COLETÂNEA POÉTICA DE BENTO JÚNIOR - VOLUME SEGUNDO - DE 0602 A 1202
0602. BOCA
Facialmente fatal
é olhar
e ver
duas pétalas
sangrando
no leito dos teus
lábios.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 21 de setembro de 1986
0603. TEU SORRIR
Teu sorrir
Mexe com meu lado
Metodológico
E me ensina
Nas escolas da vida
Todo teu lado
Pedagógico.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de outubro de 1986
0604. POEMA PARA OS OLHOS TRISTES
Teus olhos brilham
à natureza desconhecida
e têm a sutileza de navegar
nas águas profundas
do meu oceano.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de setembro de 1986
0605. TROCA
Na troca de olhares
e estranhos abraços
naveguei nas águas dos rios
e cantei no delírio
do teu silêncio.
Abri os olhos...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de setembro de 1986
0606. LUGAR
Uma prima
é algo muito marcante
muito marcante será
conduzi-la até
ao encontro artístico.
E pra contorná-la
de como lidar
é essencial sair
e buscar no fundo
bem no íntimo do ego
um lugar reservado
para uma prima morar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de janeiro de 1987
0607. MUNDO DE MOÇOS E MOÇAS
Agora o mundo é sonho
acordo no sonho e o mundo
se torna eu
eu sou um ser humano
O cão come lata
e como a lata vazia está
o cão não sabe
late
o lixo tá pouco
o homem roubou do cão o pão
Mudanças da casa
das coisas
dos troços
da roupa
mudanças dos quatro elementos
do interior
A moça chorava no canto da sala
não via seu moço com os olhos ao lado
a moça sentada gostava de flores
e flores amadas ficam mais vivas
e vivas às partes fizeram-se úteis
a moça e o moço
Bento Júnior
Aracaju-SE, 25 de dezembro de 1984
0608. SONHO DE SONHAR CONTIGO AO LUAR DA MINHA RUA
Adoro o sonho
de sonhar
contigo
adoro o sonho
de te ver comigo
adoro o sonho
de amar como
uma criança
no amanhecer
de nossas vidas
adoro o sonho
de sonhar contigo
ao meu lado
sorrindo
cantando
adoro o sonho
no amanhecer
frente a frente
no sexo
complexo
adoro o sonho
de sonhar contigo
no aconchego
dos braços
no laço
adoro o sonho
de viver
sonhando
pra vida
se alegrar
comigo
e meu sonho
se alegrar contigo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de março de 1984
0609. CORAÇÃO PENSANTE
Amo o sol
como amo a lua,
quero o sol brilhando
amando você nua.
Meu coração é sol
que brilha na lua,
enquanto meu sonho
é vida que canta
na manhã tonta
de chuva e nuvens
no espaço do coração.
Pensa demais esse coração
que não se cansa de amar,
mesmo que a espera
seja feita de lutas
o sol brilha no alto
de cada sonho vivido.
O sol convida a lua
e a lua não se encontra,
esse lugar antes habitado
hoje é recordação
no coração de tanta gente.
Continuam pensando
batem igual a tambor,
querem que cada sol
seja lua na chuva
que bate no íntimo
de um coração sonhador.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de março de 1990
0610. CRIATIVIDADE DE ESPAÇO
Para criar
Sem criatividade
Eu uso criatividade
E para ter criatividade
Eu tenho você
Em todo meu espaço.
Bento Júnior
Alagoa Grande-PB, 25 de setembro de 1984
0611. PERDIDO NA LUZ
a luz brilha
na parte superior
de quem se olha
a luz brilha
na parte inferior
de quem se vê
a luz brilha
na parte íntegra
de quem se pergunta
a luz brilha
na parte tirada
de quem responde
a luz brilha
na parte dada
de quem retira
a luz brilha
na parte perdida
de quem se encontra
a luz brilha
na parte achada
de quem tem pressa
em vencer
em se estabelecer
num mundo cão
sem coração
sem pensamento.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de julho de 1987
0612. OLHOS VIVENTES
Com olhos de vida
o mundo encontra
seu espaço
Com olhos de morte
o homem encontra
seu mundo
Com olhos de espera
o mundo continua mundo
Com olhos de chegada
o homem
pensa no final do mundo
Com olhos de sonhos
o mundo nos encontra
por trás das árvores
o homem se esconde
Com olhos de vida
o mundo não se acaba
o homem pensa na vida
e a vida morre
Com olhos de certeza
tem-se a clareza
do nascer do novo
Com olhos de criança
nalgum dia foi criança
o mundo prepara o mundo
para o homem
que a muito tempo morreu
viveu
nasceu
e hoje busca seu encontro
consigo e comigo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de janeiro de 1985
0613. PERDÃO AOS OLHOS MEUS...
peço
ao todo
poderoso
lá de cima
que ilumine
o sol
que a muito tempo
não brilha
no olhar
desse povo
peço
ao todo
lá de cima
que proteja
o povo
que sofre
calado
peço ao todo
lá de cima
que acompanhe
o processo
do resto
imposto
pelo posto
capital
peço ao todo
lá de cima
pela metade
em nome
da verdade
que mostre
o certo lado
da vida
mesmo que
a esquina
seja pecado.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de março de 1997
0614. TERCEIRO MILÊNIO
Ano 2000
Terceiro Milênio
Viva o Brasil
É preciso oxigênio
Para suportar
o estranho
É preciso amar
o cheiro do banho
Que limpará
As impurezas
Como as águas do mar
Buscam nossas certezas
De ver o mundo
Mais humano e feliz
Que a paz seja algo profundo
Na cabeça daquele aprendiz
Da vida que nos guia
Para a liberdade
De sermos uma franquia
Do amor que brota saudade
Do irmão ao lado
É tudo que se quer
Um por todos amado
Seja homem ou mulher
Esta sua estrela ascensão
Será cada vez mais
Brilhosa e evolução
Trará no caminho da paz
Esta paz que todos nós buscamos
No aqui e agora
Que é preciso que reivindicamos
A luta dos direitos de outrora
Mas o hoje é importante
E o milênio chega com propaganda
Que não será algo constante
Isso certamente ficará de banda
Onde os sonhos talvez
Sejam realidades
De um por sua vez
Saciando suas verdades
Que certamente terá seu preço
Não esse absurdo inflacionário
E sim de um todo um terço
Como pagamento de crediário
E sendo assim o milênio que vem
É expectativa demais meu irmão
De sangue nas veias um preparo ao além
No acalmar de cada coração
Terceiro Milênio
Viva o ano 2000
Abastecemos nosso oxigênio
Para vivenciarmos as coisas do nosso Brasil.
Bento Júnior
Campina Grande-PB, 18 de fevereiro de 1994
0615. EVASÃO ESCOLAR
A evasão escolar é uma realidade.
O que fazer pelo professor
pra segurar os seus alunos?
Mais de 30% de abandono.
O que fazer pelo aluno
pra vê-lo mais criativo?
A evasão escolar é assustadora.
Se assusta a nossa educação
por não saber qual o caminho.
Qual alternativa?
Qual método?
Qual justificativa contempla
a evasão de nossa escola?
O que fazer pelo professor?
O que fazer pelo aluno?
A resposta é o esforço coletivo:
meu, seu e de toda sociedade!
Bento Júnior
Alhandra-PB, 11 de dezembro de 1998
0616. CORAÇÃO DESPREPARADO
DE AÇÕES CONTÍNUAS
Meu coração
é um fracasso
não sei o que
tem com ele
na hora que
é pra agir
não sai
nunca do lugar
meu coração
está despreparado
de tudo
na vida
na sombra
na água
não sabe
o que fazer
meu coração
é um desmantelo
desse que não
tem tamanho
na hora
em que é pra agir
não sai nunca
do lugar
meu coração
está despreparado
da cabeça aos pés
não tem diabo
que aguente
esse tal coração.
Bento Júnior
Cabedelo-PB, 09 de janeiro de 1999
0617. A ARTE DE AMAR ATRAVÉS DO CORAÇÃO DE POETA
O amor sendo um sentimento
expressa no meu coração
a arte de amar...
Deixe-me pensar palavras
que meu coração expressa:
O sentimento que é “Amor”.
Sei não...
De maneira que não sei ler!
Como vou saber o sentido
da palavra amar?
Sei não professor!
A arte é um divertimento,
e sendo divertimento, ela tem sentimento
que falam ao nosso coração:
Cultura
Criatividade... é a vida caminhando
e nós aqui fazendo poesia
em sala de aula
esperando a hora acabar,
e quem sabe na ida
ela possa está pronta
na nossa cabeça, no nosso coração
de seres humanos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 11 de agosto de 1998
0618. DIA DO ESTUDANTE
Eu canto porque sei amar.
Eu danço porque sei doar
o amor que trago dentro de mim.
Eu vou partir porque o meu ser quer comer, pular, andar e sorrir. Mas, também quero brincar, mesmo que eu não tenha que falar.
Eu preciso é viver para paquerar e namorar;
quem sabe viajar, sem ter medo de chorar.
Eu quero transar a vida
numa boa, seja no tempo de
qualquer maneira , ou mesmo com uma pessoa.
Só assim vou vencer para pintar o mundo
e poder permanecer na vida.
Vou seguir as trilhas da minha missão , e em cada caminho vou agir e depois de bem velho
morrer sem ter que matar o próximo amigo que comigo aprendeu o sentido da palavra amar.
Bento Júnior
Alhandra-PB , 12 de setembro de 1998
0619. NATUREZA POÉTICA
No amanhecer do dia
nossa janela se abre
entra um clarão
em toda parte
é o sol que nos ilumina
com sua força e arte.
Na palmeira da minha terra
canta o pássaro
que alegremente solta
seus festivos cantos.
A abelha pequenina
pelo campo voando
vai fazendo o seu mel.
A andorinha sai em bando
ao cair da tarde
em direção ao céu.
A rã sapeca passeia
entre as folhas
esperando água
pra sua sede matar.
Lá distante da serra
aparece um gato feliz
que pula e dança
ao som das águas do rio.
O coelho metido a sabido
faz acordo com todos os bichos:
- “não deixem invadir nosso chão,
não deixem comer nosso pão”.
Todos aceitam o desafio
de lutar pela floresta
até o cachorro, grande caçador
fez promessa de não mais caçar.
A tartaruga no seu passo devagar
comenta por onde passa:
- “é preciso se unir para amar”.
Correm os bichos pela floresta
na terra que deus criou
só faltava no grupo a cobra
que logo a grande causa abraçou.
Chamaram todos: da terra,
da água e do ar
foi uma festa constante
fez parte dessa euforia
o rei dos peixes
com seu poder e sabedoria.
Enfim, todos juntos
fizeram a maior diversão
de um lado os bichos
do outro a natureza
viveram em harmonia
transmitindo grande emoção
pra vida que precisa
de união, com certeza.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de outubro de 1998
0620. CHEGA DE HORROR!!!
Chega de horror!
Nada de giz, nada de apagador.
Quero uma escola
com vídeo, slide, retroprojetor,
nada de giz, nada de apagador!
O aluno consciente
não é aquele que passa,
não é aquele que se reprovou.
Quero uma escola
sem giz, sem apagador.
O estudo vai além
de uma parabólica.
Chega de nenhen-nenhen...
educação não rima com cólica.
Chega de Horror!!!
Nada de giz, nada de apagador.
Façamos da nossa escola
o ensino através do amor!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 27 de fevereiro de 1996
0621. FÓRMULA
As palavras guardam fórmulas
enquanto a espera emerge o saber
de nunca nada saber.
A ocasião do agora
reflete o espectro
do caso ontem vivido.
Sempre sonhar é importante
mesmo que o sonho
nos encontre mesclados
de vício e medo.
De pensar no amanhã insistimos
quando não tomamos ciência da sua chegada
e passamos a sentir o hoje
existente em nós.
Quanto mais se ama
mais e mais o coração
se afasta dos sinônimos do amor.
Onde caminham os sintomas habitados em cada neurônio?
Odiar seria o caos
pra todas as ansiedades
buscadas em cada silêncio.
Bento Júnior
João Pessoa-PB , 03 de outubro de 1990
0622. ESPOSA
Há muitas entre muitas
E tantas entre poucas
Uma esposa nas bocas
Dos passantes
Que comentam da mulher
E falam de sua fé
Religiosa aos domingos
Na paróquia local
Uma esposa, às vezes anormal
Que trafega e se respeita
Que passa e comenta
O mundo talvez não se contenta
Em ser a esposa do próximo
Tão bela e tão sensível
Às contradições do impossível
Onde a fidelidade é plena
De amor e sentimento
Uma esposa pra todo momento
Mesmo que esse momento
Entre linhas, seja de perplexidade
Sendo a esposa apenas saudade.
Bento Júnior
Monteiro-PB, 08 de agosto de 1989
0623. SÃO JOÃO CAMPINENSE
Cheguei aqui
para brincar o São João
eis quando chego
tive a grande decepção
Brasil perdeu para a Argentina
me esqueci até daquela menina
Copa do Mundo se acabou
para o Brasil
o consolo foi
torcer pela América do Sul.
Bento Júnior
Campina Grande-PB, 22 de junho de 1990
0624. FETO
Convida meus olhos
para habitar
no âmago do teu coração.
Faz de mim tua morada
e abrigo mais discreto
do teu querer
irei penetrar.
Sou apenas teu feto
Ao nascer deixa-me sobreviver
deliciando os teus seios
e ao crescer
serei teu
eterno
APAIXONADO!
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,25 de maio de 1986
0625. TE AMO
Te amo
Por me deixares nascer
Te amo
Por uma família autêntica
Por uma família desajustada
Por tudo que fizeste por mim
Por tudo que me deste
Por tudo que não fizeste
Po um olhar de criança
Por um olhar de velhice
Por ter uma mãe e um pai
Por nunca tê-los visto
Te amo
Por me deixares viver
Te amo
Por uma morada ao sol
Por chegar sempre em casa
Por uma compra digna
Por uma saudade de voltar
Por uma feira feita
Por nunca nos faltar o pão
Por me faltar o pão
Por nunca saber de nada
Por um bom relacionamento
Por um rompimento feliz
Por me dá um beijo
Por me tratares bem
Por me jogares pedra
Por uma livre constituição
Por tudo que a gente observa
Por tudo que a gente não vê
Por tudo que nunca pára
Por uma liberdade de sentir o sol
Por uma liberdade entre aspas
Por uma liberdade plena
Por uma liberdade concreta
Por uma concreta exibição
Por tudo que o homem entende
Por tudo que não tenha nome
Por uma educação praticada
Por uma Pátria amada
Por várias bandeiras rasgadas
Por uma guerra de poderes
Por um governo viciado
Por um cessar fogo
Por uma guerra santa
Por uma paz sangrenta
Por um não salário
Por um remédio barato
Por um aumento de salário
Por tudo que ainda aspiramos
Por ótimos resultados
Por dias melhores
Por um voto bem dado
Por não saber votar
Por seres um artista
Te amo
Por tudo que é sagrado
Por tudo que é blasfêmico
Por andar sempre correndo
Por um emprego decente
Por uma bíblia nos braços
Por uma condenação
Por tudo que o pobre tem
Por uma religião do coração
Te amo
Por amar o amor
Por uma palavra complexa
Por uma compreensão
Por um conforto de amor
Por um compromisso sério
Por tudo que não seja sério
Por tudo que nós praticamos
Por tudo que nos chega à cabeça
Por tudo que quero
Por tudo que não quero
Por um coração aventureiro
Por me amares
Por te amar demais
Por tudo que odeio
Por um sorriso feliz
Por um sorriso forçado
Por um amor livre
Por tudo que não detesto
Por um beijo na boca
Por um ato sexual
Te amo
Por Deus e por Cristo
Por nossos amigos
Te amo
Por tudo que não seja nada
Por andar e saber da volta
Por tudo que não seja farto
Por tudo que falta
Por ter um pedaço de terra
Por tudo censurado
Por tudo liberal
Por um cara dura
Por uma algema nas mãos
Por uma educação de qualidade
Por uma saúde preventiva
Por uma palavra de carinho
Por uma formatura decente
Por ter consciência política
Por todos os teus atos
Te amo
Por me deixares morrer
Te amo
Por um atestado de óbito
Por um ataúde
Por uma cova medida
Por uma cama larga
Por todos os sonhos
Por todas as alegrias dos seres
Por todas as dores dos seres
Por ler esta poesia
Te amo
Em nome do Pai
do Filho e do
Espírito Santo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB , 31 de dezembro de 1984
0626. DE ONDE ME VEM ESSE SOM?
Qual desse senhor
de tanga
que perambula pela
região da liberdade
cruzou mares
e veio brotar
cultura na praça do
Brasil?
Qual dessas senhora dos
seios à vista
do português invasor
que chegou entre nós
esborrotando os sonhos
de uma raça
de duas raças?
Entre a certeza
do medo
há a beleza
do acaso
de encontrar
pela vida
a incerteza
de sermos filhos
lusos!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de janeiro de 1980.
0627. NATUREZA POÉTICA II
Pela manhã
ao abrir da janela,
o sol brilha
com seus raios de vida.
Uma árvore no jardim
aumenta a beleza do lugar,
é uma palmeira com suas folhagens
balançando ao vento.
Ouve-se o canto
de um pássaro,
que diante da paisagem
passeia livre
acompanhado da dona abelha.
A cegonha com seu enorme bico
dar bom dia a todos,
e convida a senhora rã
para caminhar
como antes sempre fizera.
O gato de cima do telhado
olha a cena e pula
para brincar
com o coelho.
O coelho ao entrar na roda
chama também o cachorro,
e este por sua vez late de alegria.
A amiga tartaruga
bem devagarinho
vai saudando ao dia:
“Bom dia, senhora cobra”.
A cobra rastejando vai ao encontro de todos,
quando de repente, eis que surge
do rei dos peixes
com sua enorme cauda,
num ritmo de festa,
dança ao som de viver.
No abrir da janela a manhã se vai,
surge a tarde e o sol se põe.
Hoje é dia de lua nova,
saudamos numa só voz:
-Bem vinda lua nova!
As noites se passam
e as luas também,
agora o momento é de lua cheia,
que clareia o coração
dos seres.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de novembro de 1996
0628. FUNDO MUSICAL
Em meio ao fundo musical
fúnebre do meu pensamento
de poeta perdidamente
reconciliado com seu lado
lúdico e metido
a entendido de paixão
nos muros escritos
da rua da agonia
da morte súbita
em dose dupla
investido a gole
de sadismo patriótico
se perdeu no sonho
do não entendido.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de junho de 1989.
0629. TEMPO
Esquecendo o tempo
o tempo de esquece
e quando esquece
o homem cresce.
Correndo contra tudo
o céu ficou para trás,
e o sonho fechou o tempo
que o tempo se esqueceu.
Homem
se quer mudar o tempo
muda o tempo da idéia
ultrapassada, muda a visão
do teu ser, pois bem dentro
do tempo resta o silêncio.
É o resultado do tudo,
resultado da parte
que formou um todo
guardado nos alfazeres
de lutar por um novo ideal.
Sendo fagulha
do Criador
no Cosmo ( infinito, finito?)
o homem pensa
estuda, fala e pergunta:
- Quem de nós será capaz de definir
material/espiritual/mente
qual segredo desse nome?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 28 de fevereiro de 1996
0630. ANTIGOS SONHOS
Sonhei por onde andei na vida
Sonhei por onde passei na vida
Sonhei por onde passa o carro
Sonhei por onde o carro não passa.
Passou a vida em sonhos
Passou os sonhos na vida
Passou o homem e a mulher
Passou o tempo para tantos...
Bento Júnior
Araruna-PB, 14 de março de 1986
0631. DE VEZ EM QUANDO
De vez em quando
eu me pego no frio
das mãos
e no calor do coração
De vez em quando
eu me pego
no frio das mães
e no tenor
daquela canção
De vez em quando
eu me pego
de bafo quente
sopro ardente
não me renego
quando emprego
meu mundo
no fundo
da causa perdida
achada no seguinte dia da minha mania
Bento Júnior
Feira de Santana-BA, 11 de setembro de 1987
0632. QUEM DE NÓS?
Quem de nós
não queria
ser filho
de “Rei”
ser guerreiro
libertador
de uma raça
ser brasileiro
de outrora
participar
dos canhões
ir de encontro
aos patrões
e sacudir Jorge Velho
dos livros
de história
não teve glória
e só um foi herói
para a nossa glória
e só um foi
herói
para a nossa
memória explodir
viva o “Rei”
da guerra
coração valente
viva Zumbi
a cara da nossa gente.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1995
0633. FUSO HORÁRIO
Doze horas
na rua apenas a lua.
A namorada dorme,
os sinos badalam.
Uma hora
na rua apenas as nuvens.
A namorada sonha,
os galos cantam.
Duas horas
na rua apenas a chuva.
A namorada abre os olhos,
os cachorros latem.
Três horas
na rua apenas os sapos.
A namorada levanta-se,
os gatos e os ratos brincam.
Quatro horas
na rua apenas vozes.
A namorada se veste,
os moleques se acordam.
Cinco horas
na rua não mais apenas.
A namorada se maquila,
se acalma e pensa nos pais.
Seis horas
na rua todos.
A namorada pega a bolsa,
na bobeira é assaltada.
Sete horas
na rua as armas da ordem.
A namorada chora,
os moleques ficam felizes.
Oito horas
na rua a sirene toca.
A namorada volta,
o ônibus quebra-se.
Nove horas
na rua os tiros são dados.
A namorada sente a falta,
outros documentos providencia.
Dez horas
na rua os cadáveres.
A namorada finge sorri,
pensa nos outros.
Onzes horas
na rua imensidão de curiosos.
A namorada se entristece,
os parentes se aproximam.
Meio dia
na rua o sol queima a pele.
A namorada dorme,
a notícia se espalha.
Treze horas
na rua o cheiro de lama.
A namorada sonha,
O calor lhe sufoca.
Quatorze horas
na rua vários pirralhos.
A namorada se mexe,
os cavalos trafegam.
Quinze horas
na rua jovens desportistas.
A namorada se acorda,
o funeral acontece.
Dezesseis horas
na rua os carros buzinam.
A namorada chora,
seus pertences são encontrados.
Dezesseis horas
na rua toda espécie.
A namorada se alegra,
seu namorado chora.
Dezoito horas
na rua a notícia.
A namorada procura,
seu amado foge.
Dezenove horas
na rua a voz do rádio.
A namorada estuda,
seu professor canta.
Vinte horas
na rua os idosos.
A namorada cola,
é pega e tira zero.
Vinte e uma hora
na rua a televisão.
A namorada ama,
repete as ero-cenas.
Vinte e duas horas
na rua os seresteiros.
A namorada morre,
o amante se vai.
Vinte e três horas
na rua apenas o céu.
A namorada se santifica,
a porta da Divindade se abre.
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,24 de março de 1990
0634. CENSURADO
Ando
Porém bem próximo
dizem que não vou chegar
Paro
hipocritamente interrogam
se não vou continuar
Desejo
mesmo me realizando
falam que estou errado
Desisto
quando estou quieto
repreendem o meu estado
Brigo
vencendo várias batalhas
todos chegam a me reclamar
Protesto
totalmente certo
só me querem censurar
Opino
um pouco com certo apoio
me sinto mais que enganado
Critico
mesmo sendo até honesto
sou eu o mais criticado
Grito
mas nem usando a fúria
ninguém quer me escutar
Sofro
e os felizes ainda perguntam:
-Tu és capaz de chorar?
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,08 de agosto de 1982
0635. EMOÇÃO E CHÃO
A emoção
invadiu o quarto
levou o travesseiro
e hoje
eu durmo
no chão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,22 de janeiro de 1991
0636. SE ALGUM DIA...
Levaram meu tudo, pra longe levaram
e nunca pensaram que o dono era eu.
Levaram minha vida, meu louco pecado,
meu grande passado, levaram o que era meu.
Levaram o fogo que forte ardia
na minha ousadia em querer amar,
e apenas deixaram na minha visão
tão forte ilusão a me machucar.
Levaram o motivo do real sorriso
por mim desprendido sem me preocupar,
pois era inocente e jamais sabia
que num melancólico dia iria chorar.
Guardarei no meu pensamento
uma cópia bem clara,
de grandes eventos que alegre passei.
E se algum dia, trouxerem novamente
meu tudo de repente, feliz ficarei.
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,28 de fevereiro de 1980.
0637. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DO OPERÁRIO
A fábrica
se aproveitou
da minha
boa vontade
e me explorou.
A exploração foi tanta
que ao perceber
já estava “bem vida “
com os pratos lavados
pedindo papel emprestado
para pagar as contas
que faziam morada
nos agiotas de cada apito.
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,06 de dezembro de 1985
0638. SAUDADE II
A saudade
da espera
é muito
maior
do que
a verdade
dos que
falam..
Bento Júnior
João Pessoa-PB , 07 de julho de 1985
0639. SAUDADE
Eu sou
você
quanto
sinto
saudade.
Bento Júnior
João Pessoa-PB , 09 de setembro de 1984
0640. UMA HISTÓRIA CONTADA POR UMA SENHORA BURGUESA DE APENAS 15 PRIMAVERAS, DIZIA O SEGUINTE...
O meu amor é um pouco idêntico ao estúpido.
Tira minha blusa, dá de cara com os meus seios, coloca-os na boca e depois maliciosamente vai descendo as suas lindas mãozinhas, tocando meu sexo deliciosamente. Eu sem peça íntima, fico perplexa, observando até onde aquela sensível iria dar.
Aos poucos meu coração se glorifica com tal atitude de um ser, que na plenitude gosta de ver dois amigos em plena ejaculação!
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,08 de setembro de 1980.
0641. EU SOU ESTUDANTE
A minha primeira poesia
Agradeço a Painho
Agradeço a Mãinha
Hoje estou na escola
E só ando na linha.
Obrigado Painho
E Mainha também
Hoje eu sou um estudante
Quero ir avante
E só fazer o bem.
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,31 de dezembro de 1970.
0642. RELEITURA POÉTICA DE COELHO NETO, BASEADO NA REALIDADE COTIDIANA DE UMA POETISA
A mulher nasce,
vive e morre só!
Às vezes no meio
de uma grande multidão
ela permanece sozinha.
As poetisas são as mais
solitárias das sós,
que vivem e morrem.
Alguns poemas
feitos pelo poeta
falam dessa mulher que,
isoladamente, olha seu íntimo
e busca a si mesma.
Noutras vezes, no meio de uma grande multidão,
olha para o seu lado e... continua sozinha.
A poetisa, mesmo neste caso caminha ao encontro
de sua aprendizagem.
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,25 de abri de 1980.
0643. SE A LUA TIVESSE DONO
Se a lua tivesse dono
e dono dela eu pudesse ser
eu juro que eu te entregava
amor
um pedacinho dela
só pra ocê.
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,01 de janeiro de 1991
0644. ANTES QUE SEJA TARDE
Vou pegar meu bonde
de bode à meia noite
Vou pegar minha sacola
de coisas proibidas
para que o mundo todo
se esqueça que a vida
só precisa ser curtida
Preciso muito mais
do que droga para sobreviver
aos momentos felizes
que passamos lado a lado
na penumbra
Tu não lembras?
Até eu que estou de bode
lembro com precisão
Tu estavas tão linda
que todos os soldados
da quinta
queriam provar da tua droga.
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,25 de outubro de 1984
0645. HOJE FOI ASSIM...
Eu queria provocar
os sentidos da minha
amiga carne
para dizer o quanto
eu sou incapaz de
pronunciar uma só palavra
de conforto ao meu
estranho
e pacato lado de cidadão
desencontrado
na vida
e no sonho de ser feliz
Por mais que tentemos
ou melhor, por mais que tento
não consigo superar as minhas
imperfeições de homem
cobrado pela sociedade
É difícil perceber o quanto somos incapazes
de perceber o que somos acostumados
a nunca perceber pela caminhada
de nossas vidas
Agora neste momento
estou só
busco no meu inconsciente
a palavra perdão
Encontro na minha ousadia
apenas a palavra
não quero mais
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,18 de outubro de 1989
0646. O MONSTRO E A SELVA
Em meio a tudo e a todos,
No meio do nada e na sombra
Do tudo, ele, monstro
De multidão no mundo
Se abastece da flora
E come tudo que dela explora.
É um sarcástico monstro,
Louco na escuridão do tempo,
Que, aparentando ser autêntico,
Pediu a selva em casamento.
A selva, que antes fora queimada,
Achou no palavreado do pedinte
Um tanto falso pedante.
Riu do monstro, zombou da lira
Dentre os mortos da flora,
Onde hoje se encontra
O cemitério do homem...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 16 de junho de 1990
0647. É TUDO QUESTÃO DE TEMPO
Passa-se o tempo
Passa-se o vento
As flores no jardim
As flores feitas de amor
Passa-se o vento
Passa-se o tempo
Foi-se o tempo
Em que o vento
Por não ter tempo
Morava de aluguel
Na pensão do fim do mundo
Foi-se o tempo
Em que as moças
Andavam de laços
E rapazes amigos
Buscavam na noite
O abrigo
Enquanto os vícios
Da carne
Perdiam-se na madrugada
Febril de dor e paixão
Passa-se o tempo
E o vento
Não mais passa no meu tempo
Foi-se o tempo
Em que as esperanças
Eram palavras bem ditas
Bendito seja o fruto do amor
Que trafega nas minhas veias
De ter na mente uma inconstante
Solidão de dar água na boca
De todas as vidas
De todas as saudades
Que ainda se faz presente
No coração do jovem maluco
Mas que de maluco
Apenas os cabelos encaracolados
Quando se tem
Outros raspam na moda do ano
Mas que no fundo da análise
São dóceis seres
São dóceis e ao mesmo tempo
Quando passa o vento
Amargos como a incerteza da espera
Passa-se o tempo
Passa-se o vento
Com eles o perdão
Se lamenta do coração
Se lamenta pelo simples
Fato de não perceber o quanto
A vida é bela
Enquanto a vida é simples
E sendo simples
Vivamos o amor
Na plenitude do cálice
De mais um ano que se aproxima
De mais um final de século
Que chega carregado
De tudo um pouco
Na calada do tempo
Na calada do vento
Que sopra ao mundo
O prazer de viver!
Bento Júnior
João Pessoa-PB ,30 de dezembro de 1998
0648. PROFESSOR PUTO
Professor puto
Dia de luto...
Dia de luta...
Um... dois... três...
Empregos...
Professor puto
Puto com o salário
Funcionário do governo
Funcionário do patrão
Professor puto
Que tal um dia na vida
Dar uma aula de como
Ser um bom cidadão?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de maio de 1991
0649. AUSENTE DE TI
Se em tua vida, sentires a ausência
desse que é teu esplêndido amigo
contemplas esse momento, na essência
de um dia voltares a falar de abrigo.
Vejo em ti, pétalas de uma linda flor
que desabrocha em meu lúcido peito,
contracena com um coração, talvez amor
cavalgando em busca de seu leito.
És, enfim, na plenitude, um tudo
que se infiltrou em minha visualidade
contida de paz, dum mundo que não me iludo.
Espero, realmente batalho, quero
sentir tua voz meiga de saudade
de quem sempre fala sincero.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 27 de fevereiro de 1983
0650. CANÇÃO PARA RITA
Rita o que fazer?
Rita o que será?
Se um dia eu te perder
sei que vou chorar.
Sei que vou sofrer
meu bem
sei que vou morrer
também,
se um dia eu te perder, Rita
sei que ruim será
e muito vou chorar,
Rita se eu te perder.
Rita fica comigo
não me deixes assim.
Rita se você ficar
vai ser tão bom pra mim.
O mundo inteiro vai saber
se Rita me deixar,
então fica comigo, Rita
mesmo sem de mim gostar.
Vai ser um prazer
se você comigo ficar.
Não vou mais sofrer,
nem vou mais chorar,
Rita vou me conformar.
Bento Júnior
Patos-PB, 15 de junho de 1984
0651. QUEM É ELA?
Dedicada para uma mulher perdida
Sei o que se passa com tua cabeça
essa cabeça perdida, de ilusão vencida
essa cabeça de sonhos, sonhos perdidos
és uma mulher perdida, e sendo perdida
não há como explicar o que quero saber
pergunto a quem quer que seja
quem és, nada me convém, nada me consola
tudo me enrola, pura enrolação
só sei que dentro deste argumento fictício
você mora dentro das pancadas batidas
do meu coração...
quem é ela, quem é ela?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de maio de 1986
0653. CABEÇA QUE PENSA DE NOITE
Não dar para pensar
com a cabeça fervendo
assim vou morrendo
Aos poucos como
todos que morrem
e ninguém lhes socorrem
Nem ao menos
para livrarem do vício
como eu em artifício
Bebi e fui bebido
nas duas tragadas
o melhor das jogadas
Dadas em sonhos
ou quem sabe tantas
dadas em plantas
Que pensava ser
um jardim particular
mas apenas quis parar
De beber e sorrir
dar gargalhadas ao vento
para poder parar no tempo.
Bento Júnior
Brasília-DF, 14 de setembro de 1987
0654. ANDEI, ANDEI
Andei por estradas
que na noite escura
os faróis eram cigarros
fumados por todos
os passageiros...
eram loucos famintos
que comiam fogo
e cuspiam água...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de março de 1985
0655. SAUDADES JÁ TENHO DE AGORA
Tenho saudades bastantes no peito
no peito de solitário viajante,
cavalgo meu mundo em sonhos
amo meu tempo errante...
Assim na calada da noite
entre sons e barulho,
canto a tristeza da saudade
na solidão me mergulho...
No hoje bem ontem passado
já tenho saudades do agora,
sou um sujeito nostálgico
chorar, se preciso, toda hora.
