penante - Minerva - Severino Cabral

Geraldo Alverga - Santa Catarina

Yrácles Pires - Ednaldo do Egypto

Um grande ator de nossa história

Que dá nome ao seu teatro em vida

Os grupos teatrais

E o frevo do folia de rua

Enche o turista de alegria

Na mais profunda nostalgia

Museus - bibliotecas e monumentos

Na cidade das acácias

Se encontra tudo que se procura

Jardim das acácias já cantava um cantor

Famoso filho da terra - músico de primeira

Desse imenso continente brasileiro

A cidade rodeada de matas

Cobre o encanto de uma grande cidade

Não se importa com o título de província

A calma e a paz reina nesse lugar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de maio de 1990

0847. DEZESSEIS POEMAS

Na ponta dos dedos

na ponta do lápis

me veio a idéia

por que não fazer esse tal poema

que dezesseis ao todo completará a lista

deste fragmento?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1988

0848. UM SONHO ACORDADO

Cansado de esperar

e também pelo tempo

perdido na espera

intransigentemente

ele deixou para trás

todo sonho sonhado

e preferiu falar

que acordado estava

na hora do acontecido.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de janeiro de 1991

0849. ENTRE E FECHE A PORTA

Você chegou

cansada e atarefada

chegou pra mim

como nada quer

disse baixinho

no ouvido esquerdo

que queria ser mulher

mas como aceitar uma

coisa desse jeito?

se a menina que conheci

a pouco mora no coração

de toda vizinhança

e se eu fizer algo errado

tenha certeza que serei

condenado a pagar caro

por esse ato louco

vista a roupa e vá embora

complete ano que

a sociedade exige

e volte logo que vou te esperar.

Bento Júnior João Pessoa-PB, 08 de março de 1980.

0850. FAZENDO DE CONTA

No canto da sala

ouvindo um rádio

e da vida alheia falando

assim é um parente meu

doido para enricar

baseado na novela que assiste.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de abril de 1979.

0851. HOJE PELO MENOS

Faltam cinco dias

cinco dias faltam

este é o prazo

para você se decidir

se vai aceitar ou não

aquele pedido louco

de ir embora comigo

para bem longe

desse lugar

o que nos resta

é apenas uma resposta

de sim ou não

para eu tomar de conta

desse alguém

talvez agora

ou quem sabe

hoje pelo menos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de maio de 1980.

0852. GOSTO HORTELÃ

Sua boca

seus lábios

seus dentes

sua face

seus cabelos

seus olhos

suas mãos

seu perfume

de mulher

é hortelã

no cheiro

é hortelã

no gosto

seu sexo

é hortelã

na certa

quero

mais

mais.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de junho de 1980.

0853. HORRÍVEIS ANIMAIS

Por onde andou

aqueles homens

aqueles animais

irracionais

dono de tudo

dono do mundo

horríveis seres

intratantes

intolerantes

antipáticos

animais

nocivos

dor de cabeça

um animal

incompetente

descrente

de Deus

de tudo

na vida

no mundo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de julho de 1981

0854. IMPOSSÍVEL

Impossível

acreditar

no que aconteceu

era um sonho teu

passar neste

vestibular

mas nesse momento

agora não deu

enxugue as lágrimas

e volte a estudar

quem sabe

se no próximo

você não tira

em primeiro lugar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1980.

0855. JOÃO PESSOA - JARDIM DAS ACÁCIAS

João Pessoa

André Filho

Podia escrever

Cidade Maravilhosa

Também aqui se faz presente

João Pessoa

Cidade do verde

Cidade de grande coração

Cidade hospitaleira

Capital da Paraíba

Filipéia

Frederica

Nossa Senhora das Neves

Nomes de nossa cidade

João Pessoa

Desde 1930

O jardim das acácias

Está no centro

Está em tudo

João Pessoa

Minha cidade - meu lugar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de setembro de 1982

0856. LINDA MORENA

Linda morena

dos cabelos negros

olhos negros

dar ciúme na mulher

que tem seu homem

a lhe olhar

é uma história de amores

uma linda morena

invadiu toda cidade

e fez dos homens

seus invisíveis namorados.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de outubro de 1982

0857. NESSE INTERVALO DE TEMPO

Fica a reflexão

de quem já sofreu na vida

tantas dores no coração

tantas palavras perdidas.

Fica a reflexão

de quem já mentiu no mundo

tantos sonhos jogados no chão

tanto amor de sentimento profundo.

Fica a reflexão

nesse intervalo de tempo

falta um minuto de atenção

pra quem viveu de tanto contratempo.

Fica a reflexão

dentro da minha cabeça

é com dor no coração

que digo: desapareça.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de novembro de 1983

0858. OLHOS DE TERNURA

Certas pessoas

carregam no seu semblante

uma carga de amor

e consegue esse amor

ser dividido com outras pessoas

com outros lugares

são os olhos de ternura

que aguça na vida

uma razão pra viver.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de dezembro de 1983

0859. PARTE DE MIM E MINHA PARTE

Tenho certos detalhes

que não dar pra revelar

tenho um nome de santo

mas só no nome, o que importa pra você

é ter-me por inteiro dentro do seu coração

sem dividir com a ou b

o que importa é ser feliz

mesmo não tendo razão

mesmo sabendo

que esta parte é minha parte

e o seu mundo é de todo mundo

o sonho acaba e vem outro

para viver nesse mundo

e dividir o sentimento com você.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de janeiro de 1984

0860. ZÉ BOCA DO POVO

Já dizia uma canção

que na Paraíba

tinha muito Zé

Zé de todo canto

Zé do mundo

é tanto Zé

que tem Zé

que cai na boca do povo

na boca do mundo

Zé que era homem

Zé que virou homem

Zé da minha rua

Zé que mora ao lado

Zé é tanto Zé

como tem Zé nesse País.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de fevereiro de 1983

0861. XAXADO DE INTERIOR

Fui uma festa lá no interior

que coisa boa não esqueço mais

tinha mulher pra todo mundo lá

que dançasse xaxado no salão

era uma festa bem organizada

valentão não entrava lá não

a fiscalização botou pra quebrar

e quem tentasse invadir o salão

não tinha vez naquele lugar

e o xaxado falou alto no interior

foi lá que consegui casamento

pra um amigo que comigo foi

desconfiado foi ao pai da moça

e disse que queria namorar

recebeu permissão com os pais

de lado e mesmo assim

foi convidado para ser o organizador

da próxima festa do ano que vem

se Deus quiser estaremos lá

eu e meu amigo e sua esposa

e seus dois filhos da peste.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de março de 1983

0862. ZUM ZUM DE DAR MEDO

Nesse tempo de crise

assalto virou moda

ser diferente virou moda

é um zum zum de dar medo.

Nesse tempo de aflição

o marido se diz traído

sua mulher se diz independente

é um zum zum de dar medo.

Nesse tempo de guerra

a paz se distanciou

o político é mentiroso

e a mentira anda solta no mundo

é um zum zum de dar medo.

Nesse tempo dar saudade

de voltar ao passado

reviver lindos sonhos

relembra o que passou

no momento a notícia é desastre toda hora

a cabeça vai dormir

os sonhos são turbulentos e a vida vai seguindo

num zum zum de dar medo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 10 de abril de 1982

0863. UMA SEMENTE NO CHÃO

a semente germinou

o fruto cresceu

floresceu o alimento

o trigo e os brotos

a família se contenta

e a ceia é farta

quem semeia o bem

na vida colhe bons frutos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de maio de 1984

0864. DISQUETE SALVADOR

Este será a salvação

de tantos poemas

escritos na hora

este será bem vindo

ao coração de poeta

um disquete amigo

que nos faz tanto bem

agora é só esperar o tempo

chegar - um disquete fiel.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de fevereiro de 1999

0865. UMA DANÇA PARA CAROLINA MULHER

Carolina

não se pode negar

que você é uma linda mulher

Carolina

neste ambiente

ninguém gosta de você

gosta sim, e você sabe porque

Carolina

sei que você já foi menina

e agora é uma linda mulher

Carolina

todo mundo vai saber

que você é minha menina

Carolina

que você é minha mulher

Carolina.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de dezembro de 1985

0866. NOITE QUE DORME

A noite dorme

e o sono não me encontra

quem sabe se contra a noite

ou a favor do sono?

Não...

Sou contra a distância que arrepia a pele

e sufoca a cabeça na expectativa de um sono

de duas cabeças...

Me recuso ao dito fato, quando no ato

a noite se torna dia e retomo meu sono

podendo eu ser um só.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de fevereiro de 1988

0867. SEMPRE NO GALHO DA VIDA

Ocupar-se de um galho suspenso

requer a alma em transe

e a mente em lance.

O mágico que fazia amor

namorou todas as vizinhas da rua 15

e se casou com nenhuma.

O sonho de sempre morreu na esquina,

quando encontrar no caminho

um pedaço desses namoros

meu único e conceituado amor.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de setembro de 1981

0868. PERGUNTAS QUE CUSTAM DAS RESPOSTAS

Mamãe

o que foi que houve

com zezim da venda

não fala com ninguém

tá mago

cabelo caindo

pálido

só tem os ossos?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de junho de 1990

0869. COVARDIA

Se tentas de todas as maneiras

denegrir meu lado puro e verdadeiro

como também meu ponto de vista, assumo:

covardes deste lugar são os rebeldes

que na calada da noite mal dormida,

esquisitamente fechou o outro lado esquerdo

da rua do verbo amar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 10 de janeiro de 1984

0870. SEGUNDA-FEIRA

Segunda-feira, nada faço

falto às reuniões, nada faço

ouço Villa-Lobos, nada faço

leio poemas e contos, nada faço

segunda-feira, só vontade de espreguiçar.

Segunda-feira, falto aula

segunda-feira, falta luz

segunda-feira, falta abrigo

segunda-feira, falho na certa.

Segunda-feira, cadê a lua?

segunda-feira, cadê dinheiro?

segunda-feira, cadê os amigos?

segunda-feira, nada faço.

Segunda-feira, falta energia no meu pulso

segunda-feira, falta vontade de sair

segunda-feira, falta vontade para ficar

segunda-feira, é um saco pra enfrentar.

Segunda-feira, dia mundial da ressaca

solidão

amanhã, graças ao nosso bom Deus

será terça-feira.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de outubro de 1982

0871. CABACEIRAS

Terra boa de gente boa

Cariri da minha terra

Auto da Compadecida

Igreja linda

Cabaceiras terra de bode

Lugar de gente boa

Carne de bode

É o que se tem

Tudo de couro

Vem que tem

Cabaceiras

Cariri da minha terra.

Bento Júnior

Cabaceiras-PB, 05 de junho de 1999

0872. SAUDADE

Tenho saudade

Tantas saudades

Tantas verdades

Meu peito não suporta

Quer viver mas fecha a porta

A saída é fraca

O sorriso é franco.

Bento Júnior

Cabaceiras-PB, 05 de junho de 1999

0873. BOA VISTA

Boa vista

Nova cidade

No mapa da poesia

Boa vista ficou

Na lembrança do homem

Na imagem da viagem.

Bento Júnior

Boa Vista-PB, 04 de junho de 1999

0874. PESCARIA

Lembro das músicas

“quem for a pescaria, lá em Boqueirão”

é que passo por ele

Boqueirão paraibano

cidade desenvolvida

Boqueirão

aqui de dentro do carro

a poesia já ganhou sua data.

Bento Júnior

Boqueirão-PB, 06 de junho de 1999

0875. QUEIMADA

é tanta cidade

nessa Paraíba

é preciso muito tempo

para saber de tudo

é muita cidade

grande e pequena

Queimada é grande

faz jus à Campina.

Bento Júnior

Queimadas-PB, 06 de junho de 1999

0876. LOUCO DE JOGAR PEDRA

Está louco

quer jogar pedra

está louco demais

quero jogar pedra

quer jogar pedra na rua

quer sambar sem roupa

está louco

quer o mundo consertar.

Bento Júnior

Massaranduba-PB, 08 de agosto de 1985

0877. O CATA LIXO

Cata lixo pra viver

Vive catando lixo

Tem filho pra cuidar

Vive cuidando de filhos

Sua mulher emprenhou

Tem filho pra cuidar

Tem lixo pra catar

Vive catando lixo

Tem ferida pra sarar

Cata lixo todo dia

Vive não sei porque.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de setembro de 1987

0878. SACRIFÍCIO

Sacrifico meu lado retórico

em defesa das tuas palavras

benditas são flores que regas

águas cristalinas purificam a alma.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de outubro de 1988

0879. NEM ME INCOMODO

Não quero saber de você

Não quero saber de você

O que me importa é ser feliz

O que me importa é ser feliz...

Pouco me importa o momento

Pouco me importa o momento

O que me importa é ser feliz

O que me importa é ser feliz!

Tenho motivos de sobra

Para tentar ser feliz

Você sempre me cobra

O que o meu coração nunca diz...

Você sempre está por cima

Das conversas e situações

Não adianta pensar na menina

O que importa são as emoções...

Que vivi com você

Nada me incomoda

Sou feliz na vida por viver

Quero saber o sentido da moda...

De cantar ao mundo a felicidade

E pedi silêncio a todo mundo

Nada me incomoda, só mesmo a verdade

De ter você no meu sono profundo.

Bento Júnior

Cuitegi-PB, 20 de janeiro de 1988

0880. CANTO DE ROUCA VOZ

Cantam crianças sadias

pela vida a cantar, um canto sadio e bonito

feito pra gente contemplar...

Cantam crianças bonitas

lindas da cor do luar, um canto sereno e tranquilo

feito pra gente gostar...

Cantam crianças tranquilas

serenas com as estrelas no céu, um canto infinito

feito pra gente meditar...

Cantam crianças infinitas

nessa meditação, um canto de luz sensível

feito pra gente cantar...

Cantam crianças que meditam

com vozes tão rouca, um canto de pureza

feito pra gente se amar...

Bento Júnior

Cabedelo-PB, 09 de maio de 1985

0881. O AMOR QUE SINTO POR ELA...

Sinto tanto amor, tanto amor eu sinto

que o amor acho que é pouco

por tanto amor que sinto por ela

por gostar dela tanto assim

por viver por ela mesmo assim

por ser safado e ela gostar de mim

por ir na casa dela e viver assim

por amar a mulher mesmo comprometida

mesmo mãe da vida

mesmo confusa, mesmo partida

é o amor que tão grande não cabe em mim

e eu preciso dividir com ela

o amor enorme que invade meu ser

o amor sublime que me faz sofrer

o amor de tanto sentimento

o amor de um homem chamado Bento.

Bento Júnior

Santa Rita-PB, 09 de maio de 1983

0882. NA ALMA

Na alma da sociedade

Falta conter o dom do perdão

O perdão de verdade

Para acalmar os nervos

Dessa cabeça em ação

Que controla os sonhos

Tem pesadelos estranhos

Não usa sua capacidade

É fadada a solidão

Não sabe que nossos olhos

Refletem a alma de nossa espera

É fera banhada de sol

Na contínua de perdoar o irmão.

Bento Júnior

Alhandra-PB, 08 de março de 1991

0883. LEI DO OUTRO

Cumprir a lei do outro

É tarefa, porém um tanto delicada

Quando se cumpre nossas leis

O sorriso se estampa no rosto

Virou vício de um certo alguém

Ser narcisista, pedante e causar desgosto

Na família que lhe deu bem

Cumprir sua lei é o que importa

Informa a todos os presentes

Conta vantagem na ida

Se sente o dono da volta

Quando se cumpre a lei do outro

É barra para alguns

A lei dele é a minha lei

A minha lei vai ter limites, sim

Não importa o tempo

No abrir da porta, na saída à rua

São limites dos contratempos

O que seria do sol se não fosse a lua?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de abril de 1986

0884. FORTE NA CERTEZA

Neste pedaço de chão onde o sonho brotou

Mora o alimento que nos causou

A certeza desse lugar que se fortificou

Na condição de ser irmão e colher o amor

A semente dessa terra que se plantou.

Neste pedaço de terra onde a planta floreou

Mora um homem que é forte na dor

É soldado das guerrilhas, sempre lutou

Pela paz e a esperança, foi o que a todos restou

Na certeza de ser forte como o pássaro que cantou.

Bento Júnior

Guarabira-PB, 09 de abril de 1984

0885. FESTA POPULAR

Me empresta dinheiro que eu quero comprar

Uma pareia de roupa pra eu dançar

Com aquela morena da cor de canela

Do jeito dengoso que faz a gente amar

Um sorriso aberto tão certo no rosto

Não tem desgosto quem com ela dançar

É uma festa bem popular

E essa morena que me dá tanta pena

De vê-la dizer sem mais e menos

Que não quer dançar com o cavaleiro

Que acabou de lhe chamar

Como vou fazer com a minha roupa nova

Se ela comigo não quiser dançar?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de maio de 1985

0886. SONHO DE PÁSSARO FERIDO

Como um pássaro ferido

me encontro neste momento

uma voz rouca de arrepiar

qualquer cristão

me pede passagem para eu gritar

ao mundo que este mundo vai se acabar

acordo e reparo na parede

as mãos cravadas da voz

que nos meus ouvidos

gritou deliciosamente

fazendo meu ser adormecer

profundamente entre quatro paredes

na certeza de que este sonho

por ser um sonho final

não restará dúvidas de que o final

dos tempos só a uma pertence

pense e reflita neste momento.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de fevereiro de 1990

0887. BELA VIDA

Em todos os momentos

Em todos os segundos.

A bola rola no campo,

A bola pertence ao mundo.

Digo que a vida é bela,

Não pelo filme premiado.

Canto as cantigas da vida,

Aprendo a ser respeitado.

Vida bela, bela vida,

Onde estás que não me escutas?

Canta passarinhos lindos,

sobem montanhas e grutas.

Meu Brasil tão brasileiro,

Berço de gente grande e boa.

Quando fico a pensar

É sinal que estou à toa.

Nesse mundo de meu Deus,

Só não aprende quem não quer,

Choram moças e rapazes,

Mais razão tem a mulher.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de dezembro de 1983

0888. POR UMA SAUDADE PERDIDA

Tenho sobre mim

a saudade de tê-la

busco dentro de mim

o reencontro de vê-la.

São palavras soltas

rimadas por rimar

o que importa na saudade

é sentir que a vida

algum dia passará.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 17 de maio de 1990

0889. PIÃO

Eu

tenho

um pião em casa

que me aguarda

em espadas sangrentas

o sangue que delas caem

melam meu estômago de luz

a luz que brilha no pomar

florescem o sonho

de quem na vida

espera dias

melhores

nesse

p

i

ã

o

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de janeiro de 1990

0890. O TEMPO E A CIDADE

A cidade parou

O relógio ficou

parado no tempo

que não mais voltou.

O relógio tocou

todo mundo se acordou

era a notícia de dor

que corria pela cidade do horror.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de maio de 1990

0891. POESIA EM LIVRO

Poetas da Noite

o que falas

por onde andas?

Falas de amor, ou falas

de dor?

Poetas, busco Os Quatro Elementos

Através da Poesia...

Busco as minhas Intimidades

Poéticas... saciar os poetas,

e que sejas da noite, da tarde

ou da manhã...

Não importa. O que importa é

ser poesia,

seja em qualquer dia!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 1999

0892. CANTORIA

Cante

Cantor

Uma canção de amor

Cante pra mim

Essa rima assim

E cantou o cantor...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 13 de agosto de 1990

0893. TANTOS SONHOS

Há tantos sonhos

perdidos nesse ato

nos encalços de mim

que causa pânico

no ápice de sonhar.

Há tantos eus

achados no meio do nada

da pedra polida

burilada de acasos

na contra-mão

mãe de amar...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 10 de novembro de 1999

0894. UM SONHO DE MAL DORMIDAS NOITES

Agora também quero sonhar

com sonhos de esperança

mesmo que essa esperança

decantada em versos

não impeça o poeta

de ser gente na gente

que vos espera.

O poeta se sente feliz

e na felicidade

que se expressa

põe fogo nos sonhos

de olhos vendados

na vida perdida

de amplidões.

Bento Júnior

João Pessoa - PB, 24 de março de 1987

0895. POR UM NOVO TEMPO

É chegado o momento

O momento chegou

Vamos lá minha gente

Vamos juntos mudar...

Queremos um Novo Tempo

Um Novo Tempo é bom

Chega de não fazer nada

No Novo Tempo se deve votar...

Todo mundo quer mudar

Mudar essa situação

Chega da mesma cara

Novo Tempo com precisão.

Se você está indeciso

Seja uma pessoa ativa

Pense no voto bem dado

Nada de cooperativa.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 26 de novembro de 1999

0896. LIMITADO

De onde vem o limite?

O limite de perder

A partida quase já ganha...

O limite tem que ser

Limitado e pensado

Para não causar

Em cada pulsação

O limite de parar

O bom que se começou...

Estranho é a ausência

Desse permissível limite

Que impede a vontade

De resolver paradas

Quando se limita

Palavras para o desabafo

Limítrofe desse poema.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de dezembro de 1990

0897. PRIMEIRO DE JANEIRO

Novo século

Nova vida

Novos sonhos

Novas esperanças

Novo aprendizado

Novas aventuras

Novo ano

Nova paz

Dois mil chegando.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de janeiro de 2000

0898. JANEIRO PRIMEIRO

Eis o que me ocorre

em letras garrafais

entre os malditos

que lá fora bebem

bebidas estragadas

das festas do final de ano

onde a alegria era tanta

que todo mundo se espanta

com a felicidade primeira

de janeiro que chegou

viva o ano 2000!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de janeiro de 2000

0899. MENTALIZADO NO OCULTISMO

Mente oculta

que oculta

os pergaminhos

desse falar...

Mente oculta

que escuta

e se cala

mas tem fama

de quem quer lutar...

Mente oculta

não se enxerga

a todos se entrega

quer ser tudo

precisa se encontrar...