Bento Júnior
Maceió-AL, 08 de maio de 1992
0656. DUPLA PALAVRA
Chovia forte
Forte como a resposta
de um não
resposta esta
que penetrou fundo
num lado criança
criança tal
que brincava de armas secretas
secretas eram as noites
que manobravam os meus terríveis dias
dias aqueles
que expandiram dos meus pensamentos
todas as alegrias contidas na mente
de um jovem que aprendera desde cedo
o nome lutar
lutar era preciso
para vencer na vida
vida nobre camuflada
nos olhos contraditórios
contraditórios eram os momentos
vividos por amigos meus
meus eram apenas os silêncios
silêncios que gritavam ao mundo
o nascer do sol
sol que deixou de brilhar
brilhar com as pessoas
que trafegavam nas ruas
ruas alagadas
alagadas pela própria natureza
de fazer de cada despedida
um grito de vitória
vitória obtida
pela caminhada do universo
universo límpido
que ensina aos homens
o gosto de cada angústia
realizada pelos amores sádicos
ainda não descobertos
pelos seres vivos
vivos são os meus atos
de observar o romantismo
agregado à loucura
loucura é o cotidiano
cotidiano que será futuramente
o pedido da falta de algo
algo faltará em ti
se não notares
a presença do vício
mendigado ao patrão
pelo pão de cada hora
hora se passa no
compasso do ventre
ventre que brotou-me à vida
determinante razão de viver
viver será necessário
para descongestionar
cada um desses obstáculos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de março de 1985
0657. ACREDITEI QUE TU ME AMAVAS
Acreditei que tu me amavas
e te encontrei
Acreditei que tu me amavas
e te conheci
Acreditei que tu me amavas
e fomos amigos
Acreditei que tu me amavas
e namorei contigo
Acreditei que tu me amavas
e brigamos muito
Acreditei que tu me amavas
e noivei contigo
Acreditei que tu me amavas
e rompemos tudo
Acreditei que tu me amavas
e renovamos tudo
Acreditei que tu me amavas
e nos casamos
Acreditei que tu me amavas
e chegamos ao ápice do ciúme
Acreditei que tu me amavas
e tivemos vários filhos
Acreditei que tu me amavas
e nos separamos
Acreditei que tu me amavas
e dormimos em leitos anteriores
Acreditei que tu me amavas
e resolvemos nos juntar
Acreditei que tu me amavas
e nos deram tantos netos
Acreditei que tu me amavas
e nos mudamos para muitos lugares
Acreditei que tu me amavas
e sofremos tantas despedidas
Acreditei que tu me amavas
e ficamos bem velhinhos
Acreditei que tu me amavas
e veio a dose da doença
Acreditei que tu me amavas
e fomos voltando à infância
Acreditei que tu me amavas
e esquecemos de tudo
Acreditei que tu me amavas
e fomos ficando carentes
Acreditei que tu me amavas
e só nos restava a lembrança
Acreditei que tu me amavas
e buscávamos a importância do outro
Acreditei que tu me amavas
e foram chegando os filhos dos nossos netos
Acreditei que tu me amavas
e apenas os acariciava em pensamentos
Acreditei que tu me amavas
e fomos ficando dependentes
Acreditei que tu me amavas
e fomos ficando cada vez mais fortes
Acreditei que tu me amavas
e a comunicação foi ficando complexa
Acreditei que tu me amavas
e numa explosão cósmica nos questionamos:
- “Quem de nós dois amou mais??????”
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de setembro de 1980.
0658. MÓRBIDO CONVITE
A morte
quando
vista de cima do muro
é linda.
Mas, quando vista
debaixo do muro
é bela.
A morte é bonita
quando morre
meu eu
de morte matada.
A morte
essa companheira esquerdista
virou oposicionista
e insiste que o coração de poeta
se atire nas terras sagradas
das ilusões das paixões.
Bento Júnior
Ibiara-PB, 23 de dezembro de 1990
0659. DEPENDENTE VERBO
Eu não quero pensar em você
Penso
Eu não quero falar de você
Falo
Eu não quero chorar por você
Choro
Eu não quero sofrer por você
Sofro
Eu não quero implorar por você
Imploro
Eu não quero gritar por você
Grito
Eu não quero reclamar por você
Reclamo
Eu não quero ouvir você
Ouço
Eu não quero silenciar por você
Silencio
Eu não quero olhar pra você
Olho
Eu não quero permitir por você
Permito
Eu não quero perceber você
Percebo
Eu não quero planejar por você
Planejo
Eu não quero sonhar com você
Sonho
Eu não quero recordar você
Recordo
Eu não quero depender de você
Dependo
unicamente de amor.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de abril de 1986
0660. PRIMEIRO FILHO
Quando está pra nascer
é uma espera profunda,
quando nasce o sorriso inunda
o coração de quem queria ter.
O filho já bem crescido
acaba o aperreio,
um filho no outro seio
toma o leite prometido.
Ser primeiro é bom demais
quando é único o filho,
o casal quer mais brilho
e pra isso, sexo a mais.
Um reclama da falta
de carinho que lhe cabe,
o primeiro ainda não sabe
que do leite se faz a nata.
O primeiro cuida dos outros
que estão se criando,
mas sempre pensando
desse jeito vou ficar louco.
Cuidados especiais teve o primeiro
e nada lhe foi permitido,
aos outros tudo se faz sentido
dizem os pais: “é coisa de brasileiro”.
Tomar conta dos irmãos
é isso que lhe restou,
ainda precisa dar as mãos
e ter bastante amor.
Quando o primeiro cresce
que os outros estão crescendo,
o número um vai perdendo
o esforço que sempre oferece.
Na vida tudo tem sua vantagem
como também as suas desvantagens,
a lembrança fica nas imagens
e o sonho é pura miragem.
Quem foi o primeiro sabe de cor
a barra que lhe causou,
quanto mais fina a dor
mais arrochado é o nó.
Quem é primeiro, um conselho
dado de bom sentimento,
não se aveche no sofrimento
que a vida é o reflexo do nosso espelho.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de janeiro de 1985
0661. MADRUGADA NO VÃO DA VIDA
Na madrugada onde galos cantam e sabem
Muito bem cantar a vida dos boêmios,
Um pseudo emaranhado de assuntos rondam
A cabeça estraçalhada de um poeta
Que em frases soltas no tempo
Vai decifrando o motivo de ser palavra
Quando a palavra de ser um dia
Não mais é uma palavra entre tantas
No mundo onde galos cantam e sabem
Muito bem cantar a vida vã e sã de um sonâmbulo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de junho de 2000
0662. TEMPO QUE NÃO TE VEJO
Tempo que não te vejo
por essas ruas,
andavas pelado,
soltando piadas,
dando gargalhadas.
Tempo que não te vejo
por esses mares,
andavas vestido,
gritando eufórico,
perdendo sentidos.
Tempo que não te vejo
por esses caminhos,
andavas sorrindo,
cantando, falando,
mostrando os dentes.
Tempo que não te vejo
por esse bairro,
vivias cansado, calado,
cabisbaixo à vida.
Tempo que não te vejo
por essa cidade,
andavas apressado,
óculos na cara,
jogando milhar,
eras desconhecido.
Tempo que não te vejo
por esse Estado,
andavas tristonho,
diariamente sonhando,
tinhas manias,
vivendo de fábrica em fábrica.
Tempo que não te vejo
por essa Região,
sertanejo bravo,
cor da pele morena,
homem de compaixão.
Tempo que não te vejo
por essa Pátria,
andavas preso
com nó na garganta
e desapareceste.
Tempo que não te vejo
por esse mundo,
andavas de barco,
surgiu um naufrágio
profundo e nos perguntamos:
- “Estás vivo ou morto? “
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de dezembro de 1984
0663. MUITOS MUNDOS
Para que houvesse apenas um
Mundo no nosso mundo,
Pouco seria ao mundo
Apenas um no nosso mundo.
Muitos mundos existem no mundo,
No mundo de poucos mundos,
Uns são tantos no mundo
Que o mundo por ser tão pouco
Se perdeu no mundo de muitas
Ilusões de sonhos e mundos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de março de 1991
0664. UM SER E O OCEANO
O mar não chorava e nem entendia
que alguém tinha melancolia
por se chamar eu.
O mar não cantava, porém jamais sabia
que num melancólico dia iria chorar.
O mar furioso, às vezes tristonho,
idêntico ao tristonho que se chama eu.
No exato momento o mar comentava
que a lua pousava no leito que é meu.
O mar descontente com aquela calmaria
de um ser sonolento que se chama eu.
O mar reclamava do mar entristecido,
do universo que é meu.
O mar se agitava e o vento levava
as lágrimas magoadas do meu viver.
A lua me olhava, o mar me chamava,
eu apenas chorava por nada saber.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 28 de fevereiro de 1979.
0665. TEATRO COMUNITÁRIO
Somos nós que devemos armar nossa tenda.
Ela sobreviverá.
Nós temos esse pequeno espaço.
Ele deverá ser útil.
Entre um representar
e um aplauso, trocamos idéias.
Somos nós que devemos
armar nossa tenda. Ela foi útil.
Nós temos a arte como vida, portanto:
cantar será preciso, mesmo que esse destemido canto
se perca nas cordas vocais
dessa idéias.
Somos nós que devemos armar
nossa tenda. Ela sempre será útil.
Entre um representar e um aplauso
colocamos em prática nossas idéias.
Somos nós que devemos armar nossa tenda.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de abril de 1987
0666. UM GATO DESPROVIDO
Desprovido da vida
sem garras, sem nada
nada me atrapalha
eu vivi da palha
que cobria os campos
do meu coração.
Desprovido de tudo,
minha solução única
foi colocar minhas unhas
nos laços do mundo
e dizer num segundo
tudo é emoção.
Desprovido do sexo
leviano das ruas,
comi carne crua
e nasci para morrer,
e assim vou viver
desprovido de paixão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de outubro de 1981
0667. CRIANÇA
Criança
tu és
como a flor
que germina
outras flores
e no decorrer
dessas transfigurações
és deserto
e teu oásis
se expandiu
porque foste
mal compreendido
és como o natal
sem papai noel
enfim
és a vida
mal vivida
e encenada
por alguém
criança
homem
criança.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de julho de 1985
0668. SUJEITO VOLÚVEL
Bebe desgraçado
Vinga-te da vida
Embriagando outros
Que são loucos
Iguais a ti.
Amas um copo
E o trago composto
No interior do diafragma.
Se faltar ar
Culpa tua, não nossa.
Ajuda teu filho
De tua própria carne.
Controla teus nervos
Pois, se os mesmos
Estão trêmulos
Culpa tua, não minha.
Traze de novo
Teu meigo olhar
Não esse vermelho cachaça.
Agora toma teu filho
E o conduze ao mundo
Do liberalismo.
Tudo isso
É culpa tua
Não nossa.
Tudo isso
Culpa tua é
Minha que não é.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 03 de março de 1984
0669. MOLEQUE
Recalcitrante
Por natureza.
Levado, moleque
Traquino.
Calças curtas,
Um gurí repleto de entono
Cobiçado pela redondeza,
Cercado de glória, sua vida é um estória.
Seu perfil bonito,
Nos olhos a púrpura do meio dia
Transfigurada do sol... Assim segue
Mundos e fundos
Moleque gáudio, imensos cabelos.
Dentes pequenos,
Moleque célere,
Buscando da vida o lazer.
Moleque recalcitrante por
Natureza.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de fevereiro de 1985
0670. SE FOI UMA VIDA
Se foi uma
VI DA
Que com outra
VI DA
Te deu
VI DA
E hoje com essa outra
VI DA
Vives na melancolia
das reminiscências.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de agosto de 1983
0671. QUEIRA DEUS
Queira Deus
que o verbo escrito
seja profundamente
inválido
Queira Deus
que o pecado
do mundo
seja profundamente
perdoado
Queira Deus
que o princípio de tudo
seja profundamente estudado
e que as promessas não feitas
sejam esquecidas
pelo tempo
Queira Deus
que tudo sagrado
entre o céu e a terra
encontre resposta
na boca sedenta
de quem na vida aprendeu
entre socos e pontapés
o beabá da
cartilha
Queira Deus
que no rosto pé de galinha
surja a nova maquilagem
enquadrada na pele do verão
Queira Deus
meu Deus
que pecado tem o homem
pra comprar no infinito
seu lugar de morar?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de novembro de 1990
0672. CISCO NO OLHO
Um cisco no olho
de quem quer ver
pela manhã, logo cedo
é de amargar, pode crer
O olho da gente é engraçado,
sem cisco fica todo enxerido,
olha quem passa longe, perto
e fica todo pousante e metido
O cisco por sua vez
vendo um olho desprotegido
disse: é aqui que eu fico
para desespero do seu dono
O olho não podendo
mais nada enxergar,
fez um trato com o cisco
não querendo lhe expulsar
O cisco em tom de professor
lhe pronunciou uma série de cuidados,
para que naquele olho
nunca mais ficasse plantado
O olho leu o panfleto
e ficou agradecido,
colocou-lhe água corrente,
viu mais feliz um monte de gente
e começou a contar o ocorrido
O cisco vendo a limpeza
que circulava ao seu redor,
se escondeu por uns tempos
na casa do amigo sol.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de maio de 1996
0673. SEMIOLOGIA
Mãe,
no morro do meu pai
morro sem você,
corro o risco de não mais
ter paz,
sobre os meus cabelos, mãe
pai se declina
me ensina, mãe
como sentir prazer
sem que pai saiba.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de dezembro de 1983
0674. CABEÇA
Tenho na cabeça
uns pensamentos confusos
mexem com os sentidos
mexem com as estruturas
mexem com minha definição
de sim ou não
nesse exato momento
de indefinições
dos motivos
tudo é motivo
para um descontrole emocional
tudo é motivo
rumo às contradições.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 22 de janeiro de 1999
0675. FRIO
este frio tremendo
tremendo de frio
banho quente suportável
frio jamais pensar
que cidade tão linda
faz o frio esquecer
gaúchos em festa
chimarrão
e churrasco
jogo de futebol
este frio
de bater queixo
faz o amigo adoecer
desafiou o frio
ficou acamado
na espera do quente
dos lençóis
Bento Júnior
Porto Alegre-RS, 13 de julho de 1988
0676. QUOTIDIANO
Em páginas discretas
escrevo poesias
transcrevo os meus dias
que ecoam do além.
Transpassam mil considerações
nos brindes à vida
sorrisos de despedida
eu transcrevo também.
Noites de inverno
gestos me enlouquecem
pois os humanos se esquecem
do meu seguro perdão.
Nos dias bem quentes
problemas me rolam
e então me consolam
num final de verão.
Em papéis indecisos
descrevo alardes
mas sempre às tardes
irei depender.
Percebo
analiso
transcrevo
e reviso
para me envolver.
Bento Júnior
Alagoa Grande-PB, 15 de junho de 1980.
0677. QUEM SOU EU NO MOMENTO
Eu sou uma folha solta que vaga no ar
Eu sou um rio que transborda para o oceano
Eu sou um barco sem vela
Eu sou um jovem sem planos
Eu sou quem você não pensa
Eu sou quem nunca pensou
Eu sou o dia da noite
Eu sou a noite do dia
Eu sou o mundo dos homens
Eu sou o homem da terra - da água - do fogo e do ar
Eu sou o homem do mar e das florestas
Eu sou a vida dos outros
Eu sou o outro pensamento do viver
Eu sou a média exata da química
Eu sou a qualidade da física
Eu sou a média inexata da biologia
Eu sou a realidade dos sábios
Eu sou o vício da sabedoria
Eu sou o ser da mente encoberta
Eu sou o embalo divino mal visto
Eu sou o passado do presente
Eu sou o fácil e nunca desisto
Eu sou a máquina de datilografia
Eu sou o datilógrafo dela
Eu sou as palavras corretas
Eu sou o bom preso na cela
Eu sou o pouco de tudo
Eu sou o muito do pouco
Eu sou a metade do nada
Eu sou o nada do louco
Eu sou o observador das estrelas
Eu sou o medíocre do observador
Eu sou a lua no quarto minguante
Eu sou o que se agita pelo saber
Eu sou o dia após uma vida
Eu sou a vida após um perecer
Eu sou o nascimento do sangue
Eu sou uma despedida
Eu sou uma pessoa capacitada
Eu sou tudo - eu sou você
Eu sou alguém que procura resposta para cada pergunta...
Bento Júnior
Brasília-DF, 20 de setembro de 1987
0678. VISÕES DOS MEUS OLHOS SOBRE
O FIM DE OUTROS OLHOS
Foram tão pretos teus cabelos brancos
Tão cetinoso teu sofrido rosto
Teria sido tanto teu desgosto
Que assim marcou teu juvenil semblante
Foram decerto atrozes desenganos
Que envelheceram-te em muitos anos
Observei-te sem que me notasses
Julgava ver aquela mocidade
Que entrevia nas névoas da saudade
Da esquiva e sedutora esfinge
Resta somente uma recordação
É qual uma suave aparição
Que maculada mão jamais atinge
Seguiste altiva, pisando ilusões
Calando na alma a agrura do abandono
Nunca pensando que tão perto o dono
Desse sofrer que tanto sofrendo estava
Tentei seguir-te
Quis chamar-te ao menos
Não me movi
Os lábios meus cerrados
Permaneceram
Onde a minha alma aflita
Estorceu-se na mais cruel desdita.
Bento Júnior
Cuitegi-PB, 06 de dezembro de 1989
0679. SEMPRE CALADO
Se falo da vida, apressados me reclamam
Se falo do final, nada compreendem
Se falo de beijos, jamais se amam
Se falo de Jesus, logo me repreendem.
Se falo de sonhos, rápidos adormecem
Se falo de afagos, céleres se afastam
Se falo do universo, conhecer não querem
Se falo de batalhas, tão logo se desgastam.
Se falo de estórias, imediatamente me ignoram
Se falo de heróis, eles os desafiam
Se falo de risos, tristemente choram
Se falo da lágrimas, todos já sorriam.
Se falo de palavras, gestos me ensinam
Se falo gesticulando, me mandam cessar
Se falo de loucuras, em protestos se animam
Se falo de observações, percebo logo que devo me calar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 17 de maio de 1979.
0680. ADEUS DIA
Adeus dia
descansa o sol no momento em que não sinto o vento.
Estão calmas as flores, são senhoras dessa hora.
Mas parecem querer ir embora em busca de novos amores.
Fim de tarde
frialdade no horizonte... também os montes bem distantes
sem a luz no local.
O sol despede-se com o rosto entristecido
e as nuvens bem felizes, inspirações me oferecem.
Fim de dia
Estou triste com a serra, que nunca se encerra
numa conexão de perfeição.
E o céu me justifica, tudo que Deus criou
e sempre o conservou na vida sem inibições.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de maio de 1979.
0681. SER VIVO ATUAL
Olham o sol com seus olhos de progresso
mas esquecem o credor que com ele teremos.
Curtem a inteligência das máquinas operadoras
mas esquecem que o amanhã, duelo com elas teremos.
Olham o zodíaco com olhos de esperança
mas esquecem o certo do amanhã não é realidade.
Olham o ouro negro com seus olhos de virilidade
mas esquecem que é superior nossa impossibilidade.
Olham para a guerra e gesticulam seus planos
mas esquecem que a paz seria a melhor ideologia.
Olham para o bem com os seus olhos de exagero
modificando desairoso o próprio bem em burocracia.
Olham para a vida com pressa em evidência
mas esquecem que com calma chegaríamos mais rápidos.
Olham o final de um trabalho científico
mas esquecem a dedução que desde já é plácito.
Olham o progresso com seus olhos de segurança
mas esquecem um dos olhos que pode ser incapaz.
Olham o presente com seus olhos de abertura
mas esquecem infelizmente que estão fechados para a paz.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de dezembro de 1979.
0682. CONTRADITÓRIO
Correndo e sumindo de tudo que é triste
eu fico mais triste por nunca correr.
É grande a distância que tenho em mente
confuso e demente estou a viver.
Desprezo um sorriso, às vezes amargo
e num mundo largo me perco a chorar.
Ninguém me encontra, e sempre perdido
me encontro iludido e começo a soluçar.
Por chorar demais meu choro se cansa
minha vida se lança para nunca cair.
Os meus movimentos de todos os dias
são de alegrias que tento fingir.
Se encontro um amigo, ele nunca me encontra
e sempre do contra eu vivo a sofrer.
Se chega a morte, minha vida a mata,
meu silêncio acata ao menos um gemer.
Bento Júnior
Araruna-PB, 08 de setembro de 1980.
0683. INGÊNUA MENTE
Interpretando problemas
revela tamanha simplicidade
se aprofundar no fato, jamais
é sempre superficial
as suas conclusões.
Aborda que o passado foi melhor
e se utiliza de um ser bem simples
argumenta sobre uma concepção científica
é um mero jogo simples de palavras.
Explica com plena mágica
mas, vai se tornando frágil
na discussão aprofundada do problema.
Partindo sempre do princípio
de que realmente sabe de tudo.
Passionalmente é ágil no conteúdo,
mas cai sempre no sectarismo dizendo:
- “A realidade é sempre estática e não mutável”.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de novembro de 1980.
0684. SONHANDO
Deitando -se em pedras a curtir a lua
sentia a minha vida amarga e crua
e voava em tédios sem nunca pousar.
E aquela noite vazia e fria
encontro marcante eu planejaria
se existisse a musa que me fez amar.
Eu via volúpia no meu pensamento
e pensava em alguém, mas sentia
o vento como querendo me aliviar.
E então nesta noite de tantos desejos
só tinha incertezas nas redondezas
do meu amargo falar.
Se por acaso eu dormisse
teria esperança de ao menos em sonho
matar meu lado tristonho e com ela sonhar.
Então eu seria um ser bem contente
iria esquecer que nunca fui gente,
pois que de repente
tenho que acordar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de janeiro de 1981
0685. CARNIFICINA
Nas carnificinas do pasto bruto
urge ao vento o nome de Augusto,
entre todas as situações do mundo
canta o dissabor de um vagabundo!
que de um bar a outro bar se senta
e ouve dos ouvidos de Benta
o sermão bendito da vida
e a podridão da pele derretida!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de maio de 2000
0686. QUANDO TUDO PARAR
Quando a saudade apertar
Quando velho eu tiver
Quando o amor chegar
Quando tudo passar
Quando surgir o encanto
Quando minha vida passar
Quando a morte for pranto
Quando tudo em mim morrer
Quando o encanto não existir
Quando as mãos se fecharem
Quando o silêncio permitir
Quando, quando, quando
Tudo parar, o relógio do tempo
Grudado na parede ficar
O mundo terá o seu final.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 28 de fevereiro de 1976.
0687. CALMA COMPANHEIRO
Calma companheiro
Onde se encontra
Teus sonhos loucos?
Por ventura um poeta
Louco os pegou?
Nada disso...
Chora meninos pagãos
Na cova dessa encruzilhada.
O choro do pagão
Cansado chora.
Chorou seu último soluço,
Morreu o companheiro!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de maio de 2000
0688. PAPEL BRANCO
Papel branco
Voando
Perdido
Buscando
Outros ventos
Sorrindo
Se depara
Com o menino
O menino
Tem papel
Ficou sujo
Caiu no mundo
Gritou a senhora
De véu na cabeça
Caiu o papel
No muro
Pegou o coveiro
Enterrou o papel
Morreu o branco
Que voava
Nos céus
Daquela infância!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de maio de 2000
0689. CANTAROLANDO
Tal qual andorinha cantando feliz
Sou eu aprendiz na arte de amar
Meus mil professores me ensinam sorrindo
E assim vou partindo para o meu eterno lar.
No meu longo caminho
Vou formulando estórias
Que sempre em histórias eu vivo a contar
Não trato assuntos e nem tampouco choro
Na casa onde moro ninguém vai me olhar.
Sem armas e sem livros
Cadernos e coragem
A minha viagem manera o meu fim
Vou sempre cantando e estudo atento
Para que o vento me imite assim.
Bento Júnior
Brasília-DF, 21 de setembro de 1987
0690. MOMENTÂNEA SOLIDÃO
A solidão
desse momento é sofisticada.
Uma sinfônica orquestra
mexe os meus tímpanos
e me faz refletir
que o silêncio às vezes é barulhento
e o barulho às vezes é silencioso.
Me conformo apenas
com mil pensamentos
a rondar meu cérebro
mostrando aos meus olhos
o tocar das minhas mãos.
E uma vontade imensa de repartir um anseio erótico contigo,
fazendo dessa solidão um brinde à vida.
Pois é nela que solidão me evapora
solidificando os meus nervos,
deixando em minha pele um amontoado de sorrisos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 17 de março de 1986
0691. ESPERANDO UM OUTRO DIA
Ao cair do sol,
meus cabelos encaracolados sacodem-se.
De repente surge o crepúsculo.
Minha visão avista América do Sul.
Os pássaros cantam, as ondas do mar
silenciam-se.
O arco-íris transfigura meu ego. Permaneço ali.
Chega a noite, consigo vem algo estranho: a dor de cabeça. Uso óculos. Vem a puerilidade das coisas. Perpetuo inerte com o coração super lívido contracenando estrelas.
Lua clareia
todo espaço ofertado a mim. Continuo noite adentro,
tragando fumaças alheias, fumo impróprio da vida.
Outro dia, trabalho na certa. Uma porção de tarefas.
Me conformo apenas em esperar talvez um outro dia.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 1985
0692. POEMA SOLTO NA CABEÇA DO MUNDO
Nessa de fazer
Poema de amor
encontrei um poema
solto na cabeça
do mundo
do mundo qu’eu habitava
do mundo
que tu não vias
avistei teu mundo
explosão ingênua
maldita cena
de um espetáculo
sem fim...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 13 de abril de 1986
0693. SER HUMANO
o homem foi
feito para brilhar
por favor
não apague
a luz
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de abril de 1991
0694. CARA
Cara que conhece gente
que é tão contente
não conhece o mundo
quer ser vagabundo
amigo de um fulano de tal
de identidade fria
mora com a tia
não tem emprego
vive de arrego
culpa do seu passado
que foi
bom
bom
bom
bom
bom
bom
bom
bom
bom
bom
bom
bom
bom
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de abril de 1984
0695. NO MUNDO DA LUA
Migalhas torradas
Querubins domados
Bêbados ecléticos
No caos do país
O transeunte
Intransigente
Emperra o trânsito
Congestionado
Em tese
O espectador adormece
...E perambula no mundo
A lua tá linda
O espectador e todas as gentes
Constróem a claridade
E moram nesse lugar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de janeiro de 1999
0696. LUA QUE VEM SAINDO
Lua que vem saindo
redonda como um coração
mata os meus anseios
e provoca a minha emoção
esconde-se dentro das nuvens
como se fosse então
um cometa desconhecido
cavalgando sem direção
contracena com os meus olhos
no palco dessa escuridão
ilumina os meus sentimentos
faz de mim tua sensação
irei tocá-la com as mãos
sem que ela me veja
mas presa são as mãos
de quem tanto te deseja
Vai caminhando por aí
mas deixa o teu endereço
a foto já tenho comigo
quero apenas ser o teu amigo
que noite maravilhosa
céu lindo e estrelas no céu
despertando a minha saudade
lua bela com gosto de mel
num canto do muro
estou a te observar
querendo saber se em teu cantinho
existe alguém para te amar
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de maio de 1979.
0697. SEMBLANTE ENTRE ASPAS
Havia no semblante da “princesa”
um gosto amargo de não querer
ser ela nunca
Meu Deus
ela é um tédio
de arrepiar sonhos e vaidades
Havia no semblante do poeta
a vontade de esmurrar sua face
para ter certeza se ela chorava
e sentia a dor que outrora minha face
tivera lágrimas
Seu mundo tecnológico
num egoísmo de corroer a alma
seu egoísmo foi tanto que tanto fez para o poeta
passar a noite no benefício
que dela somente era
no final deu o troco e não respeitou os limites
e eu quisera está noutra, puto com a situação
mas feliz em aprender com a lição.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de maio de 1988
0698. PROCURANDO UM POEMA
Andei pisando pela sala
Pelo quarto, pela cozinha
Buscando um poema vivo
Para ter vida eterna
Na linguística da minha vida.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de setembro de 1982
0699. LIVRE
Hoje
me sinto só
quero voar
livre
sair de mim
não sei dos
outros
quero comer
tenho fome
necessito água
tenho sede
o corpo é vazio
a cabeça voa
o pensamento fica
livre
na mente
preso no corpo
o bastante é ter
fé na tenda
onde o possível
se delonga
somos apenas rebeldes
e sim
eu sou o oposto
quero voar
livre
sair de mim
não sei dos outros
hoje me sinto
só
quero voar
livre
sair de mim
quero voar
livre
sair de mim
não sei dos outros
quero voar
livre
livre
livre
livre
livre
livre
livre
livre
livre
livre livre
livre
livre
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de outubro de 1982
0700. CORAÇÃO DE ENCANTOS
Nos encantos do teu pensamento
me perdi de emoção.
Contemplei o dia adulto
e me perdi exclusivamente de amor.
Ah! solidão
joga sobre mim
toda essa saudade
brotada de minha vida.
Ah! solidão
observa as pessoas
pedaços desse mundo
e depois me conta
se sou a favor ou contra
esse tipo de amor.
Ai! meu coração
soluça
com a não terminação
se perdeu em cada esquina
pelo amor de uma menina
cresceu e depois...
Ai! meu coração
bate forte nesse peito
toque, toque com defeito
e espera quem sabe
um novo dia para dizer
ai coração.
Bento Júnior
Areia-PB, 13 de dezembro de 1982
0701. CONDIÇÕES SOB CONTROLE
Sobre o natural
das minhas entranhas
estranho amor anormal
capta mensagem do meu inconsciente coletivo
tenho minhas condições controladas
pelo dono do dinheiro
faço do pouco que ganho
tudo de muito que preciso for
ao vício do álcool
das minhas vísceras
dilatam-se as pupilas do meu amor
sobre as roupas rasgadas da minha imagem
adquiro permanência de cidadão honesto
bate o coração
no esplendor do dia
em mim guardo Josés e Marias
abençoadas pelo divino esforço
de todo meu exato verbo
quem me dar?
quem me dar?
quem me dar?
quem me dar?
quem me dar?
quem me dar?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 26 de janeiro de 1999
0703. FRAÇÃO
Ontem, sábado
Hoje, domingo.
Ele completa ano
E ela depois de um dia
Volta para casa.
Não trás consigo aquela barriga
Fez um crime às escondidas.
Namorou, se beijou, se encantou,
Transou, gozou, fez-se o feto.
Hoje, foi-se uma vida, e ela perdeu, quem sabe, talvez,
Ninguém sabe explicar o que seja certo ou errado.
Sabe-se portanto que uma vida tem que ser admitida.
Ela sofria nos braços da mãe,
Todos brigavam e lançavam palavras ao mundo.
Bento Júnior
Guarabira-PB, 28 de fevereiro de 1990
0704. PERMISSÍVEL
Entre
sente
ponha a mão
na comida
coma
permita
a fome
ceder
olhe
e engula
tome água
enxugue
a mesa
bote o prato
na cozinha
experimente
a sobremesa
gostosa
deliciosa
sorria
por hoje
deu para levar
amanhã
ele está aqui
proibido sou
de fazer o que fiz
apenas permiti
teu desejo
Bento Júnior
Belém-PB, 24 de dezembro de 1987
0705. PARE POR FAVOR, COMPANHEIRO!
Parou e olhou de lado
e nada viu. Buscou alguma coisa
e nada comeu. Sorriu para a tela
e num riso sem face dormiu...
Era tarde. Cansado no mundo
O companheiro ouviu o toque
de recolher de toda guarnição...
Morreu com os olhos tristes
que de tristeza tinha tantas
tantas que difícil seria contá-las...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de maio de 1990
0706. SENSÍVEL À FLOR DA PELE
Ele era um tipo elegante
e por ser elegante por natureza
sofria os encantos do mundo
e no mundo que vivia
sorria a todos com um sorriso
que mal cabia na face
cabia na palma da mão
que pegava lenço
e as lágrimas iam consertando-as
no rosto sagrado da sensibilidade.
Bento Júnior
Pilões-15 de novembro de 1988
0707. SENSIBILIDADE
Quando ela na sua sensibilidade
ouviu do outro
os sinônimos da ida
deu bons risos
e hipocondríaco
delirou seu pensamentos
na alegria efervescente
de falar demais
para um calar se preciso for.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de setembro de 1985
0708. FILOSOFIA DE INSTRUMENTO
Olha que tua cabeça
comanda o teu corpo
o momento, o tempo e a ação.
Conduz os teus passos
pra cima e pra baixo,
os teus braços pro sim e pro não.
Olha que tua cabeça
girando num mundo
que não gira em vão,
carrega lembranças,
teu riso, teu grito, teu parto, teu nascer,
teu morrer e até mesmo o teu perdão.
Olha que tua cabeça tem vida, é carga de força,
fogo e de luz... para tua cabeça pensar, pensar
e pensar, viver, viver e viver.
Verifico eu que a minha cabeça
pode ser uma arma poderosa que levada
às mãos me permite ser instrumento e mudanças.
E a mudança, sabendo que sou parte ativa
no seu processo, uso essa arma para
conseguir a igualdade social do
ser humano, daí, com a minha força,
destruir o poder da força.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1988
0709. UMA VELHA
Aonde a donzela mijou
eu mandei plantar roseira
sessenta léguas já cheira
muito mais do que canela
mandei fazer capela
vigário missa rezou
dez menino se batizou
todos dez foram cristão
eu vi um pagão
aonde a donzela mijou.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de julho de 1989
0710. ESTÓRIAS DE UM BÊBADO
Hoje em dia pra viver tá muito sacrificoso
se come pouco é biqueiro
se come muito é guloso
se anda limpo é pilantra
se anda sujo é seboso
se correr fica no frio
se matar é criminoso.
Por isso eu peço quando eu morrer
eu não quero que vá muita gente
só quero na minha frente
cinco garrafa de aguardente
que é uma coisa santa
pra quem bebe
dança
e canta.
Também serve de alimento
pra quem dar o nó na garganta.
Meu Avô tem dois alambique
pra vender a quem quer que seja
nessa medida se achou
um dia se embriagou
e teve uma grande peleja.
Minha mãe o dente lateja
com a grande decaída.
No Reino do Céu apareça
quem inventou essa bebida.
Da garrafa eu quero a vela
da tampa eu quero o caixão
deixe eu cumprir minha sina
morrer com o copo na mão.
Aí de baixo de um alambique
vou querer a sepultura
só quero que o povo diga
que eu morri dessa fartura.
Eu nasci em Uirapuru
bebo pingo molestada
e como carne de urubu.
Do casamento sou viúvo
e não gosto de confusão
bebo pra esquecer minhas mágoa
dentro do meu coração.
Um amigo de ignorância
mais do que a minha
disse que pra me curar
só um sapo de boca fechada
e uma preta galinha.
Eu pego no copo
me vergo e fico corcundo
levanto as sobrancelhas
e fico governando o mundo.
Observe que é um copo bem florado
sem nenhum dinheiro no fundo
quem vai pagar essa conta
é algum vagabundo.
Já enchi a paciência
e pra vocês eu peço
uma palavra amiga
que me tire dessa condição
e desse mundo de perdição.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 03 de janeiro de 1988
0711. MALUCA
Tenho minhas recordações
inseridas na minha cachola
de mulher feminista
maluca
apaixonada
politizada
tudo isso para viver
um grande amor.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de junho de 1987
0712. CRIANÇA CIRCO - DECLARAÇÕES
Num Circo
Nós admiramos, rimos e choramos
Mas choramos de alegria
De tanto Riso.
CRIANÇA CIRCO II
É no circo
que nós encontramos
um novo mundo
de felicidade.
CRIANÇA CIRCO III
Um circo sem estar
com as portas abertas
para o público
deixa na criança
um gosto amargo
tudo isso por não poder
sentir a pureza
para gritar o nome do
palhaço.
CRIANÇA CIRCO IV
O circo é um mundo
de artistas
que mesmo recebendo
o pouco que ganha
com a venda dos bilhetes
vivem no circo
para que ali
seu mundo
seja mais de alegria.
CRIANÇA CIRCO V
Toda criança
quer fazer parte de um circo
quer ser famosa
sendo malabarista
trapezista
ou equilibrista
uma criança que brinca quer
ser um desses personagens.
CRIANÇA CIRCO VI
O circo tem sua mágica
e com isso, todos que um dia
pisarem num circo, jamais
conseguirão esquecer
a alegria da brincadeira
de palhaçada.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de maio de 1979.
0713. SANGUE
Nasci não sei quando
morri diversas vezes
acorri no corpo de cristo
das dores, da gente pobre
da miséria, fome, desgraça.
Sou visível aos olhos
sou importante demais
como substância interna.
Faço parte da menstruação
tenho a cor do coração.
Na guerra podem me encontrar
na paz também me encontro presente.
Sou o resultado de uma briga
morte, etc e tal.
Muitos não podem me ver
outros brigam para me ter.
Se quiserem meu nome
eu sou a vida, eu sou a vida, eu sou a vida...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de abril de 1987
0714. VÍCIO DAS MINHAS INTIMIDADES
O vício comeu
minhas roupas
minhas peças íntimas
comeu o relógio
da minha hora certa
o vício comeu
minha paz
meu silêncio
o vício corroeu
minha vida.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de março de 1985
0715. DOMINGO POPULAR
Oh! Domingo
Vá na casa de Domingo
Diga a Domingo
Que domingo eu vou lá
Domingo pai
Domingo filho
Domingo neto
Domingo que mora perto
Domingo de carnaval.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de fevereiro de 1987
0716. HOMEM PACATO
Pacato homem
de barba
bengala na mão
encantando por onde passa
uma criança adulta
que brinca de circo
leva consigo as crianças
leva consigo as esperanças.
Bento Júnior
Pilões-PB, 19 de fevereiro de 1984
0717. ROSTO MARCADO
Marca de baton
o peito
e deixa
a boca
rodopiar
o corpo,
e quando
o gosto
mover esse jeito
não tem pressa,
cada rosto
se soma à vida
e cada ser oposto
se multiplica ao sonho.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de dezembro de 1987
0718. CLARO
Claro é o sol
que no claro do dia
brilha na luz
desse luar.
A arte é feita
de som, imagens
C l a r i d a d e!
Somos as letras
dessa esfera,
e nessa espera
se vai um segundo.
Pinta o sete
me ensina
a encenar,
canta este verso
que nossa arte
vai clarear.
Bento Júnior
Porto Alegre-RS, 15 de julho de 1988
0719. TÃO LINDA
Ela tem um rosto
tão lindo
como se fosse
a primeira vez
ela fala
coisas lindas
como se fosse
a única
ela canta e se encanta
com o primeiro amor
ela chora sorrindo
como se fosse a primavera
tão linda
minha cadela.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de janeiro de 1985
0720. TÃO FEIA
Ela tem um rosto tão feio
Como se fosse a última vez
Ela fala de coisas feias
Como se fosse a derradeira
Ela canta e se espanta
Com seu feio amor
Ela chora chorando
Como se fosse a morte
Tão feia
Era uma boneca.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1984
0721. DE BEM COM A VIDA
Hoje
por volta da meia noite
uma estrela acesa brilhou
no caminho lá de casa
Hoje
por volta do meio dia
a chuva iluminou meu mundo
e mostrou minha vida.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de março de 1983
0722. DE MAL COM A VIDA
Ontem
por volta do meio dia
uma estrela apagada
apagou a minha caminhada
Ontem
por volta da meia noite
a chuva inundou meus sonhos
e mostrou meus erros.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de abril de 1985
0723. DISTANTE DE MIM
Distante de mim
e perto dos outros
meus pensamentos
são balas.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de maio de 1986
0724. PERTO
Tão perto de mim
e distante dos outros
meus pensamentos
são luzes.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de junho de 1987
0725. SOLIDÃO
a solidão
era uma
pedra preciosa
flutuando
no pomar
da minha casa
pego pelas
mãos e começo
a imaginar
que minha vida
é uma solidão
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de julho de 1982
0726. COM TODOS QUE QUERO
Todos que quero
Estão dispostos a
Não ficar comigo
Culpa desse
Meu jeito
De ter todos
Em mãos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1988
0727. NÃO HÁ REMÉDIO QUE CURE
Não há remédio que cure
a dor que estou sentindo
não há remédio que faça
parar a dor que estou sentindo
Não há tristeza no mundo
maior do que estou sentindo
não há esperança de vida
que faça voltar os sentidos
Não há dinheiro no mundo
que pague a dor que estou sentindo
não há esmola das esquinas
que contribua comigo
Não há luz que clareie
o sol que queima minha face
não há promessa tão feita
que pare a dor que estou sentindo
Não há razão nessa vida
que mostre quem mais errou
não há certeza de nada
só há gemidos e dor.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de novembro de 1979.
0728. NOSSO
é a saudade
que nunca mais voltou
o nosso sonho
se perdeu pela calçada
nosso amor
que era lindo
se acabou
era preciso
dois carrões
daqueles grandes
para levar as lágrimas
do meu amor
Bento Júnior
Solânea-PB, 24 de outubro de 1978.
0729. EMBORA EU TENHA UM MUNDO DE
AMIGOS
Embora eu tenha um mundo de amigos
meu conviver é uma eterna solidão
comigo tenho apenas no peito
o sentimento de ter um irmão
um irmão que faça pirraça
e diga que não vai fazer
um irmão bem camarada
desses que a gente não consegue ter
eu tenho no coração de solitário
a lembrança amarga da dor
perdi meus grandes amigos
que se casaram e se mudaram
para bem longe dos olhos meus
agora eu tenho apenas no peito
a solidão de amigos do passado
que foram embora...
Bento Júnior
Florianópolis-SC, 14 de julho de 1988
0730. ISTO É BRASIL
Olha o Brasil aí, gente!
Onde já viu se exigir de kit?
Um nome estrangeiro
não é do País
e ainda faz parte da Lei
do Código de Trânsito Brasileiro
Onde já se viu
Constituição do Brasil, 1988
esforço social para barganhar
alguns ganhos
reforma constitucional
tudo que se ganhou , perdeu
onde já se viu
isto aqui é o Brasil
CPMF
imposto sobre imposto
paga você que passa cheque
paga você que saca cheque
isto é a cara do Brasil
O kit de primeiros socorros
tem tesoura cega
não corta nem sequer papel
imaginem um cinto de segurança
nas agonias da vida
Os políticos do Congresso
apadrinhados do Presidente
aprovaram um pacote
imaginem vocês
inativos que trabalharam o tempo todo
agora irão pagar Previdência
nós pagamos pelos erros dos outros
ainda soam nos ouvidos
é a crise e temos que tomar cuidado
As verbas públicas diminuíram
o assalariado é o que mais sofre
nesse sobe e desce das bolsas
na flutuação do câmbio livre
e viva nosso Fundo
só podemos, enquanto brasileiros
tomar alguma decisão
acompanhada dos homens do dinheiro
que emprestam bilhões
e têm de volta trilhões
O Brasil está quebrado
o que fazer nesse momento?
Temos muito o que aprender
e a votar será a nossa primeira aprendizagem
Estamos de olhos vendados
para algo que nos acontece
os canais de televisão
dão a notícia com a maior tranquilidade
como se tudo estivesse bem
e o povo (consumidor) é que tem que fiscalizar
Tem taxa de conta corrente
dizem que a poupança não tem imposto
mas quando se pega o extrato
o que se tem de disponível
é inferior ao que de fato se tem
Acabaram os órgãos de defesa do povo
não se tem política de preços
o Brasil está pelo avesso
o pobre está cada vez mais pobre
o rico cada vez mais rico
com a desvalorização do Real
é motivo para muita especulação
sobe o dólar em dobro
e ainda dizem que vão controlar a inflação
Nossa economia está falida
esperamos que o Brasil
retome o seu crescimento
ligar a televisão é sofrer demais
todo preço tem o seu aumento
o País precisa acordar
o povo não tem que cruzar os braços
precisa lutar pelos seus direitos
mas antes precisa saber seus
representantes escolher
No Brasil tem
homem que guarda dinheiro
dinheiro esse sem nenhum valor
ainda diz que fez um pacto com o capeta
para sua vida melhorar
o fantástico parece uma coisa engraçada
o jornal nacional uma brincadeira de criança
as novelas podem ser substituídas
tendo o título de “motel”
fazia jus ao que assistem
Trocaram a nossa língua
o inglês invadiu a nossa praia
um homem chamado chinco
botou na praia, um
e colocou o nome de “chico’s bar”
Nossos equipamentos eletro-eletrônicos
os dizeres são internacionais
língua estrangeira é matéria obrigatória
reprova mais do que português
Ao sair nas ruas
observem as placas que têm
o tanto de palavras americanizadas
nosso português fica para trás
nas propagandas contínua do nosso dia a dia
O que significa dizer que no Brasil
as leis são feitas de cima para baixo
não passa pela análise da população
e quando chega se torna obrigatória
A privatização dizem que é um mal necessário
estão vendendo as nossas riquezas
empresas brasileiras são poucas as que restam
até quando isso vai durar?
Estão privatizando tudo
nesses dias vão privatizar a nossa raça
mas como privatizá-las
se somos africanos, índios, portugueses, holandeses,
franceses, alemães, japoneses, latino-americanos
e acima de tudo norte americanizados?
o Brasil tem jeito
basta a união de todos
pelo amor ao nosso País
lutamos com unhas dentes
para no futuro ficarmos conhecidos
como “República Federativa do Brasil”
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de fevereiro de 1999
0731. MULHER QUE MORA DO LADO ESQUERDO
DA RUA SOLIDÃO
A moça que mora do lado
do lado da rua direita
é macumbeira
gosta de encruzilhada
faz trabalho pra Zé Pilintra
fica o dia na calçada
dança rumba
e considera a melhor rumbeira
essa mulher é um perigo
se sente a dona do mundo
tem lá seus dois metros de altura
seu corpo escultural
é corpo pra homem nenhum botar defeito
aquela mulher é um castigo
desses que se ocorrem de milênio em milênio
se veste de saia curta
não dar bolas para os machões
o seu negócio é com os menininhos
se diz feliz e luta pelo grande amor
essa mulher de tudo faz um pouco
usa seu corpo pra chamar atenção
mas se sente só
sozinha canta na sua mansão
essa moça quando quer algo
ela não pede, tira
e os homens ficam de água na boca
pedindo pra ela
que volte logo quando precisar.
Bento Júnior
Porto Alegre-RS, 15 de julho de 1988
0732. ACABOU-SE O QUE ERA DOCE
Seu moço
o que é que o senhor
tem nas suas mãos
se for comida pouca
me dá um pouquinho
pra matar essa fome
que me consome
e vai me matando
devagarinho
tem seis filhos
para dar de comida
olha que a vida
não tá nada boa
tinha um emprego
e fui despedido
enxugamento da folha
foi a explicação
o que é que eu faço
com sete pessoas
para comer o pão?
se o senhor tem piedade
e acredita em Deus
me dá um pouquinho
da tua comida pouca
o pouco com Deus
alivia o coração
o senhor já percebeu
pode me perguntar
por que esse homem tão novo
vive a pedir?
eu explico, seu moço
o que o senhor quiser
tenho saúde física, graças a Deus
mas sofro do mal psicológico
a minha cabeça não anda nada boa
perdi o emprego e todo dia saio
e a resposta “não tem vaga”
e a consciência vai ficando vaga
e o juízo começa a ferver
com sete pessoas
de noite e de dia
pedindo o pão sem nunca encontrar
olhe que já me deu vontade
de usar a força
invadir um supermercado
e pegar feijão, mas só isso não resolve, não
quem sabe o café, a farinha e o açúcar
a mistura deixava pra outro dia
a boca seca, racionamento de água
cortaram a água, energia também
a escuridão é tamanha nessa casa pequena
a indenização só deu para liquidar
as dívidas nas mercearias
já deixei de comprar
se eu morrer de fome
tenha piedade
não deixe meus filhos na ilusão
minha mulher paralítica
não se move não
por favor me dê um pouco de sua comida
não é para mim que estou pedindo
são sete bocas a implorar um bocadinho
desse homem que ganhou um tiquinho
e com o coração abençoado
irá dividir o seu bocado
pra matar a sede de quem tem fome agora.
Bento Júnior
Brasília-DF, 22 de setembro de 1987
0733. ANALISTA FRACASSADO
Enquanto uns se esforçam
para ter o seu carro do ano
a minha amiga
compra sem poder pagar
um carro zero quilômetro
e ainda por cima
não sabe dirigir
A minha vizinha
é um pouco esquisita
gosta de vagabundo
e transa uma maconha
de dia ela é moça
de noite é vigarista
e ainda diz
que precisa pagar
seu carro zero quilômetro
A minha vizinha
de tanto cheirar cola
agora passou a tomar comprimido
chega na farmácia
tá com dor de cabeça
e leva uma caixa pra se embriagar
A minha vizinha
já correu da polícia
terminou dois cursos na universidade
e diz que a vida tá difícil
e que precisa de tudo esquecer
A minha vizinha
já viajou o país inteiro
foi de movimento estudantil
namorou com uma professora de patologia
e diz que seu doutorado tá bem perto de sair
A minha vizinha é um pouco esquisita
transa de tudo que a vida dar
calada e tranquila
gosta de paz
e não se evapora
A minha vizinha
se sente a vontade
pra falar da sua vida
e de seus problemas
quer que eu guarde todo segredo
eu digo pra ela isso é impossível
eu preciso de você para ganhar o pão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de janeiro de 1981
0734. O BRASIL ESTÁ QUEBRADO
Nosso superávit comercial
que era de US$ 10,4 bilhões
se transformou hoje em dia
em déficit de US$ 5,5 bilhões.
Nossa vulnerabilidade externa
o déficit de transações
pulou de 1,7 bilhões
para o montante de 32,1 bilhões.
É o Brasil de Fernando
e quem paga são as Marias e os Josés.
Nossa dívida interna
de R$ 61 bilhões
deu um salto para R$ 304 bilhões.
É o Brasil de Fernando
e quem paga são as Marias e os Josés.
Perdemos mais de 30 bilhões
de reservas cambiais
tudo é passividade no governo do Brasil.
Vamos apertar o cinto
é a frase que se ouve
e quem sofre são as Marias e os Josés.
O juro está elevadíssimo
e o governo diz que não vai
permitir a volta da inflação.
Ameaçou o Mercosul
ameaçou a economia
paga a saúde, paga a educação
greves e mais greves
é instrumento de força
para derrubar o patrão.
A missão americana
chegou ao nosso país
um tal de Fischer
o homem da mala
veio botar ordem na casa
arroche o cinto, presidente
para o Brasil crescer ainda mais.
É triste ser brasileiro
com toda situação
onde fica o amor à pátria
com toda essa confusão?
Tome imposto, mais imposto
como fica o nosso povo?
CPMF, 0,38% de juros
não é o país que nós queremos
nem pra Maria e nem para os Josés.
Ajuste fiscal
demissões e mais demissões
em menos de um mês
dança um tal de Chico Lopes
a valsa da despedida
tocada pelo FMI.
Cadê o Banco Central?
Cadê o Banco do Brasil?
Cadê a Caixa Econômica?
Cadê a Petrobrás?
Pacote e mais pacotes
paga o assalariado
agora no Brasil
aposentado paga previdência
imposto de estradas
como fica o país
nas casas de Marias e Josés?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de janeiro de 1999
0735. PISCIANO PERDÃO
Para que espantar o medo se a vida
É um sonho de portas abertas?
Para que cantar no silêncio
Se o canto só sai nas horas certas?
Não se iluda com a razão do porquê
E nem tampouco aguente as dores da desilusão
Sabemos que o ciúme ajuda a convencer a mágoa
E a mágoa se transforma em perdão.
Esse perdão a gente não abre mão
E por motivo algum vai embora,
todo motivo é pouco porque alguém chora.
O choro é a chegada do querer
E o querer pede passagem ao mundo
Que o pisciano inventou num segundo.
Bento Júnior
Campinas-SP, 13 de outubro de 1987
0736. MUTAÇÕES
Eu era como a lua
às vezes minguava
às vezes crescia
e todos os dias
mendigava do patrão
o pão de cada mesa.
Eu era como o sol
às vezes quente
às vezes frio
e todos os dias
lamentava da sociedade
o retorno daquela cor.
Eu era como o mar
às vezes barulhento
às vezes calmo
e todos os dias
se agitava
em busca de liberdade.
Eu era como o céu
às vezes azulado
às vezes chuvoso
e todos os dias
pela mata virgem
caminhava curtindo
aquela estrela.
Bento Júnior
Mari-PB, 4 de junho de 1985
0737. AFASTA DE MIM
Afasta de mim
qualquer tipo
de incerteza
causadora de algum dano
Afasta de mim
todos os homens
longe dos outros homens
pensando apenas no sangue
derramado nas questões
burocráticas do cotidiano
Afasta de mim
toda feminista
todo machista
e no silêncio da noite
trazes de volta
a minha, a tua
a nossa tão sonhada calma
Afasta de mim
esse soldado
ele não é culpado
mas faz coisas obscuras
Afasta de mim
essa novela
ensinando aos telespectadores
a irrealidade do nosso viver
Afasta de mim
o trabalho que tenho
transmitindo ao patrão
esse capital recebido
nas horas incertas
de cada minuto
Afasta de mim
esse som
colocado pelo vizinho
conturbando
até os loucos
frequentadores
do seu recinto
Afasta de mim
esse cigarro estranho
essa arma estranha
esse fogo estranho
essa guerra maldita
esse medo do pecado
esse medo de errar
esse medo de acertar.
Bento Júnior
Cabedelo - PB, 16 de dezembro de 1979.
0738. PELAS QUE ME...
Pelas forças que me prendem
nas garras dessa prisão,
façamos de conta que tudo é bom
e nada contrário ao coração.
Pelas maldições que me mandam
percorrer mundos e fundos,
noto em cada olhar maldito
a sensibilidade dos vagabundos.
Pelas leis que me evaporam
sou mais ligeiro que os impossíveis,
fico trêmulo na medida
em que os homens ficam invisíveis.
Pelas aulas discretas que me ensinam
algo de bom na temperatura,
lamento-me com qualquer coisa
na mais cruel e profunda loucura.
Pelas igualdades de classe que me façam
pensar que o amanhã virá azul,
sou tudo que te falei meu bem
na concretização de ficar nu.
Bento Júnior
Belém-PB, 18 de agosto de 1984
0739. COGUMELO
Nos cogumelos
um dia
talvez
me realize
dos tragos
que nus trocamos
um cheiro
quem sabe
fosse o resto
de uma fumaça
entre lábios
lívidos
queria ser
o total sabor de
de toda idéia
para te dizer
o quanto nus
curtimos.
Bento Júnior
Pirpirituba-PB, 06 de junho de 1983
0740. QUERIA PODER
Queria poder
sorrir da tua cara
zombar dos teus olhos
e numa simples mágica
desvendar o mistério
Deus.
Queria poder
ser um carro
andar bem devagarinho
a rodovia é uma estrutura de barro
Queria poder
amedrontar o povo
buscando algo novo
vive mal-encarado
Queria poder
desenvolver uma letra
de uma melodia
dolorindo meus tímpanos
com o nome de latifúndio
Queria poder
comer tua carne
torcer tuas palavras
e numa realidade
provar teu órgão.
Bento Júnior
Guarabira-PB, 24 de setembro de 1985
0741. O HOMEM
depois dos trinta
não há quem segure
a queda do homem
na ida ao médico
a idade longa
problema de cabeça
superior e inferior
não há quem segure
um urologista
inflamações
reclamações
antibióticos
antiinflamatórios
chegou a idade
depois dos trinta
idade da consciência
rumo da ciência
não há quem resista
as tempestades do tempo
é chegada a hora
coração
intestinos
rins
estômago
neurônios
pulmões
coluna
olhos
garganta
nariz
boca
dentes
membro
superior
inferior
veias
sangue
aparelho reprodutor
cuidado é pouco
nessa vida pouca
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de fevereiro de 1999
0742. LAMENTAÇÕES
Quero
espero
desisto
insisto
canto
pranto
morro
não peço socorro
quero e espero
desisto no momento
em que insisto
então meu pranto
será o canto
que tanto insisto
e nunca desisto
no entanto espero
e quero também
meu canto plebeu
socorro - morro
porque espero o que quero
quero tua voz entre nós
para que eu possa plagiar
teu canto - meu canto.
Bento Júnior
Salvador-BA, 20 de julho de 1988
0743. MENINOS PASSARINHOS
Misterioso pássaro
de asas perpendiculares
pousou nos fios
e bateu asas
hoje o canto que se ouve
não é mais de pássaro
são de meninos que voam
ao encontro do chefe
da sub-estação.
Bento Júnior
Santa Luzia-PB, 15 de junho de 1986
0744. A GAIOLA E O MENINO
pequena gaiola
que fazes aberta
se dentro destas comportas
mora o pássaro que canta?
eu abro a porta
pra dar liberdade
ele tem alta idade
e não sabe voar!
se ele não voa
por que não está aí?
deve ser engolido
nessas andanças
coitado do pássaro
dentro de ti
ele está mais seguro
preste atenção
nas palavras que digo
melhor liberdade
correndo risco
do que a prisão
sendo vigiado
pássaro não
mas tem as pernas
e se ele voltar
minhas portas vão
continuar abertas
Bento Júnior
Recife-PE, 20 de setembro de 1993
0745. FELICIDADE DE CORAÇÃO
Os corações que se juntam
pensando ser um
no coração do outro
não sabem o risco
que estão correndo
pois cada um tem
suas individualidades
suas qualidades
suas responsabilidades
suas penalidades
suas maldades
suas amizades
suas funcionalidades...
não é justo, vocês
juntarem os corações
quando na verdade
eles precisam respirar
para terem felicidades.
Bento Júnior
Jaboatão-PE, 06 de maio de 1989
0746. O GUARDA E DONA ZEFINHA
Não foi hoje
Talvez ontem
Ou , para bem dizer
Foi hoje
Que o guarda sumiu
Com todo dinheiro
De toda vizinhança
Foi beber na bodega
E não trouxe o troco
O troco do guarda
Foi levar umas cabadas de pau
De dona zefinha
A verdadeira dona
Do troco do guarda.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de maio de 1988
0747. O CAPITAL NÃO FICA AQUI
Nessas cidades por onde vários
automóveis trafegam
lá bem longe onde
o ônibus faz curva
mora o dono da cidade
de paletó e gravata
ele dar as ordens e leva o dinheiro
de todos que guiam
de todos que moram
de todos que passam
nas ruas daquela cidade.
Bento Júnior
São Paulo-SP, 22 de setembro de 1987
0748. DO TEU SEIO
todo sabor
que trago
no peito
reflito
perante
meu jeito
malandro
de ser
e passo a ver
o sinal bonito
que trazes
da vida
Bento Júnior
Natal-RN, 14 de abril de 1992
0749. A DESDITA
Loucura
Escritos
Renascendo
A vida é boa
O homem sonha
O perdão
Lamentos
De um coração
Que se perde
Na manhã fria
Calar
É preciso
Falar
A essência
Tristeza
De cabeça
Que sacode
Estranhos pensamentos
Vindos de longe
Fechando as portas
Da entrada do aceitar
Sentir
Tudo
Na provação
Do ser saudade
No olhar
Da verdade
E no unir
Da compreensão
Precisa de fé
Para aliviar
Os diabinhos
O orgulho
De nascença
Já é crença
Necessita
Se sentir mundo
Se sentir gente
Olhar de frente
Tudo passou
Presente
À nossa frente
Que se oferece
Conscientemente
A mudar o rumo
Desse destino
Homem
Crescido
Menino
Que empinava coruja
Que jogava bola de gude
Que brincava de pião
Que brincava de festa junina
Que brigava
Que ganhava
Que apanhava
Que cantava
Que sorria
Que banho de rio
Tomava
Que pelada na rua
Jogava
O destino
Um passo
Dois passos
Vários passos
A vida é boa
O sonho
Está começando
É o começo
De mudar um pouco
Do muito
Estabelecido
Pela ordem
Desordem
Das roupas
A união
Daquele coração
E pelos argumentos
Desse roteiro
Não falar
Do visto
Viver
No hoje
Ser por ser
Viver
Por ter fé
No outro
E em tudo
Visto
Que se fará
Esquecido
Pelo tempo
Desbotado
Pelo silêncio
Que tomará
As rédeas
De todas
As canções
Tristes
Cantadas
Pela multidão
Faminta
Do momento
Trépido
Em que se encontra
Os neurônios
Dessa vida
Chamada
Saudade
Dos bons momentos
Passados
No passado
Bem recente
Do ato
Existir.
Bento Júnior
Teresina-PI, 24 de junho de 1995
0750. ADJETIVO DO AMOR
o AMOR
é tão
belo
como
uma flor
mas às vezes
não parece
ser
quando se ama
de puro amor
tudo é lindo
ao amanhecer
Bento Júnior
Maceió-AL, 18 de julho de 1992
0751. MENINA DO DÉCIMO ANDAR
Durante todo tempo
meu momento foi sempre esperar
agora o que fazer
se a menina do décimo andar
em vez de ser só uma
são mais de dez
querendo me amar?
Neste momento duro
de tamanha indefinição
o meu pecado foi
esperar demais
por mulheres vadias
não sabia que naquele edifício
nada era difícil
tudo se tornou fácil
e agora sou feliz.
Não tem problema mão
sacode o tempo
e dar ao tempo
o tempo que preciso for.
Das dez mulheres lindas
tenho certeza que gosto de uma
mas quero ficar com as outras
já esperei tanto tempo assim
e nada melhor
do que não desprezar nenhuma
dessas companheiras
elas ficariam magoadas
e o meu pecado
com certeza aumentaria.
Bento Júnior
Cabo-PE, 15 de outubro de 1985
0752. UM FUTURO QUE SE TORNA PASSADO
Num instante
a reencarnação
da pessoa surge
Deus a fez
cognitivamente divina
Num instante
o corpo físico
estaciona
a mente
se decepciona
A reencarnação
da pessoa
se deu no Oriente
é melhor
fechar os olhos
no Ocidente
e ficar como estar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de fevereiro de 1995
0753. SORUMBÁTICO
Há momentos
num multidão
você olha de lado
e se sente
só
sozinho
caminha
e o pensar
voa
voando
em dois momentos
um com muitos
um com uma
indiferença
paciência
discussão
corre perdido
sentido
um mais um
coração.
Bento Júnior
Teresina-PI, 24 de dezembro de 1996
0754. PASSANDO ENTRE ESCADAS
Andei batendo copo
duvidando do mundo errado.
Fracassei perante à vida
gostando simplesmente
de horríveis momentos agonizantes.
Imaginei ser um poeta
ou mesmo jagunço dos sertões
lindos da minha terra.
Matei a sede do povo faminto
nas caminhadas gostosas
onde olhava a lua de casa
da rua particularmente do quarto escuro.
Quase tornei-me boêmio
roubando a mulher que hoje vivo.
Sei de coisas poucas
que são muitas
trocadas em versos e prosas
unidos ao lado humano de ser.
Viajei nas sentimentais bocas
que dançam xaxado nesta
perdida ilusão
onde Zé e João
zefinha e Maria são filhos
da minha perdida espera.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de março de 1991
0755. NOITE SONORA
Na noite sonora
De pessoas tantas
Uma santa sem altar
Fez festa
E um diabo a convidou
Para levá-la
De volta aos céus
Ao encontro
De Deus
Um zum zum na cabeça
Risos
Abraços
Protetores dos assaltos
Sequestros
Nos estados da vida
Que se fez sono
Ou insônia
Nas estradas da reflexão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1991
0756. UM POEMA DE LUA MINGUANTE
Não é de nuvem
que se vai falar
se fala de lua
detrás de um céu
entrada de chuva
na noite que cai
deixa minguante ficar
que bom que você veio
me fale escondida
me conte os segredos
dos mistérios escondidos
no fundo do mar
lua branca
em cima de mim
tímida e cruel
pedaços de saudade
guardados do céu
lua de jampa
por onde tu andas?
onde queres que vá, vou depressa
sem papel e remessa na lua morar.
Bento Júnior
Rio de Janeiro-RJ, 25 de setembro de 1987
0757. DISTANTE LUGAR
Um saudosismo
profundo
entre céu
e o mar
o que fica
da praia
são perguntas
sem respostas
de ficar aqui
e pensar
em outro lugar.
Bento Júnior
Aracaju-SE, 25 de dezembro de 1984
0758. UMA PALAVRA APENAS DITA
Mesmo que o sonho
seja uma doce ilusão
e o perdão
um amontoado de conturbações
nada melhor ao corpo
do que se vestir de prazer
e trafegar nu
na praça dos três poderes.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de janeiro de 1990
0759. LIMPA, LIMPA
Limpa que fico bem
bem fico com a minha vida
vida essa que me ensinou
que amar é apenas um verbo
escritos nos cadernos da vovó
e vovó sempre me falava
que amar era mudar
toda uma estrutura
de vocabulários
então modesta parte
vovó tem razão, só não me ensinou
como viveu tanto tempo com vovô
“o tempo era outro”
tudo muda nessa rotina
corriqueira que se chama mundo.
Bento Júnior
Areial-PB, 25 de maio de 1987
0760. PLANOS
Não vou
mais fazer planos
planos
perturbam comigo
viverei apenas de momentos
momentos
estão de bem comigo.
Bento Júnior
Esperança-PB, 26 de maio de 1987
0761. TEMPO POUCO
Na saída com amigos
a vida se faz segredos
de cidade pra cidade
este mundo me causa medo
num encontro casual
a cidade me faz mal
vou morar no interior
pra despertar o senhor
no meu jeito anormal.
Bento Júnior
Sapé-PB, 25 de novembro de 1990
0762. POETA EXPLICATIVO
Não me chamem
de poeta
eu apenas escrevo
o que vai saindo
da minha cabeça.
Bento Júnior
Santa Rita-PB, 20 de março de 1991
0763. UM LUGAR DE FRIO PRA LUA SE SENTIR MEL
Donde me veio a idéia
de tirar o pensamento
esquecer o momento
do grito da coruja
assombração
ilusão
Era a cidade dormindo
nós dois distantes de todos
juntos de todos distantes
era a cidade escolhida
do frio tremendo
nós dois
Agora o tempo se foi
e a lua se escondeu
precisamos de ter
uma resposta
ao menos
O frio tá forte
Bento Júnior
Garanhuns-PE, 26 de março de 1994
0764. TURMA DE NOVOS
esquecemos de tudo, esquecemos da vida
esquecemos dos compromissos
esquecemos daquilo e daquilo, esquecemos dos sonhos
novas amizades, danças e danças
lembramos do compromisso
lembramos daquilo e daquilo
lembramos dos sonhos, novas amizades
danças e danças
Bento Júnior
Garanhuns-PE, 15 de março de 1995
0765. TEATRO AMBULANTE
Na Grécia antiga
já se fazia
um tal de teatro
andando nas ruas
ganhando um trocado
rodando o chapéu
hoje também
apesar do espaço
a história é a mesma
depois de séculos passados
a história se repete
e não há como mudar
isso é que é teatro
feito para o povo
em qualquer lugar.
Bento Júnior
Cajazeiras-PB, 10 de janeiro de 1985
0766. TEMOS MUITO O QUE APRENDER
O sonho que temos
é sinal de discórdia
O sonho que temos
é sinal de concórdia
Bento Júnior
Souza-PB, 11 de janeiro de 1985
0767. EM QUALQUER LUGAR
Em qualquer lugar
onde houver espaço
para habitar um sonho
deixe-o se expandir.
Bento Júnior
Pombal-PB, 13 de janeiro de 1985
0768. DISSE ME DISSE
Acordar cedo
pegar no cabresto
pegar na cela
botar no transporte
ainda com sono
e se mandar
assim é aqui
num disse me disse
casa de amigo
cartão postal
disse me disse
viagens e viagens
por dentro do mato
não há quem resista
acordar cedo
pegar no galope
dar adeus e ir embora
Bento Júnior
Rio Tinto-PB, 24 de novembro de 1980.
0769. TODOS
Todas as mulheres
deste lugar
são boas e bonitas
e no seu olhar
mora a certeza
do coração
sonhador.
Bento Júnior
Mamanguape-PB, 25 de novembro de 1980.
0770. AOS OLHOS DE OUTRA TERRA
Este aqui é o lugar
onde o queijo
se faz mais leite
onde o homem virou futebol
das minas do nascimento
aos olhos desta terra
habita a paz do lugar.
Bento Júnior
Belo Horizonte-MG, 30 de setembro de 1989
0771. FRIO SULINO
Que frio da bexiga
que frio da peste
palavra de homem
que invade o corpo
não tem que dê jeito
o frio é tamanho
aqui desse lugar.
Bento Júnior
Curitiba-PR, 10 de julho de 1988
0772. MINAS ESTAMOS AQUI
Somos paraibanos
filhos da Paraíba
estamos em Minas
estamos em Valadares
somos brasileiros
brasileiros , sim
queremos brincar, brincar de correr
cuidado criança, o ônibus já vai sair
adeus Minas
até breve!
Bento Júnior
Governador Valadares-MG, 25 de setembro de 1989
0773. TANTA SAUDADE
Tanta saudade
faz doer
o peito entristecido
por enquanto
a mulher vai saciando
cada palavra
cada parada obrigatória
faz doer esta saudade.
Bento Júnior
Petropólis-RJ, 03 de outubro de 1989
0774. PRAIA SOLIDÃO
Quando o tempo
disse pro tempo
cuidado para não cair
o tempo foi se cuidar
e a praia se tornou solidão
Quando o tempo
se explicou
e o vento balançou
as palhas desse coqueiro
a praia se habitou
e todos queriam morar.
Bento Júnior
Baía Formosa-RN, 25 de setembro de 1991
0775. FUMANTE
O fumo acabou
o vizinho
do lado de cá,
o fumo
fumado
comprava de tudo,
agora o vizinho
de tanto fumar
acabou sozinho
sem respirar, cansou
não vai mais fumar, sofreu
com a negligência médica
o vizinho do lado de cá,
hoje mora no lado de lá.
Bento Junior
Conde-PB, 15 de maio de 1985
0776. A MENTE
A mente não pensa
mas escuta segredos,
foi ao campo de futebol,
convidou todo time.
E o time
com mais de onze
perdeu o jogo
e brigou com a mente.
Toda torcida gritou:
Mudar o time
por favor.
Esse time tá ficando doido,
falta cabeça pra fazer gol.
Bento Júnior
Caruaru-PE, 05 de junho de 1987
0777. BEIJO DE QUEM SE AMA
Beijo de quem se ama
é beijo bem beijado,
beijo de quem se
apaixona é beijo tarado,
beijo de quem se quer pela vida
é beijo guardado.
Bento Júnior
Parnaíba-PI, 25 de dezembro de 1996
0778. LÁPIS
Um lápis azul
sonhou ser caderno
ao acordar pensou ser papel
o papel ao lado trocou com o lápis
sirvo pra você colocar seu nome
em cima de mim.
Bento Júnior
Itabaiana-PB, 21 de maio de 1984
0779. BOLA NA PRAIA
Brancas estremecem
abertas ondas
rolam bolas
e a saliva
se esfola
no orvalho do céu.