Mente oculta

vai à luta

perde todas

não defende

e se entende

com quem quer fracassar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de janeiro de 2000

0900. AMIGOS DE ANO A ANO

Estamos bem próximos

Distantes fazemos

O caminho do encontro

É força ausente

Façamos o momento

A força presente.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2000

0901. UMA HORA

Já passou da meia noite

o relógio marca

uma hora em ponto

eu no computador

tentando desvendar

o mistério de tamanha

perplexidade...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2000

0902. MUDAR PELA MUDANÇA

Uma cadeira no canto

na sala de aula

é menino que quer

aquela cadeira

não pode sair

sair daquele lugar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2000

0903. SONO DE FECHAR OS OLHOS

Abram as alas

dos olhos soníferos

dêem comida

à cabeça que pensa

não fechem os olhos agora

cantem uma cantiga

de despedida de cama

de lençol cheiro de novo

o sono tão forte

venceu o menino

ele foi dormir...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2000

0904. AO OUVIR-TE

Faz bem à mente

faz bem ao coração

ouvir a voz da experiência

ouvir e prestar atenção

quem sabe mais

fala mais

quem não sabe

escuta mais

é a lei do socorro

vence quem prestar

mais atenção.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de maio de 1980.

0905. MISTERIOSO ANO

Este ano vai ser misterioso

com as cartas sobre a mesa

admitiam mistérios pelo ar

nos sonhos da noite tristonha

no acordar e querer rezar.

Bento Júnior

Santa Rita-PB, 08 de janeiro de 1980.

0906. EU ERA TÃO FELIZ

Era tão feliz

no ano passado

por estas horas

em que as horas

apertam

sinto o compasso

do tempo

nos enlaços

da minha agonia.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de agosto de 1981

0907. MÁGICO DESMASCARADO

Foste pago para isto

desvendar os segredos

que mais cedo

mais tarde

tirará teu emprego

não sabes que esta empresa

a quem babacadamente

emprestas teu serviço

usa e abusa

joga fora e te expulsa

mágico desmascarado.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1999

0908. CAIXA PRETA

Acidentou meu avião

deixou uma caixa preta

ninguém achou, seu capitão

ela tá fazendo careta.

Acidentou meu avião

a caixa preta ficou intocável

ninguém viu, seu capitão

ela é feita de aço inoxidável.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 1982

0909. QUANDO A CIDADE DORME SAIO DA MULTIDÃO

Quando a cidade está dormindo

nas ruas ouço o guarda a apitar

meus olhos sozinhos estão sorrindo

minha boca pensa em te beijar.

A cidade dorme e me sinto na multidão

sou feito de insônia e tanto faz dormir

tomo café pro meu coração

lá mais tarde o sono vou sentir.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de setembro de 1982

0910. BALA PERDIDA NÃO MATA LADRÃO

Uma bala perdida

matou cidadão

invadiu sua casa

e tombou no chão

chorou seu filho

chorou vizinhança

a bala perdida

caiu no quintal

ladrão que fez mal

fugiu porque encontrou saída.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de março de 1983

0911. CINE NOSTALGIA

No passado

Na minha rua

O cinema era diversão

Menino chorava

Ao pai implorava

Me dá dinheiro

Cinema é ação

Hoje o que se vê

É loja em cada parte

Acabou-se a sétima arte

Cinema do passado

É comércio pra lucro ter.

Bento Júnior

Guarabira-PB, 10 de outubro de 1983

0912. LARANJEIRAS

O meu pai bem que me lembro

Minha mãe também lá também foi

Laranjeiras que lugar

Tinha vaca, tinha boi

Era bonito este lugar.

Laranjeiras que saudade

Que saudade tenho agora

Do meu tempo de criança

Tenho vontade de ir embora

Laranjeiras verdes de esperança.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1985

0913. FÊMEA FEMININA

Olhe bem nos traços dela

Que quadril ela tem, é fêmea bem brasileira

Tem sangue das raças, gosta de uma brincadeira

Faz dengo por pirraça, é feminina de primeira.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de março de 1985

0914. ESTRAGO DE ESTRADA

Estragou a estrada de boi

Onde é que o carro vai passar?

Faz mela-mela em todo canto

Carro não pode acelerar.

Bento Júnior

Pirpirituba-PB, 23 de setembro de 1981

0915. NOVIDADES

As novidades são antigas

Conte-me uma nova por favor

Fale das mulatas lá de baixo

As novidades por favor.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de setembro de 1981

0916. TEVE PAZ

Até quando existia mãe

A paz reinava no lugar

Depois que a mãe morreu

Ninguém ali quer morar.

A alma da mãe aparece

Todos gritam por paz

É desordem a noite toda

O capeta é quem satisfaz.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de agosto de 1982

0917. OSSO DURO DE ROER

Tem uma menina

Que se chama Joana

Osso duro de roer

Tira a roupa e cai na cama

Só pensa em satisfazer.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de maio de 1982

0918. JAGUNÇO HONESTO

Tinha um homem bandido

Todos chamavam

Arrependido estava e mostrava ser honesto

Jagunço cangaceiro, pra provar que é bom

Tem que morrer.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1983

0919. OLHAI SENHOR

Olhai, senhor!

Os lírios

De quanto vendido foi

No mercado

De baixo da rua

Esquerda dos rios

Marrons a cheiro de barro

Onde peixes que morto é

Hoje ausentes pescam

Nem os lírios vivem.

Bento Júnior

Guarabira-PB, 05 de dezembro de 1988

0920. CALADA DA NOITE

Na calada da noite

este senhor dos lírios

precisou comer

comeu lírios

e se perguntou

andou por águas barrentas

e peixes pescou

não mais ouvirás falar

nesse senhor dos campos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de maio de 1986

0921. CONVÍVIO ESTRANHO

Estranha ao meu convívio

e sábia no meu apelo, acaso

eu fosse um caso de contos contados,

apenas estranha era, um semblante de pedras no

caminho desigual do poeta estranho.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de janeiro de 1986

0922. MENTIRAS DE MIM

Mentes e te sentes gente

Acaso és deusa da noite

Ou dama das águas?

Ou quem sabe, senhora

Das penitências?

Não sabes quais

Mentiras são farsas ou falsas

Nas sílabas de mim.

Mimiografadas folhas de verdade

Colhem o néctar da manhã

Chuvosa de derrubadas e

Trovoadas. És o fracasso

Desse ato pensar.

Neste prédio de cinco andares

Habitou minha boca, oca de

Noites e águas, nas mentirosas

Folhas desse espaço.

Teve um dia e uma tarde

Na vida, que bem-te-vis, pardais,

Rouxinós e borboletas

Vagavam no céu mastigando

Ilusões e canções. As músicas

Que ouvi de montanha adentro

Eram perdidas de luz, e o escuro

Da manhã foi o arrebatador

De toda mentira da viagem feita

Por entre pedras e rios.

Nos cascalhos pus a cabeça e

Meditei através de minúsculos segundos

Para ser água, era, e sendo água,

Colhi as flores ao redor de mim.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de janeiro de 2000

0923. ONDE EXISTIR UMA PEDRA

Onde existir

uma pedra

você pode

pegar

Onde existir

um caminho

você pode

passar

e por este caminho

você vai jogar as pedras

entre pedras

no lugar em que você pegou

este mundo

é um círculo

“quem faz aqui, aqui mesmo paga”

já diz o ditado popular

você que entende de música

depois pode cantar

cada caminho dessa vida

que se tem que passar

em qualquer lugar

hás de encontrar

as pedras da vida

e você a outros vai contar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de maio de 1990

0924. NÃO SE FALA NOUTRA COISA

Aqui, pode perguntar a quem quer que seja

aqui mora uma mulher doutro mundo

modesta, porém orgulhosa

é o que todos falam de boca em boca.

Aqui, pode perguntar a quem quer que seja

aqui mora uma pecadora dos meus pecados

honesta, porém extravagante

é o que todos falam de boca em boca.

Aqui, pode perguntar a quem quer que seja

aqui mora uma senhora de mais de quarenta

sensual, porém um tanto medíocre

é o que todos falam de boca em boca.

Aqui, pode perguntar a quem quer que seja

aqui mora entre quatro paredes

ela, porém indefinível

é o que se constata de boca em boca.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de fevereiro de 1983

0925. CADICA

Nestas três sílabas das sílabas do meu nome

mora os verbos : meu sonho, minha fome.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 02 de maio de 1998

0926. AOS TRONCOS E BARRANCOS

As quebradas das andanças

emanam laços de esperança

naqueles andantes candangos

sensíveis visionários caminhantes...

As estrelas brilham nas cordilheiras

e os passantes seguem viagem

perdem-se nos barrancos

nos troncos de cada passagem.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 17 de janeiro de 2000

0927. MÍSTICO PADRE

Se a figura

de um padre

por ser mística

nos causa mistério

e que mistério

um padre não padre

por não ser padre

se diz místico?

Rezou missa

e fez confissões

o Vaticano o condenou

cinquenta anos

de trabalhos forçados...

e hoje, leitores

ele dá missa

na Capela da Esperança

de graça.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de janeiro de 2000

0928. OUVIRAM O QUE SAIU DA BOCA DA CRIANÇA?

Se vocês não ouviram as palavras que da boca da criança saíram

perderam-se na esquina deste sonho

pois as crianças quando falam precisam de ouvidos atentos

e vocês o que fizeram?

deram gargalhadas e zombaram delas...

as crianças são fagulhas divinas que habitam na

terra para vencer os obstáculos que a vida os oferece.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de maio de 1988

0929. A BELA LUA

Vou subir por estas paredes

Pegar a lua lá em cima

Quero sentir o seu cheiro

Cheiro bom de menina.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de março de 1982

0930. CABOCLA SAUDADE

Ondes andas?

Onde moras?

Que lugares pisas?

Que paisagens avistas?

A queda d’água que dar

Molha os cabelos dela

O rosto dela se banha

Nas águas do riachão...

Onde caminhas, menina

Com este ar de ternura?

Moras no alto da serra

Bem junto do meu coração.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1990

0931. O NAVIO NO MAR

Na ciranda da vida

os ventos se balança

menina que muito ama

qualquer dia se cansa.

Nos entraves do tempo

o navio dar partida

a saudade que vai

é a mesma que fica.

Menina namoradeira

de um belo marinheiro

quando parte o navio

as lágrimas correm no rosto inteiro.

Nesse mundo de idas

as vindas são esperadas

no mar de tantas meninas

atraca um navio de águas acanhadas.

Os lenços que dão boa hora

se agitam na indefinição

lá vem o marinheiro, senhora

acabe com essa solidão.

Bento Júnior

Cabedelo-PB, 08 de dezembro de 1981

0932. HÁ SEMPRE UM ESTRANHO

Há sempre um estranho

em teu caminho

querendo ser teu sonho

e te dar carinho

não confie neste estranho

e vá embora

há sempre uma vontade de ficar

nesse lugar até o fim...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de março de 1981

0933. TANTA PALAVRA FEIA

É tanta palavra

que sai da boca

na pouca palavra

que o homem tem

e se tem palavra

ela é feia quando dita

e feia quando ouvida

da boca que fala

palavras cretinas

de um cretino qualquer.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de abril de 2000

0934. ASPECTO DE LOUCO

Aspecto de louco, suavidade de mãe

Intransigência que permanece estática

Assim a plebe roubou o que já não tinha

Da gaveta oca do pai perplexo.

Todos que por ali passavam

Davam respostas em pleno cemitério

Que admitiu no passado um louco

Roedor de casas perdidas em adultério.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de abril de 2000

0935. SOMOS PARTE

Somos parte desta galáxia

Onde o planeta habita

Somos parte desta biologia

Onde o estômago se agita.

Somos parte deste sonho

Onde a razão mora ao lado

Quem quiser ser bom na vida

Faça parte desse mundo virado.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de abril de 2000

0936. EU SOU BRASILEIRO DA AMÉRICA DO SUL

Eu sou americano

Da América do Sul

Sou brasileiro

Do Rio Grande do Sul.

Eu sou gaúcho

Homem de muita garra

Gosto do campo

Louco por uma farra.

Sou do Brasil

E amo esse país inteiro

Sou carioca

Vivo no Rio de Janeiro.

Quem quiser saber quem eu sou

Vá lá nas Minas Gerais

Fale com o Chico

E traga muita paz.

Sou do Distrito Federal

Foi em Brasília que te vi crescer

Sou pernambucano

Na Bahia ainda vou aparecer.

Eu sou capixaba

Com passagem pelo Rio Grande do Norte

Lá no Estado de Goiás

Só fica cabra que é forte.

Nosso São Paulo

Anfitrião de nordestino

Minha viagem por este Brasil

Me fez voltar aos tempos de menino.

Chegando em Sergipe

Fui direto ao Piauí

Tomando muita cajuína

E vendo um povo que só quer sorrir.

Eu sou maranhense

Vou cantar no Maranhão

De passagem nas Alagoas

Esqueci meu coração.

Eu sou de Mato Grosso

Cresci em Mato Grosso do Sul

Esse Brasil é grande por natureza

De Leste, Oeste e de Norte a Sul.

Eu sou do Acre

Mas moro em Amapá

Sou amazonense

Das terras do Pará.

Quando eu passar

Em Santa Catarina

Quero encontrar

Aquela linda menina.

Eu sou do Ceará

Em Tocantins tenho que ir

Eu sei que passo em Rondônia e Roraima

E é por isso que tenho de partir.

Mas na verdade

Eu sou americano

Daqui da Paraíba

Brasileiro, paraibano.

Conto os dias que passam

E nunca vou ficar atoa

Sou pessoense

Nascido em João Pessoa.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de de abril de 1998

0937. PEDAÇOS

Pedaços de letras

pelo chão

vão amordaçando

o meu coração.

Letras que formam

sonhos de mim

sonhos dos outros

uma melodia

tocada fundo

n’alma do poeta

menino.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de maio de 1983

0938. PEDAÇOS II

Letras que vão pela sala

na sala que mora

meus livros

lidos e relidos

na morada tranquila

da minha espera.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de março de 1987

0939. PEDAÇOS III

Pedaços que brotam

na sala que choram

pela morte

pela sorte.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de maio de 1987

0940. PEDAÇOS IV

Agora que todos sabem

que a sombra que assombra

os homens daquela ponte

são águas mortas

no chão que se faz pedaço.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de agosto de 1988

0941. PEDAÇOS V

Outubro chega

o mês é de fogo

e de pedaços

de paixões

cravadas no semblante

de aceitar tudo

por aceitar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de outubro de 1988

0942. QUEM CANTA

Quem canta

com a alma limpa

limpa os sonhos

de cada chegada

quem assim fizer

terá paz e sossego

aqui nesta morada.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1988

0943. BATE CORPO CANSADO

Bate corpo

nesse corpo suado

cansado do mundo

das incertezas do tempo

dos momentos perdidos

dos achados encontrados

das certezas do nada.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de maio de 1987

0944. QUANTA SAUDADE HABITA NO MOMENTO

De que adianta sorrir

se a saudade

que habita no momento

é causa justa

desta espera?

Somos saudade

quando a espera tarda

somos tristeza

quando a saudade

se desfaz...

Por enquanto

este habitar

guarda a lembrança viva

da saudade longínqua

deste sofrível momento.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1990

0945. DESILUSÃO PASSAGEIRA

Passou-se o tempo

com o vento frio

que molhava

meu semblante

de moleque.

Com a bermuda

da cor da terra

pus meus pés

na imundície

do pátio.

Fiquei desiludido

pra não poder

mudar o mundo.

Foi passageiro

o noticiário diurno

limpei meus pés

tudo passou

com o tempo.

Bento Júnior

Conceição-PB, 20 de janeiro de 1991

0946. ESTRANHO SILÊNCIO HUMANO

Caíste do galho enfraquecido

e silenciaste o canto dos estranhos,

enquanto o Homem implora o amor

a Mulher se envaidece de sonhos.

É silêncio! Ouve o filho perverso

na calada da noite sombria,

viveu a Mulher de mistérios

para amar o riso de agonia.

No pesar dos fatos ocorridos

e o silêncio às vezes indiferente,

andou o Homem a cantar pela vida

na causa da Mulher indecente!

Bento Júnior

Alhandra-PB, 24 de maio de 2000

0947. CÂNTICOS

Cânticos de minha terra

Que meu coração consola,

Pedes um canto que emperra

Minha raiva como esmola.

És razão de cantar forte

Para a vida ser bem melhor,

Em cada esquina, há morte

E em cada mão, um suor!

Bento Júnior

Alhandra-PB, 24 de maio de 2000

0948. NAS TERRAS DE CAFUNDÓ

Não tem nada no mundo

Que eu faça sem ter dó,

Já dei surra em menino,

Já cantei em Cafundó.

Cafundó era um lugar

Bem visto e delicado,

Moça casava donzela,

Ninguém era safado.

Cada festa que se tinha

Convidados eram bastantes,

Cafundó era respeitado,

Um paraíso dos distantes.

Meu compadre se aconchegue

E preste muita atenção,

Queira um causo contar

De Cafundó com gratidão.

Sei que sou cabra valente

E não abro pra ninguém,

Nasci em Canguru da Serra,

Canto pra ser na vida alguém.

Não importa o lugar,

Faça chuva ou faça sol,

Se tiver festa tô lá,

Sou cantador de Cafundó.

Bento Júnior

Alhandra-PB, 24 de maio de 2000

0949. DE TODOS OS SONHOS DE CRIANÇA

De todos os sonhos de criança

Sonho querer tua vida,

Sei que muito me custa

Saber de todos os teus sonhos.

Os sonhos são como abelhas,

Nas flores que se mudam,

Muito me admira saber

Teus sonhos de criança.

Criança é como brinquedo

Que faz criança sonhar,

Em cada lágrima sentida

Ali está o sonho de ser criança.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de maio de 2000

0950. TARDES SOMBRIAS

Naquelas tardes sombrias,

a folha do pé de tamarindo

vagava por entre as flores,

deixando o céu boquiaberto, sorrindo!

As tardes ensolaradas, quentes

como amor de Pai e Filho,

era o céu de um lado sorrindo

e o lago enfeitiçado de brilho!

Por que não cessa o vento

daquelas tardes de outrora,

cúmplice da Humanidade do agora?!...

O tamarindo que fora tormento

no passado das tardes sombrias,

hoje guarda o eco do vento em litanias!

Bento Júnior

Alhandra-PB, 24 de maio de 2000

0951. DORMIR EM CONTRA-GOTAS

Dormir na contra-mão

Dormir na contra-gota

Dormir sob efeito alopático

Sob efeito homeopático

Dormir na solidão da vida

Dormir na vida a sós

Sozinho no mundo de Deus

Sozinho na contra-partida.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 31 de maio de 1983

0952. MÚSICA DA ALMA

O coração da noite, em rimas condensadas

Recorda a plenitude dos dias de crespúsculo,

É uma nota musical das assanhadas

Mulheres das almas sem escrúpulo.

A música que se ouve por ouvir

Mostra em pequenas notas, a rima

Do falar da alma, no cair do porvir

Onde as assanhadas se passavam por menina

Menina em termos gramaticais

É o que se tem de notícia,

Assim era por ternura, a malícia

De comer as assanhadas, contentes

De tantas luzes, mas indiferentes

Na alma das mulheres anormais....

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de março de 1991

0953. UM CANTO DE RIR PRA TU

Um canto eu canto

Eu canto este canto bonito

Sei que cantas em mim

Um canto de sonhos perdidos

Canto este canto pra rir

Um riso bonito de ti

Canto para sorrir

Um riso penoso de ser

Quando se canta com riso

O riso se faz amanhecer

Este canto que canto

É feito somente pra tu.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de junho de 1990

0954. SERRA DO ESPINHO

Na subida de Pilões

Serra do Espinho

Minhas lembranças

Meu carinho

Na subida do amor

Um calafrio no peito

Lá distante da serra

Lá está a cidade

Da minha saudade

Que meu peito arde

Pilões na serra do espinho

Um frevo do bom

Minha canção de paz.

Bento Júnior

Pilões-PB, 08 de agosto de 1988

0955. FRACO

Sinto a pele arder por dentro, e sinto

a pele morder meu peito de poeta,

daqueles que sonham, está na testa

a escrita, e acreditem senhores, não minto.

Sou filho de homens de bem, e ainda

carrego a vaidade de ser na vida

um bondoso, dos bons, que na subida

da ladeira, cai e fica na berlinda,

esperando, quem sabe aparecer

no meio da noite, alguém forte

que possa tirar a fraqueza de morte

que abateu sobre meu ser

e dilacerou minha postura ética,

vivo hoje, fraco, perdi toda estética...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1988

0956. INFÂNCIA BREVE

Nas matas os cabatãs eram tudo

que meus olhos viam, para que mais tarde

pudesse fazer um cavalinho, uma baliadeira,

um brinquedo qualquer para minha infância.

Minha avó de um só grito conseguia

destruir toda brincadeira e me chamava

para tomar banho. Já era tarde, e como avó,

ela sabia a hora de me aprontar para o

passeio matinal.

No passeio, muito avelós passavam por mim,

e o cheiro de café vindo do centro

me enchia de vontade para logo chegar

em casa e comer aquela tapioca.

Tudo parecia uma eternidade, é como se

nunca fosse se acabar, e toda infância

se resumisse naquelas manhãs, tardes e noites

na companhia dos meus avós.

Meus avós paternos...

Meus avós maternos...

Uma diferença apenas no jeito do trato,

mas o trato florestal permanecia o mesmo.

O leite da cabra, o leite da vaca,

o agave, os pés de café...

o passeio por entre as matas, e ao voltar,

já com tapioca na mesa, café e bolo

para as visitas, ia na janela, e dela avistava

um passarinho na cerca do sítio a cantar,

quis por diversas vezes pegá-lo, mas

me conformei ficando a observar...

Minha infância tão breve!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1982

0957. RIO JAGUARIBE QUE PASSOU

Estudante e estudantes

Caminham nas terras

E nadam nas águas

Do Rio Jaguaribe...

Brincam de pega

E nadam sem nada esperar...

As horas se passam...

Os estudantes partem

Chegam tarde

Amanhã tem rio de novo...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de março de 1978.

0958. CASTELO

Não é castelo de pedra

Nem mesmo de barro

É bairro...

Lá me criei e amo

A terra que me viu passar...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1994

0959. A SOMBRA DA MANGUEIRA

Ela tem um verde que dá riso no rosto,

Pois, de cada fruto que dela, se alimentam,

Cantam sabiás nas tardes de domingo

E jovens enamorados se beijam ...

É sombra que dá sombra a tudo e a todos

Um convite ao sonho de ser feliz

Na mangueira o verde é tanto

Que a sombra é pouca pra tanta gente.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de março de 1978.

0960. QUIS SER MISTERIOSO

Sonhava desde menino, moleque atrevido

E se atrevia a desafiar o mundo

Com as calças emprestadas do povo

Que hoje busca ser misterioso... difícil é ser amado pelo amor

Que se acaba de arranjar, muito mais fácil é ser misterioso

E o amor romper fácil...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de maio de 1978.

0961. ACONTECE...

à Regina Kelly (pense numa pessoa)

Acontecem tantas coisas

Tantas coisas acontecem

Ela espreita o bem

Ela é o próprio bem

A mulher que mora ao lado

Em frente o ser amado

Ela mulher de lágrimas em pranto

O choro chorado que dá canto

A fala dos que nada percebem

O gostar dos que não conseguem

É mulher mãe que conheço de antes

Tanto tempo e ambos distantes

A distância do acontecido

A distância do não permitido

Viver na vida pelo eterno prazer

É paz, é sonho, num só viver

É coisa acontecendo

É luz em chama se aquecendo

Você em mim é claridade

Mulher, perdoa, só sei dizer verdade...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de novembro de 1989

0962. DISTÂNCIA

Uma vez

Eu comprometido

Ela comprometida

Nada feito

Discussão

Frialdade

Eu de cá

Ela de lá

Ela se chega

Beijos

Digo se ela pensou no que falei

Ela diz que sim

Da segunda vez

Eu me preparo

A chamo

Ela está só

Não vem

A outra impediria

Quando na verdade

Sou eu o mandatário

Me afasto

Ela diz que basta um toque

Não dessa maneira saindo

Os outros como ficariam

Ela está pensando em mim

Tudo bem

FriDistância

Crio idéias para impedir

Não consigo

Fala o que tem para falar

Fala do outro

Diz nada suportar

Ouço e me calo

Vou ao encontro

Beijos e abraços

Sensualidade

Há a terceira chamada

Diz que o outro tem compromisso

Que não está descartado

Qualquer coisa telefona

Abraços e vai embora

Não liga

Frialdade

Distância

Terça-feira noite

Compromisso de entrega

Vou embora

Não despedida

Quarta-feira noite

Pouco diálogo

A chave fora de cena

Falo do outro

Ela se explica e vai embora

Apenas palavras

Tem uma outra em cena

Os olhos brilham ao encontro

Quinta-feira tarde

Vou na sala

Abraços

Cabelos em cena

Fala amável

Vou embora

Pergunta para onde

Falo que chego e vou embora

Questiono duas

E você onde chega fica

Ou vai embora

Sexta-feira com o outro

Os olhares

Eu com duas em cena

Não se fala nada

Vai-se embora

Noite o encontro com o amigo

Casa de família

Ela o vê

Vai embora

Rumo ao compromisso

Distância

Frialdade

O que fazer?

Um próximo e talvez

Uma última vez...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de novembro de 1989

0963. DISTÂNCIA SEGUNDA

Uma vez

Eu comprometido

Ela comprometida

Nada feito

Frialdade

Eu de cá

Ela de lá

Ela se chega

Beijos

Me afasto

Ela está pensando em mim

Tudo bem

Não consigo

Fala o que tem para falar

Fala do outro

Sensualidade

Abraços e vai embora

Não liga

Frialdade

Distância

Quarta-feira tarde

Me distancio

Noite à ida ao encontro

O abraço no filho

Deixo a chave

Pouco diálogo

Apenas palavras

Quinta-feira distância

Sexta pela manhã

O toque nas mãos

A pergunta do vai para onde

A resposta que vai ao trabalho

Falo que chego e vou embora

Noite na casa dos familiares

Eu só em cena na visão

Da casa dela

Do sorriso dela

Do amor que sinto por ela.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de dezembro de 1989

0964. ESTAVA SENTADO

Estava sentado

Sem nada fazer

Sorrindo calado

Vivendo o prazer

Estava sentado

Esperando meu bem

Sorrindo e lascado

Sem ter ninguém

Estava sentado

Sem ter nem porquê

Sorrindo e endiabrado

Por tudo entender

Estava sentado

Querendo você

Sorrindo calado

Vivendo não sei o quê.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de maio de 1990

0965. NÃO TEMOS CULPA

Não temos culpa

dessa história

nasceu em mim

nasceu em você

Não temos culpa

desse romance

vive em mim

vive em você

Sei que dei início

você quis

nós dois queremos

Sei que dei início

você quis, você permitiu

não temos culpa

o sonho nos iludiu

Não temos culpa

o que ficou, ficou

não temos culpa

é simplesmente, amor...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de maio de 1993

0966. QUANDO O SONHO SE ATRAPALHA

Atrapalhado estou como um sonho estranho

No encalço do tempo em que o tempo chora

Entre tantos sonhos, entre tantos argumentos

O amor se perde, o amor se encanta

E o sonho de tantos planos vai-se

Pela vida entre tantas vida...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1990

0967. O VÍCIO QUE CORROI A ALMA

Estando só, plenamente só

Curtindo o sol, olhando o sol

Era que eu estava só

Até mesmo só

Não deu para ver o sol

É que o vermelho do sol

Não me vinha como de costume, só

E eu antes só do que mal acompanhado

Andava só, sem ter ninguém, sem

Nunca puder ver esse sol.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0968. A PAIXÃO DE POETA

Quando o poeta se apaixona

sai de perto tristeza

sai de perto melancolia

sai de perto incerteza

e só uma certeza

é certeza na certa

no coração do poeta

a paixão tão exata

no poeta de tantas letras.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0969. CAMBALEANDO PELAS ESQUINAS

Pedindo voto

vendendo voto

amando o voto

aposto no voto

gosto do voto

sei o valor do voto

sei quanto vale um voto

sei o valor máximo de um voto

amo o jeito grosseiro de pedir voto

amo todas as letras na petição de um voto

pelas esquinas pedindo voto

pelas esquinas perdidos no tempo de tantos votos

são os votos que são votos sagrados das esquinas do tempo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0970. COMENTÁRIOS ACERCA DA FESTA

Estão comentando

de forma alegre

o que foi a festa

na casa do Bento

nada de sofrimento

só loucura é o que importa

abrindo uma porta

sem chave e sem tranca

são os comentários da festa

que rolou à noite de tantos acertos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0971. UM LUGAR PARA CHORAR

Estava chorando sem ter um lugar

fui no açude e chorei

berrei na noite de lua cheia

berrei na situação encontrada

as águas balançando ao vento

e eu chorando, sofrendo, tímido

pelo amor de uma paixão

o sofrer entre todos os moradores

os quais ouviram todas as minhas dores.

Bento Júnior

Santa Luzia-PB, 22 de junho de 1986

0972. NÃO HÁ COMO FUGIR DAS INCERTEZAS

Estou fugindo, estou perdido, estou tímido

só porque não sei desabafar, só porque não sei chorar

tenho que fugir, tenho que ser rápido, ser ágil nas ações

de tantas incertezas o homem até hoje vive

o homem não consegue ser ele, apenas chora

fugindo de sua própira história.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0973. MUNDO, MUNDO INGRATO

o mundo que moro é mundo ingrato

é mundo sem vida, sem vida e paz

de tanto ser ingrato meu mundo

é este mundo que moro, deito e rolo

chorar se preciso, mundo, vasto mundo ingrato.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0974. O VÍCIO DO MOTORISTA

Beber...

O motorista bebe

e na volante ele bebe

de tanto beber o motorista

acaba no acidente

é vício profundo de tanto mundo

é motorista que bebe, farra e se entrega

que é entrega pouca nas poucas horas

em que esse valor numérico se confunde

com a boléia de um caminhão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0975. MULHER NOTA ZERO

Vai passando uma morena

como Alceu falou

é tropicana e de caldo de cana

é mulher nota zero

tudo que ela faz

é sinal de espera porque até agora

essa mulher não passa de uma mulher.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0976. O VÍCIO SONHA COM MEU BEM

o vício não bebia

porque dinheiro se acabaria

só assim, Bira

tua candidatura é vício

pelo café.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0977. PAIXÃO DE VELHO

o velho tão com vida

encontrou uma vida nova

quando namorou com a vida

da outra vida tão sem vida

o velho com toda sua vida

deu vida a vida morta

e juntos foram vida

para o resto da vida...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983

0978. O BEIJO MAIS QUE PROIBIDO

O beijo mais que proibido

mexeu com meu umbigo

deixou-me em contratempos

em todos os momentos

todos os meus sentimentos

fracassos e tormentos

só os sofrimentos

surrupiaram meus pensamentos

viajei por todos os lugares

busquei o beijo em todos os altares

um tanto quanto proibido

foi dado nas quadras de todos os mares...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de setembro de 1983

0979. O RATO

Nas esburacadas ruas, os ratos passam

Cantando cantigas horríveis, frajutas,

Destas que arrepiam qualquer cristão,

E ainda comem alimentos da mesa.

Os ratos, mexericando com as baratas,

Passeiam e não notam outros ratos,

Loucos para tomarem o pão

Que os ratos acabaram de pegar...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de dezembro de 1980.

0980. SANGUE DERRAMADO

Sangue pelo chão

Sangue das veias

Sangue das peias

Sangue do coração

O negro sofrendo

O negro irmão

O negro perdão

O negro morrendo

Na senzala fazia medo

Na senzala havia horror

Na senzala era dor

Na senzala não tinha segredo

Segredo era morte

Segredo intolerante

Segredo constante

Segredo da sorte

Morria todos

Morria aos montes

Morria nas pontes

Morria nos lodos

As águas eram barrentas

As águas do engenho

As águas que tenho

As águas eram sangrentas...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1983

0980. FAZENDA

Santa Rosa, fazenda

Onde filhas no tanque

Banho tomaram... Ares de felicidade

Por todos os cantos se espalharam...

Os primos das filhas

O cunhado a banhar

Amigos que a vida

Nos fez encontrar...

Bento Júnior

Teresina-PI, 25 de junho de 2000

0981. UM CANTO TÍMIDO

Um canto tímido

Um canto destemido

Um canto contido

Um canto aborrecido

Um canto metido

Um canto aquecido

Um canto movido

Um canto assumido

Um canto bendito

Um canto mantido

Um canto atrevido

Um canto perdido

Um canto conhecido

Um canto aparecido

Um canto cambito

Um canto servido

Um canto partido

Um canto permitido

Um canto admitido

Um canto saído

Um canto interrompido.

Bento Júnior

Teresina- PI , 27 de junho de 2000

0982. VIAGEM CIDADE

Da cidade em que se está

Dentro de um carro

Sem o chão pisar

Vai-se a outra cidade

Apesar de um sol escaldante

Outro Estado se vai conhecer.

Do Piauí ao Maranhão

De Teresina a Timon

De Timon a Teresina

A cidade se encontra

Outra cidade...

Atravessando a ponte

Outro lugar...

Voltando da ponte

O mesmo lugar.

Bento Júnior

Timon-MA, 28 de junho de 2000

0983. PERGUNTANDO O TEMPO TODO

Você quer carinho? Eu mesmo não...

Você quer beijinho? Eu mesmo não...

Eu quero amor - eu quero amizade

Eu quero ser feliz... A felicidade está comigo

É minha compreensão.

Você quer a guerra? Eu mesmo não quero harmonia

Que transmite solidariedade para o todo e sempre.

Bento Júnior

Alhandra-PB, 23 de fevereiro de 1999

0984. DESPEDIDA BREVE

A despedida é algo

Algo de bem viver,

Quanto mais se despede

Mais voltas há de se Ter.

A despedida do Parque

Piauí foi destaque

Nessa vida de artista

Despedir é mudar de sotaque.

Em breve estaremos

Aqui de novo novamente

Sabemos que tudo a Deus pertence

Fazer planos, despedida exatamente.

Bento Júnior

Teresina-PI, 29 de junho de 2000

0985. FELIZ-MENTE FELIZ

Hoje

Estou feliz

Meu amor

Encontrei comigo

A ternura

E foi-se embora

A tristeza.

Estou pensando no meu amor

Ah! a minha vida

É muito complicada

Êita, lá vem ele de novo

Trouxe consigo a minha

Felicidade.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de fevereiro de 1999

0986. CANTO DE AMOR

Nos cantares do tempo

Em que o tempo não canta

Surge uma esperança

Do tempo de criança

Cantava um canto de amor

Nos arvoredos da vida

Entendia que o tempo

Era sinal de esperança.

Bento Júnior

Teresina-PI, 02 de julho de 2000

0987. SOLIDÃO DESAFORADA

Em meu peito solitário

De solidão, tantas já vividas

Mora um pássaro, que ao contrário

De tantos, cantar não é permitido.

E se cantar, será punido como tantos pássaros

Cantares, que canta e se sente atrevido,

É que o tempo anda nos ares. E por andar nos ares,

O peito de solitário se desafora, pois distantes desses

Mares, entre serras e montanhas,

Assim, ao redor dessa hora

Mora o solitário nessas entranhas.

Bento Júnior

Teresina-PI, 01 de julho de 2000

0988. DEZESSEIS NA PENEIRA

Na peneira de meu bem

Encontrei um lindo amor,

Junto dele um belo número

Dezesseis era seu valor.

Valor de grande estima que me fez um jogador,

Joguei milhar com dezena e dezesseis me fez ganhador.

Bento Júnior

Teresina-PI, 03 de julho de 2000

0989. METIDO

Metido em tudo

Em tudo se metia, era surdo, era mudo

Do mundo tudo conhecia.

Conheceu antigamente nas terras de dona Maria,

Uma dama, porém inteligente

Mas em tudo também se metia.

Saiu o metido abandonado pelo mundo,

Olhe ele que lhe era permitido

Se meter e ser vagabundo.

Metido em tudo, em tudo que via,

Pois quando não via, era de grande pavor,

E de tanto se meter em tudo

Deixou de ser mudo e surdo,

De tanto se meter, o metido falou.

Bento Júnior

Teresina-PI, 30 de junho de 2000

0990. NOVO PENSAMENTO NOVO

Ter pensamento neste tempo

É Ter vida longa nesta vida

Ter sinal de vidência no hoje

É Certeza que a vida

Não é apenas só hoje

É muito mais que o tempo

É um novo que surge

No tempo tão novo

De pensamentos novos

Pensamentos sublimes

Que se transfiguram...

Bento Júnior

Teresina-PI, 26 de junho de 2000

0991. APARENTEMENTE

Diante dos estragos

Desta sociedade intransigente

As pessoas e as gentes

Perambulam pelas calçadas e sonham

Que é melhor viver do que morrer

Só assim por um dia na vida

Elas são vítimas das aparências sociais.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1989

0992. TROCADORES

Troca o dinheiro trocadores,

Troca o que de fato é trocado,

Assim na vida, há troco trocado

E por ser troco, o troco é dos trocadores.

Assim trocando a rabeca de bar

Em bar da vida noturna, ouve o cantar

Dos boêmios que trocam o dia pela noite

E na noite se sente tão bem que o bem

São trocados por nada no nada do troco

De dinheiro em dinheiro da vida.

Há troco para ser dado, trocadores

De dinheiro muito de troco não dado.

Bento Júnior

Salvador-BA, 15 de julho de 1988

0993. MOLEQUES TOCADORES

Toque um toque de toque bonito

Moleque pecado do pecado do mundo

Quisera um dia na vida na vida do moleque

Ser tocador dos bons pra tocar

O amor, o sonho e a esperança...

Moleque que toca um toque bonito

No corpo tocado de toque marcado

Moleque é tocador que toca bonito

No pátio dos sonhos na hora marcada

Um canto moleque no amanhecer

Desse canto de canto pecado...

Moleque o sonho começa

E temos que ir embora

Arrume os troços do toque

Vamos dar o fora

E hora de cantar no descanso

Valeu pela tarde da noite

O dia pra nós foi manso...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de junho de 2000

0994. VOLÚPIA DE NÃO MAIS QUERER SER

Acorda-te deste desalento,

dilaceras por inteiro meu coração.

Lá fora a fuligem anda solta

e a escória se afronta na contra-mão.

Acorda-te e tomas um lenitivo,

o efeito será tua proeza.

Vives no ópio, hoje bem mais

pungente, resfolegando, com certeza.

Acorda-te, ainda és rutilante,

tua estrela é volúpia da sociedade.

Quem tem amigo se sente turuna,

um mirone que não forja a verdade.

Acorda-te, a vida é multifária,

e com essa coriza grudada em ti,

não conseguirás nem mesmo o arremedo,

e sim, atrozes no teu caminho vais possuir.

Acorda-te, estou antevendo

o teu futuro sorvendo-me por completo.

Enxergo as labaredas desse sensato

homem, embuçado além metro.

Bento Júnior

Campina Grande-PB, 24 de fevereiro de 1995

0995. ZUMBI REI DOS PALMARES

Até hoje não existiu homem como tu

que lutou pela liberdade de tal maneira

que entregou a sua própria vida

em defesa da libertação negreira

Até hoje não existiu homem como tu

que já nasceu com o destino traçado

de proclamar a independência dos negros

e lutar sem se importar que para a morte estava marcado

Zumbi dos Palmares

homem de raça

um grande guerreiro

que fez de sua coragem

todo o seu viver

e por este povo

o seu morrer

Zumbi Rei dos Palmares

homem de coragem

que seja símbolo para

homens e mulheres

Por que obrigaram-te

a fazer uma viagem para o Recife?

E para o teu Quilombo

nunca mais voltaste

Zumbi Rei dos Palmares

que seja sempre lembrado

como um homem de verdade

que lutou e morreu

até o fim pela nossas liberdade.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1995

0996. SÍMBOLO DE RAÇA

Quilombo

era assim que chamavam os negros

o canto dos escravos foragidos

o mais importante entre eles

foi Palmares

foi um quilombo combativo

Como arte

capoeira

trabalho e agricultura

tudo faziam dos negros

apesar da vida dura

Os senhores de engenhos

queriam de volta os escravos

que eram marcados

com ferro pegando fogo

e procuravam em terrenos devastados

Até que um dia encontraram Palmares

foi uma batalha bastante sangrenta

morreram tantos negros

Palmares se transformou no símbolo

no símbolo de uma raça

no símbolo de uma raça.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1985

0997. CIDADE VISAGEM

a coragem

da cidade

é mistério

é aparência

a visagem

se transformou

em flores

a cidade se encantou

foi mistério

sim, senhor

as flores

desta cidade

causam bastante espanto

o mistério guardado nela

é aparência sim, senhor

o mistério

enquanto visagem

voa o mundo

entre flores

a cidade quando dorme

perde o sono

sim, senhor

a aparência

da cidade

é forma quadriculada

as flores que dela brota

é mistério sim, senhor.

Bento Júnior

Bento Júnior Alhandra-PB, 02 de março de 1999

0998. HOTEL GLOBO

Da natureza que tudo encerra

e da serra que o homem passa,

a sombra da árvore enlaça

outroras vidas desta terra.

Em tudo que se olha, luz se tem

e portanto: o Globo é monumento.

Este que hospedou no tempo do vintém

personagens que hoje é só pensamento.

O Hotel Globo de tantas relíquias e procuras santas,

planta a esperança do agora.

O Hotel Globo causa saudade,

sozinho num canto, em verdade

é orgulho daquele que por aqui ainda mora.

Bento Júnior

Alhandra-PB, 02 de março de 1999

0999. POETA MALDITO

Malditos os sonhos que falam do amor,

mesmo esse amor que tanto procuro;

por enquanto o caminho é de dor,

e a vida pra vencer tem que dar duro

Malditos os caminhos que me levam ao amor,

mesmo esse amor que tanto insisto;

a vida tem coisas e nos causa terror,

a busca é fértil, mas portanto, desisto.

Malditos os insistentes na busca do amor,

mesmo esse amor que tanto vasculho,

no sótão da vida, o sonho é bagulho.

Malditos os procuradores da arte do amor,

mesmo esse amor que tanto lamento,

nessa agonia, traga-o por um momento.

Bento Júnior

Bento Júnior Alhandra-PB, 03 de março de 1999

1000. A CIDADE DORME

Perplexos olhos de sono insistem

em frente a uma tela de computador

exigindo inspiração e tudo confuso

nos olhos a espera de uma certeza

que brilha na lua tão cheia e serena

e aqui o poeta procura a ilusão

confia na paz destes que dormem

nas suas dormidas de lençóis ao vento...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de setembro de 1995

1001. DEZESSEIS SOLDADOS

Quinze soldados passaram

E voltaram felizes da vida

Ganharam fama e dinheiro

Foram heróis de uma batalha

A batalha do Amor

Viveram os soldados felizes

Amando uns aos outros

Um soldado viveu e foi artista.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de julho de 2000

1002. EM CIMA DO CORAÇÃO DE POETA MORA

UM ANJO INTRANSIGENTE

Dizem que os poetas vêem o mundo

com os olhos diferentes. No amor ele sente a dor,

que queima o coração doente. Na dor ele busca

o amor, que alivia e nos faz contente.

Fogo, água, terra e ar são mistérios a se desvendar,

poesia da natureza.

E a morte o que achas dela?