Bento Júnior
Taguatinga-DF, 23 de setembro de 1987
0780. QUANTA SAUDADE
No perplexo
arrependimento
o orgulho se cala
gemem bocas perdidas
choram olhos degenerados
o céu já se foi
outrora o sono
de perder ou ganhar
vencer o mais pusilânime
ao acordar o homem
sente saudade
e lamenta seus prantos:
bem feito o tempo
de ser sempre o ter.
Bento Júnior
Araruna-PB, 09 de setembro de 1990
0781. O JARDIM
Ocupe a mente
e não deixe-a
s o z i n h a
mente só
improdutiva
plante uma árvore
bote águas nas plantas
execute tarefas
cuide bem de sua
mente jardim.
Bento Júnior
Serraria-PB, 07 de maio de 1983
0782. SIGA A RETA
Você vai
se perde
perde
o caminho
e volta
sem seta
ao caminhar
descobre
siga essa reta
volte e viaje
em paz.
Bento Júnior
Guarabira-PB, 07 de maio de 1983
0783. ESTE SAPATO
Dizem que sou um sapato
um sapato, porém, bastante lindo
vivendo por aí a andar
desço ruas, subo ruas, mas ninguém
consegue me ver.
Me usam como objeto
e não lembram que posso desabar
eu deixo sempre o povo belo
comigo nos pés, meu amigo pode crer.
Quando estou em seus pés
me tratam com bastante carinho
sou feito de couro legítimo
tenho dores, estou a sofrer.
Quando estou bem velhinho
me jogam lá pelos cantos
nas ruas, nos matos, em todo lugar
acho que preciso morrer.
Agora não precisa se preocupar
comigo e nem com os meus amigos
estou aqui e vocês bem sabem
estou aqui para viver...
Bento Júnior
Campina Grande-PB, 15 de outubro de 1993
0784. A BOLA
Eu sou feita de couro
couro, matéria forte.
Mas não há coisa no mundo
pior do que a morte.
Falo isso com toda razão
e vocês vão saber o porquê,
quando o couro está estragado
eles me jogam num canto de lado.
Isso pra mim é morte
e não tenha quem me tire da cabeça,
num campo de futebol
consigo belas jogadas,
mas na hora do gol perdido
tome, tome porrada.
Eu sou muito mal tratada
até por incompetentes,
mas quando estou na rede
eu agrado a tanta gente.
0785. ESTE SAPATO II
Eu sou um sapato,
sapato furado,
meu dono é chato,
me deixa jogado no chão.
Ele só usa tênis,
coitado de mim fico a esperar,
um dia talvez ele me use,
vai ser a maior confusão.
Quero pedir ao meu dono
que não faça isso comigo,
tenho família para criar
e preciso de uma mão.
Tenho família grande,
grande de tanta gente,
gente que não acaba mais,
deixe-me ganhar o meu tostão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB,, 24 de outubro de 1994
0786. O CHEFE E A CASADA
De tanto dar em cima
da mulher casada
o chefe a convidou
a mulher o aceitou
foram ao motel da vida
lá foi muito bom
enquanto durou...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 26 de março de 1980.
0787. PASSA, PASSA, AMOR PASSAGEIRO
Amor que passa
Amor que fica
Amor que vai
Amor que vem
Vem amor
Vem amor
Vem...
Amor que rola
Amor que brilha
Amor que encanta
Amor da minha vida
O amor é lindo
O amor é belo
O amor é fruto
De uma grande paixão
O amor é...
O amor é a mais doce emoção
O amor é a mais doce emoção
Amor do mundo inteiro
Amor de todo mundo
Amor de vagabundo
Amor que rola sem dor
O amor rola
Como a bola
O amor é sonho
Todo mundo quer sonhar...
Bento Júnior
Santa Luzia-PB, 06 de dezembro de 1987
0788. ESTE SAPATO III
Sou apenas um objeto
e pergunto: quem sou eu?
Existo de várias cores
e pergunto: quem sou eu?
Sou vários tipos e modelos
e pergunto: quem sou eu?
Sou alto, magro e tenho salto
como também vários formatos.
Quem sou eu?
Às vezes eu sou pequeno
no pé de quem em compra,
mas a culpa não é minha
é do dono que não me provou.
As pessoas falam
que não giro bem da memória,
eu pergunto quem sou eu?
Eu sou um tal de sapato
será se alguém daqui me conhece?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de setembro de 1996
0789. ESTE SAPATO IV
Resolvi castigar meu dono
apertando-lhe o calcanhar,
porque na semana passada
esqueceu-se de me engraxar.
Resolvi castigar meu dono
esmagando-lhe o dedão do pé,
para ele ter mais cuidado
e não me deixar com tanto chulé.
Resolvi castigar meu dono
puxando-lhe pelas pernas,
para ele ser mais gentil
e cuidar do meu solado.
Meu dono resolveu me castigar
por tudo que eu tinha lhe feito,
jogou-me dentro de um saco
e não servi nem pra ser comprado.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 30 de dezembro de 1997
0790. EDUCAÇÃO
Educação , palavra doce
que traz tanto amargor,
ao ver crianças nas ruas
chorando sem ter amor
Uma palavra tão linda
mas tão distante de sentir
E há tanta gente que a escreve
Sem sabê-la traduzir
Educação, tão linda e tão bela
muita gente precisa ter,
palavra que o mundo revela
com os olhos do bem-querer
Um olhar que se lança
nas crianças que sentem dor,
educação - irmã da esperança
educação - filha do amor
Uma palavra tão pequena
mas diz tudo de uma só vez,
por ela valeu a pena
inventar o português.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de janeiro de 1982
0791. JESUS
Jesus é a luz da vida
Jesus é a luz do amor
Jesus é o nosso irmão
Jesus
nosso salvador.
Jesus
morreu na cruz
morreu para nos salvar
Jesus
nos deu a luz
para podermos caminhar
Quem caminha com
Jesus
tudo de bom Ele faz
com Jesus dentro do peito
no coração só tem paz.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de março de 1982
0792. ERA UMA VEZ A NATUREZA
Natureza linda
enche os olhos de quem vos ver
os olhos de quem não ver
é sentido por outro sentido
sentido de ver por dentro
enxergar melhor até
de quem tem como ver
e ver o que não quer.
A natureza é por-do-sol
toda tardinha
feliz daquele que sente
o prazer dessa emoção.
Natureza é vida
natureza é inspiração
natureza é Deus sentido
por todos sem distinção.
Natureza é o mundo
mundo de se viver
quando o homem não pensa
acaba a natureza
mata toda floresta
para enriquecer.
Natureza precisa de força
de força de todos nós
se não lutarmos por ela
o que será de todos nós?
Bento Júnior
Garanhuns-PE, 26 de março de 1994
0793. LOUVA-ME TESÃO
A rapidez dos teus beijos
encheram-me de desejos
quanto mais precisa de ti
mais longe meu amor estava
O que faço com tanto tesão
dentro do meu coração?
O que faço com minha pele
que precisa tanto de ti?
Louva-me Senhor
de todos os males
de todos os sonhos
e aclama o nome tesão
e louva-me junto de ti
Tesão saudade
de vida
tesão de arrepiar
tesão de pura luta
lutar por um amor
amor da minha pele
tesão por uma mulher.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de dezembro de 1982
0794. CRIANÇAS ABANDONADAS
As crianças abandonadas
não têm família nem lar,
são todas desprezadas
não têm como estudar.
Vivem nas ruas
nas ruas pedindo esmolas,
para ter o que comer.
Se drogam cheirando cola
para toda fome esquecer.
Algumas se tornam ladras
são capazes até de matar,
sabem que o futuro
tá difícil para mudar.
O sonho de ser criança
criança livre, livre de família
se esbarra no meio da rua
estão presas numa ilha.
Ilha que não tem volta
não tem volta e nem hora
hora para voltar
se conformam em certos momentos
roubando para a ferida sarar.
Criança ainda há tempo
tempo para tudo começar
joguem de lado essa lata
esqueçam o que tem dentro
e vamos comigo lutar.
Lutar por um mundo melhor
onde haja paz e harmonia
não somos contra esta vida
mas nos falta um pouco de alegria.
Alegria foge do rosto
no rosto às vezes a mágoa
faz morada e não quer sair
tenhamos certeza, crianças
é preciso força para uma nova vida começar...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de abril de 1983
0795. UM POUCO DE PAZ
Se no mundo
não existisse
armas
drogas
e corrupção
e também não
houvesse
fome
miséria
e ambição
seria um
mundo de paz
de amor
e união
ajudávamos
uns aos outros
viveríamos
como irmãos.
Bento Júnior
Natal, 13 de abril de 1993
0796. ANTIGOS CARNAVAIS
Os antigos carnavais
nos enchia de alegria
contagiava nossas danças
animava multidões
Eram fantasias
colombinas
arlequins
e marchinhas animadas
no salão todo mundo dançava
e alegrava seus corações
Nossos antigos carnavais
não tinha esse tal de trio elétrico
lança perfume era o caos
droga nem pensar
era assim nossas tardes de carnavais
Lança de água
bomba de água
água nos ônibus e nos carros
e nas pessoas que passavam
e olhem que tudo era proibido
mas nós que éramos crianças
brincávamos e nos alegrávamos
era um carnaval de tremenda folia
Os antigos carnavais
tinham músicas de profundas letras
e melodias de dar água na boca
hoje em dia dezenas de bandas
tocam a mesma música
apelam para a sexualidade
e dar saudade dos antigos carnavais
Dar saudade demais
no tempo de criança
brincar carnaval
nas ruas da cidade
nas ruas do bairro
tudo era alegria
a máscara da felicidade
era verdadeira naquele tempo
sorríamos sem preocupação.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de maio de 1984
0797. CARNAVAL 75
Carnaval setenta e cinco
é na Praça Castro Pinto
a nêga roda que só um pião
pula tanto nesta praça
que chega a cair no chão
Carnaval setenta e cinco
é aquela diversão
a nêga na folia
faz aquela confusão
brinca tanto nesta praça
que chega a cair no chão
Neste carnaval
se diverte a multidão
confetes e serpentinas
mulheres e meninas
empregado e o patrão
Carnaval setenta e cinco
este ano vai ser bom demais
brinca a moça e o rapaz
cornetas e bombos
é grande a agitação
Carnaval setenta e cinco
vai ser na Praça Castro Pinto
o povo se diverte com maior animação
tem lugar pra todo mundo
traga sua fantasia e caia no salão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 28 de janeiro de 1975.
0798. QUEM DE NÓS TERÁ A CORAGEM?
quem de nós dará um sorriso
na primeira flor morta de metanol?
quem de nós cantará uma música
com a garganta contida de fome?
quem de nós irá ao teatro
para um espetáculo de ingresso alto?
quem de nós terá a delicadeza de ensinar
um analfabeto a ler, se ele nunca soube ler?
quem de nós recitará um poema?
quem de nós recitará um poema?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de junho de 1980.
0799. CASO DE MULHER
É bom sorrir
cantar
caminhar
encontrar no mar
parar
na contra-mão
e deixar o olhar
falar
mais que o coração
e em cada ida
nos transportes da vida
um beijo de despedida
na esfera partida
de cada espera.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de dezembro de 1986
0800. MINHA ATUAL ESCOLA
Esse é o primeiro ano
uma escada
para uma tal escalada
devo observar palavras
o inverso dará em nada.
Um novo estabelecimento
de ensino vou frequentar
rumo à Universidade
mais um passo
com certeza tenho que dar.
Bairro dos Estados
é seu nome verdadeiro
Professor Matheus Augusto de Oliveira
homenagem a este mestre
mas todos aqui conhecem
pelo nome de Bairro dos Estados
ou mesmo pela sigla de CEBE.
Vou prestar atenção nas matérias
pra jamais em recuperação ficar
quero mesmo é saber muito mais
pelos caminhos que tenho que trilhar.
Bairro dos Estados
Bairro dos Estados
nosso colégio estadual
escola pública de qualidade
ensino com bastante empenho
apesar de todos atropelos educacionais
nossa escola busca cada vez mais
se aprimorar em todos os sentidos.
Colégio Estadual do Bairro dos Estados
Escola Estadual de 2o Grau
Prof. Matheus Augusto de Oliveira
precisamos vencer as barreiras
chega de tantas brincadeiras!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 03 de abril de 1978.
0801. COPA DO MUNDO
O Brasil perdeu
a copa do mundo
nas terras da Alemanha.
Mas como pode ser
tudo em questão de segundo
cadê a copa do mundo?
cadê nosso tri campeão?
Espere a próxima, Brasil
que breve chegará
em nossos corações
mais de cem milhões
queremos se alegrar.
Que tristeza foi
no dia da derrota
ninguém acreditou
pareceu até lorota.
Adeus o tetra campeonato
que tanta propaganda foi feita
só nos resta esperar setenta e oito
e colocarmos em campo
uma seleção perfeita.
Cadê nosso Pelé?
O que houve com Pelé?
Cadê o nosso rei?
Cadê o nosso maior jogador?
Cadê a nossa esperança?
Pelé não quis jogar
e tinha toda razão
se por acaso ele jogasse
essa coroa teria perdido.
O Brasil perdeu
a copa de setenta e quatro
somos os únicos tri-campeões
aguenta coração brasileiro
em breve seremos tetra-campeões.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 28 de julho de 1974.
0802. MEUS AMIGOS
Hoje eu tenho bons amigos
Que são grandes amigos
Com eles não corro tais perigos.
Hoje eu tenho bons amigos
Que são grandes amigos
Seja na escola ou seja no lar
Em cada um dos nossos abrigos.
Eles são os meus amigos
Sem nenhuma fantasia
Eles são os meus amigos
Seja de noite ou seja de dia.
Obrigado meus grandes amigos
Isso sempre irei lhes falar
São os meus melhores amigos
E para toda vida irei lhes amar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de junho de 1974.
0803. SEXTA-SÉRIE
Sexta-série
mais um ano
em minha
vida escolar.
Sexta-série
mais provas
mais trabalhos
sétima-série
vem aí...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1975.
0804. A NOITE DA MUSA
Quando a noite cai
e a música toca
por trás da porta
a lua minguante
quase não sai.
Saiu uma dose
nó na garganta
tomada por uma santa
embriagada de saudade.
De porre bebido
bem condicionada
somos seres apaixonados
pelo ato de sermos atrevidos.
Atrevimento é essa tal de vida
e que seja música
e que seja teatro e arte
tudo faz parte
do cortar sem ser ferida.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1989
0805. A NOITE DA MUSA II
Era noite
Tinha lua
Tinha música
Tinha festa
Uns bebiam
Outros dançavam
Outros cantavam
Outros calados
Ficavam pensando
Que a vida
É um mistério
E tudo é de momento
E o momento foi feito de duas rodas
Que nos levou à porta de nossas esperas
De sonos sonhados
Quando a cabeça se agita
É sinal que a vida
Se faz presente em nossas veias.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 16 de agosto de 1989
0806. A NOITE DA MUSA III
Todos os sonhos
em cima da minha mesa
são comidos
pela boca do pensamento
teu viver
é uma armadilha
para minha loucura
amada
são eles
que amam
os sentimentos
do lado escuro
da rua vida.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 17 de agosto de 1989
0807. FADIGA MENTAL
Os olhos cansados
computador à frente
falta inspiração
poesia analítica
cabeça paralítica
armadilha de braços
não sai uma palavra
arquivo encerrado
programa aberto
falta inspiração.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 13 de fevereiro de 1999
0808. BILTRE
És um biltre
de dar medo
de dar arrepio
o teu futuro biltre
não se pode prevenir
cada dia mais indeciso
teu lado animal racional
biltre tome cuidado
o pessoal vai cortar teu rabo
toma cuidado enquanto tiver tempo
biltre biltre biltre biltre biltre...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de novembro de 1985
0809. CANA-DE-AÇUCAR
Tome um caldo de cana
e sinta o doce que essa tem
é tão bom tomar você
minha cana-de-açucar.
Cana-de-açúcar
o verde que faz sonhar
feche os olhos e deixe ver
o sabor desse lugar.
Entre os riachos e córregos
há tanta cana-de-açúcar
facões afiados esperam a safra
o corte já vai começar.
Tratores e máquinas
foices e facões
de manhã logo cedo
os carros a caminhar
pelas estradas do brejo
cana-de-açúcar a cortar.
Um monte de gente
burros também no lugar
crianças também tão acolá
ajudam seus pais a cortar
cana-de-açúcar
é mel, rapadura, açúcar
e outros derivados
cana-de-açúcar
batida que puxa e puxa
caldo de cana é vendido lá
aqui é garapa
feita nos engenhos
na moenda, na fornalha
na bagaceira tem também
cana-de-açúcar.
Pilões-PB, 26 de dezembro de 1983
0810. ONDE HOUVER TRISTEZA
Onde houver tristeza
plante uma certeza
cante uma certeza
invente uma certeza
lute por uma certeza
a tristeza só quer compartilhar
a certeza que se tem do mundo
é força que vem de dentro
quanto mais se entristece
mais a alegria está por perto
o tempo esquece o homem
e o homem se faz de esquecido
quando se quer demais da vida
a tristeza vai ficando
cada vez mais triste
plante uma certeza
no coração da humanidade
e faça uma canção de espera
peça a criança a sua ira
e jogue nos olhos do povo
veja que o resultado
é paz no coração da gente.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de outubro de 1986
0811. RESPEITE NOSSA LÍNGUA
Dizem que podíamos ser
um tupi-guarani
mas como a história não quis
respeite a nossa língua
portugueses chegaram aqui
fizeram a pior desordem
escravizaram negros e índios
tomaram do índio o direito
e quiseram que trabalhassem
do jeito que branco queria
não deu para o índio
negros foram buscar
entraram pela África
muitos negros morreram de banzo
saudade de sua terra
saudade de sua gente
escravizaram por muito tempo
Zumbi fez a história
lutou pela liberdade
morreu como herói
muitas lutas sucederam
mesmo com toda narrativa
que ao português não lhe cabe bem
pedimos em nome da gramática
respeite a nossa língua
as invasões de termos estrangeiros
já são irmãos de nossa gente
muitas vezes não sabem o que ler
apertam os botões da tecnologia
importados e mais importados
respeite a nossa língua
com todo respeito lhe peço
se por acaso num equipamento eletrônico
vendido para o seu país
surgir o nome liga e desliga
é sinal que começamos a mudar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de setembro de 1989
0812. PRINCESA
Na púrpura
do seu rosto
um arco-íris
brilhou
morou o álibi
e na defesa
da princesa
enlouqueceu
seu príncipe
que se desencantou.
Bento Júnior
Salvador-BA, 20 de julho de 1988
0813. MISTÉRIO
Agora
eu sou
um
entre
todos
entre
mim
e você
resta
uma
esperança
agarre-a
seja dela
o que de fato
me pertenceu
eu sou teu lado confuso
e sobre tua espera
um lindo sorriso
te espera.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de março de 1990
0814. ARGUMENTO
Argumente-se
perante
este júri
e diga
nos olhos
quais olhos
te ferem
e diga nos olhos
quais mentes
te atormentam
argumente-se
perante este mundo
e controle seus nervos
medonhos
argumentações
são bem vindas
ao invés de lágrimas perdidas
enquanto o choro é chorado
os argumentos vão ficando de lado.
Bento Júnior
Petropólis-RJ, 27 de setembro de 1989
0815. CINCO VERSOS CANSADOS
Agora neste momento
as mãos ficam trêmulas
o corpo pede descanso
a mente pede ajuda
e a face se faz tristonha.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de março de 1985
0816. CINCO VERSOS CANSADOS II
Agora neste momento
o corpo cada vez mais cansado
e a mente cada vez mais pedindo para parar
e o corpo todo estremecido
sofrível e com medo de errar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de março de 1985
0817. CINCO POEMAS CANSADOS III
Agora neste momento
coração dispara profundamente
as mãos cada vez mais trêmulas
e os nervos estão cada vez mais
à flor da pele.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de março de 1985
0818. CINCO POEMAS CANSADOS IV
Agora neste momento
o corpo não mais aguenta
ficar dessa maneira
o melhor é ir embora
o melhor é deixar tudo de lado.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de marco de 1985
0819. CINCO POEMAS CANSADOS V
Agora neste momento
o corpo pede parada
a mente por si já parou
os nervos estão confusos
o sangue começa a borbulhar
os olhos se fecham e tenho
que de mim cuidar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de março de 1985
0820. SOBRE TODAS AS COISAS
Sobre todos os alicerces
da tua mente incógnita
misturam-se os límpidos
argumentos plácidos
para exemplificar
a semiótica da tua vida.
Bento Júnior
Pilões-PB, 01 de janeiro de 1987
0821. REVOLUÇÃO
Se continuar
do jeito que vai
morrendo
um
dois
três
quatro
cinco
seis...
a gente
não vai
mais fazer a revolução
sabem por quê?
os homi que a gente
queria matar
todos estão morrendo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de novembro de 1989
0822. DE QUE ME VALE?
de que me vale
ser único
se tantos outros
são muitos
na proporção
determinada
de sermos filhos
variados
de outrora
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de abril de 1986
0823. SER AMIGO...
É deixar que um alguém como você
penetre no âmago dos nossos corações
e sobreviva contracenando com os olhos
de quem na vida sempre te ver...
... sorrindo para esse mundo
que nos ensina no pedaço de cada dia
a simplicidade das realidades...
... introduzidas na mente da gente
que aprende em cada minuto
a benevolência de ter amizade.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de outubro de 1986
0824. PENSAMENTO DE AMIGO
Ser amigo
é nascer
crescer
viver
amar
depois
conhecer.
Ser amigo
é sorrir
cantar
poetizar
contrapesar
viver somente
de amor.
Ser amigo
é perder
baixar a
cabeça
e pensar
no amanhã.
Ser amigo
é ganhar
repartir
o pão
dar graças
pelo recebido
atender ao
irmão.
Ser amigo
é não ter
medo de morrer
lutar pela razão
em nome da emoção.
Ser amigo
é uma estrela
que brilha
na mão
desse país
é um sonho
que não se acaba
é a esperança
que não tarda
é a certeza de
sermos amigos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de outubro de 1986
0825. EU SOU O TEU POETA
Eu sou o teu poeta
sou eu quem faço versos, menina
recito na madrugada incólume
adormeço na calçada da sina.
Sou teu poeta que te ensina
aventuras das palavras
sou teu poeta, menina
razão da tua vida.
Eu sou o teu poeta
garganta brava e serena
lá naquela esquina
daquele lugar
existe uma tal poesia
que te faz sonhar.
Foi nosso primeiro encontro
de mãos dadas ao vento
música e festança
amizade e cortesia
eu sou o teu poeta, menina
mulher, razão dessa poesia.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de abril de 1984
0826. POR PENSAR...
Num mundo repleto de flores
fecundaram em mim, horrores
do mundo que não tem jeito
morreram os meus amores.
Por pensar demais, calei
ao som da madrugada
as vidas do gato de casa
transformou minha verdade
em pedaços soltos de nada.
Somente propagandas cretinas
levou-se todas as sinas,
ficaram as marcas profundas
devastando pensamentos, sonhos de meninas.
Ser humano errante
lapso de uma intransigência
perdão, pelos outros, pelos tantos
que perderam suas coerências.
Por pensar em grandes idéias
me veio poucas sentenças
o que será desse trem
carregado de ilusões?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de novembro de 1983
0827. PARÔNIMAS UM TANTO QUANTO HOMÔNIMAS
Absolve o moço, ele não fez nada
e como nada fez, foi absorvido pela justiça,
quis acender o seu coração, mas não,
preferiu ascender na sua profissão.
Este acento que vem da boca do moço,
retrata um momento, quando este no assento
acostumou-se com toda ladainha,
mesmo quando quis se costumar
amar a mulher que com ela casou.
Aquele moço tem filhos, e ao sair aferiu todos
na certeza que poderia auferir o pão de cada dia.
Ele adentrou mata adentro e não mais quis caçar,
sobrou-lhe umas aves, e destas fez seu alimento,
mas como modelo político, quiseram cassar seu mandato
ganho como presidente do grêmio estudantil.
Foi dormir na cela e teve grandes insônias,
sonhou com vários cavaleiros, e sendo um cavalheiro
pôs a sela no seu transporte e saiu a cavalgar.
Era tarde e tinha cerração
e se preveniu de tudo e de todos,
pensou consigo um instante
que sua fechadura precisava de uma serração.
Era complicado o momento
vivido por aquele moço
de todos as histórias da noite
esta foi a melhor
um conto com palavras parecidas
estória da madrugada.
Rodou o seu pião e saiu pelo mundo a correr,
perdeu tudo que tinha, só restaram-lhe os filhos,
sua mulher era incipiente e insipiente,
desapareceu - “morreu “ - o homem ficou só,
sozinho a caminhar - mesmo que o sonho acabe
seu dinheiro sofreu uma inflação
culpa de suas economias, foi infração para chegar
onde aqui se chegou.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de julho de 1986
0828. SOU PARTE DE UM TODO PARTIDO
Busco minha parte
Faço arte
Encontro os encalços
Nos laços dos sapatos
Na pele do negro
Boto fé na estrada
A partida de todos
São partes divididas
Aperto o cinto das idas
E nas voltas as mortas
Cantam canções de loucos
E aos poucos meu coração
Lapidado de perder
Acertou no poder
E chora com quem
Implora um sonho
De sonhar como se fosse
Medonho metido a besta
Vida fresca de espera
A sociedade se diz fera
Não late e se bate
É a luta do alimento
Que falta no orçamento
Meu tio inteligente
Bebeu aguardente
Foi embora cedo
Nós ficamos com medo
Medo de sair
Precisam se punir
O castigo foi forte
Nada melhor do que a morte
Segundo os filósofos
Riscando seus fósforos
Iluminam caminhos
Guiam cegos e anjinhos
É a lei de momento
Por enquanto a tempo
É o final de tudo
Falam todos e mudos
Ouvem gentes e surdos
Falam em silêncio
Rodam folhas em stencil
Desprezam a informática
Entraram para a carismática
Estão salvos dos pecados
Termine o verso soldado
Aqui se finda um poema
Espero poder afirmar meu dilema.
Bento Júnior
Brasília-DF, 18 de setembro de 1987
0829. UMA FILHA QUE CHORA
Lá do alto do morro
ouço o som de garganta
uma filha no meio no mundo
grita chamando seu pai
eu dentro de casa ao lado
observo o choro do lugar
uma filha que soluça no canto
e seu pai a implorar
que não chore por tudo sagrado
é chegada a hora da partida
está próxima a ida
pra que chorar no momento
se teu pai perto da filha está?
um choro de arrepiar coração
ouve-se do alto da serra
uma criança pede colo
e busca seus olhos ao mundo
esperando a hora do encontro
seu pai distante de tudo
sonha um dia encontrá-la.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de outubro de 1988
0830. ERA TARDE
Era tarde
fazia frio
e o frio que fazia
não era esse
que se passa agora
era um frio triste
desse que congela
o corpo e faz esquecer
o tempo de agora
em que a vida busca
uma resposta
e a resposta fica
a perguntar
se realmente
era tarde...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de setembro de 1987
0831. SANGUE DE HOMEM
Sangue de homem
que brota da face
na face oculta
de um cidadão
cidadão cretino
que badalava
subia escadas
e buscava a torre
e lá no alto
tocava o sino...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de agosto de 1989
0832. OS SEGREDOS
Os segredos que tenho em mãos
Não preservo-os. Falta a essência.
Tomo partido de cada posição
E desvendo o mistério dessa ciência
Que me faz batalhar cantando
Por uma liberdade. Talvez sofrível.
Na ausência do fruto brotando
Caminho nos laços do comível.
É vida, é luz, é cor, é...
Desse universo contraído.
Vou raptar o silêncio bem medido.
Enquanto algo quer carinho
Me desagrego, expando o som.
Sou pueril e gosto de bombom.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 28 de agosto de 1984
0833. PRAZER III
Entre um beijo
e um abraço
continuo me condenando
por pensar
que o beijo bem dado
é causa de um abraço
bem meigo
lamentavelmente meigo
que envolve o ventre
enquanto as palavras
soam nos ouvidos de ambos os sexos
onde depois de todo ritual
as mesmas chegam num momento
“adequado” de contradições
pois o prazer que envolvia nossas cabeças
não mais é prazer
fazemos por fazer
e o melhor foi deliciar o aroma
do tempo determinado por nós dois.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de dezembro de 1986
0834. BELOS APELOS
Ao ouvir o rádio, a canção que toca
É sinal de viver socado numa loca,
Cheia de sonhos de liberdade
E um querer por crueldade...
É o vício de tudo querer acertar
Neste tempo de nada mudar,
Pois se a canção apela agora,
Não se aveche, não vá embora...
Cante meus apelos derretidos
Na camisa suada dos detidos,
Que pensando em voar desse canto,
Sonha algum dia ser santo...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de maio de 1990
0835. ARRIVISTA
Um arrivista
por natureza
deu de cara
com sua cara
e não gostou.
Seu lema
vencer ou vencer
era antipático
metido a besta
passava por cima
de todos
vencer ou vencer.
O mundo precisava
tinha que abrir alas
para ele passar
seu dilema
jamais perder
mesmo que custasse caro
só vencer ou vencer.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de junho de 1982
0836. OPRESSÕES E SUFOCOS
Vivo sufocado
condenado e oprimido
e tudo que eu faço
eu me sinto um comprimido
dizem que o mundo
é um ato consumido
e o patrão dos fundos
é um tanto querido
explora o operário
paga pequeno salário
e ainda vai na casa
passa um fim de semana
e diz aos afilhados
isso que é dinheiro santo
não sei mais o que faço
nessa grande confusão
tá todo mundo louco
nessa grande nação
e pergunto a todo mundo
o que faço comigo?
recebo uma resposta
um tanto desagradável
aparece uma mocinha
e comigo é amável
pega na minha mão
e me mostra a direção
e ainda diz que o homem
não precisa se preocupar
pois em cada esquina
tem sempre uma mulher
louquinha para lhe ajudar
o que faço nessa vida
se perdi a esperança?
pra viver desse jeito
eu prefiro ir embora
tenho família grande
e preciso resolver
qual é o problema
que me atormenta agora
se é este sufoco de pegar nas tuas mãos
ou se é este empregado
que está sempre em opressão?
não tenho a resposta agora
fica a indagação
perdi tudo no tempo
dizem que não sou ninguém
percorro os caminhos
e não encontro uma saída
pois o máximo que eu consigo
é viver de dar problema
e o meu problema agora
é terminar com esse poema.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de junho de 1979.
0837. SONO
Observa, qual senhor te detesta
se todos os teus seios
são sugados, beijos na testa
de quem não tem receios.
Aclama meu nome, tal qual
é fruto do teu único sexo
que produziu um ser normal
busca, pois, realizas teu universo.
Te expande, desagrega desses braços contrários,
conduz teus olhos nos meus
e reduz meu cérebro ao teu
que no compasso desse salário
comprou teu legítimo dono.
Sim, penso em ti, és meu sono.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1981
0838. CONQUISTA
Quem deste solo
chamado conquista
dará o primeiro passo?
Quem desta conquista
chamada ilusão
transformará a pedra em lã?
Quem desta ilusão
chamada paixão
dará o primeiro toque?
Quem matará o desejo
de jogar o medo
e saciar a espera
de horas marcadas?
Quem marcará
o relógio
no coração
da conquista?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 21 de janeiro de 1990
0839. RECORDAÇÕES MODERNAS
Ouço, recordo, a música toca e o coração
Desperta em mim uma vontade de chorar,
Pois os olhos, porém cansados, admiram
A beleza que é se perceber no mundo.
O rádio toca, sinto, o som me envolver
Numa lágrima que ecoa no meu silêncio,
De cada gota de recordação dada,
Solicita ser moderno nesse tempo de espera.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de maio de 1990
0840. ARREPIANDO OS POSSÍVEIS
Há muito tempo
muito tempo ainda
como era de costume
como era de começo
e bem próximo ao final
lá caminhava eu
pelas estradas e esquinas dos bares
buscando em cada encontro meu
a matança da saudade que habitava em mim.
Bem muito tempo
lembro-me bem
quando menino
bem pequenino
me atirava do primeiro andar
e conseguia escapar
mesmo em sonhos.
Assistia filmes de qualidade
e os desenhos eram felizes
e eu não ficava para trás.
Há muito tempo
bem muito tempo
tempo muito
muito tempo
muita saudade
muita tristeza
muita alegria
faziam morada
no coração meu
no coração de criança
rebelde.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de outubro de 1988
0841. PRAZER II
Entre um beijo
e um abraço
não me condeno mais
porque o beijo bem dado
é causa de um abraço
romanticamente louco
que envolve os seios
enquanto as línguas roçam uma a uma
provando o sexo com cheiro do mato
brisa leve que sopra
os cabelos dessa virgem
virgem que presencia esta cena
e encena todo espetáculo
espetáculo tal que não mais é pecado
e sim somos nós a razão do prazer.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de dezembro de 1986
0842. EU SÓ QUERIA
Eu só queria fazer um poema
com a cor dos teus olhos
a capacidade da tua cabeça
e ao mesmo tempo desvendar
os mistérios contidos em teu corpo.
Eu só queria
amar tua voz
gritar o teu nome
e me embriagar de desejo
no mais confuso sono.
Eu só queria
não ser eu e poder dizer que sou tu
para zombar com a cara do eu
e te deixar louca em conflito
com teu próprio atrito.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de março de 1984
0843. UM LIVRO
Um livro é muito mais
do que palavras soltas
é um abrigo ao leigo
um ensino ao estudado
é um pouco de luz
nos olhos da humanidade
também é um pouco de treva
nos atos impensados
é um livro a razão da teoria.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de fevereiro de 1999
0844. UMA DIFERENÇA
Ah! mãe minha
Ah! pai meu
Ah! irmãos meus
Ah! se eu pudesse
Mudar as estruturas
Dessas suas vidas
Sinto uma fibra
Arder no peito
E me contar
Que nada seria
Como agora
tudo seria diferente
Ah! pai meu
Ah! mãe minha
Ah! irmãos meus.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de dezembro de 1982
0845. UM TARDE ACORDE
Acorda meu pai
Acorda minha mãe
Deixem para fechar os olhos
No término de uma jornada.
Enquanto dormem
Filhos e filha vagueiam.
Qualquer dia que eu chegar
E os encontrar acordados
Será o maior milagre
Conseguido por este filho.
Acorda pessoal
Essa vida é maravilhosa
De se viver.
Enquanto fecham os olhos
Mil coisas ocorrem ao redor...
Acorda família...!!!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de dezembro de 1982
0846. MEU LUGAR
Filho de peixes
Carnaval na porta
Maternidade agitada
Nascia - muitos nasceram
Nessa cidade onde
O sol nasce primeiro
E a lua depressa se esconde
Assim se faz João Pessoa
Onde a mulher e o homem
Lutam pelo bem estar familiar
Suas igrejas - Basílica de Nossa
Senhora das Neves
Nosso Museu São Francisco
E o tombado Hotel Globo
Canta o povo nas construções
Ilustres pessoenses
Suas praias pra lá de lindas
Encantam moradores e visitantes
Seu verde é ar puro de respirar
Sem medo de ser feliz
Praça dos Três Poderes
Situada no coração da cidade
Abre espaço para a Lagoa
Na Bica de muitos bichos
A música paraibana
É de tudo uma mescla
De samba-frevo-baião-forró...
Seus teatros - Santa Roza - Paulo Pontes
Lima Penante - Minerva - Severino Cabral
Geraldo Alverga - Santa Catarina
Yrácles Pires - Ednaldo do Egypto
Um grande ator de nossa história
Que dá nome ao seu teatro em vida
Os grupos teatrais
E o frevo do folia de rua
Enche o turista de alegria
Na mais profunda nostalgia
Museus - bibliotecas e monumentos
Na cidade das acácias
Se encontra tudo que se procura
Jardim das acácias já cantava um cantor
Famoso filho da terra - músico de primeira
Desse imenso continente brasileiro
A cidade rodeada de matas
Cobre o encanto de uma grande cidade
Não se importa com o título de província
A calma e a paz reina nesse lugar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de maio de 1990
0847. DEZESSEIS POEMAS
Na ponta dos dedos
na ponta do lápis
me veio a idéia
por que não fazer esse tal poema
que dezesseis ao todo completará a lista
deste fragmento?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1988
0848. UM SONHO ACORDADO
Cansado de esperar
e também pelo tempo
perdido na espera
intransigentemente
ele deixou para trás
todo sonho sonhado
e preferiu falar
que acordado estava
na hora do acontecido.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de janeiro de 1991
0849. ENTRE E FECHE A PORTA
Você chegou
cansada e atarefada
chegou pra mim
como nada quer
disse baixinho
no ouvido esquerdo
que queria ser mulher
mas como aceitar uma
coisa desse jeito?
se a menina que conheci
a pouco mora no coração
de toda vizinhança
e se eu fizer algo errado
tenha certeza que serei
condenado a pagar caro
por esse ato louco
vista a roupa e vá embora
complete ano que
a sociedade exige
e volte logo que vou te esperar.
Bento Júnior João Pessoa-PB, 08 de março de 1980.
0850. FAZENDO DE CONTA
No canto da sala
ouvindo um rádio
e da vida alheia falando
assim é um parente meu
doido para enricar
baseado na novela que assiste.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de abril de 1979.
0851. HOJE PELO MENOS
Faltam cinco dias
cinco dias faltam
este é o prazo
para você se decidir
se vai aceitar ou não
aquele pedido louco
de ir embora comigo
para bem longe
desse lugar
o que nos resta
é apenas uma resposta
de sim ou não
para eu tomar de conta
desse alguém
talvez agora
ou quem sabe
hoje pelo menos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de maio de 1980.
0852. GOSTO HORTELÃ
Sua boca
seus lábios
seus dentes
sua face
seus cabelos
seus olhos
suas mãos
seu perfume
de mulher
é hortelã
no cheiro
é hortelã
no gosto
seu sexo
é hortelã
na certa
quero
mais
mais.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de junho de 1980.
0853. HORRÍVEIS ANIMAIS
Por onde andou
aqueles homens
aqueles animais
irracionais
dono de tudo
dono do mundo
horríveis seres
intratantes
intolerantes
antipáticos
animais
nocivos
dor de cabeça
um animal
incompetente
descrente
de Deus
de tudo
na vida
no mundo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de julho de 1981
0854. IMPOSSÍVEL
Impossível
acreditar
no que aconteceu
era um sonho teu
passar neste
vestibular
mas nesse momento
agora não deu
enxugue as lágrimas
e volte a estudar
quem sabe
se no próximo
você não tira
em primeiro lugar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1980.
0855. JOÃO PESSOA - JARDIM DAS ACÁCIAS
João Pessoa
André Filho
Podia escrever
Cidade Maravilhosa
Também aqui se faz presente
João Pessoa
Cidade do verde
Cidade de grande coração
Cidade hospitaleira
Capital da Paraíba
Filipéia
Frederica
Nossa Senhora das Neves
Nomes de nossa cidade
João Pessoa
Desde 1930
O jardim das acácias
Está no centro
Está em tudo
João Pessoa
Minha cidade - meu lugar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de setembro de 1982
0856. LINDA MORENA
Linda morena
dos cabelos negros
olhos negros
dar ciúme na mulher
que tem seu homem
a lhe olhar
é uma história de amores
uma linda morena
invadiu toda cidade
e fez dos homens
seus invisíveis namorados.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de outubro de 1982
0857. NESSE INTERVALO DE TEMPO
Fica a reflexão
de quem já sofreu na vida
tantas dores no coração
tantas palavras perdidas.
Fica a reflexão
de quem já mentiu no mundo
tantos sonhos jogados no chão
tanto amor de sentimento profundo.
Fica a reflexão
nesse intervalo de tempo
falta um minuto de atenção
pra quem viveu de tanto contratempo.
Fica a reflexão
dentro da minha cabeça
é com dor no coração
que digo: desapareça.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de novembro de 1983
0858. OLHOS DE TERNURA
Certas pessoas
carregam no seu semblante
uma carga de amor
e consegue esse amor
ser dividido com outras pessoas
com outros lugares
são os olhos de ternura
que aguça na vida
uma razão pra viver.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de dezembro de 1983
0859. PARTE DE MIM E MINHA PARTE
Tenho certos detalhes
que não dar pra revelar
tenho um nome de santo
mas só no nome, o que importa pra você
é ter-me por inteiro dentro do seu coração
sem dividir com a ou b
o que importa é ser feliz
mesmo não tendo razão
mesmo sabendo
que esta parte é minha parte
e o seu mundo é de todo mundo
o sonho acaba e vem outro
para viver nesse mundo
e dividir o sentimento com você.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de janeiro de 1984
0860. ZÉ BOCA DO POVO
Já dizia uma canção
que na Paraíba
tinha muito Zé
Zé de todo canto
Zé do mundo
é tanto Zé
que tem Zé
que cai na boca do povo
na boca do mundo
Zé que era homem
Zé que virou homem
Zé da minha rua
Zé que mora ao lado
Zé é tanto Zé
como tem Zé nesse País.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de fevereiro de 1983
0861. XAXADO DE INTERIOR
Fui uma festa lá no interior
que coisa boa não esqueço mais
tinha mulher pra todo mundo lá
que dançasse xaxado no salão
era uma festa bem organizada
valentão não entrava lá não
a fiscalização botou pra quebrar
e quem tentasse invadir o salão
não tinha vez naquele lugar
e o xaxado falou alto no interior
foi lá que consegui casamento
pra um amigo que comigo foi
desconfiado foi ao pai da moça
e disse que queria namorar
recebeu permissão com os pais
de lado e mesmo assim
foi convidado para ser o organizador
da próxima festa do ano que vem
se Deus quiser estaremos lá
eu e meu amigo e sua esposa
e seus dois filhos da peste.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de março de 1983
0862. ZUM ZUM DE DAR MEDO
Nesse tempo de crise
assalto virou moda
ser diferente virou moda
é um zum zum de dar medo.
Nesse tempo de aflição
o marido se diz traído
sua mulher se diz independente
é um zum zum de dar medo.
Nesse tempo de guerra
a paz se distanciou
o político é mentiroso
e a mentira anda solta no mundo
é um zum zum de dar medo.
Nesse tempo dar saudade
de voltar ao passado
reviver lindos sonhos
relembra o que passou
no momento a notícia é desastre toda hora
a cabeça vai dormir
os sonhos são turbulentos e a vida vai seguindo
num zum zum de dar medo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 10 de abril de 1982
0863. UMA SEMENTE NO CHÃO
a semente germinou
o fruto cresceu
floresceu o alimento
o trigo e os brotos
a família se contenta
e a ceia é farta
quem semeia o bem
na vida colhe bons frutos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de maio de 1984
0864. DISQUETE SALVADOR
Este será a salvação
de tantos poemas
escritos na hora
este será bem vindo
ao coração de poeta
um disquete amigo
que nos faz tanto bem
agora é só esperar o tempo
chegar - um disquete fiel.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de fevereiro de 1999
0865. UMA DANÇA PARA CAROLINA MULHER
Carolina
não se pode negar
que você é uma linda mulher
Carolina
neste ambiente
ninguém gosta de você
gosta sim, e você sabe porque
Carolina
sei que você já foi menina
e agora é uma linda mulher
Carolina
todo mundo vai saber
que você é minha menina
Carolina
que você é minha mulher
Carolina.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de dezembro de 1985
0866. NOITE QUE DORME
A noite dorme
e o sono não me encontra
quem sabe se contra a noite
ou a favor do sono?
Não...
Sou contra a distância que arrepia a pele
e sufoca a cabeça na expectativa de um sono
de duas cabeças...
Me recuso ao dito fato, quando no ato
a noite se torna dia e retomo meu sono
podendo eu ser um só.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de fevereiro de 1988
0867. SEMPRE NO GALHO DA VIDA
Ocupar-se de um galho suspenso
requer a alma em transe
e a mente em lance.
O mágico que fazia amor
namorou todas as vizinhas da rua 15
e se casou com nenhuma.
O sonho de sempre morreu na esquina,
quando encontrar no caminho
um pedaço desses namoros
meu único e conceituado amor.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de setembro de 1981
0868. PERGUNTAS QUE CUSTAM DAS RESPOSTAS
Mamãe
o que foi que houve
com zezim da venda
não fala com ninguém
tá mago
cabelo caindo
pálido
só tem os ossos?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de junho de 1990
0869. COVARDIA
Se tentas de todas as maneiras
denegrir meu lado puro e verdadeiro
como também meu ponto de vista, assumo:
covardes deste lugar são os rebeldes
que na calada da noite mal dormida,
esquisitamente fechou o outro lado esquerdo
da rua do verbo amar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 10 de janeiro de 1984
0870. SEGUNDA-FEIRA
Segunda-feira, nada faço
falto às reuniões, nada faço
ouço Villa-Lobos, nada faço
leio poemas e contos, nada faço
segunda-feira, só vontade de espreguiçar.
Segunda-feira, falto aula
segunda-feira, falta luz
segunda-feira, falta abrigo
segunda-feira, falho na certa.
Segunda-feira, cadê a lua?
segunda-feira, cadê dinheiro?
segunda-feira, cadê os amigos?
segunda-feira, nada faço.
Segunda-feira, falta energia no meu pulso
segunda-feira, falta vontade de sair
segunda-feira, falta vontade para ficar
segunda-feira, é um saco pra enfrentar.
Segunda-feira, dia mundial da ressaca
solidão
amanhã, graças ao nosso bom Deus
será terça-feira.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de outubro de 1982
0871. CABACEIRAS
Terra boa de gente boa
Cariri da minha terra
Auto da Compadecida
Igreja linda
Cabaceiras terra de bode
Lugar de gente boa
Carne de bode
É o que se tem
Tudo de couro
Vem que tem
Cabaceiras
Cariri da minha terra.
Bento Júnior
Cabaceiras-PB, 05 de junho de 1999
0872. SAUDADE
Tenho saudade
Tantas saudades
Tantas verdades
Meu peito não suporta
Quer viver mas fecha a porta
A saída é fraca
O sorriso é franco.
Bento Júnior
Cabaceiras-PB, 05 de junho de 1999
0873. BOA VISTA
Boa vista
Nova cidade
No mapa da poesia
Boa vista ficou
Na lembrança do homem
Na imagem da viagem.
Bento Júnior
Boa Vista-PB, 04 de junho de 1999
0874. PESCARIA
Lembro das músicas
“quem for a pescaria, lá em Boqueirão”
é que passo por ele
Boqueirão paraibano
cidade desenvolvida
Boqueirão
aqui de dentro do carro
a poesia já ganhou sua data.
Bento Júnior
Boqueirão-PB, 06 de junho de 1999
0875. QUEIMADA
é tanta cidade
nessa Paraíba
é preciso muito tempo
para saber de tudo
é muita cidade
grande e pequena
Queimada é grande
faz jus à Campina.
Bento Júnior
Queimadas-PB, 06 de junho de 1999
0876. LOUCO DE JOGAR PEDRA
Está louco
quer jogar pedra
está louco demais
quero jogar pedra
quer jogar pedra na rua
quer sambar sem roupa
está louco
quer o mundo consertar.
Bento Júnior
Massaranduba-PB, 08 de agosto de 1985
0877. O CATA LIXO
Cata lixo pra viver
Vive catando lixo
Tem filho pra cuidar
Vive cuidando de filhos
Sua mulher emprenhou
Tem filho pra cuidar
Tem lixo pra catar
Vive catando lixo
Tem ferida pra sarar
Cata lixo todo dia
Vive não sei porque.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de setembro de 1987
0878. SACRIFÍCIO
Sacrifico meu lado retórico
em defesa das tuas palavras
benditas são flores que regas
águas cristalinas purificam a alma.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de outubro de 1988
0879. NEM ME INCOMODO
Não quero saber de você
Não quero saber de você
O que me importa é ser feliz
O que me importa é ser feliz...
Pouco me importa o momento
Pouco me importa o momento
O que me importa é ser feliz
O que me importa é ser feliz!
Tenho motivos de sobra
Para tentar ser feliz
Você sempre me cobra
O que o meu coração nunca diz...
Você sempre está por cima
Das conversas e situações
Não adianta pensar na menina
O que importa são as emoções...
Que vivi com você
Nada me incomoda
Sou feliz na vida por viver
Quero saber o sentido da moda...
De cantar ao mundo a felicidade
E pedi silêncio a todo mundo
Nada me incomoda, só mesmo a verdade
De ter você no meu sono profundo.
Bento Júnior
Cuitegi-PB, 20 de janeiro de 1988
0880. CANTO DE ROUCA VOZ
Cantam crianças sadias
pela vida a cantar, um canto sadio e bonito
feito pra gente contemplar...
Cantam crianças bonitas
lindas da cor do luar, um canto sereno e tranquilo
feito pra gente gostar...
Cantam crianças tranquilas
serenas com as estrelas no céu, um canto infinito
feito pra gente meditar...
Cantam crianças infinitas
nessa meditação, um canto de luz sensível
feito pra gente cantar...
Cantam crianças que meditam
com vozes tão rouca, um canto de pureza
feito pra gente se amar...
Bento Júnior
Cabedelo-PB, 09 de maio de 1985
0881. O AMOR QUE SINTO POR ELA...
Sinto tanto amor, tanto amor eu sinto
que o amor acho que é pouco
por tanto amor que sinto por ela
por gostar dela tanto assim
por viver por ela mesmo assim
por ser safado e ela gostar de mim
por ir na casa dela e viver assim
por amar a mulher mesmo comprometida
mesmo mãe da vida
mesmo confusa, mesmo partida
é o amor que tão grande não cabe em mim
e eu preciso dividir com ela
o amor enorme que invade meu ser
o amor sublime que me faz sofrer
o amor de tanto sentimento
o amor de um homem chamado Bento.
Bento Júnior
Santa Rita-PB, 09 de maio de 1983
0882. NA ALMA
Na alma da sociedade
Falta conter o dom do perdão
O perdão de verdade
Para acalmar os nervos
Dessa cabeça em ação
Que controla os sonhos
Tem pesadelos estranhos
Não usa sua capacidade
É fadada a solidão
Não sabe que nossos olhos
Refletem a alma de nossa espera
É fera banhada de sol
Na contínua de perdoar o irmão.
Bento Júnior
Alhandra-PB, 08 de março de 1991
0883. LEI DO OUTRO
Cumprir a lei do outro
É tarefa, porém um tanto delicada
Quando se cumpre nossas leis
O sorriso se estampa no rosto
Virou vício de um certo alguém
Ser narcisista, pedante e causar desgosto
Na família que lhe deu bem
Cumprir sua lei é o que importa
Informa a todos os presentes
Conta vantagem na ida
Se sente o dono da volta
Quando se cumpre a lei do outro
É barra para alguns
A lei dele é a minha lei
A minha lei vai ter limites, sim
Não importa o tempo
No abrir da porta, na saída à rua
São limites dos contratempos
O que seria do sol se não fosse a lua?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de abril de 1986
0884. FORTE NA CERTEZA
Neste pedaço de chão onde o sonho brotou
Mora o alimento que nos causou
A certeza desse lugar que se fortificou
Na condição de ser irmão e colher o amor
A semente dessa terra que se plantou.
Neste pedaço de terra onde a planta floreou
Mora um homem que é forte na dor
É soldado das guerrilhas, sempre lutou
Pela paz e a esperança, foi o que a todos restou
Na certeza de ser forte como o pássaro que cantou.
Bento Júnior
Guarabira-PB, 09 de abril de 1984
0885. FESTA POPULAR
Me empresta dinheiro que eu quero comprar
Uma pareia de roupa pra eu dançar
Com aquela morena da cor de canela
Do jeito dengoso que faz a gente amar
Um sorriso aberto tão certo no rosto
Não tem desgosto quem com ela dançar
É uma festa bem popular
E essa morena que me dá tanta pena
De vê-la dizer sem mais e menos
Que não quer dançar com o cavaleiro
Que acabou de lhe chamar
Como vou fazer com a minha roupa nova
Se ela comigo não quiser dançar?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de maio de 1985
0886. SONHO DE PÁSSARO FERIDO
Como um pássaro ferido
me encontro neste momento
uma voz rouca de arrepiar
qualquer cristão
me pede passagem para eu gritar
ao mundo que este mundo vai se acabar
acordo e reparo na parede
as mãos cravadas da voz
que nos meus ouvidos
gritou deliciosamente
fazendo meu ser adormecer
profundamente entre quatro paredes
na certeza de que este sonho
por ser um sonho final
não restará dúvidas de que o final
dos tempos só a uma pertence
pense e reflita neste momento.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de fevereiro de 1990
0887. BELA VIDA
Em todos os momentos
Em todos os segundos.
A bola rola no campo,
A bola pertence ao mundo.
Digo que a vida é bela,
Não pelo filme premiado.
Canto as cantigas da vida,
Aprendo a ser respeitado.
Vida bela, bela vida,
Onde estás que não me escutas?
Canta passarinhos lindos,
sobem montanhas e grutas.
Meu Brasil tão brasileiro,
Berço de gente grande e boa.
Quando fico a pensar
É sinal que estou à toa.
Nesse mundo de meu Deus,
Só não aprende quem não quer,
Choram moças e rapazes,
Mais razão tem a mulher.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de dezembro de 1983
0888. POR UMA SAUDADE PERDIDA
Tenho sobre mim
a saudade de tê-la
busco dentro de mim
o reencontro de vê-la.
São palavras soltas
rimadas por rimar
o que importa na saudade
é sentir que a vida
algum dia passará.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 17 de maio de 1990
0889. PIÃO
Eu
tenho
um pião em casa
que me aguarda
em espadas sangrentas
o sangue que delas caem
melam meu estômago de luz
a luz que brilha no pomar
florescem o sonho
de quem na vida
espera dias
melhores
nesse
p
i
ã
o
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de janeiro de 1990
0890. O TEMPO E A CIDADE
A cidade parou
O relógio ficou
parado no tempo
que não mais voltou.
O relógio tocou
todo mundo se acordou
era a notícia de dor
que corria pela cidade do horror.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de maio de 1990
0891. POESIA EM LIVRO
Poetas da Noite
o que falas
por onde andas?
Falas de amor, ou falas
de dor?
Poetas, busco Os Quatro Elementos
Através da Poesia...
Busco as minhas Intimidades
Poéticas... saciar os poetas,
e que sejas da noite, da tarde
ou da manhã...
Não importa. O que importa é
ser poesia,
seja em qualquer dia!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 1999
0892. CANTORIA
Cante
Cantor
Uma canção de amor
Cante pra mim
Essa rima assim
E cantou o cantor...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 13 de agosto de 1990
0893. TANTOS SONHOS
Há tantos sonhos
perdidos nesse ato
nos encalços de mim
que causa pânico
no ápice de sonhar.
Há tantos eus
achados no meio do nada
da pedra polida
burilada de acasos
na contra-mão
mãe de amar...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 10 de novembro de 1999
0894. UM SONHO DE MAL DORMIDAS NOITES
Agora também quero sonhar
com sonhos de esperança
mesmo que essa esperança
decantada em versos
não impeça o poeta
de ser gente na gente
que vos espera.
O poeta se sente feliz
e na felicidade
que se expressa
põe fogo nos sonhos
de olhos vendados
na vida perdida
de amplidões.
Bento Júnior
João Pessoa - PB, 24 de março de 1987
0895. POR UM NOVO TEMPO
É chegado o momento
O momento chegou
Vamos lá minha gente
Vamos juntos mudar...
Queremos um Novo Tempo
Um Novo Tempo é bom
Chega de não fazer nada
No Novo Tempo se deve votar...
Todo mundo quer mudar
Mudar essa situação
Chega da mesma cara
Novo Tempo com precisão.
Se você está indeciso
Seja uma pessoa ativa
Pense no voto bem dado
Nada de cooperativa.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 26 de novembro de 1999
0896. LIMITADO
De onde vem o limite?
O limite de perder
A partida quase já ganha...
O limite tem que ser
Limitado e pensado
Para não causar
Em cada pulsação
O limite de parar
O bom que se começou...
Estranho é a ausência
Desse permissível limite
Que impede a vontade
De resolver paradas
Quando se limita
Palavras para o desabafo
Limítrofe desse poema.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de dezembro de 1990
0897. PRIMEIRO DE JANEIRO
Novo século
Nova vida
Novos sonhos
Novas esperanças
Novo aprendizado
Novas aventuras
Novo ano
Nova paz
Dois mil chegando.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de janeiro de 2000
0898. JANEIRO PRIMEIRO
Eis o que me ocorre
em letras garrafais
entre os malditos
que lá fora bebem
bebidas estragadas
das festas do final de ano
onde a alegria era tanta
que todo mundo se espanta
com a felicidade primeira
de janeiro que chegou
viva o ano 2000!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de janeiro de 2000
0899. MENTALIZADO NO OCULTISMO
Mente oculta
que oculta
os pergaminhos
desse falar...
Mente oculta
que escuta
e se cala
mas tem fama
de quem quer lutar...
Mente oculta
não se enxerga
a todos se entrega
quer ser tudo
precisa se encontrar...
Mente oculta
vai à luta
perde todas
não defende
e se entende
com quem quer fracassar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de janeiro de 2000
0900. AMIGOS DE ANO A ANO
Estamos bem próximos
Distantes fazemos
O caminho do encontro
É força ausente
Façamos o momento
A força presente.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2000
0901. UMA HORA
Já passou da meia noite
o relógio marca
uma hora em ponto
eu no computador
tentando desvendar
o mistério de tamanha
perplexidade...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2000
0902. MUDAR PELA MUDANÇA
Uma cadeira no canto
na sala de aula
é menino que quer
aquela cadeira
não pode sair
sair daquele lugar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2000
0903. SONO DE FECHAR OS OLHOS
Abram as alas
dos olhos soníferos
dêem comida
à cabeça que pensa
não fechem os olhos agora
cantem uma cantiga
de despedida de cama
de lençol cheiro de novo
o sono tão forte
venceu o menino
ele foi dormir...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2000
0904. AO OUVIR-TE
Faz bem à mente
faz bem ao coração
ouvir a voz da experiência
ouvir e prestar atenção
quem sabe mais
fala mais
quem não sabe
escuta mais
é a lei do socorro
vence quem prestar
mais atenção.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de maio de 1980.
0905. MISTERIOSO ANO
Este ano vai ser misterioso
com as cartas sobre a mesa
admitiam mistérios pelo ar
nos sonhos da noite tristonha
no acordar e querer rezar.
Bento Júnior
Santa Rita-PB, 08 de janeiro de 1980.
0906. EU ERA TÃO FELIZ
Era tão feliz
no ano passado
por estas horas
em que as horas
apertam
sinto o compasso
do tempo
nos enlaços
da minha agonia.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de agosto de 1981
0907. MÁGICO DESMASCARADO
Foste pago para isto
desvendar os segredos
que mais cedo
mais tarde
tirará teu emprego
não sabes que esta empresa
a quem babacadamente
emprestas teu serviço
usa e abusa
joga fora e te expulsa
mágico desmascarado.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1999
0908. CAIXA PRETA
Acidentou meu avião
deixou uma caixa preta
ninguém achou, seu capitão
ela tá fazendo careta.
Acidentou meu avião
a caixa preta ficou intocável
ninguém viu, seu capitão
ela é feita de aço inoxidável.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 1982
0909. QUANDO A CIDADE DORME SAIO DA MULTIDÃO
Quando a cidade está dormindo
nas ruas ouço o guarda a apitar
meus olhos sozinhos estão sorrindo
minha boca pensa em te beijar.
A cidade dorme e me sinto na multidão
sou feito de insônia e tanto faz dormir
tomo café pro meu coração
lá mais tarde o sono vou sentir.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de setembro de 1982
0910. BALA PERDIDA NÃO MATA LADRÃO
Uma bala perdida
matou cidadão
invadiu sua casa
e tombou no chão
chorou seu filho
chorou vizinhança
a bala perdida
caiu no quintal
ladrão que fez mal
fugiu porque encontrou saída.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de março de 1983
0911. CINE NOSTALGIA
No passado
Na minha rua
O cinema era diversão
Menino chorava
Ao pai implorava
Me dá dinheiro
Cinema é ação
Hoje o que se vê
É loja em cada parte
Acabou-se a sétima arte
Cinema do passado
É comércio pra lucro ter.
Bento Júnior
Guarabira-PB, 10 de outubro de 1983
0912. LARANJEIRAS
O meu pai bem que me lembro
Minha mãe também lá também foi
Laranjeiras que lugar
Tinha vaca, tinha boi
Era bonito este lugar.
Laranjeiras que saudade
Que saudade tenho agora
Do meu tempo de criança
Tenho vontade de ir embora
Laranjeiras verdes de esperança.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1985
0913. FÊMEA FEMININA
Olhe bem nos traços dela
Que quadril ela tem, é fêmea bem brasileira
Tem sangue das raças, gosta de uma brincadeira
Faz dengo por pirraça, é feminina de primeira.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de março de 1985
0914. ESTRAGO DE ESTRADA
Estragou a estrada de boi
Onde é que o carro vai passar?
Faz mela-mela em todo canto
Carro não pode acelerar.
Bento Júnior
Pirpirituba-PB, 23 de setembro de 1981
0915. NOVIDADES
As novidades são antigas
Conte-me uma nova por favor
Fale das mulatas lá de baixo
As novidades por favor.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de setembro de 1981
0916. TEVE PAZ
Até quando existia mãe
A paz reinava no lugar
Depois que a mãe morreu
Ninguém ali quer morar.
A alma da mãe aparece
Todos gritam por paz
É desordem a noite toda
O capeta é quem satisfaz.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de agosto de 1982
0917. OSSO DURO DE ROER
Tem uma menina
Que se chama Joana
Osso duro de roer
Tira a roupa e cai na cama
Só pensa em satisfazer.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de maio de 1982
0918. JAGUNÇO HONESTO
Tinha um homem bandido
Todos chamavam
Arrependido estava e mostrava ser honesto
Jagunço cangaceiro, pra provar que é bom
Tem que morrer.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1983
0919. OLHAI SENHOR
Olhai, senhor!
Os lírios
De quanto vendido foi
No mercado
De baixo da rua
Esquerda dos rios
Marrons a cheiro de barro
Onde peixes que morto é
Hoje ausentes pescam
Nem os lírios vivem.
Bento Júnior
Guarabira-PB, 05 de dezembro de 1988
0920. CALADA DA NOITE
Na calada da noite
este senhor dos lírios
precisou comer
comeu lírios
e se perguntou
andou por águas barrentas
e peixes pescou
não mais ouvirás falar
nesse senhor dos campos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de maio de 1986
0921. CONVÍVIO ESTRANHO
Estranha ao meu convívio
e sábia no meu apelo, acaso
eu fosse um caso de contos contados,
apenas estranha era, um semblante de pedras no
caminho desigual do poeta estranho.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de janeiro de 1986
0922. MENTIRAS DE MIM
Mentes e te sentes gente
Acaso és deusa da noite
Ou dama das águas?
Ou quem sabe, senhora
Das penitências?
Não sabes quais
Mentiras são farsas ou falsas
Nas sílabas de mim.
Mimiografadas folhas de verdade
Colhem o néctar da manhã
Chuvosa de derrubadas e
Trovoadas. És o fracasso
Desse ato pensar.
Neste prédio de cinco andares
Habitou minha boca, oca de
Noites e águas, nas mentirosas
Folhas desse espaço.
Teve um dia e uma tarde
Na vida, que bem-te-vis, pardais,
Rouxinós e borboletas
Vagavam no céu mastigando
Ilusões e canções. As músicas
Que ouvi de montanha adentro
Eram perdidas de luz, e o escuro
Da manhã foi o arrebatador
De toda mentira da viagem feita
Por entre pedras e rios.
Nos cascalhos pus a cabeça e
Meditei através de minúsculos segundos
Para ser água, era, e sendo água,
Colhi as flores ao redor de mim.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de janeiro de 2000
0923. ONDE EXISTIR UMA PEDRA
Onde existir
uma pedra
você pode
pegar
Onde existir
um caminho
você pode
passar
e por este caminho
você vai jogar as pedras
entre pedras
no lugar em que você pegou
este mundo
é um círculo
“quem faz aqui, aqui mesmo paga”
já diz o ditado popular
você que entende de música
depois pode cantar
cada caminho dessa vida
que se tem que passar
em qualquer lugar
hás de encontrar
as pedras da vida
e você a outros vai contar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de maio de 1990
0924. NÃO SE FALA NOUTRA COISA
Aqui, pode perguntar a quem quer que seja
aqui mora uma mulher doutro mundo
modesta, porém orgulhosa
é o que todos falam de boca em boca.
Aqui, pode perguntar a quem quer que seja
aqui mora uma pecadora dos meus pecados
honesta, porém extravagante
é o que todos falam de boca em boca.
Aqui, pode perguntar a quem quer que seja
aqui mora uma senhora de mais de quarenta
sensual, porém um tanto medíocre
é o que todos falam de boca em boca.
Aqui, pode perguntar a quem quer que seja
aqui mora entre quatro paredes
ela, porém indefinível
é o que se constata de boca em boca.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de fevereiro de 1983
0925. CADICA
Nestas três sílabas das sílabas do meu nome
mora os verbos : meu sonho, minha fome.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 02 de maio de 1998
0926. AOS TRONCOS E BARRANCOS
As quebradas das andanças
emanam laços de esperança
naqueles andantes candangos
sensíveis visionários caminhantes...
As estrelas brilham nas cordilheiras
e os passantes seguem viagem
perdem-se nos barrancos
nos troncos de cada passagem.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 17 de janeiro de 2000
0927. MÍSTICO PADRE
Se a figura
de um padre
por ser mística
nos causa mistério
e que mistério
um padre não padre
por não ser padre
se diz místico?
Rezou missa
e fez confissões
o Vaticano o condenou
cinquenta anos
de trabalhos forçados...
e hoje, leitores
ele dá missa
na Capela da Esperança
de graça.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de janeiro de 2000
0928. OUVIRAM O QUE SAIU DA BOCA DA CRIANÇA?
Se vocês não ouviram as palavras que da boca da criança saíram
perderam-se na esquina deste sonho
pois as crianças quando falam precisam de ouvidos atentos
e vocês o que fizeram?
deram gargalhadas e zombaram delas...
as crianças são fagulhas divinas que habitam na
terra para vencer os obstáculos que a vida os oferece.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de maio de 1988
0929. A BELA LUA
Vou subir por estas paredes
Pegar a lua lá em cima
Quero sentir o seu cheiro
Cheiro bom de menina.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de março de 1982
0930. CABOCLA SAUDADE
Ondes andas?
Onde moras?
Que lugares pisas?
Que paisagens avistas?
A queda d’água que dar
Molha os cabelos dela
O rosto dela se banha
Nas águas do riachão...
Onde caminhas, menina
Com este ar de ternura?
Moras no alto da serra
Bem junto do meu coração.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1990
0931. O NAVIO NO MAR
Na ciranda da vida
os ventos se balança
menina que muito ama
qualquer dia se cansa.
Nos entraves do tempo
o navio dar partida
a saudade que vai
é a mesma que fica.
Menina namoradeira
de um belo marinheiro
quando parte o navio
as lágrimas correm no rosto inteiro.
Nesse mundo de idas
as vindas são esperadas
no mar de tantas meninas
atraca um navio de águas acanhadas.
Os lenços que dão boa hora
se agitam na indefinição
lá vem o marinheiro, senhora
acabe com essa solidão.
Bento Júnior
Cabedelo-PB, 08 de dezembro de 1981
0932. HÁ SEMPRE UM ESTRANHO
Há sempre um estranho
em teu caminho
querendo ser teu sonho
e te dar carinho
não confie neste estranho
e vá embora
há sempre uma vontade de ficar
nesse lugar até o fim...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de março de 1981
0933. TANTA PALAVRA FEIA
É tanta palavra
que sai da boca
na pouca palavra
que o homem tem
e se tem palavra
ela é feia quando dita
e feia quando ouvida
da boca que fala
palavras cretinas
de um cretino qualquer.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de abril de 2000
0934. ASPECTO DE LOUCO
Aspecto de louco, suavidade de mãe
Intransigência que permanece estática
Assim a plebe roubou o que já não tinha
Da gaveta oca do pai perplexo.
Todos que por ali passavam
Davam respostas em pleno cemitério
Que admitiu no passado um louco
Roedor de casas perdidas em adultério.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de abril de 2000
0935. SOMOS PARTE
Somos parte desta galáxia
Onde o planeta habita
Somos parte desta biologia
Onde o estômago se agita.
Somos parte deste sonho
Onde a razão mora ao lado
Quem quiser ser bom na vida
Faça parte desse mundo virado.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de abril de 2000
0936. EU SOU BRASILEIRO DA AMÉRICA DO SUL
Eu sou americano
Da América do Sul
Sou brasileiro
Do Rio Grande do Sul.
Eu sou gaúcho
Homem de muita garra
Gosto do campo
Louco por uma farra.
Sou do Brasil
E amo esse país inteiro
Sou carioca
Vivo no Rio de Janeiro.
Quem quiser saber quem eu sou
Vá lá nas Minas Gerais
Fale com o Chico
E traga muita paz.
Sou do Distrito Federal
Foi em Brasília que te vi crescer
Sou pernambucano
Na Bahia ainda vou aparecer.
Eu sou capixaba
Com passagem pelo Rio Grande do Norte
Lá no Estado de Goiás
Só fica cabra que é forte.
Nosso São Paulo
Anfitrião de nordestino
Minha viagem por este Brasil
Me fez voltar aos tempos de menino.
Chegando em Sergipe
Fui direto ao Piauí
Tomando muita cajuína
E vendo um povo que só quer sorrir.
Eu sou maranhense
Vou cantar no Maranhão
De passagem nas Alagoas
Esqueci meu coração.