É a continuação da vida e não há quem fuja dela.

Será ele intolerante por não querer crê no que os olhos vêem?

Por amar como um louco, o simples fato de ser um ser?

Todo poeta sonha acordado

e canta como um tenor afinado,

pelo amor que ficou acuado

no coração de seu bem amado.

Intransigente é esse anjo diferente

que vê na dor e na solidão o despertar de

uma paixão célere como uma estrela cadente.

Se o poeta não sonhasse

e como todos, acreditasse

que o mundo é apenas mundo;

a magia acabaria e ele se sufocaria

na sua monotonia.

Que seja um anjo intransigente, ame e cante livremente:

-Viva a vida com emoção!

E que esse louco apaixonado

nunca deixe para o lado esse dom alucinado

de ver o mundo com o coração.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de novembro de 1982

1003. GRITO OBSCURO

Quanto mais eu grito

menos eu falo

Quanto mais eu falo

menos me escutam

Quanto mais eu penso

nada faço

Quando penso em fazer tudo

nada faço

nada querem de mim.

Se silencio meu grito

por não me ouvirem

por não querer nada de mim.

Pois nada pra mim eu faria

se nada por ti nunca fiz.

Se silencio meu grito neste silêncio

por que esperam de mim a minha voz?

Voz que nem eu mesmo tenho.

Por que o silêncio calou a minha voz?

Quanto mais eu grito

menos eu falo.

Quanto mais eu falo

menos me escutam

porque o silêncio

calou a minha voz?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 16 de novembro de 1982

1004. NA POEIRA DA VIDA

Um caminhão que passa

Veloz igual ao vento.

Canta um sabiá no laranjal

Bem-te-vi vem no quintal

Cantam um canto afinado

Minha infância vai no caminhão...

A viagem com poeira de estrada

Segue os passos da caminhada,

Andam mulheres e filhos,

Cantam cantadores na feira...

A lua de cima espreita

A multidão de baixo agradece,

Segue o caminhão sua trilha,

Fica poeira de recordações.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de janeiro de 1984

1005. PARADA E PASSADA

Numa cidade sem ter idade

Morava Maria, filha mais velha

De um casal caipira que sem saber

Soltou Maria ao mundo

Que deu ao mundo

E pela idade de Maria

Sofreu o caipira

Maria deu Maria

Que foi criada pela caipira

Numa educação sem educação

Maria cresceu e deu Maria

Morreu Maria mãe de Maria

Avó de Maria que até hoje dá

Pelo mundo e se organizou

Fundou associação e ganha fácil

Vendeu Maria ao mundo

Aquilo segundo ela diz

Que a terra um dia há de comer...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de dezembro de 1990

1006. SANTO DE CASA FAZ MILAGRE

Santo de casa, escondido entre sete chaves

Condecora um cidadão deste mundo

Que entre aplausos e delírios busca

Se entender o porquê de tanto grito

Na entrada triunfal do filho da terra.

Todos de pé pedem mais voltas

Ao mundo do filho de casa que da casa

Nunca saiu e é orgulho da cidade...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de agosto de 1984

1007. MORTO E ESTRAÇALHADO

Vivendo e sendo amado pela vida

O tempo vai se desgarrando

Das unhas de quem tudo teve

De quem sempre sonhou

E o sonho realizou...

Agora morto e estraçalhado

Se encontra aquele senhor

Que no passado foi o que hoje não é

Bêbado pela vida e mesmo assim sendo

Amado e estraçalhado de amor...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de dezembro de 1990

1008. UM CANTO PARA MENINA

Menina, onde tu moras

Lá longe canta o bem-te-vi

quando de mim foste embora

meu coração se quis partir

Menina, quando passas

para a cidade

leva contigo

minha saudade

Menina, quando chegares

trazes novidades pra mim

um bom-bom de bom tamanho

e na roupa cheiro de carmim.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de dezembro de 1983

1009. ASSOMBRADO NA MULTIDÃO

Vejam vocês, o que comigo aconteceu

Um padre de uma cidade, que a muito tempo morreu

Apareceu entre a multidão e um vinho me ofereceu

Era o vinho da missa passada

Que todo domingo na hora contada

Se via o padre com cálice na mão cortada

Em briga de vizinhança

Que o padre por esperança

Perdeu a vida por causa de uma moça da França

Uma senhora bem vestida e arrumada

Que se aproximou e foi logo desejada

Por aquele padre, mas não passava de uma safada

E com toda esta fama que tinha

Vivia a fazer pouco, até de uma galinha

Que dava de beco em beco, se chamava candinha

Esta francesa ao padre foi confessar

E foi logo dizendo que queria se casar

Não importava com quem, queria se vingar

O padre sem nada entender do assunto

Disse: Madame sente, tome um presunto

Conte-me tudo, porém agora muito

Me sinto a vontade para lhe ouvir

Não se incomode se eu sorrir

Queira amar sem se iludir

Pois casamento é bom, saboroso

Quando amado, precioso

Sendo assim é que é gostoso

A francesinha já de olho no vigário

Foi tirando a blusa, disse otário

Chupe aqui, este é o confessionário

Que tenho bem quentinho

Para lhe oferecer, padre fresquinho

Prove meu peito, se safadinho

O padre já doido e meio da vida

Foi dizendo que era pecado, e foi dando saída

A moça pegou-lhe, aqui é sua guarida

Faça de mim o que bem quiser

És meu amado, sou tua mulher

Pronta para te dar, meu amor com muita fé

Aí o padre um pouco na indecisão

Foi abrindo aquele vestido, o peitinho virou peitão

O padre mordeu com precisão

Gemia o vigário junto daquela francesa

O gemido era de pura franqueza

O sexo da moça com a grande alteza

Naquele ato libidinoso que havia

Sacristão na batina batia

E gritava: “viva o corpo de Maria”

Nisso chegou um senhor de grande estima

Invadiu a igreja em busca de uma menina

Foi embaixo, pensou, foi lá em cima

Ao chegar na torre paroquial

Encontra um ato sexual

Desesperado ficou feito animal

Irracional, furioso e valente

Voltou, cheirava a aguardente

Subiu feito um demente

Matou o padre de um tiro só

E ela apenas com um nó

Matou também, e o que é pior

O sacristão ao perceber tal episódio

Foi socorrer o padre Custódio

E vendo a moça morta ficou com ódio

Pois não mais seria o mesmo sacristão

Naquela igreja, dóia seu coração

Era triste, pensava: “que missão!”

Foi feito o velório do padre e a estrangeira

Muitos foram ao enterro, conversa pra semana inteira

E eis que o padre me aparece em plena feira

Eu sou lá de beber vinho, assim desse jeito

Não quero receber no fundo do peito

Uma bala errante e morrer no leito

Agora entendo a vida feita de incerteza

Quem tem missão cumpra, esta é a certeza

Na multidão um dia quase perco minha beleza.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de março de 1983

1010. ANIMADOS PARA O BAILE

Amigos a gente encontra

Em qualquer lugar

Em cada esquina

Em cada rua

Em cada tempo

Do jeito que a vida dar...

Amigos quando se encontra

Preservar é muito bom

Um baile com o amigo

É mais baile, você vai gostar...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de janeiro de 1980.

1011. ACABRUNHADO

Um Tanto desajeitado, um riso acanhado

De sentimento entre os poucos,

Assim é esse povo entre muitos,

Que entre tantos, vive guiado

Pelas rédeas da economia mundial.

Um povo um tanto descrente, com capacidade,

Mas, incapaz na atitude de ser Ele,

Compra o que plantou, e quando come,

Paga o imposto, do pouco que lhe sobrou,

E ainda veste a camisa do império que lhe explora.

Um tanto ciente, perdido no meio do caos

Das incertezas, louco sem ter loucura,

Pois a loucura que nEle se agrupa,

Não serve à investida frente ao poder,

Que sucateia o País, o Mundo, e é força intransigente.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 25 de julho de 1995

1012. NESTE CHÃO DE MORTE

Neste chão

Onde a encruzilhada

Se fixou,

Morreu o anjo

Que de santo

Só era Amor,

Caiu no caminho

E nunca mais

À terra voltou,

Era anjo sorridente

E de tão contente

Burlou a dor,

Sua dor serviu

De lição ao coração

Do anjo ator,

Fez teatro

E mesmo criando

Jamais se conformou,

Antes de morrer

Sobre a injustiça

Consigo pensou,

Morrerei feliz

Neste chão

Que me pisou!

Bento Júnior

Alhandra-PB, 23 de julho de 2000

1013. APESAR DA HORA MARCADA

Arrisque um palpite

Desses que a mente

Se aproveita do momento

E se mete a marcar hora

Na hora imprópria

Quando dois encontros

Não sendo encontros

Encontra a hora

Que mesmo não sendo marcada

Fica cravada no tempo

De quem se diz encontrado.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1983

1014. ANGUSTIADO PELA NOITE

Lá entre tantos poetas

Na noite suja de bebida

Lá ia caminhando pelas calçadas

Um fazedor de versos

Que entre um gole e outro

Pensava ser doutor

E sendo doutor

Caía no sono e sonhava

Angustiado pelo mundo

Sem rumo e sem parente

Um demente entre tantos

Que mesmo na multidão

Se sentia um perdido

No mundo da ilusão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 29 de março de 1985

1015. SOLÍCITO AMIGO

Passando ia pela rua das amarguras

Quando de longe de uma janela,

Avistava uma figura pálida e sorridente

Que de tanto vê-la ficava contente

E é claro, logo quis saber o nome dela.

Por achar complicado a subida

E subir não seria o desejado,

Meti meus dedos de expectativa

Para entender aquela voz ativa

Que de tanto falar, ficara calado.

Aí meus sentimentos de menino

Um tanto fora de circulação,

Conseguiu decifrar o enigma da fera

Que sendo bela, era a espera

De todos que lhe botasse a visão.

Eis que numa noite de chuva

Chovendo e como não querendo parar,

Dei de garra de minha vontade

E subi ladeira, sem vaidade

Para então consegui conquistar.

Subi, e quando lá cheguei

Entusiasmado pelo acontecimento,

Chamei-a pelo nome que tinha aprendido

E quando surge, logo fico arrependido

Não era nada de Livramento.

A voz grossa e afinada para conquista

Deixa-me em contratempos medonhos,

Pois quando soube do que se tratava

Achei logo um jeito, para ver se me mandava

Para bem longe, mesmo que fosse em sonhos.

Como pode isto acontecer e logo comigo

Que de tanto ser severo, mais uma tinha aprendido,

Para não arriscar tanto, primeiro estudar o caso

Só assim não ficaria tanto raso

Tendo até medo de contar o acontecido...

Bento Júnior

Mulungu-PB, 12 de março de 1984

1016. A MINHA DOR

Comigo, trancado a sete chave tenho,

Não o que pensam os maldosos, enfim,

Tenho forças entre dentes para lutar,

E se preciso, espantar para longe esta dor,

Dor esta que sinto matando meus compassos

De ser o que busquei em sonhos, quando em sonhos

Sempre tive a realidade, mesmo que a realidade

Fosse desbotada, porém o importante foi o amor,

Este que vai me corroendo por dentro

E perfurando o instinto pouco a pouco,

Pois cada silêncio que se ouve, muito mais

Silêncio se forma na minha famigerada dor,

Que no dilema do não fazer o certo,

Em que o certo se torna implacável,

Mora o perigo de não ser vida,

Apenas habito com pavor!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de março de 1983

1017. NEGRO AMOR

Um negro amor de negra pele

Em mim sem querer pegar

Pegou e quis ficar

Ficando foi tomando conta

De todos os atos em saltos

Que me palpitavam o olhar

Quanto mais de amava

Mais amor buscava

No corpo de suor a pingar

Por todo espaço em esparros

Que assombrou o mundo

E no mundo me fez sonhar

Sonhos de meninos lúdicos

Que espiam chuvas em gotas

E bebem água para amar

Um negro amor em mim ficou

E indo embora nunca mais voltou

Deixou no coração o vazio

Pois todo aquele passageiro cio

Condicionou-me a muito mais de negro gostar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1986

1018. CAMINHO DOS VIAJANTES

Vai viajante pela vida a rodar

Anda por este caminho

Descobre teu verdadeiro ninho

Plante a semente e fruto vai dar...

Não se sabe em qual tempo

O tempo vem na hora certa

Por favor viajante, deixe a porta aberta

Espante todo este contratempo...

Que vai tomando de conta

De todo este imenso espaço

Pois o viajante manda-te um abraço

E sonha com aquela ceia pronta...

Na mesa a esperar o viajante

Com arrumação às costas

Um suor no rosto às mostras

É a volta do nosso caminhante.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de abril de 1990

1019. EM CADA ESQUINA DESTE LUGAR

Em cada esquina que existe em mim

Há sombras sonoras que me consolam

Sou feito madeira de lei de boa qualidade

Quanto mais velha melhor de se ter

Sou como madeira de lei

Quanto mais velha melhor de se ter

Em cada esquina que passo

A sombra do mundo me bate a tristeza

Sou como a esperança que cedo mais tarde

Algum dia há de chegar...

Bento Júnior

São Bento-PB, 17 de junho de 1986

1020. APRESSADO AGORA

apressado e sorridente

saio na vida contente

buscando em cada caminhar

o encontro com o leito do mar

sorridente e feliz

canto como aprendiz

buscando ser de tudo um pouco

um pedaço de cada louco.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1983

1021. JÁ É TARDE

Nesse instante que o instante

apavora os sentidos de poeta,

as mãos como não querendo

ficam a pensar na hora...

A hora é longa e o dia se passa

como as nuvens que plagiaram,

não plagiaram apenas o silêncio

que morava do lado das nuvens...

Já é tarde nesse instante de tempo

pois o tempo que é tarde,

sonha com o agora que fica

entre lágrimas e olhos que cantam...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de maio de 1983

1022. CASO A CASO

Um dia quase chuva

O guarda-chuva molhava

O rosto do camarada

Coberto de água por toda face.

Com os cabelos ralos

Caindo sobre a sobrancelha

Caminhou, tombou e caiu

No quinto andar do elevador.

Chorou multidão

Surgiu a polícia

Queria saber caso por caso

Qual resultado de tal tragédia.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de agosto de 1984

1023. ACABANDO

Acabado e mal-amado

Estraçalhado e maltratado

Esfarrapado e abandonado

Condenado vive Maldonado

Um senhor aloprado

Que fez do sonho guardado

Esperança num dia contado

Errou o alvo e matou o soldado

Sofreu o pobre coitado

Que mal lhe fez a vida

Maldonado?

Bento Júnior

Santa Luzia-PB, 14 de junho de 1986

1024. QUATORZE ANOS E MAIS

Completou quatorze anos

Era linda como pétalas

Sonhava com os quinze

Que certamente passaria só

Quisera naqueles quatorze anos

Saber dos segredos que rondavam

A cabeça daquela mulher

Era linda como pétalas

Caindo ao vento

Como o vento que balançava

Aqueles lindos cabelos

Volte para viver quinze anos

Em sonhos com o poeta

Que além de versos

Tem em mente muito mais...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de agosto de 1986

1025. FILHAS E MÃE

Ouço a cantiga de longe

de longe ouço a cantiga de três

que cantam ao som da natureza

no balanço da rede de tarde

de domingo enfadonho...

São cantoras da tarde

no canto dos pássaros

no surrupio da rede...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de maio de 2000

1026. MOLECADA

Esta turma é legal

Não gosta de confusão

Cada um na sua rua

Joga bola

Empina pipa

E roda pião

Sou o guarda desta praça

Gosto desta meninada

Tenho fama de durão

Não posso perder o emprego

Este é meu ganha-pão

Esta turma é bacana

Disso nós temos certeza

Obrigado criançada

Vá com Deus no coração

Quem quiser ver brincadeira

Nesta praça tem de montão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de junho de 1984

1027. UMA CANTIGA DE BOI

Boi, boi

Boi da cara preta

Pega essa criança

Que tem medo de mutreta

Boi, boi

Boi da cara vermelha

Pega essa criança

Que tá subindo na telha

Boi, boi

Boi da cara azul

Pega essa criança

Que foi pro Norte e pro Sul

Boi, boi

Boi da cara verde

Pega essa criança

Que tá morrendo de sede

Boi, boi

Boi da cara amarela

Pega essa criança

Que caiu na esparrela

Boi, boi

Boi da cara branca

Pega essa criança

Que foi pra Zona Franca

Boi, boi

Boi da cara preta

Pega essa criança

Que tem medo de careta.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1980.

1028. A ARTE DO YOGA

Fazemos Yoga e temos paz,

quatro elementos

estão entre nós.

Viva a água, a terra,

o fogo e o ar,

nesta vida não estamos a sós...

Temos fé neste mundo

de meu Deus,

aprendemos a lição de ser ator.

Dividimos o pão com emoção,

quatro elementos ,

em nós, com muito amor.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de abril de 1997

1029. JÁ É TARDE POR DEMAIS TARDE

É tarde. Altas horas. Onde me encontro?

Tenho sede. Por que tenho fome?

A noite foi feita para dormir,

Não me tirem o sono assim...

É tarde, muito tarde da noite,

Os galos estão calados,

Os cachorros latem, é bastante tarde...

Vamos dormir que amanhã é dia outro

Para se fazer outras coisas...

Precisamos dormir para o amanhecer

Despontar no céu do meu amor.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1983

1030. CALE A BOCA E FIQUE CALADO

Você não entende do assunto

Cale a boca e fique calado,

Cole a boca com cola boa

E por favor fique parado...

Não saia do lugar, não

Que as palavras vão começar,

Guarde as armas e fique calado...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1983

1031. RECORDANDO VELHOS TEMPOS

Aqui ouvindo o rádio

ouço a canção do nosso amor,

hoje ela não faz tanto sentido

é a vida que nos causa dor,

mas também alegria,

é como o céu que banha o mar

no pensamento da criança

que quer pegar o céu.

A música me leva tão longe

assim num voar louco,

sonhando acordado em transe

para ser feliz apenas um pouco.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1983

1032. VIA MUNDO

Os olhos teciam as vozes

entre bocas suadas

de sonhos cansados

As bocas bebiam o silêncio

das vozes em transe

de roupas errantes

As vozes que eram tantas

e por serem tantas no mundo

não viram o mundo

O mundo de tão pequeno

cresceu em todos os caminhos

O caminho que tece esse ninho

de sonhos e sonhos...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de março de 1984

1033. METIDO A BESTA

Passava todos os dias

Em frente da casa do Avô

Um cara metido

Que se metia em tudo

E de tanto se meter

Era chamado de besta

Era tanto besta na rua

Que dava pena ver tanta besteira.

Bento Júnior

Solânea-PB, 08 de julho de 1986

1034. ASTRO ESCRAVO

Na mão direita

Em vez de uma roseira

Coube uma arma

E de cada tiro que foi dado

Restou uma bala

Que foi chupada

Pelo moleque

Da primeira esquina

Choravam milhões

Forjaram o astro

Morreu como escravo

Na mão direita

Tinha uma flor

Que murchou com o tempo

Ficou a arma

Ficou a bala

Ficou a injustiça

Ficou o choro

Ficou a mãe

Ficou o pai

Ficou o mundo

Distantes da roseira.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de maio de 1990

1035. NOVO HOMEM

Vestiu-se de novo

E saiu pelas ruas a gritar

Seu grito era tanto

Que ecoava em todos

os cantos de toda cidade

Não se pedia roupa nova

Todos queriam um novo homem

Mas um novo homem de pensamento.

Bento Júnior

Campinas-SP, 13 de outubro de 1987

1036. APARENTE

Era alguém solitário

Que de aparência vivia

E vivendo de aparência

Falar dos outros vivia

Era a sua ciência...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1989

1037. DESGASTE

Os caminhos tortuosos da vida

Passam os anos. Fico na espreita.

Por que não passa essa lida,

Esse sonhos que me enfeita?

Vou morrendo aos poucos

Como morre o amor dos loucos,

Caminhando pelas calçadas

Hão de encontrar-me de calças rasgadas...

E assim, entre tantos desgastados,

Sou eu o mais desgastado.

Por mais que me esforce no agora,

Sou no futuro o homem que hoje chora.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1983

1038. DE OUTROS PROBLEMAS

De outros problemas

o mais que se tem,

uma calça velha

e uma camisa suja...

De outros problemas

que outrora passei,

com a calça suja

e a camisa que rasguei.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de abril de 1981

1039. CHEGOU

Dedicado para Catarina Dias de Carvalho (Minha Filha)

Catarina chegou

Seu sorriso ficou

Na garganta do pai

No olhar da mãe

Catarina é amor

Pensando em Catarina

Meu olhar se encontrou

Catarina é um doce

É um doce de amor.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 22 de fevereiro de 2003

1040. NAS ONDAS DO VENTO

Nas ondas do vento

Do cheiro do mar

Os olhos de criança

São olhos que choram

De bocas que cantam

Pescadores sem peixe

A rede vazia

Barriga a gemer

O pão está faltando

Aqui nas ondas do mar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de março de 1983

1041. NESTE CHÃO

Ah! se eles soubessem o que sinto

não viriam falar de ódio, assim

neste momento vão, onde o diabo anda solto

na calada da noite...

Ah! se elas soubessem do que já senti

não me falavam do que falam

e assim, como não querendo e querendo

vou ficando por aqui...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de maio de 1984

1042. CANSADO ESTOU

Cansado estou

Estou muito cansado

Cansado estou

Estou muito cansado

Quem falou

Não falou por maldade

Falou porque

Quis dizer a verdade

Estou cansado

Cansado estou

Número marcado

Quem não veio, faltou.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de março de 1983

1043. VOU DAR UMA

Tô terminando o serviço

Pra dar bem devagar

Ela me espera tranquila

Sei que é bom e vou amar

Não precisa muita pressa

Devagar se chega lá

Vou dar uma e vou gostar

Quero vê se ela vai chegar

Não adianta correria

Devagar se chega lá

Vou dar uma pela cidade

Final da tarde vou chegar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 05 de setembro de 1980.