Eu sou de Mato Grosso
Cresci em Mato Grosso do Sul
Esse Brasil é grande por natureza
De Leste, Oeste e de Norte a Sul.
Eu sou do Acre
Mas moro em Amapá
Sou amazonense
Das terras do Pará.
Quando eu passar
Em Santa Catarina
Quero encontrar
Aquela linda menina.
Eu sou do Ceará
Em Tocantins tenho que ir
Eu sei que passo em Rondônia e Roraima
E é por isso que tenho de partir.
Mas na verdade
Eu sou americano
Daqui da Paraíba
Brasileiro, paraibano.
Conto os dias que passam
E nunca vou ficar atoa
Sou pessoense
Nascido em João Pessoa.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de de abril de 1998
0937. PEDAÇOS
Pedaços de letras
pelo chão
vão amordaçando
o meu coração.
Letras que formam
sonhos de mim
sonhos dos outros
uma melodia
tocada fundo
n’alma do poeta
menino.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de maio de 1983
0938. PEDAÇOS II
Letras que vão pela sala
na sala que mora
meus livros
lidos e relidos
na morada tranquila
da minha espera.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de março de 1987
0939. PEDAÇOS III
Pedaços que brotam
na sala que choram
pela morte
pela sorte.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de maio de 1987
0940. PEDAÇOS IV
Agora que todos sabem
que a sombra que assombra
os homens daquela ponte
são águas mortas
no chão que se faz pedaço.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de agosto de 1988
0941. PEDAÇOS V
Outubro chega
o mês é de fogo
e de pedaços
de paixões
cravadas no semblante
de aceitar tudo
por aceitar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de outubro de 1988
0942. QUEM CANTA
Quem canta
com a alma limpa
limpa os sonhos
de cada chegada
quem assim fizer
terá paz e sossego
aqui nesta morada.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1988
0943. BATE CORPO CANSADO
Bate corpo
nesse corpo suado
cansado do mundo
das incertezas do tempo
dos momentos perdidos
dos achados encontrados
das certezas do nada.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de maio de 1987
0944. QUANTA SAUDADE HABITA NO MOMENTO
De que adianta sorrir
se a saudade
que habita no momento
é causa justa
desta espera?
Somos saudade
quando a espera tarda
somos tristeza
quando a saudade
se desfaz...
Por enquanto
este habitar
guarda a lembrança viva
da saudade longínqua
deste sofrível momento.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1990
0945. DESILUSÃO PASSAGEIRA
Passou-se o tempo
com o vento frio
que molhava
meu semblante
de moleque.
Com a bermuda
da cor da terra
pus meus pés
na imundície
do pátio.
Fiquei desiludido
pra não poder
mudar o mundo.
Foi passageiro
o noticiário diurno
limpei meus pés
tudo passou
com o tempo.
Bento Júnior
Conceição-PB, 20 de janeiro de 1991
0946. ESTRANHO SILÊNCIO HUMANO
Caíste do galho enfraquecido
e silenciaste o canto dos estranhos,
enquanto o Homem implora o amor
a Mulher se envaidece de sonhos.
É silêncio! Ouve o filho perverso
na calada da noite sombria,
viveu a Mulher de mistérios
para amar o riso de agonia.
No pesar dos fatos ocorridos
e o silêncio às vezes indiferente,
andou o Homem a cantar pela vida
na causa da Mulher indecente!
Bento Júnior
Alhandra-PB, 24 de maio de 2000
0947. CÂNTICOS
Cânticos de minha terra
Que meu coração consola,
Pedes um canto que emperra
Minha raiva como esmola.
És razão de cantar forte
Para a vida ser bem melhor,
Em cada esquina, há morte
E em cada mão, um suor!
Bento Júnior
Alhandra-PB, 24 de maio de 2000
0948. NAS TERRAS DE CAFUNDÓ
Não tem nada no mundo
Que eu faça sem ter dó,
Já dei surra em menino,
Já cantei em Cafundó.
Cafundó era um lugar
Bem visto e delicado,
Moça casava donzela,
Ninguém era safado.
Cada festa que se tinha
Convidados eram bastantes,
Cafundó era respeitado,
Um paraíso dos distantes.
Meu compadre se aconchegue
E preste muita atenção,
Queira um causo contar
De Cafundó com gratidão.
Sei que sou cabra valente
E não abro pra ninguém,
Nasci em Canguru da Serra,
Canto pra ser na vida alguém.
Não importa o lugar,
Faça chuva ou faça sol,
Se tiver festa tô lá,
Sou cantador de Cafundó.
Bento Júnior
Alhandra-PB, 24 de maio de 2000
0949. DE TODOS OS SONHOS DE CRIANÇA
De todos os sonhos de criança
Sonho querer tua vida,
Sei que muito me custa
Saber de todos os teus sonhos.
Os sonhos são como abelhas,
Nas flores que se mudam,
Muito me admira saber
Teus sonhos de criança.
Criança é como brinquedo
Que faz criança sonhar,
Em cada lágrima sentida
Ali está o sonho de ser criança.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de maio de 2000
0950. TARDES SOMBRIAS
Naquelas tardes sombrias,
a folha do pé de tamarindo
vagava por entre as flores,
deixando o céu boquiaberto, sorrindo!
As tardes ensolaradas, quentes
como amor de Pai e Filho,
era o céu de um lado sorrindo
e o lago enfeitiçado de brilho!
Por que não cessa o vento
daquelas tardes de outrora,
cúmplice da Humanidade do agora?!...
O tamarindo que fora tormento
no passado das tardes sombrias,
hoje guarda o eco do vento em litanias!
Bento Júnior
Alhandra-PB, 24 de maio de 2000
0951. DORMIR EM CONTRA-GOTAS
Dormir na contra-mão
Dormir na contra-gota
Dormir sob efeito alopático
Sob efeito homeopático
Dormir na solidão da vida
Dormir na vida a sós
Sozinho no mundo de Deus
Sozinho na contra-partida.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 31 de maio de 1983
0952. MÚSICA DA ALMA
O coração da noite, em rimas condensadas
Recorda a plenitude dos dias de crespúsculo,
É uma nota musical das assanhadas
Mulheres das almas sem escrúpulo.
A música que se ouve por ouvir
Mostra em pequenas notas, a rima
Do falar da alma, no cair do porvir
Onde as assanhadas se passavam por menina
Menina em termos gramaticais
É o que se tem de notícia,
Assim era por ternura, a malícia
De comer as assanhadas, contentes
De tantas luzes, mas indiferentes
Na alma das mulheres anormais....
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de março de 1991
0953. UM CANTO DE RIR PRA TU
Um canto eu canto
Eu canto este canto bonito
Sei que cantas em mim
Um canto de sonhos perdidos
Canto este canto pra rir
Um riso bonito de ti
Canto para sorrir
Um riso penoso de ser
Quando se canta com riso
O riso se faz amanhecer
Este canto que canto
É feito somente pra tu.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de junho de 1990
0954. SERRA DO ESPINHO
Na subida de Pilões
Serra do Espinho
Minhas lembranças
Meu carinho
Na subida do amor
Um calafrio no peito
Lá distante da serra
Lá está a cidade
Da minha saudade
Que meu peito arde
Pilões na serra do espinho
Um frevo do bom
Minha canção de paz.
Bento Júnior
Pilões-PB, 08 de agosto de 1988
0955. FRACO
Sinto a pele arder por dentro, e sinto
a pele morder meu peito de poeta,
daqueles que sonham, está na testa
a escrita, e acreditem senhores, não minto.
Sou filho de homens de bem, e ainda
carrego a vaidade de ser na vida
um bondoso, dos bons, que na subida
da ladeira, cai e fica na berlinda,
esperando, quem sabe aparecer
no meio da noite, alguém forte
que possa tirar a fraqueza de morte
que abateu sobre meu ser
e dilacerou minha postura ética,
vivo hoje, fraco, perdi toda estética...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1988
0956. INFÂNCIA BREVE
Nas matas os cabatãs eram tudo
que meus olhos viam, para que mais tarde
pudesse fazer um cavalinho, uma baliadeira,
um brinquedo qualquer para minha infância.
Minha avó de um só grito conseguia
destruir toda brincadeira e me chamava
para tomar banho. Já era tarde, e como avó,
ela sabia a hora de me aprontar para o
passeio matinal.
No passeio, muito avelós passavam por mim,
e o cheiro de café vindo do centro
me enchia de vontade para logo chegar
em casa e comer aquela tapioca.
Tudo parecia uma eternidade, é como se
nunca fosse se acabar, e toda infância
se resumisse naquelas manhãs, tardes e noites
na companhia dos meus avós.
Meus avós paternos...
Meus avós maternos...
Uma diferença apenas no jeito do trato,
mas o trato florestal permanecia o mesmo.
O leite da cabra, o leite da vaca,
o agave, os pés de café...
o passeio por entre as matas, e ao voltar,
já com tapioca na mesa, café e bolo
para as visitas, ia na janela, e dela avistava
um passarinho na cerca do sítio a cantar,
quis por diversas vezes pegá-lo, mas
me conformei ficando a observar...
Minha infância tão breve!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1982
0957. RIO JAGUARIBE QUE PASSOU
Estudante e estudantes
Caminham nas terras
E nadam nas águas
Do Rio Jaguaribe...
Brincam de pega
E nadam sem nada esperar...
As horas se passam...
Os estudantes partem
Chegam tarde
Amanhã tem rio de novo...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de março de 1978.
0958. CASTELO
Não é castelo de pedra
Nem mesmo de barro
É bairro...
Lá me criei e amo
A terra que me viu passar...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1994
0959. A SOMBRA DA MANGUEIRA
Ela tem um verde que dá riso no rosto,
Pois, de cada fruto que dela, se alimentam,
Cantam sabiás nas tardes de domingo
E jovens enamorados se beijam ...
É sombra que dá sombra a tudo e a todos
Um convite ao sonho de ser feliz
Na mangueira o verde é tanto
Que a sombra é pouca pra tanta gente.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de março de 1978.
0960. QUIS SER MISTERIOSO
Sonhava desde menino, moleque atrevido
E se atrevia a desafiar o mundo
Com as calças emprestadas do povo
Que hoje busca ser misterioso... difícil é ser amado pelo amor
Que se acaba de arranjar, muito mais fácil é ser misterioso
E o amor romper fácil...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de maio de 1978.
0961. ACONTECE...
à Regina Kelly (pense numa pessoa)
Acontecem tantas coisas
Tantas coisas acontecem
Ela espreita o bem
Ela é o próprio bem
A mulher que mora ao lado
Em frente o ser amado
Ela mulher de lágrimas em pranto
O choro chorado que dá canto
A fala dos que nada percebem
O gostar dos que não conseguem
É mulher mãe que conheço de antes
Tanto tempo e ambos distantes
A distância do acontecido
A distância do não permitido
Viver na vida pelo eterno prazer
É paz, é sonho, num só viver
É coisa acontecendo
É luz em chama se aquecendo
Você em mim é claridade
Mulher, perdoa, só sei dizer verdade...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de novembro de 1989
0962. DISTÂNCIA
Uma vez
Eu comprometido
Ela comprometida
Nada feito
Discussão
Frialdade
Eu de cá
Ela de lá
Ela se chega
Beijos
Digo se ela pensou no que falei
Ela diz que sim
Da segunda vez
Eu me preparo
A chamo
Ela está só
Não vem
A outra impediria
Quando na verdade
Sou eu o mandatário
Me afasto
Ela diz que basta um toque
Não dessa maneira saindo
Os outros como ficariam
Ela está pensando em mim
Tudo bem
FriDistância
Crio idéias para impedir
Não consigo
Fala o que tem para falar
Fala do outro
Diz nada suportar
Ouço e me calo
Vou ao encontro
Beijos e abraços
Sensualidade
Há a terceira chamada
Diz que o outro tem compromisso
Que não está descartado
Qualquer coisa telefona
Abraços e vai embora
Não liga
Frialdade
Distância
Terça-feira noite
Compromisso de entrega
Vou embora
Não despedida
Quarta-feira noite
Pouco diálogo
A chave fora de cena
Falo do outro
Ela se explica e vai embora
Apenas palavras
Tem uma outra em cena
Os olhos brilham ao encontro
Quinta-feira tarde
Vou na sala
Abraços
Cabelos em cena
Fala amável
Vou embora
Pergunta para onde
Falo que chego e vou embora
Questiono duas
E você onde chega fica
Ou vai embora
Sexta-feira com o outro
Os olhares
Eu com duas em cena
Não se fala nada
Vai-se embora
Noite o encontro com o amigo
Casa de família
Ela o vê
Vai embora
Rumo ao compromisso
Distância
Frialdade
O que fazer?
Um próximo e talvez
Uma última vez...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de novembro de 1989
0963. DISTÂNCIA SEGUNDA
Uma vez
Eu comprometido
Ela comprometida
Nada feito
Frialdade
Eu de cá
Ela de lá
Ela se chega
Beijos
Me afasto
Ela está pensando em mim
Tudo bem
Não consigo
Fala o que tem para falar
Fala do outro
Sensualidade
Abraços e vai embora
Não liga
Frialdade
Distância
Quarta-feira tarde
Me distancio
Noite à ida ao encontro
O abraço no filho
Deixo a chave
Pouco diálogo
Apenas palavras
Quinta-feira distância
Sexta pela manhã
O toque nas mãos
A pergunta do vai para onde
A resposta que vai ao trabalho
Falo que chego e vou embora
Noite na casa dos familiares
Eu só em cena na visão
Da casa dela
Do sorriso dela
Do amor que sinto por ela.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de dezembro de 1989
0964. ESTAVA SENTADO
Estava sentado
Sem nada fazer
Sorrindo calado
Vivendo o prazer
Estava sentado
Esperando meu bem
Sorrindo e lascado
Sem ter ninguém
Estava sentado
Sem ter nem porquê
Sorrindo e endiabrado
Por tudo entender
Estava sentado
Querendo você
Sorrindo calado
Vivendo não sei o quê.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de maio de 1990
0965. NÃO TEMOS CULPA
Não temos culpa
dessa história
nasceu em mim
nasceu em você
Não temos culpa
desse romance
vive em mim
vive em você
Sei que dei início
você quis
nós dois queremos
Sei que dei início
você quis, você permitiu
não temos culpa
o sonho nos iludiu
Não temos culpa
o que ficou, ficou
não temos culpa
é simplesmente, amor...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de maio de 1993
0966. QUANDO O SONHO SE ATRAPALHA
Atrapalhado estou como um sonho estranho
No encalço do tempo em que o tempo chora
Entre tantos sonhos, entre tantos argumentos
O amor se perde, o amor se encanta
E o sonho de tantos planos vai-se
Pela vida entre tantas vida...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1990
0967. O VÍCIO QUE CORROI A ALMA
Estando só, plenamente só
Curtindo o sol, olhando o sol
Era que eu estava só
Até mesmo só
Não deu para ver o sol
É que o vermelho do sol
Não me vinha como de costume, só
E eu antes só do que mal acompanhado
Andava só, sem ter ninguém, sem
Nunca puder ver esse sol.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0968. A PAIXÃO DE POETA
Quando o poeta se apaixona
sai de perto tristeza
sai de perto melancolia
sai de perto incerteza
e só uma certeza
é certeza na certa
no coração do poeta
a paixão tão exata
no poeta de tantas letras.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0969. CAMBALEANDO PELAS ESQUINAS
Pedindo voto
vendendo voto
amando o voto
aposto no voto
gosto do voto
sei o valor do voto
sei quanto vale um voto
sei o valor máximo de um voto
amo o jeito grosseiro de pedir voto
amo todas as letras na petição de um voto
pelas esquinas pedindo voto
pelas esquinas perdidos no tempo de tantos votos
são os votos que são votos sagrados das esquinas do tempo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0970. COMENTÁRIOS ACERCA DA FESTA
Estão comentando
de forma alegre
o que foi a festa
na casa do Bento
nada de sofrimento
só loucura é o que importa
abrindo uma porta
sem chave e sem tranca
são os comentários da festa
que rolou à noite de tantos acertos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0971. UM LUGAR PARA CHORAR
Estava chorando sem ter um lugar
fui no açude e chorei
berrei na noite de lua cheia
berrei na situação encontrada
as águas balançando ao vento
e eu chorando, sofrendo, tímido
pelo amor de uma paixão
o sofrer entre todos os moradores
os quais ouviram todas as minhas dores.
Bento Júnior
Santa Luzia-PB, 22 de junho de 1986
0972. NÃO HÁ COMO FUGIR DAS INCERTEZAS
Estou fugindo, estou perdido, estou tímido
só porque não sei desabafar, só porque não sei chorar
tenho que fugir, tenho que ser rápido, ser ágil nas ações
de tantas incertezas o homem até hoje vive
o homem não consegue ser ele, apenas chora
fugindo de sua própira história.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0973. MUNDO, MUNDO INGRATO
o mundo que moro é mundo ingrato
é mundo sem vida, sem vida e paz
de tanto ser ingrato meu mundo
é este mundo que moro, deito e rolo
chorar se preciso, mundo, vasto mundo ingrato.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0974. O VÍCIO DO MOTORISTA
Beber...
O motorista bebe
e na volante ele bebe
de tanto beber o motorista
acaba no acidente
é vício profundo de tanto mundo
é motorista que bebe, farra e se entrega
que é entrega pouca nas poucas horas
em que esse valor numérico se confunde
com a boléia de um caminhão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0975. MULHER NOTA ZERO
Vai passando uma morena
como Alceu falou
é tropicana e de caldo de cana
é mulher nota zero
tudo que ela faz
é sinal de espera porque até agora
essa mulher não passa de uma mulher.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0976. O VÍCIO SONHA COM MEU BEM
o vício não bebia
porque dinheiro se acabaria
só assim, Bira
tua candidatura é vício
pelo café.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0977. PAIXÃO DE VELHO
o velho tão com vida
encontrou uma vida nova
quando namorou com a vida
da outra vida tão sem vida
o velho com toda sua vida
deu vida a vida morta
e juntos foram vida
para o resto da vida...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1983
0978. O BEIJO MAIS QUE PROIBIDO
O beijo mais que proibido
mexeu com meu umbigo
deixou-me em contratempos
em todos os momentos
todos os meus sentimentos
fracassos e tormentos
só os sofrimentos
surrupiaram meus pensamentos
viajei por todos os lugares
busquei o beijo em todos os altares
um tanto quanto proibido
foi dado nas quadras de todos os mares...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de setembro de 1983
0979. O RATO
Nas esburacadas ruas, os ratos passam
Cantando cantigas horríveis, frajutas,
Destas que arrepiam qualquer cristão,
E ainda comem alimentos da mesa.
Os ratos, mexericando com as baratas,
Passeiam e não notam outros ratos,
Loucos para tomarem o pão
Que os ratos acabaram de pegar...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de dezembro de 1980.
0980. SANGUE DERRAMADO
Sangue pelo chão
Sangue das veias
Sangue das peias
Sangue do coração
O negro sofrendo
O negro irmão
O negro perdão
O negro morrendo
Na senzala fazia medo
Na senzala havia horror
Na senzala era dor
Na senzala não tinha segredo
Segredo era morte
Segredo intolerante
Segredo constante
Segredo da sorte
Morria todos
Morria aos montes
Morria nas pontes
Morria nos lodos
As águas eram barrentas
As águas do engenho
As águas que tenho
As águas eram sangrentas...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1983
0980. FAZENDA
Santa Rosa, fazenda
Onde filhas no tanque
Banho tomaram... Ares de felicidade
Por todos os cantos se espalharam...
Os primos das filhas
O cunhado a banhar
Amigos que a vida
Nos fez encontrar...
Bento Júnior
Teresina-PI, 25 de junho de 2000
0981. UM CANTO TÍMIDO
Um canto tímido
Um canto destemido
Um canto contido
Um canto aborrecido
Um canto metido
Um canto aquecido
Um canto movido
Um canto assumido
Um canto bendito
Um canto mantido
Um canto atrevido
Um canto perdido
Um canto conhecido
Um canto aparecido
Um canto cambito
Um canto servido
Um canto partido
Um canto permitido
Um canto admitido
Um canto saído
Um canto interrompido.
Bento Júnior
Teresina- PI , 27 de junho de 2000
0982. VIAGEM CIDADE
Da cidade em que se está
Dentro de um carro
Sem o chão pisar
Vai-se a outra cidade
Apesar de um sol escaldante
Outro Estado se vai conhecer.
Do Piauí ao Maranhão
De Teresina a Timon
De Timon a Teresina
A cidade se encontra
Outra cidade...
Atravessando a ponte
Outro lugar...
Voltando da ponte
O mesmo lugar.
Bento Júnior
Timon-MA, 28 de junho de 2000
0983. PERGUNTANDO O TEMPO TODO
Você quer carinho? Eu mesmo não...
Você quer beijinho? Eu mesmo não...
Eu quero amor - eu quero amizade
Eu quero ser feliz... A felicidade está comigo
É minha compreensão.
Você quer a guerra? Eu mesmo não quero harmonia
Que transmite solidariedade para o todo e sempre.
Bento Júnior
Alhandra-PB, 23 de fevereiro de 1999
0984. DESPEDIDA BREVE
A despedida é algo
Algo de bem viver,
Quanto mais se despede
Mais voltas há de se Ter.
A despedida do Parque
Piauí foi destaque
Nessa vida de artista
Despedir é mudar de sotaque.
Em breve estaremos
Aqui de novo novamente
Sabemos que tudo a Deus pertence
Fazer planos, despedida exatamente.
Bento Júnior
Teresina-PI, 29 de junho de 2000
0985. FELIZ-MENTE FELIZ
Hoje
Estou feliz
Meu amor
Encontrei comigo
A ternura
E foi-se embora
A tristeza.
Estou pensando no meu amor
Ah! a minha vida
É muito complicada
Êita, lá vem ele de novo
Trouxe consigo a minha
Felicidade.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de fevereiro de 1999
0986. CANTO DE AMOR
Nos cantares do tempo
Em que o tempo não canta
Surge uma esperança
Do tempo de criança
Cantava um canto de amor
Nos arvoredos da vida
Entendia que o tempo
Era sinal de esperança.
Bento Júnior
Teresina-PI, 02 de julho de 2000
0987. SOLIDÃO DESAFORADA
Em meu peito solitário
De solidão, tantas já vividas
Mora um pássaro, que ao contrário
De tantos, cantar não é permitido.
E se cantar, será punido como tantos pássaros
Cantares, que canta e se sente atrevido,
É que o tempo anda nos ares. E por andar nos ares,
O peito de solitário se desafora, pois distantes desses
Mares, entre serras e montanhas,
Assim, ao redor dessa hora
Mora o solitário nessas entranhas.
Bento Júnior
Teresina-PI, 01 de julho de 2000
0988. DEZESSEIS NA PENEIRA
Na peneira de meu bem
Encontrei um lindo amor,
Junto dele um belo número
Dezesseis era seu valor.
Valor de grande estima que me fez um jogador,
Joguei milhar com dezena e dezesseis me fez ganhador.
Bento Júnior
Teresina-PI, 03 de julho de 2000
0989. METIDO
Metido em tudo
Em tudo se metia, era surdo, era mudo
Do mundo tudo conhecia.
Conheceu antigamente nas terras de dona Maria,
Uma dama, porém inteligente
Mas em tudo também se metia.
Saiu o metido abandonado pelo mundo,
Olhe ele que lhe era permitido
Se meter e ser vagabundo.
Metido em tudo, em tudo que via,
Pois quando não via, era de grande pavor,
E de tanto se meter em tudo
Deixou de ser mudo e surdo,
De tanto se meter, o metido falou.
Bento Júnior
Teresina-PI, 30 de junho de 2000
0990. NOVO PENSAMENTO NOVO
Ter pensamento neste tempo
É Ter vida longa nesta vida
Ter sinal de vidência no hoje
É Certeza que a vida
Não é apenas só hoje
É muito mais que o tempo
É um novo que surge
No tempo tão novo
De pensamentos novos
Pensamentos sublimes
Que se transfiguram...
Bento Júnior
Teresina-PI, 26 de junho de 2000
0991. APARENTEMENTE
Diante dos estragos
Desta sociedade intransigente
As pessoas e as gentes
Perambulam pelas calçadas e sonham
Que é melhor viver do que morrer
Só assim por um dia na vida
Elas são vítimas das aparências sociais.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1989
0992. TROCADORES
Troca o dinheiro trocadores,
Troca o que de fato é trocado,
Assim na vida, há troco trocado
E por ser troco, o troco é dos trocadores.
Assim trocando a rabeca de bar
Em bar da vida noturna, ouve o cantar
Dos boêmios que trocam o dia pela noite
E na noite se sente tão bem que o bem
São trocados por nada no nada do troco
De dinheiro em dinheiro da vida.
Há troco para ser dado, trocadores
De dinheiro muito de troco não dado.
Bento Júnior
Salvador-BA, 15 de julho de 1988
0993. MOLEQUES TOCADORES
Toque um toque de toque bonito
Moleque pecado do pecado do mundo
Quisera um dia na vida na vida do moleque
Ser tocador dos bons pra tocar
O amor, o sonho e a esperança...
Moleque que toca um toque bonito
No corpo tocado de toque marcado
Moleque é tocador que toca bonito
No pátio dos sonhos na hora marcada
Um canto moleque no amanhecer
Desse canto de canto pecado...
Moleque o sonho começa
E temos que ir embora
Arrume os troços do toque
Vamos dar o fora
E hora de cantar no descanso
Valeu pela tarde da noite
O dia pra nós foi manso...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de junho de 2000
0994. VOLÚPIA DE NÃO MAIS QUERER SER
Acorda-te deste desalento,
dilaceras por inteiro meu coração.
Lá fora a fuligem anda solta
e a escória se afronta na contra-mão.
Acorda-te e tomas um lenitivo,
o efeito será tua proeza.
Vives no ópio, hoje bem mais
pungente, resfolegando, com certeza.
Acorda-te, ainda és rutilante,
tua estrela é volúpia da sociedade.
Quem tem amigo se sente turuna,
um mirone que não forja a verdade.
Acorda-te, a vida é multifária,
e com essa coriza grudada em ti,
não conseguirás nem mesmo o arremedo,
e sim, atrozes no teu caminho vais possuir.
Acorda-te, estou antevendo
o teu futuro sorvendo-me por completo.
Enxergo as labaredas desse sensato
homem, embuçado além metro.
Bento Júnior
Campina Grande-PB, 24 de fevereiro de 1995
0995. ZUMBI REI DOS PALMARES
Até hoje não existiu homem como tu
que lutou pela liberdade de tal maneira
que entregou a sua própria vida
em defesa da libertação negreira
Até hoje não existiu homem como tu
que já nasceu com o destino traçado
de proclamar a independência dos negros
e lutar sem se importar que para a morte estava marcado
Zumbi dos Palmares
homem de raça
um grande guerreiro
que fez de sua coragem
todo o seu viver
e por este povo
o seu morrer
Zumbi Rei dos Palmares
homem de coragem
que seja símbolo para
homens e mulheres
Por que obrigaram-te
a fazer uma viagem para o Recife?
E para o teu Quilombo
nunca mais voltaste
Zumbi Rei dos Palmares
que seja sempre lembrado
como um homem de verdade
que lutou e morreu
até o fim pela nossas liberdade.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1995
0996. SÍMBOLO DE RAÇA
Quilombo
era assim que chamavam os negros
o canto dos escravos foragidos
o mais importante entre eles
foi Palmares
foi um quilombo combativo
Como arte
capoeira
trabalho e agricultura
tudo faziam dos negros
apesar da vida dura
Os senhores de engenhos
queriam de volta os escravos
que eram marcados
com ferro pegando fogo
e procuravam em terrenos devastados
Até que um dia encontraram Palmares
foi uma batalha bastante sangrenta
morreram tantos negros
Palmares se transformou no símbolo
no símbolo de uma raça
no símbolo de uma raça.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1985
0997. CIDADE VISAGEM
a coragem
da cidade
é mistério
é aparência
a visagem
se transformou
em flores
a cidade se encantou
foi mistério
sim, senhor
as flores
desta cidade
causam bastante espanto
o mistério guardado nela
é aparência sim, senhor
o mistério
enquanto visagem
voa o mundo
entre flores
a cidade quando dorme
perde o sono
sim, senhor
a aparência
da cidade
é forma quadriculada
as flores que dela brota
é mistério sim, senhor.
Bento Júnior
Bento Júnior Alhandra-PB, 02 de março de 1999
0998. HOTEL GLOBO
Da natureza que tudo encerra
e da serra que o homem passa,
a sombra da árvore enlaça
outroras vidas desta terra.
Em tudo que se olha, luz se tem
e portanto: o Globo é monumento.
Este que hospedou no tempo do vintém
personagens que hoje é só pensamento.
O Hotel Globo de tantas relíquias e procuras santas,
planta a esperança do agora.
O Hotel Globo causa saudade,
sozinho num canto, em verdade
é orgulho daquele que por aqui ainda mora.
Bento Júnior
Alhandra-PB, 02 de março de 1999
0999. POETA MALDITO
Malditos os sonhos que falam do amor,
mesmo esse amor que tanto procuro;
por enquanto o caminho é de dor,
e a vida pra vencer tem que dar duro
Malditos os caminhos que me levam ao amor,
mesmo esse amor que tanto insisto;
a vida tem coisas e nos causa terror,
a busca é fértil, mas portanto, desisto.
Malditos os insistentes na busca do amor,
mesmo esse amor que tanto vasculho,
no sótão da vida, o sonho é bagulho.
Malditos os procuradores da arte do amor,
mesmo esse amor que tanto lamento,
nessa agonia, traga-o por um momento.
Bento Júnior
Bento Júnior Alhandra-PB, 03 de março de 1999
1000. A CIDADE DORME
Perplexos olhos de sono insistem
em frente a uma tela de computador
exigindo inspiração e tudo confuso
nos olhos a espera de uma certeza
que brilha na lua tão cheia e serena
e aqui o poeta procura a ilusão
confia na paz destes que dormem
nas suas dormidas de lençóis ao vento...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de setembro de 1995
1001. DEZESSEIS SOLDADOS
Quinze soldados passaram
E voltaram felizes da vida
Ganharam fama e dinheiro
Foram heróis de uma batalha
A batalha do Amor
Viveram os soldados felizes
Amando uns aos outros
Um soldado viveu e foi artista.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de julho de 2000
1002. EM CIMA DO CORAÇÃO DE POETA MORA
UM ANJO INTRANSIGENTE
Dizem que os poetas vêem o mundo
com os olhos diferentes. No amor ele sente a dor,
que queima o coração doente. Na dor ele busca
o amor, que alivia e nos faz contente.
Fogo, água, terra e ar são mistérios a se desvendar,
poesia da natureza.
E a morte o que achas dela?
É a continuação da vida e não há quem fuja dela.
Será ele intolerante por não querer crê no que os olhos vêem?
Por amar como um louco, o simples fato de ser um ser?
Todo poeta sonha acordado
e canta como um tenor afinado,
pelo amor que ficou acuado
no coração de seu bem amado.
Intransigente é esse anjo diferente
que vê na dor e na solidão o despertar de
uma paixão célere como uma estrela cadente.
Se o poeta não sonhasse
e como todos, acreditasse
que o mundo é apenas mundo;
a magia acabaria e ele se sufocaria
na sua monotonia.
Que seja um anjo intransigente, ame e cante livremente:
-Viva a vida com emoção!
E que esse louco apaixonado
nunca deixe para o lado esse dom alucinado
de ver o mundo com o coração.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de novembro de 1982
1003. GRITO OBSCURO
Quanto mais eu grito
menos eu falo
Quanto mais eu falo
menos me escutam
Quanto mais eu penso
nada faço
Quando penso em fazer tudo
nada faço
nada querem de mim.
Se silencio meu grito
por não me ouvirem
por não querer nada de mim.
Pois nada pra mim eu faria
se nada por ti nunca fiz.
Se silencio meu grito neste silêncio
por que esperam de mim a minha voz?
Voz que nem eu mesmo tenho.
Por que o silêncio calou a minha voz?
Quanto mais eu grito
menos eu falo.
Quanto mais eu falo
menos me escutam
porque o silêncio
calou a minha voz?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 16 de novembro de 1982
1004. NA POEIRA DA VIDA
Um caminhão que passa
Veloz igual ao vento.
Canta um sabiá no laranjal
Bem-te-vi vem no quintal
Cantam um canto afinado
Minha infância vai no caminhão...
A viagem com poeira de estrada
Segue os passos da caminhada,
Andam mulheres e filhos,
Cantam cantadores na feira...
A lua de cima espreita
A multidão de baixo agradece,
Segue o caminhão sua trilha,
Fica poeira de recordações.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de janeiro de 1984
1005. PARADA E PASSADA
Numa cidade sem ter idade
Morava Maria, filha mais velha
De um casal caipira que sem saber
Soltou Maria ao mundo
Que deu ao mundo
E pela idade de Maria
Sofreu o caipira
Maria deu Maria
Que foi criada pela caipira
Numa educação sem educação
Maria cresceu e deu Maria
Morreu Maria mãe de Maria
Avó de Maria que até hoje dá
Pelo mundo e se organizou
Fundou associação e ganha fácil
Vendeu Maria ao mundo
Aquilo segundo ela diz
Que a terra um dia há de comer...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de dezembro de 1990
1006. SANTO DE CASA FAZ MILAGRE
Santo de casa, escondido entre sete chaves
Condecora um cidadão deste mundo
Que entre aplausos e delírios busca
Se entender o porquê de tanto grito
Na entrada triunfal do filho da terra.
Todos de pé pedem mais voltas
Ao mundo do filho de casa que da casa
Nunca saiu e é orgulho da cidade...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de agosto de 1984
1007. MORTO E ESTRAÇALHADO
Vivendo e sendo amado pela vida
O tempo vai se desgarrando
Das unhas de quem tudo teve
De quem sempre sonhou
E o sonho realizou...