1044. POR QUE POESIA?

Sabiam que não sei qual o sentido

Da arte poética ?

Não sei a resposta...

A frase é semente

Que brota da palavra fruto...

Poesia vai rimando

Poesia sem rima

Poesia quando se está amando

Poesia de menino e menina...

Por que fazer poesia

Se a vida já é em si uma poesia?

Talvez alguém tenha que descrevê-la

Que mesmo falando não se terá

O documento desta arte...

Escrever a vida na poesia da vida...!!!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 07 de dezembro de 1990

1045. ONDE ESTIVERES, CANTES

Onde se escondeu aqueles pedaços

de panos que o destino me entregou?

Quero de pronta entrega, aqui comigo

sou de tudo, um louco que se cansou

das incertezas do agora, das ilusões do presente

que em muito me deixou, cético e controvertido.

Nas impurezas do ontem, a podridão é mais forte

e meu amor por si só, mente por ser metido.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1983

1046. SAINDO DE CASA

Bem cedo, logo cedo saindo

de caso ao trabalho, mas que trabalho!

De casa ao mundo, um passo bem firme

os olhos que me olham me falam do tempo

de tempo de crise, e não quero saber

pouco importa a política, a política que faço

é sair de casa e me ter só pra mim.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de maio de 1983

1047. INCAPAZ DE SER DESSE MUNDO

Caminho. Paro. Penso. Reflito. Incomodo...

Nessa inconstância de vida, divido o sim

Pelo não. Não sigo regras e nem padrões,

Sou autoritário comigo. Gosto de sonhar para sorrir

Em vida. Existo, porém desisto de ser

O que eles pensam. Vou caminhar...

Preciso e depois vou embora. Paro no trânsito

Para congestionar meus sentimentos.

Agora penso. Penso na reflexão do mundo,

E por ser tão grande mundo, vivo noutro,

Distante de tudo e de todos. Incomodo

Muita gente. Vou dormir. Acordar. Pare

As teclas que preciso perceber o quanto

Somos capazes de sermos incapazes...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de julho de 1990

1048. PRAIA AZUL

Praia de Jacumã

Onde o azul se faz presente

Mora bicho, mora gente

Voa alto a ribaçã

Praia de Jacumã

Amigos da bebedeira

Quando se diz que é derradeira

Todo mundo fica sã

Jacumã praia azul

Teu céu lindo e bonito

É proibido ficar aflito

Em Jacumã, um passo pra ficar nu.

Bento Júnior

Conde-PB, 08 de outubro de 2000

1049. DIA DA CRIANÇA

É que o tempo não pode

e nem deve parar,

não pelas palavras do poeta,

e sim, pela fragmentação

da palavra...

Esse dia foi de cão, mas sendo

cão o tempo tem que parar...

O mundo gira, girando numa rotatividade

sem tamanho e sem fim...

Vive a criança a chorar e a sonhar

enquanto o adulto lhe tira o pão

e lhe deseja bom dia ou boa tarde...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de outubro de 1983

1050. SENHORA DONA DA CASA

Senhora dona da casa

Cheguei aqui pra dançar

Uma cantiga bonita

Feita pra gente cantar...

Senhora dona da casa

Estou aqui pra te amar

Um amor meigo e suado

Feito pra gente sonhar...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1984

1051. OS ESCONDIDOS DO PAI

Se escondeu e não sei para onde foi.

Talvez, num lugar onde nada se esconda,

Ele, com seus metros de altura, possa

Se esconder, e quem sabe, fugir...

Fugiu o pobre cretino e não correu mais

Do que poucas léguas. Pegaram o cretino

E puseram fogo na boca.

São os escondidos do pai que moram

Do lado da rua de casa... Foge para longe!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 14 de maio de 1983

1052 - ESCONDIDOS DA VIDA

Escondidos de tudo, escondidos da vida

na vida não é nada, nada na vida...

Ganha pouco de tudo e de tudo

vai ficando pouco na vida...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1982

1053. SOMBRAS ARDENTES DE MIM

Por onde passo

uso o compasso

e quando algo faço

caio em fracasso.

Saio do mundo

e entro no laço

sinto um abraço

e nesse descompasso

perco as sombras

que traço...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1987

1054. FORMIGA PRESEPEIRA

A trabalhadora trabalhou

o dia todo, e como de costume

água bebeu, zangada ficou.

Recebeu pouco pelo trabalho

de cinco da manhã às cinco da tarde

passaram-lhe a perna.

Chorou com razão, pobre formiga

que ainda teve tempo

de ferrar seu patrão e picar

a plantação por inteira.

Gritava os presentes:

“Que formiga prezepeira! “

E assim, durante toda a semana

ficou a formiga desempregada.

Que desempregada, que nada!

Ficou carregando folhas

para o seu mais novo amor.

Encheu de conforto sua cama

e durante uma semana

não saiu do seu lugar.

Bento Júnior

Campina Grande-PB, 14 de março de 1985

1055. CONJUNTO DE SONHOS

Conjunto de sonhos

de sonhos desconjurados

tal como as abelhas

nas colméias do tempo

que cantam ao vento

o dia não vindo

e assim, sobrevivendo

vão os homens

sonhando sonhos

desconjurados...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de janeiro de 2001

1056. CANTIGA DE ONDAS AO VENTO

As ondas do tempo

são águas da cor

do mel de abelha

as cantigas

que cantam

é tempo

que se esquece

As ondas do tempo

são águas da cor

do mel de engenho

o mato em mim

mora e nunca me esqueço.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de janeiro de 2001

1057. TULULUCAS

Cadê as minhas tululucas

Primas de sulububas

Irmãs de tinininha

Minhas filhas de coração?

Onde elas se encontram

Neste momento de agora?

Quero elas agora

Dentro deste meu coração...

... Por toda vida eu tenho

Em mim este amor

Quero estar na vida das três

O silêncio rompe a paixão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 13 de julho de 2003

1058. UMA ESCOLA

Dedicado para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Cícero Leite

Uma escola com primeiro andar, com uma clientela bastante carente, onde uma boa parte do alunado, vai muito às vezes por causa da merenda escolar.

Uma escola de família, com vícios estabelecidos no âmbito desta, vindo esbarrar na instituição onde vários parentes hoje fazem parte do quadro funcional.

Uma escola com um pessoal que se acomodou diante do tempo, em razão da não realização de um trabalho de base dos gestores anteriores.

Uma escola que assume os seus direitos, mas que na plenitude dos fatos os deveres não são cumpridos.

Uma escola onde as palavras ditas por vezes, ferem os princípios de alguns, isso pelo fala-fala que são ouvidos.

Uma escola que desde muito tempo, doada por um comendador, o qual era o dono de quase todas as terras da comunidade; e esta energia do coronelismo por vezes se percebe no âmbito da escolar.

Uma escola ainda com fossa séptil, não tem saneamento, com pouco espaço para as atividades artísticas, culturais e esportivas.

Uma escola onde possui uma sala de informática, mas que todos os computadores estão danificados.

Uma escola que às vezes não assume a verdade no olhar, preferindo em certos momentos o falar na ausência.

Uma escola que não possui uma quadra desportiva, onde a Educação Física é feita num campo de pelada, muitas vezes praticada no meio da rua.

Uma escola com afetos e desafetos, fugindo completamente da proposta de uma escola vista por Paulo Freire.

Uma escola com fossa séptil, causando medo em todos, essencialmente muito mais no período do intervalo, porque uma criança pode cair e causar um grande transtorno.

Uma escola com pequeno espaço interior, sendo a maior gritaria durante os intervalos escolares.

Uma escola com uma entrada bastante pequena que causa sérios acidentes cotidianamente.

Uma escola distante uma das outras no bairro do Valentina – isso do ponto de vista das do município.

Uma escola construída sem a menor infraestrutura, com a aparência bastante saudável, mas que carrega no seu interior sérios problemas, como é o caso de não possuir uma tubulação para linha telefônica.

Uma escola construída sem fase trifásica, e sim monofásica, causando grandes problemas no setor energético.

Uma escola que condicionou a comunidade a certas denúncias sem o conhecimento dos fatos.

Uma escola que não apresenta projetos educacionais, merecendo por vezes à frente da direção escolar.

Uma escola que quando recebe alguma tarefa a cumprir, certas vezes não cumpre, diante da acomodação de alguns.

Uma escola que carrega nos seus seios o grande problema no que se trata no tocante à saúde, com vários atestados, licenças e férias funcionais.

Uma escola fisicamente de boa qualidade, mas com suas estruturas quase que na sua totalidade desqualificadas.

Uma escola onde as desavenças são claras e evidentes, sem ao menos respeitar a presença de autoridades do governo municipal.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de setembro de 2005

1059. UM SAMBA PARA O BRASIL

O Brasil com seu campo imenso

A sua história começa desde 1500

De lá para cá um país que evoluiu sem parar

Mas eu ainda sei que nós chegaremos lá

Cabral, Tomé de Souza, Padre Anchieta

Portugal e Brasil

Berço de muita paz

Que lindo céu azul anil

O Brasil com seu futebol

Suas mulatas encantadas

Dar gosto ser brasileiro

Aqui tem estrangeiro

O país onde o sol nasce primeiro

Onde o sol brilha mais colorido

Viva o Brasil

Atlântico, Florestas

Amazônia, Rio, São Paulo e Brasília

Porto Alegre, Belo Horizonte, o Nordeste brasileiro

João Pessoa nossa terra

Onde o verde é mais verde

O Brasil com seu campo imenso

A sua história começa desde 1500...

Bento Júnior e Raimundo Filho

João Pessoa-PB, 21 de novembro de 1977.

1060. ÁGUA E GELO

Um copo com gelo

era a água bebida

por dentes famintos

de cultura cênica.

Gosto de vê-lo

sinto desvê-lo

porque nós somos

como água e gelo.

Nas idas e voltas

pensamentos nossos

infiltrações constantes

de sabores dóceis.

E quando nos vemos

saudades matamos

escrevendo poesias

firmando amizade.

Bento Júnior e Sílvio Calaço

João Pessoa-PB, 07 de agosto de 1985

1061. SEXTA-FEIRA TREZE

Hoje é sexta-feira

Saí de casa

Com o diabo no corpo

Vi um gato preto

Sexta-feira

Azar na certa...

Sexta-feira

Um dia como outro qualquer

Mas causa arrepios

Nos olhos de nós, artistas...

Sexta-feira

Não tive sorte

Perdi o ônibus

Sexta-feira está indo embora...

Bento Júnior, Mônica Macedo e Romualdo Palhano

João Pessoa-PB, 13 de maio de 1984

1062. POESIA PARCEIRA

O frio bate

em minhas pernas

penetrando todo meu ser

ai de mim nessa vida

se não fosse você.

Pois penetra, eu deixo

faça de mim o que quiser,

se me aceitas como teu Homem

plenamente serás minha mulher.

Com uma pipoca na mão

alguém parou a poesia,

a poesia tá no coração

a rima volta qualquer dia.

Bento Júnior e Norma Sueli

Campina Grande-PB, 13 de fevereiro de 1994

1063. FESTA NA LABRE

o bom

das

festas

da LABRE

era

encontrar

com a menina

do sábado

passado

Bento Júnior e Gerimaldo Nunes

João Pessoa-PB, 08 de outubro de 1989

1064. ESSÊNCIAS NATURAIS DE UM MALUCO

EM TRANSE SEXUAL

Eu tomei um

gole de você.

Puro e sem gelo

você desceu

garganta adentro.

Penetrou meu âmago,

violou toda a essência

adormecida

do meu EU,

fazendo de mim

mais uma vítima

de um amor

proibido.

Bento Júnior, Cleudimar Ferreira e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 06 de abril de 1986

1065. TE VEJO

Te vejo brincando

Menina

Te vejo de fora

Mulher

Te vejo de dentro

Sedutora

Te vejo alado

Sofrível

E sinto teu cheiro

Gostoso

No incólume do teu sexo

Perversa

E sinto teu ato

Censurado

E é te sentindo

Que te ouço

Com teu hálito

Enfim

Maldoso.

Tu sereia terrestre

Me planta o encanto

De tirar um verso

Para encantar meu canto.

Bento Júnior e Betto Silva

João Pessoa-PB, 12 de dezembro de 1990

1066. ... E POR FALAR EM EGO

nessas horas em que falo das horas

sinto-me bastante estafado

falta em mim você que amo

você que faz parte de mim

e na tentativa do repouso

busco-a entre sonhos meus

no mais profundo delírio de afagos e devaneios

na fantasia de ficar feliz ... adormeço

Bento Júnior e Vanildo Júnior

João Pessoa-PB, 08 de junho de 1986

1067. UM AMOR QUASE QUE BANDIDO...

Um amor bandido

Morto e contido

Amordaçado e destemido

Suado e atrevido

É um amor não correspondido

Um tanto quanto perdido

É um amor meu tão conhecido

Que me faz ser parecido

Com um homem que é iludido

O coração tão estremecido

Que às vezes não dá ouvido

Porque é amor desconhecido

Ele vai quando já tenho ido

É sincero, porém metido

Ah, amor que quase tenho tido

É amor um quase bandido...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 13 de outubro de 1983

1068. ATRAÇÃO

Foi nos seus olhos

que eu vi

tudo que eu queria falar,

foi beijando sua boca

que eu senti

o gosto do prazer

a me sufocar.

Foi no seu sorriso

que eu notei

tudo que você

podia me dar,

sinceramente meu amor,

não sei

até quando isso

vai durar...

... por mim duraria

toda vida

essa razão

de querer amar,

não serei sua despedida

e nem tampouco

vou cessar.

Bento Júnior e Paulo Roberto Carvalho de Lima

João Pessoa-PB, 17 de março de 1984

1069. SALÁRIO MÍNIMO

Não pode não, João

com esse salário mínimo viver

pois nenhum filho dessa nação

no futuro irá gostar de você

João , tenha pena de mim

eu vivo desse salário

meu Deus do céu, mesmo assim

eu sou um grande otário

Eu quero aumento, senhor

ainda pertenço a esse mundo

como posso ter amor

o melhor é ser vagabundo

Todos querem de você, gostar

mas para gente, é difícil, João

só se a gente melhorar

mas tá difícil nessa nação

Eu tenho pouca idade

ainda sofro demais

pois isso é uma verdade

e veja quem é pai

Seja lá como for

desse salário eu discordo

como se pode trabalhar

recebendo pouco dinheiro

eu vou dormi

nunca mais me acordo

como sofre esse povo

povão brasileiro

Dai aumento, João

o povo necessita de aumento

todos nós queremos essa nação

em pleno crescimento

Só queremos mudar nosso estilo de vida

ter casa e comida

uma vida melhor

e não essa que a gente tem

dai pra nós um aumento, João

se não a gente faz a revolução

tudo mal, nada bem

que pátria é essa, João?

Bento Júnior e Paulo Roberto Barreto

João Pessoa-PB, 13 de junho de 1980.

1070. GABRIELA MULHER-MENINA

Quando passo na janela

Encontro com Gabriela

Penso logo na canela

Tão grossa como a dela.

Gabriela tão menina

Gabriela tão mulher

Esse teu corpo me anima

Seja lá o que Deus quiser.

Quando passo na janela

Sinto meu amor por ela

É mulher e gosto dela

Meu amor é Gabriela.

Bento Júnior e Antônio Torres

João Pessoa-PB, 09 de julho de 1977.

1071. EMBRIAGUEZ DE POETA

Como distanciar-se dos olhos dessa fêmea

se a tua ausência rompeu

com o sangue dos poetas?

Como não querer perder-se de vista

se na primeira te encontro?

Embriagar é um verbo

combinativo de essência

pois, esse encontro, sim

nos leva ao pensamento viver.

Bento Júnior e Betto Silva

João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 1990

1072. OBRA DE ARTE

A estética das minhas frases

de atrito a atrito

entra em contrito

com a poética das minhas bases

e quando a poética

determina meu gosto

entro em conflito com meu desgosto

extrinsecamente dotado de expressão

fantasticamente exótica

fraseando linhas

manhas minhas

desse conteúdo

livre e sem formas

deixando-me esplêndido

para perpetuar uma obra:

V O C Ê.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 24 de agosto de 1985

1073. DESPINDO-ME

Você tirou a

liberdade

dos meus olhos

fez de mim um amontoado de

loucuras

provocou meu cérebro

contornou meus

sentidos

enfeitou meus singelos dias

e numa simples mágica

desvendou todos os meus

mistérios

descobriu que eu gosto de

você.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 10 de setembro de 1985

1074. DESATINO

Seus

Olhos

Castanhos

Medonhos

Céu

Mar

Vida

Reais

Sonhos

Um sinal

Bonito

Desatino

Anseios

Destino

De ser

Somente

Seu.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 06 de maio de 1985

1078. DO TEU SORRISO

Do teu sorriso

Eu quero

Que mais preciso

Quero beijar

Me revolucionar

Te deixar louca

Via-láctea

Nessa tua boca.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 24 de junho de 1985

1079. VINTE E DUAS HORAS

No meu relógio

são exatamente

vinte e duas horas

espero alguém

que conheço bem

e quero agora

vinte e duas horas

no meu cronômetro certo

fico pensando em coisas

que me tirem desse deserto

se aproxima madrugada

é demais a minha espera

tanto espero que nem sei

o que tanto esperei

pra espantar toda essa fera

vinte e duas horas

não se move o ponteiro

chega o sono de mansinho

no meu sonho verdadeiro

começo a ficar impaciente

esperando todo esse tempo

sei que breve chegará

nas loucuras irei chamar

do momento

um passatempo.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 06 de fevereiro de 1986

1080. DESCONHECIDAMENTE

Estava eu sentado

Na beira do caminho

Ouvindo as estrelas

Cantou-me um passarinho

Seu canto triste e sabido

Me deu tranqüilidade

O passarinho cantou de novo

Foi grande a crueldade

O menino baliadeira

No passarinho acertou

Gritou o bichinho

Foi grande a dor

A dor do passarinho

Não se compara ao que sinto

O menino saiu correndo

Levei e sepultei no meu recinto.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1976.

1081. TRANSBORDAR

Eu queria neste instante

transbordar em teu peito

em forma de ondas

todo esse lúcido amor

que navega no meu coração

e faria uma canção

que só nós entenderíamos

e felizes seríamos

e felizes sorriríamos

para o mundo que perpetuaria

nossas vidas numa só

para que na eternidade

nossos corpos suados

não se cansem de desfrutar

da fonte dos desejos

da vida

da paixão

e do amor.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 15 de março de 1986

1082. PROTO - COLO

Bom dia, pessoá!

Bom dia, minha gente!

o que aqui vamos falá

é um tanto invovente.

São riso, euforia e muito gozo

desde o protocolo primeiro

tudo ficando famoso

também este aqui é derradeiro.

É mermo! Tem inté análise

leitura e risadinha

iguá aquelas de branquinha e da pretinha.

É como as mão ocupada de Luciana Dia

catucando a cara toda

estorando as espinha.

Uns pensano e falano

outros escutano e babano

as mão voa tanto

que mais se parece um abano.

Nos sintimo uns inspião

catador de fala e gesto

quanto mais coisa nós via

mais inscrivia no caderno.

Ouvimo Ingriiiiiiiiiddddddd Koudelllllllllllllllllllaaaaaaaa

gigante qui nem um poste

dizê: vamos pessoal

gritando de foima forte.

Analdo fei um apêlo

e num foi cumpriendido

“gente faça um círculo”

alisando os seus enorme cabelos.

Dôtro lado se ouviu a sereia

voz doce como um gemido

dizendo que seu protocolo

era mais que um registo.

Aquela voi nos arrepiou

entrando nos nosso ouvido

tão bela e famosa

tão linda como a rosa

que ela nos presentiou.

“Não me puxe, eu não vou”

foi o que Amanda disse

adepois a sereia se expressô

“o protocolo? virou jogo”

jogo de aviadô.

Somo agora inspião

da capoeira que começô

era a branquninha metida

da cor de beto fulô.

Espalhou-se o barro

pedaço de protocolo

leitura de fragmento

foi isso que rolô

adepois se ouviu aplauso

que ótimo, arrasou!

Em fim, dois grupos recomeçô

feminino e masculino

os côro se levantô.

Peguem o texto - foi a fala

daquela gigantona

de voz calma e mansa

avisando a nova aula

e disse mais ainda:

“Eu vou em cada grupo

vai um pra lá, vem um pra cá”.

A estratégia é diferente.

Continuô a compridona:

“O exercício agora é orientado

tudo dirigido e bem planejado”.

Começô a discussão

pensamo e ficar de fora

anotano as reunião

numa piscada dela nós doi fomo imbora.

Arrespondemo muchinho no galho

prumode aquele mulherão

não, nois vamo pro trabaio.

Quando chegamo no mei do grupo

a discussão já tava quente

a negada já falava

numa incenação bem diferente.

O Nordeste foi a imagem

qui vei a nós tudinho

mas quase o pau rolô

mode as idéias dos anjinho.

Dissemo várias visão

fazê o contrário, diferente

um pouco das expressão

foi a fala dessa gente.

Cada um num ambiente

todos seriam todos

uma coisa muito legal

pinceladas do poente

pra não ser tão trivial.

Aí vei a idéia

do filme a inspiração

pedaços de imagem

uma tal de fragmentação.

Danôsse, que bunito!

voz grave, agudo

melhor dizer grossa e fina

e beto fulô todo sortudo

bendito és fruto entre as meninas.

Uma música se ouviu

de forte gesto

uma beleza!

mas a desgraça o que se viu

em meio a máquina a incerteza.

Em cada fala uma revolta

religião, reflexão

isso veio da forma

desse grupo a ação

ora fixo, ora alternadamente

inté paricia mei iguá.

A gente fina desse grupo

num gesto de imensidão

chama essa coisa toda

sirmutaneidade e superposição.

Quanto a nossa incenação

começamo num rebolo

de alguns cidadão.

Eu mermo fui o primeiro

iscutei uma falação

de gente de fino trato

muito preocupada

com a minha situação.

Fui jogado por um guarda

sem apelo e sem emoção

assim mermo fui com os ôtro

gerando a nossa ação

entre gesto, cena e vemência

registramo violência contra o cidadão.

Ficamo acabunhado

com uma tá de televisão

surgida num impulso

numa tá de inspiração.

A gente já tava de pé

foi aí que apareceu

Dona Grandona admirada

dizeno: “Cinco minutinhos para o café”.

Quem agia com violência

essa foi a grande questão

num grupo foi indistinta

nôtro leva a distinção.

Ajuda e poder

era do que se falava

e ninguém se calava

com aquilo que podia vê.

Uma tal de filosofação

das coisa dita cum gesto

das coisa dita com a mão.

Querem saber o que é?

Foi a palavra da grandona:

“faces da mesma moeda”

é indústria da miséria

uma grande judiação

mas ficou outra questão:

“O homem ajuda ao homem?”.

Bento Júnior e Cristovão Júnior

João Pessoa-PB, 18 de novembro de 1996

1083. VERDADE DE UMA VIDA QUE

SE FAZ EM SONHO

No sopro de um pensar

descobri no teu meigo olhar

o que irias me dizer

Afinal quem pode dizer

o dizer de um ser

que busca o amanhecer

para refletir sobre

seu próprio ser

E o sol tonaliza de bronze o horizonte

que pairava lá fora

e ele ia embora

de cuias e malas

deixando no peito

uma bala quem o amava

e era para sempre

Pois há sempre alguém

que tenta acender as luzes

do pensar ao sonhar que o ato de pensar

é apenas sonhar

Inocente sonhador!

Teu coração cheio de amor

se deparou com o grande amor

de sua vida

Vida que na verdade

se faz por sonho

sonho de um sonhador

traído por lembranças

transforma-se mais uma vez em criança.

Bento Júnior e João Paulo Camelo

João Pessoa-PB, 10 de novembro de 1995

1084. ASAS DO VENTO

Se a gente pudesse voar

veloz nas asas do vento

jamais poderíamos chorar

nem lembrar os pressentimentos

Mas o vento é rápido demais

ligeiro como o pensamento

a vontade sempre é demais

de unirmos a cada momento

Se essas asas pudessem comigo

muito iriam te buscar

para ficar sempre contigo

e nunca mais nós dois chorar

Nosso amor

nosso momento

nos dá prazer de viver

embora os sofrimentos

venham sempre ocorrer

Você é a coisa mais linda que tenho

é uma pétala macia e maravilhosa

para você sempre tenho

palavras de carinho e uma boca apetitosa

É orgulho demais te amar

de sonhar com as asas do vento

te ver sempre comigo acordar

sem frescura e sem ressentimento.

Bento Júnior e Tácio de Jesus

João Pessoa-PB, 20 de outubro de 1993

1085. PROXIMIDADE

Nosso imã

Irmã

Nos atraiu

E traiu

Por sermos

Pólos iguais

Repelindo-nos

Do amor amargo

Um trago

Sabor ruim

Traga-me outra

Outra

Pra mim.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 15 de março de 1986

1086. QUARTO ILUMINADO

O sonho ilumina o quarto

Transcende os desejos

Atrofia a coragem

O sonho acende

A chama da vida

Mistura imagens

Incentiva uma utopia

Esclarece momentos

Frustra as mentes

O sonho

Outra vida

Astrais diferentes

Alegrias e angústias

Tristezas e felicidades

O sonho e a alma flutuam

O corpo descansa

Reflexos do cotidiano

Mistérios das noites

Parada rotina

Para dormir.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 07 de abril de 1985

1087. SOLIDÃO

Sozinho

caminho ao seu lado...

Tenho medo

da nossa

s o l i d ã o...

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 07 de maio de 1986

1088. VOCÊ

Os seios da tua boca

Me cobrem de

Beijos e abraços

O cheiro dos teus olhos

Me perguntam mil fracassos

E quando tento desviar o rumo

Entro em estado de mais querer...

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de março de 1986

1089. XERIFE LUTADOR

O corpo cambaleou

caindo no chão

A bala atingiu

seu alvo

Matou o poeta?

Mudo

em plena multidão

tombou

Sonhava ele

com o amor

Lutava ele

pela paz

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 12 de maio de 1985

1090. A GENTE SÓ FAZ O QUE NÃO DEVE

A gente só faz o que não deve

A gente só fala o que não pode

A gente só canta o que não quer

A gente só anda desgarrado

A gente depende demais

A gente não depende de nada

A gente adormece calado

A gente agita o cérebro

A gente faz perguntas

A gente fica calado demais

A gente não tem resposta

A gente ouve os outros

A gente não ouve ninguém

A gente já não anda mais

A gente tem mil problemas

A gente não soluciona nada

A gente quer solucionar tudo

A gente conhece os outros

A gente não se conhece

A gente tem exclusividade

A gente se esconde dos outros

A gente anda sempre de lado

A gente não é mais a gente

A gente é ele

A gente não dita as regras

A gente perdeu a noção do tempo

A gente não sabe o que é feio ou bonito

A gente perfura poços

A gente encontra petróleo

A gente vende barato

A gente compra tudo caro

A gente respeita tudo

A gente devida ganhar mais

A gente pode ganhar menos

A gente só faz o que não deve

A gente só faz o que não deve.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1985

1091. VEJO O MAR

Vejo o mar

descendo

à Epitácio

às cinco da manhã

vejo os lábios

dos teus olhos

num gosto de romance

vejo o romance

de tua manhã

às cinco da tarde

beijando a cor

da tua pele

vejo a pele

do teu mistério

embriagar meu prazer

vejo o prazer

da tua vontade

no mar

pela manhã

ou tarde brincar

com os meus sentidos

e me convidar

para o amor

e me convidar

para o amor

amor.

Bento Júnior, Marlyson e Júnior

João Pessoa-PB, 22 de março de 1986

1092. NÓS DOIS EM PLENA NOITE DE CHUVA

Num bar... ou melhor, na vida...

Era uma vez... dois rapazes

Numa chuva tremenda

Procurando um bar... tirar um pouco a depressão

Com o rancho local ( local de dança) a tocar

Músicas de São João.

Nesse dia... chuva não parou... e sim, menos choveu.

Andamos em busca dos papos... numa mesa de bar.

Que dia deprimido!

Aquele foi um péssimo dia

Não se teve alegria... nós dois tristonhos

De conversações comuns.

Mas mesmo assim tiramos a lição

De tudo que ocorre um dia

Talvez não tenha lá bom para o coração

Em compensação restou esta poesia.

Bento Júnior e Emmanuel Lúcio

João Pessoa-PB, 14 de maio de 1983

1093. AS ESTRELAS

O sol já foi embora

a lua está surgindo

meu amor lá dentro chora

sonhando com outro dia lindo

que surge em nossas cabeças

vivências contínuas dos olhos.

Se modifica o dia

estrelas aparecem

amor nosso é vida longa

estamos sorrindo a viver

como o brilho dos satélites

que de idéias nos cerca.

Brilham estrelas no espaço

no infinito dos nossos corações

fazem do mar o mel

nossas aflições manobra

lúdicas estrelas

num tempo onde tudo se gira.

Estrelas têm diversificações

o cruzeiro sócio-econômico do sul

estrela guia das reuniões nossas

as três-marias celestiais

universo de plenitude diversas

onde o homem é fruto da perplexidade.

Se modifica o dia

de novo aparece o sol

ilumina de lado o quarto

talvez o lado esquerdo da cama

transformação de pesadelos

Voltar as reminiscências, vamos

são fatais realidades dessa ciência.

Bento Júnior e Antônio Carlos Carvalho de Lima

João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1982

1094. MONOTONIA SEM FIM...

Vou à mesa

Me sirvo

Porém não como

Vou à cama

Me deito

Porém não durmo

Já tive prazer na vida

Hoje vegeto

Não vivo.

Bento Júnior e Emmanuel Lúcio

João Pessoa-PB, 14 de janeiro de 1984

1095. CASA DE AMIGO

Casa de amigo

é um lar,

uma cadeira,

um rosto

e uma discussão.

Um ponto

de parada,

um afago.

uma cama

estendida

de dia à noite,

de noite ao dia.

Um momento

de euforia,

um momento

de fraqueza,

de lembranças

e recordações,

chegadas e idas

ao encontro

do coração.

Bento Júnior, José Andreza e Alex Araújo de Andrade

João Pessoa-PB, 14 de março de 1985

1096. ORAÇÃO AO CRIADOR

Deus

com todas as nossa forças

todas as reminiscências

perpetuarás em nossos corações.

Deus

cantaremos de boca a boca

tua bandeira de liberdade

aceitaremos palavras contrárias

e lutaremos em prol das tuas.

Deus

elas são reais

são puras

são francas

naturais e sagradas.

Deus

Cristo teu filho

pregou-as

e nós como seres humanos

devemos ter na lógica

a espontaneidade e a vontade de optar

por esta verdade sólida chamada

Deus!

Bento Júnior e Bento Carvalho de Lima

João Pessoa-PB, 01 de dezembro de 1982

1097. A MORTE DO AMOR NUMA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Doeu demais aquelas palavras

Você zombou demais e me tirou do sério

Fez de mim um amontoado de loucuras

Fez de mim gato e sapato e depois veio

Com aspecto de cínica tirando a liberdade

Dos meus dias e me mostrou apenas

Que você não é dona de si

Alguém determina tua vida

Não és dona de si e eu sofri demais

Meu amor vivenciou para o tédio

Não tremi nas bases

Você desperdiçou tanto amor

Jogou fora tanto carisma e agora quer

Algo e não dar mais e está decidido

Que você morreuuuuuuuuuuuuuuuuu.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 26 de fevereiro de 1986

1098. ANSEIOS

Contemplando essa hora

Minha cabeça voa a mil

Sonho acordado

Senti teu cheiro

Repousar no seu leito

E durante a madrugada

Roçar teu corpo

Contra o meu

Num simples gesto de amor

Permanecendo ali

Com saudades do presente

Depois olhar teu rosto

E me sentir feliz

Só!

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 14 de maio de 1987

1099. CAMBALEANDO

Cambalando pelas estradas da vida

Sufocando os sonhos utópicos

Me entreguei de corpo e alma

Ao teu lado erótico

E nas currutelas de cada abismo

Usei todos os tópicos para desvendar

Teus alicerces e de nada valeram

Apenas firme nas caminhadas

Santifiquei teu nome

Razão maior de toda minha utopia.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 16 de março de 1988

1100. CÉLULAS

Minas células cerebrais

Purificando-me

Mandei embora

No momento mais sonhado

Cantei para os mortos

E ao mesmo tempo

Te amava-te demasiadamente demasiado

Corri feito louco à procura do osso

Como um cachorro vadio

Deixei tantas coisas

E no cio da vida parei

Na contra-mão dos sinais luminosos da cidade

Gritei por não

Gritei por sim

Chamei minha mãe

Talvez meu pai

Dei gargalhadas de súbito ao vento

E encontrei parentescos

Esperava também o nascer da lua

Era lua cheia e eu fiquei

Cheio de coisas cerebrais.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 17 de maio de 1989

1101. CENA

A mesma cena se repete

todos os dias

dias tais que mostram em cada marcação

a marcação inexata de um ator principal

do cotidiano vivido por um homem

mágico sinônimo de loucuras e aventuras

contracenadas do ápice

do absurdo teatral

teatrais são as pessoas

estrelas máximas desse espetáculo

misterioso de ações

ações ficaram por conta de cada jovem

que despiu-se e jogou suas intimidades

pro alto dos refletores

vermelhos iluminadores

de uma cena

onde a realidade fica por conta

de cada censura.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de dezembro de 1985

1102. LADOS DE MIM

Alegremente sem os compassos de mim

Livremente sem os resquícios de mim

Aparentemente adaptei-me

Sorridentemente liguei-me

A todos os insignificantes de mim

A todos os carentes de mim

E me deliciei

E me entreguei

De alma e corpo

De corpo e alma

Para uma só coisa

Que se chama eu

Eu sou todas as coisas do universo abstrato

Eu sou todas as coisas que tiram de mim

Eu sou uma parte de Deus dentro de mim

Somos o bem desse substantivo

Somos um lugar desse lugar

Sou todas as linhas traçadas do trópico

Somos o nascer

Somos o viver

Somos o morrer

Somos o nascer para uma nova vida dentro de mim.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 14 de maio de 1985

1103. LUAL

Daqui de onde estou

Te ouço com os cinco dedos

Apalpo-te toda em mim

Afasto-te dos meus segredos

E liberto-me desse clarim

Ficas de pé nos ares

Nesse céu

Noite de lua

São os sonhos

Dos Palmares

Viver a vida a cantar.

Daqui de onde estou

Sei que és cheia.

Vou pegar um foguete

E visitar a lua

Eu vou visitar a lua

De gravata e paletó

Ela me espera nua.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de maio de 1986

1104. MUNDO MEU

Meu mundo utópico

Cheio de culpas

Onde o irreal

Ocupa diariamente

Meu espaço perdido

Nunca encontrado

Vejo minha juventude

Desculpas às loucuras

Nunca assumidas

A arte

A música

O teatro

Auto afirmação do meu ego

Faz parte de mim

Sexualmente defino

Meu gosto pelo prazer

O que seria “ser entendido?”

Entende-se que nesse mundo

Você faz a sua própria existência.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de maio de 1986

1105. NÃO ERAS NADA

Não eras nada

Eras apenas

Um pedaço de seda

Cravada nos lábios

Daquele maluco

Que fazia sua cabeça

E depois saciou teus anseios

Desvendando todos os mistérios

Que transbordaram da tua boca

Provocando todo cérebro

Que contornou toda uma vida

De lúcidos prazeres

Entre beijos e açoites

Que percorriam o dia inteiro

E continuava noite adentro

Perturbando o silêncio

E avermelhando os olhos de quem não era nada.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 20 de março de 1987

1106. O POETA E O VERSO

O poeta parou

Olhou um monte de versos

Versos impressos

Pelos seres inversos

Donos do poder poético

O verso sorriu

Das mãos que o achou

E pôs fogo

Acabou provocando o cessar dos poetas

O poeta agregou os versos

E concretizou a mais linda melodia

Cantada em noites de orgia

Pela discreta e humilde burguesia

Vendedora de prestígio ao proletário

O verso se transformou em vida

E da vida fez-se o Ser Humano

Este mandou alguém entrar na rima

E na tirada da rima

Não se sabe quem foi mais forte

Se o verso ou se o poeta.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1985

1107. UM SER AMIGO

Sou apenas alguém

que luta em prol

em busca de um mundo melhor.

Penso de todas as formas

admitindo soluções

que nos tragam alegrias

em nossos corações.

Se ele fala comigo

tento achar um abrigo

que lhe mostre um amigo

num simples aperto de mão.

Essa mão que aperta

algum dia será repleta

de coisas boas e certas

de um ser amigo e irmão.

E assim sigo meu caminho

deixando rastos por onde eu passar

como pássaros no ninho

que nascem para voar...

Bento Júnior e Paulo Roberto Carvalho de Lima

João Pessoa-PB, 10 de outubro de 1983

1108. INSPIRAÇÕES NÃO VINDAS

Puxa vida

onde anda essa tal inspiração?

Se tiveres que buscar inspiração

não busque-a no meu coração

pois só encontrarás tristeza e solidão.

Elas não darão bons versos.

O insistir acarretará simplesmente

numa mera masturbação ( mental).

Bento Júnior e Sílvio Calaço

João Pessoa-PB, 07 de janeiro de 1986

1109. DEBATE

As tristezas, que são no mundo?

Ah! este mundo, por mim amado.

Eu tenho vida... um cismar profundo

Me diz que este mundo é um desesperado.

Se eu disser, poetisa,

O encanto de tê-la

Não aclamará em nada

A chama de vida

Que rego por ti.

E este mundo, o que farás dele?

Acalma-te, que este mundo não é só teu,

Não é só meu... Não, não é vosso...

Como este mundo não tem dono

Não é teu... não é meu, ou nosso.

Num raio de estrelas

Hei de semear minhas vontades,

São tantas, não posso vê-las,

Posso sim, beijar tua face de saudade.

Ah, poeta! falas dos homens...

Eu canto o mundo e a realidade.

Bento Júnior e Gilvânia Dias

Alhandra-PB, 10 de dezembro de 1998

1110. AS ESTRELAS

O sol já foi embora

a lua está surgindo

meu amor lá dentro chora

sonhando com outro dia lindo

que surge em nossas cabeças

vivências contínuas dos olhos.

Se modifica o dia

estrelas aparecem

amor nosso é vida longa

estamos sorrindo a viver

como o brilho dos satélites

que de idéias nos cerca.

Brilham estrelas no espaço

no infinito dos nossos corações

fazem do mar o mel

nossas aflições manobra

lúdicas estrelas

num tempo onde tudo se gira.

Estrelas têm diversificações

o cruzeiro sócio-econômico do sul

estrela guia das reuniões nossas

as três-marias celestiais

universo de plenitude diversas

onde o homem é fruto da perplexidade.

Se modifica o dia

de novo aparece o sol

ilumina de lado o quarto

talvez o lado esquerdo da cama

transformação de pesadelos

Voltar as reminiscências, vamos

são fatais realidades dessa ciência.

Bento Júnior e Antônio Carlos Carvalho de Lima

João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1982

1111. CASA DOS AMIGOS

Na casa dos amigos, os de casa

A casa fica mais próxima, mais próxima

Fica a vida, a vida de perto de casa

A casa dos amigos ao lado, ao lado de nossa rua

Somos uma casa entre tantas casas

A abrigar os amigos na casa das amizades.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 06 de maio de 1984

1112. MUNDO MEU

Meu mundo utópico

Cheio de culpas

Onde o irreal

Ocupa diariamente

Meu espaço perdido

Nunca encontrado

Vejo minha juventude

Desculpas às loucuras

Nunca assumidas

A arte

A música

O teatro

Auto afirmação do meu ego

Faz parte de mim

Sexualmente defino

Meu gosto pelo prazer

O que seria “ser entendido?”

Entende-se que nesse mundo

Você faz a sua própria existência.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de maio de 1986

1113. VIAGEM DE TREM

O trem anuncia sua chegada

Todo mundo quer logo entrar

Mesmo o trem de porta fechada

É o trem que conduz o senhor

A senhora e o filho de lado

A viagem do trem é agradável

É criança chorando no trem

É mulher que se arrisca a um beijo

O maquinista na frente nem sabe

O que acontece no trem

É fornalheiro no fogo da frente

Ajuda o pobre maquinista

Que já deu sinal do seu fraco coração

É paisagem vista do trem

Que alegra os olhos do povo

E o povo de fora joga pedra no trem

É propaganda dizendo que não

Não se pode fazer isso não

Com o coitado da lataria do trem

É janela que não se abre

É fechada com grade no trem

Ai daquele que arrisca a visão

Corre o risco de perder a viagem

É estação do trem que se avista

É parada dos trilhos no chão

Esse trem apita tão bonito

Lembra o tempo de criança

Lembra os filmes de outrora

Lembra o cinema noventa graus

O trem passando por cima da gente

Corre, corre que o trem está chegando

Para mais uma viagem

O trem anuncia a sua chegada

Desta feita matou um pelo caminho

Sujou de sangue os trilhos da vida

É trem que chega todo enlutado

A pessoa era família bem próxima

Viajava no trem na hora do acontecido

É o trem que parte cruzando as cidades

Apitou, chegou, saiu, apitou e foi embora.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 29 de abril de 2007

1114. O CANTAR DO GALO

Um canto de longe eu ouço

E ouvindo este canto triste

Meus olhos se santificam

E santificado eu fico

Nos cantares dos galos

Tão longe o lugar

Tão distante o cantar

São lembranças tardias

Dos dias na casa do Avô e da avó

Do acordar cedo enquanto criança

Do tomar café com a mãe

Na ida cedo ao trabalho

É um galo que imita o amigo

É um galo que canta em sinfonia

E sinfônico eu vou sorrindo

Um sorriso que vem de tempos atrás

Canta galo da infância

Canta galo da mocidade

Canta galo dos meus quarenta

Canta galo nessa minha ansiedade.

Quando criança eu ouvia

Quando criança eu sorria

Quando adulto eu chorava

Quando adulto eu lamentava

O galo cantar distante

O galo cocoricó falante

O galo cantar tão lindo

O galo existir e eu aqui sonhando.

Hoje o galo canta

Hoje eu canto com ele

Hoje o galo existe

Hoje eu existo com ele

Hoje eu tenho que acordar cedo

Hoje eu saio e fico com medo

Hoje eu preciso ganhar o pão

Hoje eu saio e o galo canta uma canção.