Agora morto e estraçalhado
Se encontra aquele senhor
Que no passado foi o que hoje não é
Bêbado pela vida e mesmo assim sendo
Amado e estraçalhado de amor...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de dezembro de 1990
1008. UM CANTO PARA MENINA
Menina, onde tu moras
Lá longe canta o bem-te-vi
quando de mim foste embora
meu coração se quis partir
Menina, quando passas
para a cidade
leva contigo
minha saudade
Menina, quando chegares
trazes novidades pra mim
um bom-bom de bom tamanho
e na roupa cheiro de carmim.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de dezembro de 1983
1009. ASSOMBRADO NA MULTIDÃO
Vejam vocês, o que comigo aconteceu
Um padre de uma cidade, que a muito tempo morreu
Apareceu entre a multidão e um vinho me ofereceu
Era o vinho da missa passada
Que todo domingo na hora contada
Se via o padre com cálice na mão cortada
Em briga de vizinhança
Que o padre por esperança
Perdeu a vida por causa de uma moça da França
Uma senhora bem vestida e arrumada
Que se aproximou e foi logo desejada
Por aquele padre, mas não passava de uma safada
E com toda esta fama que tinha
Vivia a fazer pouco, até de uma galinha
Que dava de beco em beco, se chamava candinha
Esta francesa ao padre foi confessar
E foi logo dizendo que queria se casar
Não importava com quem, queria se vingar
O padre sem nada entender do assunto
Disse: Madame sente, tome um presunto
Conte-me tudo, porém agora muito
Me sinto a vontade para lhe ouvir
Não se incomode se eu sorrir
Queira amar sem se iludir
Pois casamento é bom, saboroso
Quando amado, precioso
Sendo assim é que é gostoso
A francesinha já de olho no vigário
Foi tirando a blusa, disse otário
Chupe aqui, este é o confessionário
Que tenho bem quentinho
Para lhe oferecer, padre fresquinho
Prove meu peito, se safadinho
O padre já doido e meio da vida
Foi dizendo que era pecado, e foi dando saída
A moça pegou-lhe, aqui é sua guarida
Faça de mim o que bem quiser
És meu amado, sou tua mulher
Pronta para te dar, meu amor com muita fé
Aí o padre um pouco na indecisão
Foi abrindo aquele vestido, o peitinho virou peitão
O padre mordeu com precisão
Gemia o vigário junto daquela francesa
O gemido era de pura franqueza
O sexo da moça com a grande alteza
Naquele ato libidinoso que havia
Sacristão na batina batia
E gritava: “viva o corpo de Maria”
Nisso chegou um senhor de grande estima
Invadiu a igreja em busca de uma menina
Foi embaixo, pensou, foi lá em cima
Ao chegar na torre paroquial
Encontra um ato sexual
Desesperado ficou feito animal
Irracional, furioso e valente
Voltou, cheirava a aguardente
Subiu feito um demente
Matou o padre de um tiro só
E ela apenas com um nó
Matou também, e o que é pior
O sacristão ao perceber tal episódio
Foi socorrer o padre Custódio
E vendo a moça morta ficou com ódio
Pois não mais seria o mesmo sacristão
Naquela igreja, dóia seu coração
Era triste, pensava: “que missão!”
Foi feito o velório do padre e a estrangeira
Muitos foram ao enterro, conversa pra semana inteira
E eis que o padre me aparece em plena feira
Eu sou lá de beber vinho, assim desse jeito
Não quero receber no fundo do peito
Uma bala errante e morrer no leito
Agora entendo a vida feita de incerteza
Quem tem missão cumpra, esta é a certeza
Na multidão um dia quase perco minha beleza.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de março de 1983
1010. ANIMADOS PARA O BAILE
Amigos a gente encontra
Em qualquer lugar
Em cada esquina
Em cada rua
Em cada tempo
Do jeito que a vida dar...
Amigos quando se encontra
Preservar é muito bom
Um baile com o amigo
É mais baile, você vai gostar...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de janeiro de 1980.
1011. ACABRUNHADO
Um Tanto desajeitado, um riso acanhado
De sentimento entre os poucos,
Assim é esse povo entre muitos,
Que entre tantos, vive guiado
Pelas rédeas da economia mundial.
Um povo um tanto descrente, com capacidade,
Mas, incapaz na atitude de ser Ele,
Compra o que plantou, e quando come,
Paga o imposto, do pouco que lhe sobrou,
E ainda veste a camisa do império que lhe explora.
Um tanto ciente, perdido no meio do caos
Das incertezas, louco sem ter loucura,
Pois a loucura que nEle se agrupa,
Não serve à investida frente ao poder,
Que sucateia o País, o Mundo, e é força intransigente.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 25 de julho de 1995
1012. NESTE CHÃO DE MORTE
Neste chão
Onde a encruzilhada
Se fixou,
Morreu o anjo
Que de santo
Só era Amor,
Caiu no caminho
E nunca mais
À terra voltou,
Era anjo sorridente
E de tão contente
Burlou a dor,
Sua dor serviu
De lição ao coração
Do anjo ator,
Fez teatro
E mesmo criando
Jamais se conformou,
Antes de morrer
Sobre a injustiça
Consigo pensou,
Morrerei feliz
Neste chão
Que me pisou!
Bento Júnior
Alhandra-PB, 23 de julho de 2000
1013. APESAR DA HORA MARCADA
Arrisque um palpite
Desses que a mente
Se aproveita do momento
E se mete a marcar hora
Na hora imprópria
Quando dois encontros
Não sendo encontros
Encontra a hora
Que mesmo não sendo marcada
Fica cravada no tempo
De quem se diz encontrado.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1983
1014. ANGUSTIADO PELA NOITE
Lá entre tantos poetas
Na noite suja de bebida
Lá ia caminhando pelas calçadas
Um fazedor de versos
Que entre um gole e outro
Pensava ser doutor
E sendo doutor
Caía no sono e sonhava
Angustiado pelo mundo
Sem rumo e sem parente
Um demente entre tantos
Que mesmo na multidão
Se sentia um perdido
No mundo da ilusão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 29 de março de 1985
1015. SOLÍCITO AMIGO
Passando ia pela rua das amarguras
Quando de longe de uma janela,
Avistava uma figura pálida e sorridente
Que de tanto vê-la ficava contente
E é claro, logo quis saber o nome dela.
Por achar complicado a subida
E subir não seria o desejado,
Meti meus dedos de expectativa
Para entender aquela voz ativa
Que de tanto falar, ficara calado.
Aí meus sentimentos de menino
Um tanto fora de circulação,
Conseguiu decifrar o enigma da fera
Que sendo bela, era a espera
De todos que lhe botasse a visão.
Eis que numa noite de chuva
Chovendo e como não querendo parar,
Dei de garra de minha vontade
E subi ladeira, sem vaidade
Para então consegui conquistar.
Subi, e quando lá cheguei
Entusiasmado pelo acontecimento,
Chamei-a pelo nome que tinha aprendido
E quando surge, logo fico arrependido
Não era nada de Livramento.
A voz grossa e afinada para conquista
Deixa-me em contratempos medonhos,
Pois quando soube do que se tratava
Achei logo um jeito, para ver se me mandava
Para bem longe, mesmo que fosse em sonhos.
Como pode isto acontecer e logo comigo
Que de tanto ser severo, mais uma tinha aprendido,
Para não arriscar tanto, primeiro estudar o caso
Só assim não ficaria tanto raso
Tendo até medo de contar o acontecido...
Bento Júnior
Mulungu-PB, 12 de março de 1984
1016. A MINHA DOR
Comigo, trancado a sete chave tenho,
Não o que pensam os maldosos, enfim,
Tenho forças entre dentes para lutar,
E se preciso, espantar para longe esta dor,
Dor esta que sinto matando meus compassos
De ser o que busquei em sonhos, quando em sonhos
Sempre tive a realidade, mesmo que a realidade
Fosse desbotada, porém o importante foi o amor,
Este que vai me corroendo por dentro
E perfurando o instinto pouco a pouco,
Pois cada silêncio que se ouve, muito mais
Silêncio se forma na minha famigerada dor,
Que no dilema do não fazer o certo,
Em que o certo se torna implacável,
Mora o perigo de não ser vida,
Apenas habito com pavor!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de março de 1983
1017. NEGRO AMOR
Um negro amor de negra pele
Em mim sem querer pegar
Pegou e quis ficar
Ficando foi tomando conta
De todos os atos em saltos
Que me palpitavam o olhar
Quanto mais de amava
Mais amor buscava
No corpo de suor a pingar
Por todo espaço em esparros
Que assombrou o mundo
E no mundo me fez sonhar
Sonhos de meninos lúdicos
Que espiam chuvas em gotas
E bebem água para amar
Um negro amor em mim ficou
E indo embora nunca mais voltou
Deixou no coração o vazio
Pois todo aquele passageiro cio
Condicionou-me a muito mais de negro gostar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 1986
1018. CAMINHO DOS VIAJANTES
Vai viajante pela vida a rodar
Anda por este caminho
Descobre teu verdadeiro ninho
Plante a semente e fruto vai dar...
Não se sabe em qual tempo
O tempo vem na hora certa
Por favor viajante, deixe a porta aberta
Espante todo este contratempo...
Que vai tomando de conta
De todo este imenso espaço
Pois o viajante manda-te um abraço
E sonha com aquela ceia pronta...
Na mesa a esperar o viajante
Com arrumação às costas
Um suor no rosto às mostras
É a volta do nosso caminhante.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de abril de 1990
1019. EM CADA ESQUINA DESTE LUGAR
Em cada esquina que existe em mim
Há sombras sonoras que me consolam
Sou feito madeira de lei de boa qualidade
Quanto mais velha melhor de se ter
Sou como madeira de lei
Quanto mais velha melhor de se ter
Em cada esquina que passo
A sombra do mundo me bate a tristeza
Sou como a esperança que cedo mais tarde
Algum dia há de chegar...
Bento Júnior
São Bento-PB, 17 de junho de 1986
1020. APRESSADO AGORA
apressado e sorridente
saio na vida contente
buscando em cada caminhar
o encontro com o leito do mar
sorridente e feliz
canto como aprendiz
buscando ser de tudo um pouco
um pedaço de cada louco.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1983
1021. JÁ É TARDE
Nesse instante que o instante
apavora os sentidos de poeta,
as mãos como não querendo
ficam a pensar na hora...
A hora é longa e o dia se passa
como as nuvens que plagiaram,
não plagiaram apenas o silêncio
que morava do lado das nuvens...
Já é tarde nesse instante de tempo
pois o tempo que é tarde,
sonha com o agora que fica
entre lágrimas e olhos que cantam...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de maio de 1983
1022. CASO A CASO
Um dia quase chuva
O guarda-chuva molhava
O rosto do camarada
Coberto de água por toda face.
Com os cabelos ralos
Caindo sobre a sobrancelha
Caminhou, tombou e caiu
No quinto andar do elevador.
Chorou multidão
Surgiu a polícia
Queria saber caso por caso
Qual resultado de tal tragédia.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de agosto de 1984
1023. ACABANDO
Acabado e mal-amado
Estraçalhado e maltratado
Esfarrapado e abandonado
Condenado vive Maldonado
Um senhor aloprado
Que fez do sonho guardado
Esperança num dia contado
Errou o alvo e matou o soldado
Sofreu o pobre coitado
Que mal lhe fez a vida
Maldonado?
Bento Júnior
Santa Luzia-PB, 14 de junho de 1986
1024. QUATORZE ANOS E MAIS
Completou quatorze anos
Era linda como pétalas
Sonhava com os quinze
Que certamente passaria só
Quisera naqueles quatorze anos
Saber dos segredos que rondavam
A cabeça daquela mulher
Era linda como pétalas
Caindo ao vento
Como o vento que balançava
Aqueles lindos cabelos
Volte para viver quinze anos
Em sonhos com o poeta
Que além de versos
Tem em mente muito mais...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de agosto de 1986
1025. FILHAS E MÃE
Ouço a cantiga de longe
de longe ouço a cantiga de três
que cantam ao som da natureza
no balanço da rede de tarde
de domingo enfadonho...
São cantoras da tarde
no canto dos pássaros
no surrupio da rede...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de maio de 2000
1026. MOLECADA
Esta turma é legal
Não gosta de confusão
Cada um na sua rua
Joga bola
Empina pipa
E roda pião
Sou o guarda desta praça
Gosto desta meninada
Tenho fama de durão
Não posso perder o emprego
Este é meu ganha-pão
Esta turma é bacana
Disso nós temos certeza
Obrigado criançada
Vá com Deus no coração
Quem quiser ver brincadeira
Nesta praça tem de montão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de junho de 1984
1027. UMA CANTIGA DE BOI
Boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa criança
Que tem medo de mutreta
Boi, boi
Boi da cara vermelha
Pega essa criança
Que tá subindo na telha
Boi, boi
Boi da cara azul
Pega essa criança
Que foi pro Norte e pro Sul
Boi, boi
Boi da cara verde
Pega essa criança
Que tá morrendo de sede
Boi, boi
Boi da cara amarela
Pega essa criança
Que caiu na esparrela
Boi, boi
Boi da cara branca
Pega essa criança
Que foi pra Zona Franca
Boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa criança
Que tem medo de careta.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1980.
1028. A ARTE DO YOGA
Fazemos Yoga e temos paz,
quatro elementos
estão entre nós.
Viva a água, a terra,
o fogo e o ar,
nesta vida não estamos a sós...
Temos fé neste mundo
de meu Deus,
aprendemos a lição de ser ator.
Dividimos o pão com emoção,
quatro elementos ,
em nós, com muito amor.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de abril de 1997
1029. JÁ É TARDE POR DEMAIS TARDE
É tarde. Altas horas. Onde me encontro?
Tenho sede. Por que tenho fome?
A noite foi feita para dormir,
Não me tirem o sono assim...
É tarde, muito tarde da noite,
Os galos estão calados,
Os cachorros latem, é bastante tarde...
Vamos dormir que amanhã é dia outro
Para se fazer outras coisas...
Precisamos dormir para o amanhecer
Despontar no céu do meu amor.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1983
1030. CALE A BOCA E FIQUE CALADO
Você não entende do assunto
Cale a boca e fique calado,
Cole a boca com cola boa
E por favor fique parado...
Não saia do lugar, não
Que as palavras vão começar,
Guarde as armas e fique calado...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1983
1031. RECORDANDO VELHOS TEMPOS
Aqui ouvindo o rádio
ouço a canção do nosso amor,
hoje ela não faz tanto sentido
é a vida que nos causa dor,
mas também alegria,
é como o céu que banha o mar
no pensamento da criança
que quer pegar o céu.
A música me leva tão longe
assim num voar louco,
sonhando acordado em transe
para ser feliz apenas um pouco.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1983
1032. VIA MUNDO
Os olhos teciam as vozes
entre bocas suadas
de sonhos cansados
As bocas bebiam o silêncio
das vozes em transe
de roupas errantes
As vozes que eram tantas
e por serem tantas no mundo
não viram o mundo
O mundo de tão pequeno
cresceu em todos os caminhos
O caminho que tece esse ninho
de sonhos e sonhos...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de março de 1984
1033. METIDO A BESTA
Passava todos os dias
Em frente da casa do Avô
Um cara metido
Que se metia em tudo
E de tanto se meter
Era chamado de besta
Era tanto besta na rua
Que dava pena ver tanta besteira.
Bento Júnior
Solânea-PB, 08 de julho de 1986
1034. ASTRO ESCRAVO
Na mão direita
Em vez de uma roseira
Coube uma arma
E de cada tiro que foi dado
Restou uma bala
Que foi chupada
Pelo moleque
Da primeira esquina
Choravam milhões
Forjaram o astro
Morreu como escravo
Na mão direita
Tinha uma flor
Que murchou com o tempo
Ficou a arma
Ficou a bala
Ficou a injustiça
Ficou o choro
Ficou a mãe
Ficou o pai
Ficou o mundo
Distantes da roseira.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de maio de 1990
1035. NOVO HOMEM
Vestiu-se de novo
E saiu pelas ruas a gritar
Seu grito era tanto
Que ecoava em todos
os cantos de toda cidade
Não se pedia roupa nova
Todos queriam um novo homem
Mas um novo homem de pensamento.
Bento Júnior
Campinas-SP, 13 de outubro de 1987
1036. APARENTE
Era alguém solitário
Que de aparência vivia
E vivendo de aparência
Falar dos outros vivia
Era a sua ciência...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1989
1037. DESGASTE
Os caminhos tortuosos da vida
Passam os anos. Fico na espreita.
Por que não passa essa lida,
Esse sonhos que me enfeita?
Vou morrendo aos poucos
Como morre o amor dos loucos,
Caminhando pelas calçadas
Hão de encontrar-me de calças rasgadas...
E assim, entre tantos desgastados,
Sou eu o mais desgastado.
Por mais que me esforce no agora,
Sou no futuro o homem que hoje chora.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1983
1038. DE OUTROS PROBLEMAS
De outros problemas
o mais que se tem,
uma calça velha
e uma camisa suja...
De outros problemas
que outrora passei,
com a calça suja
e a camisa que rasguei.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de abril de 1981
1039. CHEGOU
Dedicado para Catarina Dias de Carvalho (Minha Filha)
Catarina chegou
Seu sorriso ficou
Na garganta do pai
No olhar da mãe
Catarina é amor
Pensando em Catarina
Meu olhar se encontrou
Catarina é um doce
É um doce de amor.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 22 de fevereiro de 2003
1040. NAS ONDAS DO VENTO
Nas ondas do vento
Do cheiro do mar
Os olhos de criança
São olhos que choram
De bocas que cantam
Pescadores sem peixe
A rede vazia
Barriga a gemer
O pão está faltando
Aqui nas ondas do mar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de março de 1983
1041. NESTE CHÃO
Ah! se eles soubessem o que sinto
não viriam falar de ódio, assim
neste momento vão, onde o diabo anda solto
na calada da noite...
Ah! se elas soubessem do que já senti
não me falavam do que falam
e assim, como não querendo e querendo
vou ficando por aqui...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de maio de 1984
1042. CANSADO ESTOU
Cansado estou
Estou muito cansado
Cansado estou
Estou muito cansado
Quem falou
Não falou por maldade
Falou porque
Quis dizer a verdade
Estou cansado
Cansado estou
Número marcado
Quem não veio, faltou.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de março de 1983
1043. VOU DAR UMA
Tô terminando o serviço
Pra dar bem devagar
Ela me espera tranquila
Sei que é bom e vou amar
Não precisa muita pressa
Devagar se chega lá
Vou dar uma e vou gostar
Quero vê se ela vai chegar
Não adianta correria
Devagar se chega lá
Vou dar uma pela cidade
Final da tarde vou chegar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 05 de setembro de 1980.
1044. POR QUE POESIA?
Sabiam que não sei qual o sentido
Da arte poética ?
Não sei a resposta...
A frase é semente
Que brota da palavra fruto...
Poesia vai rimando
Poesia sem rima
Poesia quando se está amando
Poesia de menino e menina...
Por que fazer poesia
Se a vida já é em si uma poesia?
Talvez alguém tenha que descrevê-la
Que mesmo falando não se terá
O documento desta arte...
Escrever a vida na poesia da vida...!!!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 07 de dezembro de 1990
1045. ONDE ESTIVERES, CANTES
Onde se escondeu aqueles pedaços
de panos que o destino me entregou?
Quero de pronta entrega, aqui comigo
sou de tudo, um louco que se cansou
das incertezas do agora, das ilusões do presente
que em muito me deixou, cético e controvertido.
Nas impurezas do ontem, a podridão é mais forte
e meu amor por si só, mente por ser metido.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1983
1046. SAINDO DE CASA
Bem cedo, logo cedo saindo
de caso ao trabalho, mas que trabalho!
De casa ao mundo, um passo bem firme
os olhos que me olham me falam do tempo
de tempo de crise, e não quero saber
pouco importa a política, a política que faço
é sair de casa e me ter só pra mim.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de maio de 1983
1047. INCAPAZ DE SER DESSE MUNDO
Caminho. Paro. Penso. Reflito. Incomodo...
Nessa inconstância de vida, divido o sim
Pelo não. Não sigo regras e nem padrões,
Sou autoritário comigo. Gosto de sonhar para sorrir
Em vida. Existo, porém desisto de ser
O que eles pensam. Vou caminhar...
Preciso e depois vou embora. Paro no trânsito
Para congestionar meus sentimentos.
Agora penso. Penso na reflexão do mundo,
E por ser tão grande mundo, vivo noutro,
Distante de tudo e de todos. Incomodo
Muita gente. Vou dormir. Acordar. Pare
As teclas que preciso perceber o quanto
Somos capazes de sermos incapazes...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de julho de 1990
1048. PRAIA AZUL
Praia de Jacumã
Onde o azul se faz presente
Mora bicho, mora gente
Voa alto a ribaçã
Praia de Jacumã
Amigos da bebedeira
Quando se diz que é derradeira
Todo mundo fica sã
Jacumã praia azul
Teu céu lindo e bonito
É proibido ficar aflito
Em Jacumã, um passo pra ficar nu.
Bento Júnior
Conde-PB, 08 de outubro de 2000
1049. DIA DA CRIANÇA
É que o tempo não pode
e nem deve parar,
não pelas palavras do poeta,
e sim, pela fragmentação
da palavra...
Esse dia foi de cão, mas sendo
cão o tempo tem que parar...
O mundo gira, girando numa rotatividade
sem tamanho e sem fim...
Vive a criança a chorar e a sonhar
enquanto o adulto lhe tira o pão
e lhe deseja bom dia ou boa tarde...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de outubro de 1983
1050. SENHORA DONA DA CASA
Senhora dona da casa
Cheguei aqui pra dançar
Uma cantiga bonita
Feita pra gente cantar...
Senhora dona da casa
Estou aqui pra te amar
Um amor meigo e suado
Feito pra gente sonhar...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1984
1051. OS ESCONDIDOS DO PAI
Se escondeu e não sei para onde foi.
Talvez, num lugar onde nada se esconda,
Ele, com seus metros de altura, possa
Se esconder, e quem sabe, fugir...
Fugiu o pobre cretino e não correu mais
Do que poucas léguas. Pegaram o cretino
E puseram fogo na boca.
São os escondidos do pai que moram
Do lado da rua de casa... Foge para longe!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 14 de maio de 1983
1052 - ESCONDIDOS DA VIDA
Escondidos de tudo, escondidos da vida
na vida não é nada, nada na vida...
Ganha pouco de tudo e de tudo
vai ficando pouco na vida...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1982
1053. SOMBRAS ARDENTES DE MIM
Por onde passo
uso o compasso
e quando algo faço
caio em fracasso.
Saio do mundo
e entro no laço
sinto um abraço
e nesse descompasso
perco as sombras
que traço...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de setembro de 1987
1054. FORMIGA PRESEPEIRA
A trabalhadora trabalhou
o dia todo, e como de costume
água bebeu, zangada ficou.
Recebeu pouco pelo trabalho
de cinco da manhã às cinco da tarde
passaram-lhe a perna.
Chorou com razão, pobre formiga
que ainda teve tempo
de ferrar seu patrão e picar
a plantação por inteira.
Gritava os presentes:
“Que formiga prezepeira! “
E assim, durante toda a semana
ficou a formiga desempregada.
Que desempregada, que nada!
Ficou carregando folhas
para o seu mais novo amor.
Encheu de conforto sua cama
e durante uma semana
não saiu do seu lugar.
Bento Júnior
Campina Grande-PB, 14 de março de 1985
1055. CONJUNTO DE SONHOS
Conjunto de sonhos
de sonhos desconjurados
tal como as abelhas
nas colméias do tempo
que cantam ao vento
o dia não vindo
e assim, sobrevivendo
vão os homens
sonhando sonhos
desconjurados...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de janeiro de 2001
1056. CANTIGA DE ONDAS AO VENTO
As ondas do tempo
são águas da cor
do mel de abelha
as cantigas
que cantam
é tempo
que se esquece
As ondas do tempo
são águas da cor
do mel de engenho
o mato em mim
mora e nunca me esqueço.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de janeiro de 2001
1057. TULULUCAS
Cadê as minhas tululucas
Primas de sulububas
Irmãs de tinininha
Minhas filhas de coração?
Onde elas se encontram
Neste momento de agora?
Quero elas agora
Dentro deste meu coração...
... Por toda vida eu tenho
Em mim este amor
Quero estar na vida das três
O silêncio rompe a paixão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 13 de julho de 2003
1058. UMA ESCOLA
Dedicado para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Cícero Leite
Uma escola com primeiro andar, com uma clientela bastante carente, onde uma boa parte do alunado, vai muito às vezes por causa da merenda escolar.
Uma escola de família, com vícios estabelecidos no âmbito desta, vindo esbarrar na instituição onde vários parentes hoje fazem parte do quadro funcional.
Uma escola com um pessoal que se acomodou diante do tempo, em razão da não realização de um trabalho de base dos gestores anteriores.
Uma escola que assume os seus direitos, mas que na plenitude dos fatos os deveres não são cumpridos.
Uma escola onde as palavras ditas por vezes, ferem os princípios de alguns, isso pelo fala-fala que são ouvidos.
Uma escola que desde muito tempo, doada por um comendador, o qual era o dono de quase todas as terras da comunidade; e esta energia do coronelismo por vezes se percebe no âmbito da escolar.
Uma escola ainda com fossa séptil, não tem saneamento, com pouco espaço para as atividades artísticas, culturais e esportivas.
Uma escola onde possui uma sala de informática, mas que todos os computadores estão danificados.
Uma escola que às vezes não assume a verdade no olhar, preferindo em certos momentos o falar na ausência.
Uma escola que não possui uma quadra desportiva, onde a Educação Física é feita num campo de pelada, muitas vezes praticada no meio da rua.
Uma escola com afetos e desafetos, fugindo completamente da proposta de uma escola vista por Paulo Freire.
Uma escola com fossa séptil, causando medo em todos, essencialmente muito mais no período do intervalo, porque uma criança pode cair e causar um grande transtorno.
Uma escola com pequeno espaço interior, sendo a maior gritaria durante os intervalos escolares.
Uma escola com uma entrada bastante pequena que causa sérios acidentes cotidianamente.
Uma escola distante uma das outras no bairro do Valentina – isso do ponto de vista das do município.
Uma escola construída sem a menor infraestrutura, com a aparência bastante saudável, mas que carrega no seu interior sérios problemas, como é o caso de não possuir uma tubulação para linha telefônica.
Uma escola construída sem fase trifásica, e sim monofásica, causando grandes problemas no setor energético.
Uma escola que condicionou a comunidade a certas denúncias sem o conhecimento dos fatos.
Uma escola que não apresenta projetos educacionais, merecendo por vezes à frente da direção escolar.
Uma escola que quando recebe alguma tarefa a cumprir, certas vezes não cumpre, diante da acomodação de alguns.
Uma escola que carrega nos seus seios o grande problema no que se trata no tocante à saúde, com vários atestados, licenças e férias funcionais.
Uma escola fisicamente de boa qualidade, mas com suas estruturas quase que na sua totalidade desqualificadas.
Uma escola onde as desavenças são claras e evidentes, sem ao menos respeitar a presença de autoridades do governo municipal.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de setembro de 2005
1059. UM SAMBA PARA O BRASIL
O Brasil com seu campo imenso
A sua história começa desde 1500
De lá para cá um país que evoluiu sem parar
Mas eu ainda sei que nós chegaremos lá
Cabral, Tomé de Souza, Padre Anchieta
Portugal e Brasil
Berço de muita paz
Que lindo céu azul anil
O Brasil com seu futebol
Suas mulatas encantadas
Dar gosto ser brasileiro
Aqui tem estrangeiro
O país onde o sol nasce primeiro
Onde o sol brilha mais colorido
Viva o Brasil
Atlântico, Florestas
Amazônia, Rio, São Paulo e Brasília
Porto Alegre, Belo Horizonte, o Nordeste brasileiro
João Pessoa nossa terra
Onde o verde é mais verde
O Brasil com seu campo imenso
A sua história começa desde 1500...
Bento Júnior e Raimundo Filho
João Pessoa-PB, 21 de novembro de 1977.
1060. ÁGUA E GELO
Um copo com gelo
era a água bebida
por dentes famintos
de cultura cênica.
Gosto de vê-lo
sinto desvê-lo
porque nós somos
como água e gelo.
Nas idas e voltas
pensamentos nossos
infiltrações constantes
de sabores dóceis.
E quando nos vemos
saudades matamos
escrevendo poesias
firmando amizade.
Bento Júnior e Sílvio Calaço
João Pessoa-PB, 07 de agosto de 1985
1061. SEXTA-FEIRA TREZE
Hoje é sexta-feira
Saí de casa
Com o diabo no corpo
Vi um gato preto
Sexta-feira
Azar na certa...
Sexta-feira
Um dia como outro qualquer
Mas causa arrepios
Nos olhos de nós, artistas...
Sexta-feira
Não tive sorte
Perdi o ônibus
Sexta-feira está indo embora...
Bento Júnior, Mônica Macedo e Romualdo Palhano
João Pessoa-PB, 13 de maio de 1984
1062. POESIA PARCEIRA
O frio bate
em minhas pernas
penetrando todo meu ser
ai de mim nessa vida
se não fosse você.
Pois penetra, eu deixo
faça de mim o que quiser,
se me aceitas como teu Homem
plenamente serás minha mulher.
Com uma pipoca na mão
alguém parou a poesia,
a poesia tá no coração
a rima volta qualquer dia.
Bento Júnior e Norma Sueli
Campina Grande-PB, 13 de fevereiro de 1994
1063. FESTA NA LABRE
o bom
das
festas
da LABRE
era
encontrar
com a menina
do sábado
passado
Bento Júnior e Gerimaldo Nunes
João Pessoa-PB, 08 de outubro de 1989
1064. ESSÊNCIAS NATURAIS DE UM MALUCO
EM TRANSE SEXUAL
Eu tomei um
gole de você.
Puro e sem gelo
você desceu
garganta adentro.
Penetrou meu âmago,
violou toda a essência
adormecida
do meu EU,
fazendo de mim
mais uma vítima
de um amor
proibido.
Bento Júnior, Cleudimar Ferreira e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 06 de abril de 1986
1065. TE VEJO
Te vejo brincando
Menina
Te vejo de fora
Mulher
Te vejo de dentro
Sedutora
Te vejo alado
Sofrível
E sinto teu cheiro
Gostoso
No incólume do teu sexo
Perversa
E sinto teu ato
Censurado
E é te sentindo
Que te ouço
Com teu hálito
Enfim
Maldoso.
Tu sereia terrestre
Me planta o encanto
De tirar um verso
Para encantar meu canto.
Bento Júnior e Betto Silva
João Pessoa-PB, 12 de dezembro de 1990
1066. ... E POR FALAR EM EGO
nessas horas em que falo das horas
sinto-me bastante estafado
falta em mim você que amo
você que faz parte de mim
e na tentativa do repouso
busco-a entre sonhos meus
no mais profundo delírio de afagos e devaneios
na fantasia de ficar feliz ... adormeço
Bento Júnior e Vanildo Júnior
João Pessoa-PB, 08 de junho de 1986
1067. UM AMOR QUASE QUE BANDIDO...
Um amor bandido
Morto e contido
Amordaçado e destemido
Suado e atrevido
É um amor não correspondido
Um tanto quanto perdido
É um amor meu tão conhecido
Que me faz ser parecido
Com um homem que é iludido
O coração tão estremecido
Que às vezes não dá ouvido
Porque é amor desconhecido
Ele vai quando já tenho ido
É sincero, porém metido
Ah, amor que quase tenho tido
É amor um quase bandido...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 13 de outubro de 1983
1068. ATRAÇÃO
Foi nos seus olhos
que eu vi
tudo que eu queria falar,
foi beijando sua boca
que eu senti
o gosto do prazer
a me sufocar.
Foi no seu sorriso
que eu notei
tudo que você
podia me dar,
sinceramente meu amor,
não sei
até quando isso
vai durar...
... por mim duraria
toda vida
essa razão
de querer amar,
não serei sua despedida
e nem tampouco
vou cessar.
Bento Júnior e Paulo Roberto Carvalho de Lima
João Pessoa-PB, 17 de março de 1984
1069. SALÁRIO MÍNIMO
Não pode não, João
com esse salário mínimo viver
pois nenhum filho dessa nação
no futuro irá gostar de você
João , tenha pena de mim
eu vivo desse salário
meu Deus do céu, mesmo assim
eu sou um grande otário
Eu quero aumento, senhor
ainda pertenço a esse mundo
como posso ter amor
o melhor é ser vagabundo
Todos querem de você, gostar
mas para gente, é difícil, João
só se a gente melhorar
mas tá difícil nessa nação
Eu tenho pouca idade
ainda sofro demais
pois isso é uma verdade
e veja quem é pai
Seja lá como for
desse salário eu discordo
como se pode trabalhar
recebendo pouco dinheiro
eu vou dormi
nunca mais me acordo
como sofre esse povo
povão brasileiro
Dai aumento, João
o povo necessita de aumento
todos nós queremos essa nação
em pleno crescimento
Só queremos mudar nosso estilo de vida
ter casa e comida
uma vida melhor
e não essa que a gente tem
dai pra nós um aumento, João
se não a gente faz a revolução
tudo mal, nada bem
que pátria é essa, João?
Bento Júnior e Paulo Roberto Barreto
João Pessoa-PB, 13 de junho de 1980.
1070. GABRIELA MULHER-MENINA
Quando passo na janela
Encontro com Gabriela
Penso logo na canela
Tão grossa como a dela.
Gabriela tão menina
Gabriela tão mulher
Esse teu corpo me anima
Seja lá o que Deus quiser.
Quando passo na janela
Sinto meu amor por ela
É mulher e gosto dela
Meu amor é Gabriela.
Bento Júnior e Antônio Torres
João Pessoa-PB, 09 de julho de 1977.
1071. EMBRIAGUEZ DE POETA
Como distanciar-se dos olhos dessa fêmea
se a tua ausência rompeu
com o sangue dos poetas?
Como não querer perder-se de vista
se na primeira te encontro?
Embriagar é um verbo
combinativo de essência
pois, esse encontro, sim
nos leva ao pensamento viver.
Bento Júnior e Betto Silva
João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 1990
1072. OBRA DE ARTE
A estética das minhas frases
de atrito a atrito
entra em contrito
com a poética das minhas bases
e quando a poética
determina meu gosto
entro em conflito com meu desgosto
extrinsecamente dotado de expressão
fantasticamente exótica
fraseando linhas
manhas minhas
desse conteúdo
livre e sem formas
deixando-me esplêndido
para perpetuar uma obra:
V O C Ê.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 24 de agosto de 1985
1073. DESPINDO-ME
Você tirou a
liberdade
dos meus olhos
fez de mim um amontoado de
loucuras
provocou meu cérebro
contornou meus
sentidos
enfeitou meus singelos dias
e numa simples mágica
desvendou todos os meus
mistérios
descobriu que eu gosto de
você.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 10 de setembro de 1985
1074. DESATINO
Seus
Olhos
Castanhos
Medonhos
Céu
Mar
Vida
Reais
Sonhos
Um sinal
Bonito
Desatino
Anseios
Destino
De ser
Somente
Seu.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 06 de maio de 1985
1078. DO TEU SORRISO
Do teu sorriso
Eu quero
Que mais preciso
Quero beijar
Me revolucionar
Te deixar louca
Via-láctea
Nessa tua boca.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 24 de junho de 1985
1079. VINTE E DUAS HORAS
No meu relógio
são exatamente
vinte e duas horas
espero alguém
que conheço bem
e quero agora
vinte e duas horas
no meu cronômetro certo
fico pensando em coisas
que me tirem desse deserto
se aproxima madrugada
é demais a minha espera
tanto espero que nem sei
o que tanto esperei
pra espantar toda essa fera
vinte e duas horas
não se move o ponteiro
chega o sono de mansinho
no meu sonho verdadeiro
começo a ficar impaciente
esperando todo esse tempo
sei que breve chegará
nas loucuras irei chamar
do momento
um passatempo.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 06 de fevereiro de 1986
1080. DESCONHECIDAMENTE
Estava eu sentado
Na beira do caminho
Ouvindo as estrelas
Cantou-me um passarinho
Seu canto triste e sabido
Me deu tranqüilidade
O passarinho cantou de novo
Foi grande a crueldade
O menino baliadeira
No passarinho acertou
Gritou o bichinho
Foi grande a dor
A dor do passarinho
Não se compara ao que sinto
O menino saiu correndo
Levei e sepultei no meu recinto.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de novembro de 1976.