Cocoricó, cocoricó, cocoricó

Cocoricó, cocoricó, cocoricó

Cocoricó, cocoricó, cocoricó...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 26 de abril de 2007

1115. ENCONTROS

Os dedos tocam-te

na face o brilho natural

na boca o aroma de cada espera

cotidiana razão do fazer por fazer

nos olhos a visão sensual

de cada espetáculo

encenado por dois seres

juntamente com dois

pares de lábios

se divertem em busca

da saliva

demônio excelso

dos nossos livres encontros.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 09 de março de 1990

1116. INVADINDO UM PAPEL LACRADO

A invasão do teu corpo

deixou feliz meu coração

cheio de energia

e de inspiração poética

diante do seu ser

Às vezes penso

outras vezes choro

paixão louca

mil loucuras

não sei como fazer

para planejar tal fuga

junto com você

A plenitude do acaso

é viável quando

retornamos aos indícios

dos desejos fúteis

daí

como nunca nos encontramos

vivemos dos papéis escritos

de uma carta suspeita

de um lindo poema

chamado amor.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1989

1117. INVERSO

Eu sei

Tu não sabes

Logo hoje

O povo brasileiro invadiu as sabedorias dos povos

Através dos olhares malditos e estranhos

Sentimentos contrários às nossas

Perspectivas de vida

Quando o homem se fazia presente

Nos olhares contraditórios e

Sentiam nos olhares os vícios e amavam

Os olhares mágicos nas travessuras contrárias

Onde a mulher sente na pele todos os sentimentos

Alheios quando nunca mais o homem

Pisa nas calçadas da vida

Cada hora se perde nas travessuras alheias

Para onde o fortalecimento das nossas ações

Existem na pele de cada sentimento obscuro

O lado sensível do casamento e a questão do sentir

Tão profundo que às vezes esconde segredos que nunca

Se saberá dos sentimentos

São na realidade todos os malditos qualificados

Na atitude discreta de nunca saber e hão de fazer

Todos os olhares são na totalidade de jamais

Querer o que houve de melhor perante os olhares

Desse povo pacato que tanto ama os

Sentimentos de jamais permitir ser amado.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 24 de março de 1986

1118. MEU TIPO

Eu sou do tipo

que não admite

o impossível,

e admito sim, quando

o impossível está

dentro das minhas

possibilidades.

Bento Júnior e Betto Silva

João Pessoa-PB, 07 de janeiro de 1991

1119. ACREDITAR

Acredito na vida

na ida e na volta

o medo da morte

no azar e na sorte

entre paz e guerra

no frio e no quente

na verdade e na mentira

no capitalismo e no socialismo

no catolicismo e no espiritismo

no amor e no ódio

na miséria e na riqueza

no SER

que comanda

todo mistério

dessa natureza.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 18 de maio de 1985

1120. ALÉM DE MIM

Para purificar a alma

incendeio o corpo

canalizo a mente

como o coração

e deixo fluir felicidade

além do teto da sala

ascendendo meu espírito

para um plano exterior

de fragmentos mortais

onde a lucidez está além

das verdades cerebrais

desmistificando todo um lado

poético e minha razão

de existir.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 25 de junho de 1986

1121. BEIJO

Em cada olhar

Um desejo

Nas bocas

Um beijo

Na plenitude

Um gozo (prazer)

Em cada homem

Uma mulher

Naquela mulher

Vários homens

E vem o círculo vicioso

Fazendo da vida

O sentido da natureza

Ao invés do foi

Vem o será

E o jogo continua...

Em cada desejo

Há o cumprimento

Às nossas vontades.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 23 de setembro de 1987

1122. CHORO DE CORAÇÃO

Sem perceber

deixei-a penetrar

no espaço vazio

do meu peito

preenchendo

toda ânsia

existente em mim

e agora lamento

a distância entre nós

meu coração

sonha e chora

mas é bom e eu gosto

será passageiro?

acho que é amor

ou algo

parecido com frescura.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 25 de fevereiro de 1986

1123. NÓS

tombo

inútil

útil

idade

não é mistério

é a noite

ao lado

da janela

outros iguais

um ser apenas

olhando

um ser

apenas ouvindo

poema

sonho

inútil

útil

idade.

Bento Júnior, Sandra e Eva

João Pessoa-PB, 03 de outubro de 1986

1124. CORAÇÃO SEM PECADO

Bate por mim

Coração incólume

Faz por mim

O teu querer

Purifica meus nervos

Estão à flor da pele

E se possível for

Deix’Ele cantar

Nas árvores sádicas

Do meu pacato amor.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 30 de agosto de 1985

1125. DESCOBRINDO-NOS

Aqui a agora

senti o momento

e as emoções

do prazer

que desfrutamos

quando descobrimos

que nos necessitamos

e nos enchemos de amor

concretizando todo

sonho de liberdade

dos corpos nus

chegando ao ápice

do gozo da vida

enquanto nossas almas

flutuam juntas

nos permitindo

uma só coisa:

AMAR AMAR AMAR AMAR AMAR AMAR

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 20 de maio de 1985

1126. CAMBALHOTA

Dedicado para Carolina Dias de Carvalho ( Minha Filha)

Quem de nós

na vida

sendo pai

ainda não recebeu

umas pernadas

feito cambalhotas

na barriga vizinha

dos nossos aconchegos?

Pois é, companheira,

hoje vai ter espetáculo.

Portanto, será fácil

descobrir quem será a atriz principal?

Com certeza, vocês irão responder:

Aquela pessoa que gosta de dar cambalhotas...

Todos estão sendo convidados para logo mais,

diretamente do Circo “Cordão Umbilical” , assistir ao teatro

das cambalhotas - ao teatro das cambalhotas...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de maio de 1997

1127. GIRA PALCO

Gira palco, gira mundo,

Gira povo, gira espaço,

Girando neste giro profundo,

Balanceou a moça de amasso.

De amasso girou o mundo,

Girou num intenso compasso,

Assim, girando, porém bem fundo

O palco de tanto girar virou aço.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de maio de 1986

1128. ESQUIZOFRÊNICO

Toda essa filosofia

aguça meu lado

exótico

e minha vida

poética

saio da ética

utópica

e viajo

nos pleonasmos

caóticos

vendo meus reflexos

lúdicos

me torno maníaco

ou no mínimo

místico

macrobiótico.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de março de 1986

1129. ESSÊNCIA

Na Essência

contínua

do teu olhar

me perdi

de emoção

permaneci

em meu

berço

sonâmbulo

e perambulando

em prol

do teu amor

e cada olho

no meu olho

refletiam-se

perante

cada olhar

maldito

pois o mesmo

era sempre

senhor

dos nossos

olhares.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 28 de março de 1986

1130. ESTRELA PRINCIPAL

Puta que pariu

tento usar todos os meios

pra não avistar teus olhos

tudo permanece inerte

tudo permanece sacana

sempre debruço meus cabelos

de encontro as tuas mãos

juro que eu não queria

mas são coisas da vida

e o jeito é disfarçar

tudo está ótimo

imensa loucura esse seu jeito

de me fazer perguntas

deixa-me perdido

e todas as minhas respostas

são mal-trabalhadas

de volta faço mil planos

e no dia seguinte

a mesma cena se repete

esse filme devia ser dirigido por mim

é tu serias apenas figurante

pura lorota

só eu sei que tu serias

a minha estrela principal.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 01 de setembro de 1985

1131. EU SILENCIOSO

O silêncio

me faz notar

minha existência

,pois só assim

sinto a necessidade

de saber

quanto é válido

está contigo também

nas viagens

da minha cabeça

explorando meu eu

e te encontrando

no meio das coisas boas

dentro do baú

do meu coração

fazendo-me sentir

toda a emoção

de viver.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 06 de junho de 1985

1132. FANTASMA

Você era

um fantasma

que habitava

cruelmente

na retina

dos meus olhos

mudei o interior

do meu silêncio

e continuei

brincando

com o barulho

da tua boca

era eu

um ser por inteiro

sobrevivendo

em busca

do motivo

de estar

ou não

com você.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 24 de agosto de 1985

1133. TEMAS BRIOS

Já que estamos todos reunidos

Resolvemos criar uma poesia,

Onde cada um de nós

Abordassem temas de:

Amor, paz e alegria.

Estávamos todos em harmonia

Na expectativa da paz,

Pois descobrimos agora que o mundo é bom

E que os seres que o habitam

Também fazem parte e os animais...

- E também os seus sorrisos são iguais...

Tudo que saiam de nossas bocas

Eram forças e energias loucas

Onde se expandiam pelo mundo, através do tempo

Onde o momento era atraído pelo próprio tempo...

... Pois esse tempo era muito frio

Livre e medido pelo compasso

O qual era sentido pelo espaço

E era plenamente brio.

- Partindo de nossa exposição

Esses mesmos perpetuarão em nossas mentes.

Vamos lançar sem nenhum tormento

Para que essa vida nesse momento

Seja simples e festivamente de:

Amor, paz, alegria e sem lamento.

Bento Júnior, Paulo Roberto

Carvalho de Lima e Elizabeth Corrêa

João Pessoa-PB, 20 de janeiro de 1985

1134. O HOMEM QUE AMA

O homem é puramente

idiota

coloca na cabeça

uma mulher

depois “a mata”

A mata é puramente fresca

coloca um homem dentro dela

depois o mata.

O homem que “matou” a mulher

para não matá-la correu para a mata

que o matou de ( ciúmes).

Bento Júnior e Sílvio Calaço

João Pessoa-PB, 07 de janeiro de 1986

1135. BOAS FESTAS BOA DEMAIS

Muitas palavras faladas por nós

não significariam nada,

quando nossa maior palavra

é muito mais planejada.

Nosso planejamento

não tem palavra,

uma palavra sem ação

não tem nada de coração.

Que tal deixar nossos corações

flutuando pelos ares,

buscando encontrar todas as ações

no mergulho profundo dos mares.

Por aqui vamos terminando esta mensagem

esperando ter tocado sua expectativa,

muitos sonhos e lindas paisagens

e realizações nesta vida ativa.

Bento Júnior e Norma Sueli

João Pessoa-PB, 20 de dezembro de 1995

1136. CADA UM DE NÓS

Eu sei que às vezes dou trabalho

Eu sei que às vezes me atrapalho

Eu sei que às vezes penso em querer

Mas sou apenas o lado do parece ser

Cada um de nós sabe se definir

Cada um de nós deve sorrir

Cada um de nós deve se permitir

Cada obstáculo que essa vida tem

Me dá vontade até de não ser ninguém

Quero viver, quero sentir

Quero ouvir, quero saber

Só não me venha dizer

Que o mundo está para cair

Lá vem ele de novo

Trazendo notícias boas

mostrando seu lado bom

Tocando o seu acordeon

Caminhando em busca desse povo

Cada cabeça é um mundo a girar

Cada mundo é um corpo perdido no espaço

Cada espaço é um sentimento de aço

E cada aço se perde em qualquer caminhar...

Bento Júnior e Bento Carvalho de Lima

João Pessoa-PB, 17 de janeiro de 1985

1137. GRITOS

Vou fazer do meu coração

tua bandeira de luta

vou gritar

ao mundo teu nome amor

e no decorrer de cada sílaba

deixarei de cantar

por saber da real politicagem

dessa outra pátria.

Bento Júnior Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de janeiro de 1990

1138. HOMEM FAMINTO

A fome do homem

que comia a mulher

era tanta que ele

lhe mastigava

a língua.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 07 de março de 1990

1139. JUVENTUDE CAMINHANTE

Pelas estradas das

linhas do coração

vou rua afora

matando a saudade

que habita em meu sonho

quando a sociedade pede

poeticamente um beijo

não se recusa

bota a boca no mundo

e grita procurando se encontrar.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 02 de março de 1990

1140. LUA AMIGA

Lua amiga minha

vem contar para mim

vem me dizer tudo

corre para os meus braços

me diz tudo que eu não sei

lua amiga minha

quero dar-te um abraço

me conta todo segredo que

eu não sei

lua amiga minha

minha melhor pousada

por onde andou todo esse tempo?

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de abril de 1990

1141. MOMENTÂNEO

Um momento eu queria sentir

e no mesmo momento te ver

sorrindo para mim

você dar sorrisos

esses mesmos são artificiais

e penso em tocar teu corpo

toco

e você toca meu corpo

tento desviar e mandar parar

deixo

eu preciso dessa porra

para sustentar meu egocentrismo.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 09 de abril de 1990

1142. MORRA

Morra

porra

não me peça

socorro

pois não me chamas

não sou nenhum santo

então

morra

porra!

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 08 de abril de 1988

1143. NADA MAIS QUE SAUDADE

Se lindo fosse

fosse tu serias

seria eu

você

e você

magia

de me ver

de me encantar

com a cor

da tua face

e me fazer crer

que você é

saudade e nada mais...

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 18 de março de 1990

1144. NEGANDO OLHO

Teus olhos

claros luz do sol

me viam

e negavam não me ver

enquanto eu te olhava

mas tu não me vias

pois me ver

não fazia bem ao

seu orgulho.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 09 de maio de 1990

1145. OH! CORAÇÃO

Oh! coração melancólico

perpetuarás sorridentemente

a contracenar com a obscuridade

da fragilidade politizada desse universo

sem conteúdo e sem forma.

Oh! coração selvagem

viverás no excelso das incertezas

e apenas terás no peito

a batida mais batida

que haverá no silêncio

do fazedor de cabeça

de uma droga de vida

conduzida por contraditórios

seres desumanos.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 01 de setembro de 1989

1146. NATUREZA SALVE E SALVE

Os pássaros cantam,

cantam suas melodias.

É engraçado que ninguém sabe

que as canções são por poucos dias.

As flores desabrocharam

com toda a sua beleza,

é engraçado que ninguém sabe

até quando será esse beleza.

Por essas e outras, dizemos,

dizemos com toda força que há,

a natureza precisa de amigos,

a natureza precisa de todos nós.

Bento Júnior e Kaline Marinha

João Pessoa-PB, 25 de outubro de 1995

1147. METAMORFOSE

Neste momento

Penso em você

E então quisera

Me transformar

Em vento.

E se assim fosse

Chegaria agora

Como brisa fresca

E tocaria leve

Sua janela.

Mas eu não

Sou vento

Agora sou só

Pensamento

E estou pensando

Em você.

E se abrir

Sua janela

Vou chegar

Agora neste momento

Em pensamento... no vento.

Você não sabe

Mas estás comigo

Neste momento

Eu quero dizer

Dos encontros

Que tivemos

Sem que fosse preciso

Estarmos juntos.

E agora é um desses instantes

Que a mim chega

Com som de sacramento

E não importa

Onde quer que você esteja

Porque eu te alcanço

Em pensamento

Com toda a maciez deste momento.

Bento Júnior e Orley Pereira

Alhandra-PB, 21 de julho de 1993

1149. NÓS

tombo

inútil

útil

idade

não é mistério

é a noite

ao lado

da janela

outros iguais

um ser apenas

olhando

um ser

apenas ouvindo

poema

sonho

inútil

útil

idade.

Bento Júnior, Sandra e Eva

João Pessoa-PB, 03 de outubro de 1986

1150. GOSTO SABOR DE ANGÚSTIA

As nossas angústias

semelhantes

em tudo

sobressaem pelos póros

como sudoríferas

gotas de medo

gosto de sabor

salvando-nos

do tal momento

de solidão e de dor

nosso intimismo pessoal

tem conotações

graves de complexos

e frustrados

desejos míopes

às vezes o nosso

mal-resolvido

orgulho

perde-se na multidão

tropeça e cai

e se vai mais uma

batalha perdida

entre muitas

que virão

a vida nos permite

longas viagens

intrínsecas

enquanto o desejo

era fazer o nosso

próprio destino

longe de ideologias

medíocres e banais

que escondem

o lado fértil e doce

da realidade abstrata

que se apossou de nós

e um sabor na boca

de angústia

vai deixando gosto

inexplicável de solidão.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 1985

1151. DISTANTE SAUDOSISTA

Um saudosismo

profundo

entre céu

e o mar

o que fica

da praia

são perguntas

sem respostas

de ficar aqui

e pensar

em outro lugar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 12 de março de 1987

1152. O TRABALHO DO TRABALHADOR

Quase primeiro de maio

Quase outro dia

É dia do trabalho

É dia do trabalhador

É dia de reflexão

É dia de chuva

É dia de falação

Por um Brasil melhor

Por um Nordeste melhor

Por uma Paraíba melhor

Por uma João Pessoa melhor

É dia de ler e estudar

Para um mundo melhor

Para um planeta melhor

É dia do trabalho

É dia do trabalhador

Somos do trabalho uma parte

Somos do trabalho um todo

Viva o dia do trabalho

Viva o trabalhador

Viva o povo que trabalha

Viva o povo que sonha

Viva o povo que reage

Viva o povo de baixo

Viva o povo de cima

Viva o povo do alto

Viva o povo do chão

Viva a luta dos trabalhadores

Viva os horrores de todas as dores

Cante o silêncio das mortes cantadas

Cante o mistério das mortes sonhadas

Cante o mistério de todas as dores

Cante as dores de todas as mortes

Cante a vida de todos os amores

Viva o trabalho

Viva o dia do trabalhador

Viva o dia da trabalhadora...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 01 de maio de 2007

1153. HIGIENE SEXUAL

Quero e posso sentir teu corpo lívido sobre o meu que ficará super louco

contracenando com algo que é teu, quero e posso desfrutar teu sexo

nutrido e bem lubrificado, quero e posso

não sou perplexo em dizer coisas assim

desfrutarei em você tudo nos transformaremos

numa só personalidade.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 19 de abril de 1985

1154. IMENSIDÃO DE MEDO

Na ansiedade de encontrar

me perdi nos encontros

que são meras coincidências

do destino

desafio

ao homem

procura razão do existir

medo?

encontrar-se frio

com a morte

perdeu-se na

imensidão.

Bento Júnior e Kennedy Costa

João Pessoa-PB, 20 de maio de 1985

1155. SORUMBÁTICO

Há momentos

num multidão

você olha de lado

e se sente

sozinho

caminha

e o pensar

voa

voando

em dois momentos

um com muitos

um com uma

indiferença

paciência

discussão

corre perdido

sentido

um mais um

coração.

Bento Júnior

Campina Grande-PB, 08 de março de 1994

1156. DENTRO DE MIM

Dentro de mim

uma paz exata

e faz morada,

pois dentro de mim

a morada de paz

é silêncio.

Dentro de mim

existe saudade

que na verdade

é paz,

esta verdade

que dentro de mim habita

requer silêncio.

Dentro de mim

quantos anjos moram

na verdade do tempo?

de tanto pensar

no tempo que ainda há

dentro de mim

a corrida é longa

e sendo longa

dentro de mim

tudo é silêncio!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de novembro de 2005

1157. FORA DE MIM

Um resquício

de coliforme fecal

fez pousada pensante

no escaldante

sol do meio dia.

Um senhor calvo

de salto alto

pulou de medo

quando o segredo

eram fezes.

Um exame constatou

seu órgão doou

e dentro tudo

nada, nada restou.

Um resto que se vai

pelo campo a correr

bate no corpo, sai

um espirro fora de mim.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de novembro de 2005

1158. CARA FEIA

a cara fechada

um riso é impossível

ao cantar dos pássaros

a mente é invisível

os olhos lacrimejam

um ar de promiscuidade

e quanto mais se desejam

o resto é tanto difícil

sofre meu jeito feio

minha cara é só maldade

que cara feia

o homem consegue ter

está na sua veia

essa vontade de ser

de ser fechado

e um riso guardar

sei que a causa é sofrer

e quando se sofre

ser feliz é não se controlar

abrir a cara é se perder

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de novembro de 2005

1159. ONTEM A LUA

Ontem a lua estava

Linda como sempre é,

Na rede com a filha

No chão o toque do pé.

Ontem a lua estava

De tomar vinho de porre,

As folhas ao vento

Diziam que alguém morre.

Ontem a lua estava

Calma e sombria,

Despertava consciências

E na ausência explodia.

Ontem a lua estava

Olhando cada sonho dos seus,

Discutia o nascer de todos

E duvidava da palavra Deus.

Ontem a lua estava

De dá gosto de espiar,

Sem querer o clarão invadir

Invadiu todo este lugar.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 19 de novembro de 2005

1160. ESPERANDO!

Família materna das filhas

em casa esperando.

O trem que não vem,

o trem que chegará.

Todas esperam,

elas estão para chegar!

Saíram de lá

ontem à noite.

Pelas estradas

estão a percorrer.

Ainda não chegaram...

Às vinte horas

elas chegam por aqui!

Esperando o tempo

no seu compasso.

Num passo de mágica,

no atirar da pedra...

Esperando, esperando,

esperando a noite que vem!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1161. ACREDITO NOS CONTRATEMPOS DE DEUS

Acredito na força do vento

Na fé que o povo tem

Na religião de cada ser

No semblante da criança pobre

No olhar chorão de um velho

Em Deus, força cósmica do tempo

Acredito no nada de muitos

Acredito no sonho de uma mãe

Falam do mundo sem espera

Falam da espera sem ter mundo

Acredito no Ser, por humano que seja

Acredito nos contratempos, porque,

Só existe água, neste fogo que botas

Que gira, gira, girando o relógio

Que de tanto girar, estaciona

Em lugar desconhecido chamado Deus!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1162. QUATRO MULHERES

Dedicado para Norma, Carolina, Camila e Catarina (Minha Esposa e Filhas)

Tenho quatro lindas mulheres

Quatro mulheres que moram comigo.

O que mais meu amigo, tu queres

Se de todas sou grande amigo?

Tenho quatro que dormem comigo

Comigo elas dizem que são felizes,

Uma ligação de unha, carne e umbigo

Um refletir nos meus pacatos deslizes.

Amo todas as quatro,

Assisto de camarote cada ato,

Sou o masculino e delas faço parte.

Amo todas e é um amor verdadeiro,

Um desacordo é algo tão passageiro,

Porque as quatro fazem papéis na minha arte.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1163. CONDOMÍNIO SOL NASCENTE

Dedicado Aos moradores da Rua Capitão

A Rua Capitão José Gomes da Silva

tem uma nova nomenclatura,

é Condomínio Sol Nascente,

é morador que vem pra gente.

Chegou Jó e sua mulher, os dois

conheceram o povo daqui;

Falo de Paulo e Maurício...

Coitado do Jó, que sacrifício!

Sol Nascente é o nome,

poucos sabiam da história.

O condomínio hoje está forte,

Nunca abrir a rua, às armas até a morte.

Vizinhos novos vão chegando,

os terrenos estão com casas.

Elias chegou em frente de Miraldo,

o povo é um tanto organizado.

Condomínio Sol Nascente,

que bonito nome você tem!

Vamos nos condomizar, patrão

Antes que o povo nos passe a mão.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1164. SETE MULHERES EM CENA

Dedicado para Vitória, Amélia, Virgínia, Norma, Carolina,

Camila e Catarina (Minha Mãe, Minhas Avós, Minha Esposa e Minhas Filhas)

Tenho na minha história de vida

Sete mulheres como provação,

Cada uma da outra mais decidida

No decidir do meu frágil coração.

Tive uma mulher que hoje mora no céu

A mãe do meu pai, um aprendizado,

Que mesmo vivendo com um coronel

Rompia barreiras, eu era por ela amado.

No mundo que nós habitamos

Seis ainda estão no contemplar dos anos.

Uma, a minha ilustre mãe Vitória.

A outra, a minha amada avó materna,

Comigo uma que é minha esposa eterna

Que me deu três filhas; uma glória!

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1165. DOMINGO É ASSIM...

Hoje é domingo

Dia sem sorte

Alguém morreu

Alguém se foi

Hoje é domingo

Mataram o boi

Viva o domingo

Meu domingo é assim...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1166. MEUS ÓCULOS

Uso óculos

Para ver o mundo melhor

Uso óculos

Para ver o mundo de perto

Uso óculos

Para ver o homem sonhar

Uso óculos

Para ver a mulher sorrir

Uso óculos

Para pagar as contas

Uso óculos

Para apenas amar

Uso óculos

Para poder cantar

Uso óculos

Para poder perder

Uso óculos

Para gostar de ler

Uso óculos

Para tudo digitar

Uso óculos para olhar o mundo

Para olhar a mulher e para olhar as filhas

Para compreender e para saber

Para ver e para ter

Para ser uso óculos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1167. AMBIÇÃO

A ambição que reina

Na pele da mulher gorda

É de tamanho imenso

Passa por cima de tudo

Faz de vítima do poder

Angustia todos por perto.

A ambição da mulher gorda

Era menos no dia de ontem

São vários os motivos dela

Quer a família empregada

Sonha com outros cargos

Mas de tudo ficam os encargos

Que a mulher gorda tem.

A ambição é coisa viciosa

Em sentido péssimo dela

Quando o mundo respira

Ela cava outras sepulturas

Para enterrar os mortos

Mortos de ambição

Ambição que tanto nos assombra.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1168. CARGO

Um requerimento

Um atendimento

Um sofrimento

Um lamento

Um constrangimento

Um momento

Um pensamento

Um discernimento

Um desentendimento

Um atendimento

Um entendimento

Um movimento

Tudo por um cargo

Tudo por uma função

Tudo por um estrago

Tudo por uma condição

Um ser social

Um ser sem nada perder

Um ser normal

Um ser para ter.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005

1169. EU E LUIZ

Dedicado para Luiz Gonzaga (O Rei do Baião)

Quando menino, meu pai

Com sua velha vitrola

Ouvia o Rei do Baião

De fevereiro a fevereiro

Mais forte se ouvia no São João

Seu Luiz Gonzaga

Chamava-me à atenção

Comecei a gostar de Luiz

Comecei a ouvir o Rei

Com suas canções sertanejas

Xote, xaxado, baião e forró

Um contador de causos

De manhã sem hora para acabar

Os LP`s de Luiz a tocar pra todos os filhos

Era para mim uma simbologia

Um símbolo musical

Que despertou no homem que sou

O valor da nossa cultura

O valor da nossa terra

Eu e Luiz até hoje.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005

1170. SÓ, SOMENTE SOZINHO

Quando eu chego em casa

Só, somente só, sozinho

Pela casa a vagar

A saber onde elas estão

Na pizza da noite

Na janta fora de casa

No carro a trafegar

Pelas esquinas do pensamento.

Quando me vejo só

Sou um sozinho no mundo

Viajando e ouvindo Luiz

Cada canção vai ficando

No peito de poeta.

Quando eu chego em casa

Encontro a solidão em casa

Sou a reflexão em casa

Gosto de ficar só em casa

Sou o dono desta casa

Fico só e feliz nesta casa.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005

1171. O BOI E O LAÇO

Meu cigarro de cana

Meu blusão de vaqueiro

Meu amor que me ama

Meu sonho de ser o primeiro

O primeiro a laçar o gado

O primeiro a receber a taça

O primeiro a ser louvado

O primeiro a ter graça

A graça de ser boiadeiro

A graça de ser uma missa

A graça de ter um boi ligeiro

A graça de pedir o que se precisa

Precisa de calma para ser valente

Precisa enxergar o olhar

Precisa ser alegre e contente

Precisa ter fé para laçar

Laçar o boi na primeira sorte

Laçar os sonhos e ser esperto

Laçar o boi e vencer a morte

Laçar os sonhos de quem chegar perto.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005

1172. OFERTÓRIO

Eu te ofereço um canto

Ofereço um canto de sereia

Destes que arrepiam os ouvidos

Deixa a gente tão contido

Num canto da sala

Um canto em ofertório

Rezado num oratório

Com santos pela parede

Santo Antônio

São Pedro

São Cosme e Damião

Padre Cícero do Juazeiro

A Missa do Vaqueiro

Entoa um canto de missa

Que o cantor canta

E no nosso canto

Vamos ouvindo

O sabiá cantar na mata.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005

1173. DANOS

Já sou maior de idade

Respondo pelos meus atos

Canto quando quero

Amo e amado sou

Mas tudo vai e volta

Não entendo os danos causados

Na inflação do tempo

No dinheiro que sai do bolso

Só desenganos

Meus danos

Os enganos só de planos

Os morais da caixa

Da caixa dos pobres

Que ficam ricos do dia pra noite

Para o aluguel pagar

Uma conta abrir

Como se não tem

Dinheiro para pagar?

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005

1174. CHORINHO MATINAL

De manhã bem cedo

Um chorinho de Altamiro

É flauta que não se acaba

Rio de Janeiro me paga

Todo o meu retiro

Meu Botafogo, nada é segredo.

Um chorinho de Carrilho

Enche a alma sensível

Condiciona a cabeça pensante

É música ao mundo errante

Entra nos ouvidos, é permissível

A música suave de um andarilho.

De manhã ouço um chorinho

Altamiro Carrilho e sua flauta

E logo quero cantar e chorar

Porque o me quer pegar

Com certa música eletrônica alta

Mas o choro de Altamiro é só carinho.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 22 de novembro de 2005

1175. É ESPERA, É TRISTE

Fico com a moça a esperar

Os representantes do mal

Que breve irão chegar

Trazendo os argumentos

Mexendo com os sentimentos.

É triste esta espera

Por demais triste é o sonho

Que tenho de provocar

Com a verdade dita frente a frente.

O mal não apareceu

Saí sem nada resolver

Fui na Avenida

Em busca de outro mal

Consegui o número do mal.

A moça vai defender

A advogada quer defender

Eu estou confuso

Todo o meu famigerado uso

Dano moral vai para o mal.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 22 de novembro de 2005

1176. PERDER UM POEMA

Dedicado para as desatenções

Perder um poema é coisa de louco

Que perde as estribeiras

Que perde os sonhos

Perder o poema que não foi salvo

Perder o poema não feito

Perder o poema riscado

Perder o poema de um jeito

Perder o poema todo acabado.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 22 de novembro de 2005

1177. QUANDO O SER INVADE

O ser triste, só

Solitário em casa

Espera alguém

Quer sair, não consegue.

O ser solitário

Cansado, esfarrapado

Sonha com a volta

Nada pede, nada consegue.

Quando o último sofre

De ilusão nos invade

O ser fica triste

A gente nada consegue.

A busca se engrandece

O ser é apenas um

Solitário no meio do nada

Invadido nada se consegue.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 22 de novembro de 2005

1178. SOM DE VIOLA

No som matinal de nossas vidas

As violas ao longe tocam

Soam um canto de quem se entristece

É a viola...

É a viola que invade o ser

Pela manhã tão vazia

Carente de afeto, só distância

É este semblante que implode

É a viola...

É a viola que se alegra

E canta um canto matinal

Deliro com suas cordas

Sua orquestra magistral

É a viola...

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005

1179. QUARTA-FEIRA

Quarta-feira é dia de trabalho

Só o trabalho é feira

Mas que tanta besteira

Por que sempre me atrapalho?

Quarta-feira é meio de semana

Só o trabalho nos cabe

Deus é quem de tudo sabe

Ah! Que vontades de ficar na cama!

Quarta-feira é música nos ouvidos

Destas que enchem o coração

No fundo da alma tem-se a invocação

Deixem-me com os dias mal-resolvidos.

Quarta-feira roga por quinta-feira

Ampara os sonhos de um poeta

As discórdias resultam numa festa

Com amor não se brinca?

Quarta-feira fim do poema

Quarta-feira é pensamento sã

Quarta-feira é gosto de maçã

Quarta-feira ainda é um dilema.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005

1180. A POLÍTICA FAZ SUCESSO

A Política faz sucesso nas ondas da corrupção

Os partidos são conhecidos os lavadores de moeda

Os políticos são conhecidos senhores incapacitados

Senhores desqualificados é a política dessa Pátria

Despatriada pelos incompetentes e pelos falsos contingentes

De roubalheira e dinheiro público é a política brasileira

Trazendo na veia da politicagem pura e aberta sacanagem

Que incomoda o ser de bem quando se conta pelo que se tem

O país do pobre ninguém é a política estampada

Na cara dos sem-vergonha

Os donos da barganha

A troca pela vida medonha

É a política que dá nojo

De olhar a palavra imunda

A imundície sai de cada bunda

É a política de uma vagabunda

Que invade o plenário da política

E é por estas e outras que

A política faz sucesso.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005

1181. OS OLHOS DA FERA

Somos os olhos

Da fera solta

Na boca da espera

Somos os olhos

Cabisbaixos

Nos cabelos da moça

Somos os olhos

Da fera solta

No umbigo do leão

Somos os olhos

De um leão bravo

Nas garras de um macaco

Somos os olhos

Do urso nordestino

O pedinte carnavalesco

Somos os olhos

Da fera solta

Da boca da espera.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005

1182. O PODER

O poder não é arrogante

É exigente

Competente

Pendente

O poder não é extravagante

É decente

Inteligente

Decente

O poder não é pedante

É competente

Experiente

Excelente

O poder não é falante

É independente

Corrente

Espetacularmente

O poder não é errante

É uma corrente

Que faz o experiente

Sendo ele inteligente

Porque o poder é competente.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005

1183. O ARENGUEIRO

O arengueiro

De tão bronqueiro que era

Passou a ser fofoqueiro

E vivendo fofocando o arengueiro

No seu país foi um estrangeiro

Como sofreu o brasileiro

Até fama de peladeiro

O bicho pegou

O arengueiro

Sorria um riso falseiro

Que maldade, companheiro

Por que arengas tanto

Meu amigo arengueiro?

Sei que o tempo é passageiro

E se toque arengueiro

Queiras tomar cuidado

Não arengues bronqueiro

Deixe o mundo inteiro

Tirar-te a fama de arengueiro

Porque vives a discutir

Por tudo e por todos

Tomes cuidado arengueiro.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005

1184. DORME COMIGO QUE AMANHÃ SERÁS MÃE

Dedicado para Norma Sueli (Minha Esposa)

Uma frase popular

Presa há muito

No baú do esquecimento

Quem ousa desafiar

O poder da palavra

Na rima do sofrimento

Dorme comigo que

Amanhã serás mãe

É a força no lançamento

Dorme comigo que

Amanhã serás mãe

A mulher tem o dom divino

De dar a luz

Parir para o mundo

Se é menina ou menino

Morador de mar e ilha

A mulher do giramundo

Em oito anos de amor profundo

Dorme comigo que

Amanhã serás mãe

Mãe de três filhas.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005

1185. AS PROSTITUTAS SE DROGAM

As prostitutas

Se drogam

Com a droga

Do sexo barato

Não tem efeito

Só resta um jeito

Tirar as prostitutas

Dos palanques

Não votar nas prostitutas

Tirar as prostitutas

Do poder central

As prostitutas agradecem

Por essa droga de poema

Prostituído pela prostituição

Da venda do sexo

Do troco do cigarro

Da droga ingerida

Nada mais é errante do que sentir

As prostitutas se prostituindo

Nas praças do poder.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005

1186. DOCUMENTOS

A entrega de documentos

Documenta-se

Documentando os entregamentos

O documento entregue

Aos danos servem

Os danos morais

São os anormais

Os neurônios servem

Os pensares fervem

O documento é lícito

O envelope é lacrado

O advogado quer 20%

Lacrando o dinheiro

Ele é um verdadeiro

Gosta de ganhar causa

A culpa é da casa

Documentos são arquivados

Documentos são perigosos

Documentos são invalidados

Documentos são bondosos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 24 de novembro de 2005

1187. SECRETARIA

Dedicado Aos que fazem a SEDEC/PMJP

O poema tem vantagem em dizer

Em falar de tudo que quiser

É da SEDEC que estou falando

Escutem e fiquem de pé

A SEDEC age com emoção

A SEDEC age com a razão

O dia a dia da escola

Os diretores trazem a reclamação

As direções estão no poder

Acham que são o poder

Alguns se consideram donos

Vivem uns sentados em eternos tronos

Tem muita mulher no poder

Tem muito homem no poder

A SEDEC busca uma melhor educação

Este governo tudo pela valorização.

Homens e mulheres no poder

No Governo Municipal Ricardo dá as ordens

A casa vai indo normal, cada um faz seu papel

É secretário nomeado, é secretária nomeada

Todos querem trabalho, dão trabalho aos secretários

Tem vício antigo de funcionário

Falo do povo e não me atrapalho

Que a SEDEC tenha sucesso

Junto às escolas municipais

Tudo que vivemos é um processo

A SEDEC aprende e ensina demais.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 2005

1188. AOS QUE VEM DA ANTÍTESE

Dedicado para Kennedy Costa e Alberto Black (Meus Amigos)

De tempos de outrora há muitos

Tempos por trás dos muros de aço

Quebrar as barreiras do silêncio

Romper das cabeças o laço

Brincar com a palavra de tantos

E permitir a eles o compasso.

De tempos de outrora há muitos

Tempos por trás de cada semblante

Assumir os encalços e flexibilizar

Andar pelos caminhos do caminhante

Correr e parar nas sombras

Acontecer para os acertos dos errantes.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 2005

1189. FINALMENTE O FINAL

Eis que surge o final

Finalmente cheguei ao fim

Tudo feito intimamente por mim

Uma realização bem pessoal

Que enche o ser de vontades

E até no momento, finalmente

Canta o poeta suas verdades

Enquanto o Mensalão é tão presente

Que sendo presente é coisa de final

Tão final ao ponto de ser exclusivo

E aí comer as letras é preciso

A dor de cabeça é tida como normal

Que de normal já aceito o mote

E no repente do finalmente

Faço o final e dou um trote

Esse poema só pode ser lido por muita gente.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 2005

1190. WASHINGTON, CAPITAL BÉLICA

Fui aos Estados Unidos

Fui parar em Washington

Fui comprar armas

Fui tomar um País

Fui ser empossado

Fui mandar no povo

Fui armar os soldados

Fui guerrear no Golfo

Fui tomar a base do Pacífico

Fui invadir o Índico

Fui tomar a floresta do Atlântico

Fui mostrar Jesus

Ao povo de Maomé

Fui vender cigarro

Ao dono da Souza cruz

Fui orar um terço

Na terra de Saddam

Fui negar as contas

Aos judeus de Jerusalém

Fui editar as controvérsias

Do livro do alcorão

Fui jogar futebol

Nas terras de Salomão

Fui chamado de santo

No país dos evangélicos

Fui bombardeado de sangue

Em Washington dos povos bélicos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 17 de dezembro de 2005

1191. ESTADO

Estado de calamidade

Estado de nervos

Estado doente

Estado indiferente

São tantos os estados

Da geografia

Da psicologia

Da literatura

Os estados da alma

Os estados de ânimo

Tenho estado tão sozinho

Que o meu Estado

Me obrigou a abrir uma conta

Aí meu estado emputeceu

As pessoas têm estado

Sem forças para um novo estado

Este estado que nós vivemos

Este Estado que nós sobrevivemos

Pouco a pouco morremos

Os estados estão sem dinheiro

O estado maior é caloteiro.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 17 de dezembro de 2005

1192. AMANHÃ

Amanhã é domingo

Domingo resultante

Cada poema é um calmante

Amanhã se completa

A lista que escrevo

Cada poema é um acervo

Amanhã vem a conquista

Um acerto na reta final

Cada poema é bem pessoal

Amanhã é domingo

A inspiração já de maior idade

Cada poema vem só matar saudade.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 17 de dezembro de 2005

1193. AO FIM...

Ao fim...

Assim o caderno se enche

O poema se fecha

As páginas se preenchem

Ao fim de um objetivo.

Ao fim...

Alguns já conhecem

Os poemas só agradecem

As mãos tecendo letras

Cada poema é despretensioso

Ao fim... Tudo é subjetivo.

Bento Júnior

João Pessoa-Pb, 17 de dezembro de 2005

1194. NOSTALGIA

No balanço da rede

A menina sacode

A lua aparece

A menina dorme

Penso na lua cheia

Vejo São Jorge dentro dela

Pego o pensamento e vou à lua

E trago a lua à casa

Na casa há um lobisomem

Que se transforma em poeta

E quando a poesia cansa

É o bicho que curte a lua.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 16 de dezembro de 2005

1195. DÉCIMO

Em junho o décimo andar

Subimos todos juntos

A vibrar um canto capital

De tão prazeroso a orquestra

Alimentava toda uma história

E o décimo andar

Em dezembro descemos todos

E nada se ganhou, perdemos

A justificativa da moça

Foi que já tínhamos subido demais

E o décimo andar já fora cumprido.

E como fica

De junho a novembro?

Quando nosso pão se ganharia

Se eles nos deram um ganho?

Precisamos subir novamente

Este décimo andar

Por efetuarmos as contas

Que buscamos no térreo.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 16 de dezembro de 2005

1196. A LUA E O LICEU

A Lua de cima olhava

O Liceu cá embaixo ficava

A ver o clarão que ela fazia

O Liceu já foi palco

De grandes mestres da Paraíba

E a Lua ali presente sempre permitia

O brilho das noites

A inspiração dos meninos e das meninas

O relógio dava oito horas

Ou marcava quem sabe

As horas de um tempo

Onde a Lua passa e não repassa

As cores do pintado Liceu

Palco de autoridades passadas

Palco de autoridades do hoje

E a Lua, caro poeta

Sabes alguma coisa?

Oh! Lua

O Liceu é símbolo

Em nome da educação do nosso Estado

E mesmo neste estado

Tu brilhas sem nada cobrar

E o Liceu agradece.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 16 de dezembro de 2005

1197. INICIALMENTE

Os olhares se cruzaram

Os rostos se enroscaram

A palidez do gostar

O rubro do olharA gentileza do falar

O acaso do cantar

Tudo em si se encantaram.

Os lábios tão distantes

A respiração tão ofegante

A suavidade da pele dos olhos errante.

Jamais a face teve liberdade

Jamais as mãos foram tão contrariedades

Encontros de alma nas vistas da sociedade.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de dezembro de 2005

1198. A VOLTA

Ele voltou, trouxe consigo a esperança

De quem tem firmeza e competência,

E na bagagem de vossa excelência

Ainda resta em nós a confiança

De quem o tem por autoridade

Na reta final de um sistema

Onde o principal e exato tema

É a busca coercitiva da notoriedade

Assim o mestre pega na sua caneta

Assina o atestado ao som de uma corneta

E conclama a todos os povos

Que o tenha por gente, e sendo gente

A volta não é nada mais do que decente

Quando ele está de novo aos novos.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de dezembro de 2005

1199. O MUNDO INTEIRO QUER SABER

O mundo inteiro quer saber

Por onde anda aquela mulher

De cabelos negros ao vento

Um rebolado de quem nada quer

O mundo inteiro quer saber

Por onde ela deixou seus amores

Por onde camuflou suas mortes

E por que tão distante sofreu seus dissabores

O mundo inteiro quer saber

Quem matou a mulher amada

Quem comeu a comida da vida

E por último a chamou de condenada

O mundo inteiro quer saber

Se uma nasceu dos outros

Se ela é fruto da vida

Ou se na vida a comida dos loucos

O mundo inteiro quer saber

Se a mulher voltou ou não

Se a mulher já tem um dono

Ou se esta mulher faz reconciliação.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 15 de dezembro de 2005

1200. A LUA É A MINHA CANÇÃO

A Lua que me faz bem

A Lua que me dá proteção

A Lua que sempre vem

A Lua do meu coração.

A Lua da minha estrada

A Lua da minha ilusão

A Lua da Namorada

A Lua é minha canção.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 08 de março de 1992

1201. SERPENTE

Na espera de notícias

de mãos à espera

e receios temerosos,

infiltrei em teu lar

sobrevivendo como fera,

Dei de cara contigo

que vinha de lá.

Me larguei em teu lar

e me sufoquei na tua mente,

era você uma serpente

que não fazia mal e amei.

Estou pensando em ti

que joga amor

em toda uma vida.

Quero voar, não sei

quero sair, parei...

Encontrei em tua face

dessa vida marcada

alguma coisa parada,

que no meio do realce

serpentemente ficou sensata.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de outubro de 1984

1202. TORCEDOR DO FOGÃO

Viva

Viva

Viva

O torcedor do fogão

É Botafogo na cabeça

É fogo, é fogo, é fogo

É Botafogo ganhando

É Botafogo perdendo

É Botafogo empatando

É fogo na cabeça

Viva

Viva

Viva

O fogão carioca

O nosso glorioso

A estrela solitária

Viva o futebol brasileiro

Via o Batafogo de Futebol e Regatas

Viva

Viva

Viva.

Bento Júnior

João Pessoa-PB, 04 de outubro de 1984

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 13/11/2022
Reeditado em 13/11/2022
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