1081. TRANSBORDAR
Eu queria neste instante
transbordar em teu peito
em forma de ondas
todo esse lúcido amor
que navega no meu coração
e faria uma canção
que só nós entenderíamos
e felizes seríamos
e felizes sorriríamos
para o mundo que perpetuaria
nossas vidas numa só
para que na eternidade
nossos corpos suados
não se cansem de desfrutar
da fonte dos desejos
da vida
da paixão
e do amor.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 15 de março de 1986
1082. PROTO - COLO
Bom dia, pessoá!
Bom dia, minha gente!
o que aqui vamos falá
é um tanto invovente.
São riso, euforia e muito gozo
desde o protocolo primeiro
tudo ficando famoso
também este aqui é derradeiro.
É mermo! Tem inté análise
leitura e risadinha
iguá aquelas de branquinha e da pretinha.
É como as mão ocupada de Luciana Dia
catucando a cara toda
estorando as espinha.
Uns pensano e falano
outros escutano e babano
as mão voa tanto
que mais se parece um abano.
Nos sintimo uns inspião
catador de fala e gesto
quanto mais coisa nós via
mais inscrivia no caderno.
Ouvimo Ingriiiiiiiiiddddddd Koudelllllllllllllllllllaaaaaaaa
gigante qui nem um poste
dizê: vamos pessoal
gritando de foima forte.
Analdo fei um apêlo
e num foi cumpriendido
“gente faça um círculo”
alisando os seus enorme cabelos.
Dôtro lado se ouviu a sereia
voz doce como um gemido
dizendo que seu protocolo
era mais que um registo.
Aquela voi nos arrepiou
entrando nos nosso ouvido
tão bela e famosa
tão linda como a rosa
que ela nos presentiou.
“Não me puxe, eu não vou”
foi o que Amanda disse
adepois a sereia se expressô
“o protocolo? virou jogo”
jogo de aviadô.
Somo agora inspião
da capoeira que começô
era a branquninha metida
da cor de beto fulô.
Espalhou-se o barro
pedaço de protocolo
leitura de fragmento
foi isso que rolô
adepois se ouviu aplauso
que ótimo, arrasou!
Em fim, dois grupos recomeçô
feminino e masculino
os côro se levantô.
Peguem o texto - foi a fala
daquela gigantona
de voz calma e mansa
avisando a nova aula
e disse mais ainda:
“Eu vou em cada grupo
vai um pra lá, vem um pra cá”.
A estratégia é diferente.
Continuô a compridona:
“O exercício agora é orientado
tudo dirigido e bem planejado”.
Começô a discussão
pensamo e ficar de fora
anotano as reunião
numa piscada dela nós doi fomo imbora.
Arrespondemo muchinho no galho
prumode aquele mulherão
não, nois vamo pro trabaio.
Quando chegamo no mei do grupo
a discussão já tava quente
a negada já falava
numa incenação bem diferente.
O Nordeste foi a imagem
qui vei a nós tudinho
mas quase o pau rolô
mode as idéias dos anjinho.
Dissemo várias visão
fazê o contrário, diferente
um pouco das expressão
foi a fala dessa gente.
Cada um num ambiente
todos seriam todos
uma coisa muito legal
pinceladas do poente
pra não ser tão trivial.
Aí vei a idéia
do filme a inspiração
pedaços de imagem
uma tal de fragmentação.
Danôsse, que bunito!
voz grave, agudo
melhor dizer grossa e fina
e beto fulô todo sortudo
bendito és fruto entre as meninas.
Uma música se ouviu
de forte gesto
uma beleza!
mas a desgraça o que se viu
em meio a máquina a incerteza.
Em cada fala uma revolta
religião, reflexão
isso veio da forma
desse grupo a ação
ora fixo, ora alternadamente
inté paricia mei iguá.
A gente fina desse grupo
num gesto de imensidão
chama essa coisa toda
sirmutaneidade e superposição.
Quanto a nossa incenação
começamo num rebolo
de alguns cidadão.
Eu mermo fui o primeiro
iscutei uma falação
de gente de fino trato
muito preocupada
com a minha situação.
Fui jogado por um guarda
sem apelo e sem emoção
assim mermo fui com os ôtro
gerando a nossa ação
entre gesto, cena e vemência
registramo violência contra o cidadão.
Ficamo acabunhado
com uma tá de televisão
surgida num impulso
numa tá de inspiração.
A gente já tava de pé
foi aí que apareceu
Dona Grandona admirada
dizeno: “Cinco minutinhos para o café”.
Quem agia com violência
essa foi a grande questão
num grupo foi indistinta
nôtro leva a distinção.
Ajuda e poder
era do que se falava
e ninguém se calava
com aquilo que podia vê.
Uma tal de filosofação
das coisa dita cum gesto
das coisa dita com a mão.
Querem saber o que é?
Foi a palavra da grandona:
“faces da mesma moeda”
é indústria da miséria
uma grande judiação
mas ficou outra questão:
“O homem ajuda ao homem?”.
Bento Júnior e Cristovão Júnior
João Pessoa-PB, 18 de novembro de 1996
1083. VERDADE DE UMA VIDA QUE
SE FAZ EM SONHO
No sopro de um pensar
descobri no teu meigo olhar
o que irias me dizer
Afinal quem pode dizer
o dizer de um ser
que busca o amanhecer
para refletir sobre
seu próprio ser
E o sol tonaliza de bronze o horizonte
que pairava lá fora
e ele ia embora
de cuias e malas
deixando no peito
uma bala quem o amava
e era para sempre
Pois há sempre alguém
que tenta acender as luzes
do pensar ao sonhar que o ato de pensar
é apenas sonhar
Inocente sonhador!
Teu coração cheio de amor
se deparou com o grande amor
de sua vida
Vida que na verdade
se faz por sonho
sonho de um sonhador
traído por lembranças
transforma-se mais uma vez em criança.
Bento Júnior e João Paulo Camelo
João Pessoa-PB, 10 de novembro de 1995
1084. ASAS DO VENTO
Se a gente pudesse voar
veloz nas asas do vento
jamais poderíamos chorar
nem lembrar os pressentimentos
Mas o vento é rápido demais
ligeiro como o pensamento
a vontade sempre é demais
de unirmos a cada momento
Se essas asas pudessem comigo
muito iriam te buscar
para ficar sempre contigo
e nunca mais nós dois chorar
Nosso amor
nosso momento
nos dá prazer de viver
embora os sofrimentos
venham sempre ocorrer
Você é a coisa mais linda que tenho
é uma pétala macia e maravilhosa
para você sempre tenho
palavras de carinho e uma boca apetitosa
É orgulho demais te amar
de sonhar com as asas do vento
te ver sempre comigo acordar
sem frescura e sem ressentimento.
Bento Júnior e Tácio de Jesus
João Pessoa-PB, 20 de outubro de 1993
1085. PROXIMIDADE
Nosso imã
Irmã
Nos atraiu
E traiu
Por sermos
Pólos iguais
Repelindo-nos
Do amor amargo
Um trago
Sabor ruim
Traga-me outra
Outra
Pra mim.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 15 de março de 1986
1086. QUARTO ILUMINADO
O sonho ilumina o quarto
Transcende os desejos
Atrofia a coragem
O sonho acende
A chama da vida
Mistura imagens
Incentiva uma utopia
Esclarece momentos
Frustra as mentes
O sonho
Outra vida
Astrais diferentes
Alegrias e angústias
Tristezas e felicidades
O sonho e a alma flutuam
O corpo descansa
Reflexos do cotidiano
Mistérios das noites
Parada rotina
Para dormir.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 07 de abril de 1985
1087. SOLIDÃO
Sozinho
caminho ao seu lado...
Tenho medo
da nossa
s o l i d ã o...
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 07 de maio de 1986
1088. VOCÊ
Os seios da tua boca
Me cobrem de
Beijos e abraços
O cheiro dos teus olhos
Me perguntam mil fracassos
E quando tento desviar o rumo
Entro em estado de mais querer...
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de março de 1986
1089. XERIFE LUTADOR
O corpo cambaleou
caindo no chão
A bala atingiu
seu alvo
Matou o poeta?
Mudo
em plena multidão
tombou
Sonhava ele
com o amor
Lutava ele
pela paz
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 12 de maio de 1985
1090. A GENTE SÓ FAZ O QUE NÃO DEVE
A gente só faz o que não deve
A gente só fala o que não pode
A gente só canta o que não quer
A gente só anda desgarrado
A gente depende demais
A gente não depende de nada
A gente adormece calado
A gente agita o cérebro
A gente faz perguntas
A gente fica calado demais
A gente não tem resposta
A gente ouve os outros
A gente não ouve ninguém
A gente já não anda mais
A gente tem mil problemas
A gente não soluciona nada
A gente quer solucionar tudo
A gente conhece os outros
A gente não se conhece
A gente tem exclusividade
A gente se esconde dos outros
A gente anda sempre de lado
A gente não é mais a gente
A gente é ele
A gente não dita as regras
A gente perdeu a noção do tempo
A gente não sabe o que é feio ou bonito
A gente perfura poços
A gente encontra petróleo
A gente vende barato
A gente compra tudo caro
A gente respeita tudo
A gente devida ganhar mais
A gente pode ganhar menos
A gente só faz o que não deve
A gente só faz o que não deve.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 1985
1091. VEJO O MAR
Vejo o mar
descendo
à Epitácio
às cinco da manhã
vejo os lábios
dos teus olhos
num gosto de romance
vejo o romance
de tua manhã
às cinco da tarde
beijando a cor
da tua pele
vejo a pele
do teu mistério
embriagar meu prazer
vejo o prazer
da tua vontade
no mar
pela manhã
ou tarde brincar
com os meus sentidos
e me convidar
para o amor
e me convidar
para o amor
amor.
Bento Júnior, Marlyson e Júnior
João Pessoa-PB, 22 de março de 1986
1092. NÓS DOIS EM PLENA NOITE DE CHUVA
Num bar... ou melhor, na vida...
Era uma vez... dois rapazes
Numa chuva tremenda
Procurando um bar... tirar um pouco a depressão
Com o rancho local ( local de dança) a tocar
Músicas de São João.
Nesse dia... chuva não parou... e sim, menos choveu.
Andamos em busca dos papos... numa mesa de bar.
Que dia deprimido!
Aquele foi um péssimo dia
Não se teve alegria... nós dois tristonhos
De conversações comuns.
Mas mesmo assim tiramos a lição
De tudo que ocorre um dia
Talvez não tenha lá bom para o coração
Em compensação restou esta poesia.
Bento Júnior e Emmanuel Lúcio
João Pessoa-PB, 14 de maio de 1983
1093. AS ESTRELAS
O sol já foi embora
a lua está surgindo
meu amor lá dentro chora
sonhando com outro dia lindo
que surge em nossas cabeças
vivências contínuas dos olhos.
Se modifica o dia
estrelas aparecem
amor nosso é vida longa
estamos sorrindo a viver
como o brilho dos satélites
que de idéias nos cerca.
Brilham estrelas no espaço
no infinito dos nossos corações
fazem do mar o mel
nossas aflições manobra
lúdicas estrelas
num tempo onde tudo se gira.
Estrelas têm diversificações
o cruzeiro sócio-econômico do sul
estrela guia das reuniões nossas
as três-marias celestiais
universo de plenitude diversas
onde o homem é fruto da perplexidade.
Se modifica o dia
de novo aparece o sol
ilumina de lado o quarto
talvez o lado esquerdo da cama
transformação de pesadelos
Voltar as reminiscências, vamos
são fatais realidades dessa ciência.
Bento Júnior e Antônio Carlos Carvalho de Lima
João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1982
1094. MONOTONIA SEM FIM...
Vou à mesa
Me sirvo
Porém não como
Vou à cama
Me deito
Porém não durmo
Já tive prazer na vida
Hoje vegeto
Não vivo.
Bento Júnior e Emmanuel Lúcio
João Pessoa-PB, 14 de janeiro de 1984
1095. CASA DE AMIGO
Casa de amigo
é um lar,
uma cadeira,
um rosto
e uma discussão.
Um ponto
de parada,
um afago.
uma cama
estendida
de dia à noite,
de noite ao dia.
Um momento
de euforia,
um momento
de fraqueza,
de lembranças
e recordações,
chegadas e idas
ao encontro
do coração.
Bento Júnior, José Andreza e Alex Araújo de Andrade
João Pessoa-PB, 14 de março de 1985
1096. ORAÇÃO AO CRIADOR
Deus
com todas as nossa forças
todas as reminiscências
perpetuarás em nossos corações.
Deus
cantaremos de boca a boca
tua bandeira de liberdade
aceitaremos palavras contrárias
e lutaremos em prol das tuas.
Deus
elas são reais
são puras
são francas
naturais e sagradas.
Deus
Cristo teu filho
pregou-as
e nós como seres humanos
devemos ter na lógica
a espontaneidade e a vontade de optar
por esta verdade sólida chamada
Deus!
Bento Júnior e Bento Carvalho de Lima
João Pessoa-PB, 01 de dezembro de 1982
1097. A MORTE DO AMOR NUMA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Doeu demais aquelas palavras
Você zombou demais e me tirou do sério
Fez de mim um amontoado de loucuras
Fez de mim gato e sapato e depois veio
Com aspecto de cínica tirando a liberdade
Dos meus dias e me mostrou apenas
Que você não é dona de si
Alguém determina tua vida
Não és dona de si e eu sofri demais
Meu amor vivenciou para o tédio
Não tremi nas bases
Você desperdiçou tanto amor
Jogou fora tanto carisma e agora quer
Algo e não dar mais e está decidido
Que você morreuuuuuuuuuuuuuuuuu.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 26 de fevereiro de 1986
1098. ANSEIOS
Contemplando essa hora
Minha cabeça voa a mil
Sonho acordado
Senti teu cheiro
Repousar no seu leito
E durante a madrugada
Roçar teu corpo
Contra o meu
Num simples gesto de amor
Permanecendo ali
Com saudades do presente
Depois olhar teu rosto
E me sentir feliz
Só!
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 14 de maio de 1987
1099. CAMBALEANDO
Cambalando pelas estradas da vida
Sufocando os sonhos utópicos
Me entreguei de corpo e alma
Ao teu lado erótico
E nas currutelas de cada abismo
Usei todos os tópicos para desvendar
Teus alicerces e de nada valeram
Apenas firme nas caminhadas
Santifiquei teu nome
Razão maior de toda minha utopia.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 16 de março de 1988
1100. CÉLULAS
Minas células cerebrais
Purificando-me
Mandei embora
No momento mais sonhado
Cantei para os mortos
E ao mesmo tempo
Te amava-te demasiadamente demasiado
Corri feito louco à procura do osso
Como um cachorro vadio
Deixei tantas coisas
E no cio da vida parei
Na contra-mão dos sinais luminosos da cidade
Gritei por não
Gritei por sim
Chamei minha mãe
Talvez meu pai
Dei gargalhadas de súbito ao vento
E encontrei parentescos
Esperava também o nascer da lua
Era lua cheia e eu fiquei
Cheio de coisas cerebrais.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 17 de maio de 1989
1101. CENA
A mesma cena se repete
todos os dias
dias tais que mostram em cada marcação
a marcação inexata de um ator principal
do cotidiano vivido por um homem
mágico sinônimo de loucuras e aventuras
contracenadas do ápice
do absurdo teatral
teatrais são as pessoas
estrelas máximas desse espetáculo
misterioso de ações
ações ficaram por conta de cada jovem
que despiu-se e jogou suas intimidades
pro alto dos refletores
vermelhos iluminadores
de uma cena
onde a realidade fica por conta
de cada censura.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de dezembro de 1985
1102. LADOS DE MIM
Alegremente sem os compassos de mim
Livremente sem os resquícios de mim
Aparentemente adaptei-me
Sorridentemente liguei-me
A todos os insignificantes de mim
A todos os carentes de mim
E me deliciei
E me entreguei
De alma e corpo
De corpo e alma
Para uma só coisa
Que se chama eu
Eu sou todas as coisas do universo abstrato
Eu sou todas as coisas que tiram de mim
Eu sou uma parte de Deus dentro de mim
Somos o bem desse substantivo
Somos um lugar desse lugar
Sou todas as linhas traçadas do trópico
Somos o nascer
Somos o viver
Somos o morrer
Somos o nascer para uma nova vida dentro de mim.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 14 de maio de 1985
1103. LUAL
Daqui de onde estou
Te ouço com os cinco dedos
Apalpo-te toda em mim
Afasto-te dos meus segredos
E liberto-me desse clarim
Ficas de pé nos ares
Nesse céu
Noite de lua
São os sonhos
Dos Palmares
Viver a vida a cantar.
Daqui de onde estou
Sei que és cheia.
Vou pegar um foguete
E visitar a lua
Eu vou visitar a lua
De gravata e paletó
Ela me espera nua.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de maio de 1986
1104. MUNDO MEU
Meu mundo utópico
Cheio de culpas
Onde o irreal
Ocupa diariamente
Meu espaço perdido
Nunca encontrado
Vejo minha juventude
Desculpas às loucuras
Nunca assumidas
A arte
A música
O teatro
Auto afirmação do meu ego
Faz parte de mim
Sexualmente defino
Meu gosto pelo prazer
O que seria “ser entendido?”
Entende-se que nesse mundo
Você faz a sua própria existência.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de maio de 1986
1105. NÃO ERAS NADA
Não eras nada
Eras apenas
Um pedaço de seda
Cravada nos lábios
Daquele maluco
Que fazia sua cabeça
E depois saciou teus anseios
Desvendando todos os mistérios
Que transbordaram da tua boca
Provocando todo cérebro
Que contornou toda uma vida
De lúcidos prazeres
Entre beijos e açoites
Que percorriam o dia inteiro
E continuava noite adentro
Perturbando o silêncio
E avermelhando os olhos de quem não era nada.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 20 de março de 1987
1106. O POETA E O VERSO
O poeta parou
Olhou um monte de versos
Versos impressos
Pelos seres inversos
Donos do poder poético
O verso sorriu
Das mãos que o achou
E pôs fogo
Acabou provocando o cessar dos poetas
O poeta agregou os versos
E concretizou a mais linda melodia
Cantada em noites de orgia
Pela discreta e humilde burguesia
Vendedora de prestígio ao proletário
O verso se transformou em vida
E da vida fez-se o Ser Humano
Este mandou alguém entrar na rima
E na tirada da rima
Não se sabe quem foi mais forte
Se o verso ou se o poeta.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1985
1107. UM SER AMIGO
Sou apenas alguém
que luta em prol
em busca de um mundo melhor.
Penso de todas as formas
admitindo soluções
que nos tragam alegrias
em nossos corações.
Se ele fala comigo
tento achar um abrigo
que lhe mostre um amigo
num simples aperto de mão.
Essa mão que aperta
algum dia será repleta
de coisas boas e certas
de um ser amigo e irmão.
E assim sigo meu caminho
deixando rastos por onde eu passar
como pássaros no ninho
que nascem para voar...
Bento Júnior e Paulo Roberto Carvalho de Lima
João Pessoa-PB, 10 de outubro de 1983
1108. INSPIRAÇÕES NÃO VINDAS
Puxa vida
onde anda essa tal inspiração?
Se tiveres que buscar inspiração
não busque-a no meu coração
pois só encontrarás tristeza e solidão.
Elas não darão bons versos.
O insistir acarretará simplesmente
numa mera masturbação ( mental).
Bento Júnior e Sílvio Calaço
João Pessoa-PB, 07 de janeiro de 1986
1109. DEBATE
As tristezas, que são no mundo?
Ah! este mundo, por mim amado.
Eu tenho vida... um cismar profundo
Me diz que este mundo é um desesperado.
Se eu disser, poetisa,
O encanto de tê-la
Não aclamará em nada
A chama de vida
Que rego por ti.
E este mundo, o que farás dele?
Acalma-te, que este mundo não é só teu,
Não é só meu... Não, não é vosso...
Como este mundo não tem dono
Não é teu... não é meu, ou nosso.
Num raio de estrelas
Hei de semear minhas vontades,
São tantas, não posso vê-las,
Posso sim, beijar tua face de saudade.
Ah, poeta! falas dos homens...
Eu canto o mundo e a realidade.
Bento Júnior e Gilvânia Dias
Alhandra-PB, 10 de dezembro de 1998
1110. AS ESTRELAS
O sol já foi embora
a lua está surgindo
meu amor lá dentro chora
sonhando com outro dia lindo
que surge em nossas cabeças
vivências contínuas dos olhos.
Se modifica o dia
estrelas aparecem
amor nosso é vida longa
estamos sorrindo a viver
como o brilho dos satélites
que de idéias nos cerca.
Brilham estrelas no espaço
no infinito dos nossos corações
fazem do mar o mel
nossas aflições manobra
lúdicas estrelas
num tempo onde tudo se gira.
Estrelas têm diversificações
o cruzeiro sócio-econômico do sul
estrela guia das reuniões nossas
as três-marias celestiais
universo de plenitude diversas
onde o homem é fruto da perplexidade.
Se modifica o dia
de novo aparece o sol
ilumina de lado o quarto
talvez o lado esquerdo da cama
transformação de pesadelos
Voltar as reminiscências, vamos
são fatais realidades dessa ciência.
Bento Júnior e Antônio Carlos Carvalho de Lima
João Pessoa-PB, 15 de fevereiro de 1982
1111. CASA DOS AMIGOS
Na casa dos amigos, os de casa
A casa fica mais próxima, mais próxima
Fica a vida, a vida de perto de casa
A casa dos amigos ao lado, ao lado de nossa rua
Somos uma casa entre tantas casas
A abrigar os amigos na casa das amizades.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 06 de maio de 1984
1112. MUNDO MEU
Meu mundo utópico
Cheio de culpas
Onde o irreal
Ocupa diariamente
Meu espaço perdido
Nunca encontrado
Vejo minha juventude
Desculpas às loucuras
Nunca assumidas
A arte
A música
O teatro
Auto afirmação do meu ego
Faz parte de mim
Sexualmente defino
Meu gosto pelo prazer
O que seria “ser entendido?”
Entende-se que nesse mundo
Você faz a sua própria existência.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de maio de 1986
1113. VIAGEM DE TREM
O trem anuncia sua chegada
Todo mundo quer logo entrar
Mesmo o trem de porta fechada
É o trem que conduz o senhor
A senhora e o filho de lado
A viagem do trem é agradável
É criança chorando no trem
É mulher que se arrisca a um beijo
O maquinista na frente nem sabe
O que acontece no trem
É fornalheiro no fogo da frente
Ajuda o pobre maquinista
Que já deu sinal do seu fraco coração
É paisagem vista do trem
Que alegra os olhos do povo
E o povo de fora joga pedra no trem
É propaganda dizendo que não
Não se pode fazer isso não
Com o coitado da lataria do trem
É janela que não se abre
É fechada com grade no trem
Ai daquele que arrisca a visão
Corre o risco de perder a viagem
É estação do trem que se avista
É parada dos trilhos no chão
Esse trem apita tão bonito
Lembra o tempo de criança
Lembra os filmes de outrora
Lembra o cinema noventa graus
O trem passando por cima da gente
Corre, corre que o trem está chegando
Para mais uma viagem
O trem anuncia a sua chegada
Desta feita matou um pelo caminho
Sujou de sangue os trilhos da vida
É trem que chega todo enlutado
A pessoa era família bem próxima
Viajava no trem na hora do acontecido
É o trem que parte cruzando as cidades
Apitou, chegou, saiu, apitou e foi embora.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 29 de abril de 2007
1114. O CANTAR DO GALO
Um canto de longe eu ouço
E ouvindo este canto triste
Meus olhos se santificam
E santificado eu fico
Nos cantares dos galos
Tão longe o lugar
Tão distante o cantar
São lembranças tardias
Dos dias na casa do Avô e da avó
Do acordar cedo enquanto criança
Do tomar café com a mãe
Na ida cedo ao trabalho
É um galo que imita o amigo
É um galo que canta em sinfonia
E sinfônico eu vou sorrindo
Um sorriso que vem de tempos atrás
Canta galo da infância
Canta galo da mocidade
Canta galo dos meus quarenta
Canta galo nessa minha ansiedade.
Quando criança eu ouvia
Quando criança eu sorria
Quando adulto eu chorava
Quando adulto eu lamentava
O galo cantar distante
O galo cocoricó falante
O galo cantar tão lindo
O galo existir e eu aqui sonhando.
Hoje o galo canta
Hoje eu canto com ele
Hoje o galo existe
Hoje eu existo com ele
Hoje eu tenho que acordar cedo
Hoje eu saio e fico com medo
Hoje eu preciso ganhar o pão
Hoje eu saio e o galo canta uma canção.
Cocoricó, cocoricó, cocoricó
Cocoricó, cocoricó, cocoricó
Cocoricó, cocoricó, cocoricó...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 26 de abril de 2007
1115. ENCONTROS
Os dedos tocam-te
na face o brilho natural
na boca o aroma de cada espera
cotidiana razão do fazer por fazer
nos olhos a visão sensual
de cada espetáculo
encenado por dois seres
juntamente com dois
pares de lábios
se divertem em busca
da saliva
demônio excelso
dos nossos livres encontros.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 09 de março de 1990
1116. INVADINDO UM PAPEL LACRADO
A invasão do teu corpo
deixou feliz meu coração
cheio de energia
e de inspiração poética
diante do seu ser
Às vezes penso
outras vezes choro
paixão louca
mil loucuras
não sei como fazer
para planejar tal fuga
junto com você
A plenitude do acaso
é viável quando
retornamos aos indícios
dos desejos fúteis
daí
como nunca nos encontramos
vivemos dos papéis escritos
de uma carta suspeita
de um lindo poema
chamado amor.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 14 de setembro de 1989
1117. INVERSO
Eu sei
Tu não sabes
Logo hoje
O povo brasileiro invadiu as sabedorias dos povos
Através dos olhares malditos e estranhos
Sentimentos contrários às nossas
Perspectivas de vida
Quando o homem se fazia presente
Nos olhares contraditórios e
Sentiam nos olhares os vícios e amavam
Os olhares mágicos nas travessuras contrárias
Onde a mulher sente na pele todos os sentimentos
Alheios quando nunca mais o homem
Pisa nas calçadas da vida
Cada hora se perde nas travessuras alheias
Para onde o fortalecimento das nossas ações
Existem na pele de cada sentimento obscuro
O lado sensível do casamento e a questão do sentir
Tão profundo que às vezes esconde segredos que nunca
Se saberá dos sentimentos
São na realidade todos os malditos qualificados
Na atitude discreta de nunca saber e hão de fazer
Todos os olhares são na totalidade de jamais
Querer o que houve de melhor perante os olhares
Desse povo pacato que tanto ama os
Sentimentos de jamais permitir ser amado.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 24 de março de 1986
1118. MEU TIPO
Eu sou do tipo
que não admite
o impossível,
e admito sim, quando
o impossível está
dentro das minhas
possibilidades.
Bento Júnior e Betto Silva
João Pessoa-PB, 07 de janeiro de 1991
1119. ACREDITAR
Acredito na vida
na ida e na volta
o medo da morte
no azar e na sorte
entre paz e guerra
no frio e no quente
na verdade e na mentira
no capitalismo e no socialismo
no catolicismo e no espiritismo
no amor e no ódio
na miséria e na riqueza
no SER
que comanda
todo mistério
dessa natureza.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 18 de maio de 1985
1120. ALÉM DE MIM
Para purificar a alma
incendeio o corpo
canalizo a mente
como o coração
e deixo fluir felicidade
além do teto da sala
ascendendo meu espírito
para um plano exterior
de fragmentos mortais
onde a lucidez está além
das verdades cerebrais
desmistificando todo um lado
poético e minha razão
de existir.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 25 de junho de 1986
1121. BEIJO
Em cada olhar
Um desejo
Nas bocas
Um beijo
Na plenitude
Um gozo (prazer)
Em cada homem
Uma mulher
Naquela mulher
Vários homens
E vem o círculo vicioso
Fazendo da vida
O sentido da natureza
Ao invés do foi
Vem o será
E o jogo continua...
Em cada desejo
Há o cumprimento
Às nossas vontades.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 23 de setembro de 1987
1122. CHORO DE CORAÇÃO
Sem perceber
deixei-a penetrar
no espaço vazio
do meu peito
preenchendo
toda ânsia
existente em mim
e agora lamento
a distância entre nós
meu coração
sonha e chora
mas é bom e eu gosto
será passageiro?
acho que é amor
ou algo
parecido com frescura.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 25 de fevereiro de 1986
1123. NÓS
tombo
inútil
útil
idade
não é mistério
é a noite
ao lado
da janela
outros iguais
um ser apenas
olhando
um ser
apenas ouvindo
poema
sonho
inútil
útil
idade.
Bento Júnior, Sandra e Eva
João Pessoa-PB, 03 de outubro de 1986
1124. CORAÇÃO SEM PECADO
Bate por mim
Coração incólume
Faz por mim
O teu querer
Purifica meus nervos
Estão à flor da pele
E se possível for
Deix’Ele cantar
Nas árvores sádicas
Do meu pacato amor.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 30 de agosto de 1985
1125. DESCOBRINDO-NOS
Aqui a agora
senti o momento
e as emoções
do prazer
que desfrutamos
quando descobrimos
que nos necessitamos
e nos enchemos de amor
concretizando todo
sonho de liberdade
dos corpos nus
chegando ao ápice
do gozo da vida
enquanto nossas almas
flutuam juntas
nos permitindo
uma só coisa:
AMAR AMAR AMAR AMAR AMAR AMAR
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 20 de maio de 1985
1126. CAMBALHOTA
Dedicado para Carolina Dias de Carvalho ( Minha Filha)
Quem de nós
na vida
sendo pai
ainda não recebeu
umas pernadas
feito cambalhotas
na barriga vizinha
dos nossos aconchegos?
Pois é, companheira,
hoje vai ter espetáculo.
Portanto, será fácil
descobrir quem será a atriz principal?
Com certeza, vocês irão responder:
Aquela pessoa que gosta de dar cambalhotas...
Todos estão sendo convidados para logo mais,
diretamente do Circo “Cordão Umbilical” , assistir ao teatro
das cambalhotas - ao teatro das cambalhotas...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de maio de 1997
1127. GIRA PALCO
Gira palco, gira mundo,
Gira povo, gira espaço,
Girando neste giro profundo,
Balanceou a moça de amasso.
De amasso girou o mundo,
Girou num intenso compasso,
Assim, girando, porém bem fundo
O palco de tanto girar virou aço.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de maio de 1986
1128. ESQUIZOFRÊNICO
Toda essa filosofia
aguça meu lado
exótico
e minha vida
poética
saio da ética
utópica
e viajo
nos pleonasmos
caóticos
vendo meus reflexos
lúdicos
me torno maníaco
ou no mínimo
místico
macrobiótico.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de março de 1986
1129. ESSÊNCIA
Na Essência
contínua
do teu olhar
me perdi
de emoção
permaneci
em meu
berço
sonâmbulo
e perambulando
em prol
do teu amor
e cada olho
no meu olho
refletiam-se
perante
cada olhar
maldito
pois o mesmo
era sempre
senhor
dos nossos
olhares.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 28 de março de 1986
1130. ESTRELA PRINCIPAL
Puta que pariu
tento usar todos os meios
pra não avistar teus olhos
tudo permanece inerte
tudo permanece sacana
sempre debruço meus cabelos
de encontro as tuas mãos
juro que eu não queria
mas são coisas da vida
e o jeito é disfarçar
tudo está ótimo
imensa loucura esse seu jeito
de me fazer perguntas
deixa-me perdido
e todas as minhas respostas
são mal-trabalhadas
de volta faço mil planos
e no dia seguinte
a mesma cena se repete
esse filme devia ser dirigido por mim
é tu serias apenas figurante
pura lorota
só eu sei que tu serias
a minha estrela principal.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 01 de setembro de 1985
1131. EU SILENCIOSO
O silêncio
me faz notar
minha existência
,pois só assim
sinto a necessidade
de saber
quanto é válido
está contigo também
nas viagens
da minha cabeça
explorando meu eu
e te encontrando
no meio das coisas boas
dentro do baú
do meu coração
fazendo-me sentir
toda a emoção
de viver.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 06 de junho de 1985
1132. FANTASMA
Você era
um fantasma
que habitava
cruelmente
na retina
dos meus olhos
mudei o interior
do meu silêncio
e continuei
brincando
com o barulho
da tua boca
era eu
um ser por inteiro
sobrevivendo
em busca
do motivo
de estar
ou não
com você.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 24 de agosto de 1985
1133. TEMAS BRIOS
Já que estamos todos reunidos
Resolvemos criar uma poesia,
Onde cada um de nós
Abordassem temas de:
Amor, paz e alegria.
Estávamos todos em harmonia
Na expectativa da paz,
Pois descobrimos agora que o mundo é bom
E que os seres que o habitam
Também fazem parte e os animais...
- E também os seus sorrisos são iguais...
Tudo que saiam de nossas bocas
Eram forças e energias loucas
Onde se expandiam pelo mundo, através do tempo
Onde o momento era atraído pelo próprio tempo...
... Pois esse tempo era muito frio
Livre e medido pelo compasso
O qual era sentido pelo espaço
E era plenamente brio.
- Partindo de nossa exposição
Esses mesmos perpetuarão em nossas mentes.
Vamos lançar sem nenhum tormento
Para que essa vida nesse momento
Seja simples e festivamente de:
Amor, paz, alegria e sem lamento.
Bento Júnior, Paulo Roberto
Carvalho de Lima e Elizabeth Corrêa
João Pessoa-PB, 20 de janeiro de 1985
1134. O HOMEM QUE AMA
O homem é puramente
idiota
coloca na cabeça
uma mulher
depois “a mata”
A mata é puramente fresca
coloca um homem dentro dela
depois o mata.
O homem que “matou” a mulher
para não matá-la correu para a mata
que o matou de ( ciúmes).
Bento Júnior e Sílvio Calaço
João Pessoa-PB, 07 de janeiro de 1986
1135. BOAS FESTAS BOA DEMAIS
Muitas palavras faladas por nós
não significariam nada,
quando nossa maior palavra
é muito mais planejada.
Nosso planejamento
não tem palavra,
uma palavra sem ação
não tem nada de coração.
Que tal deixar nossos corações
flutuando pelos ares,
buscando encontrar todas as ações
no mergulho profundo dos mares.
Por aqui vamos terminando esta mensagem
esperando ter tocado sua expectativa,
muitos sonhos e lindas paisagens
e realizações nesta vida ativa.
Bento Júnior e Norma Sueli
João Pessoa-PB, 20 de dezembro de 1995
1136. CADA UM DE NÓS
Eu sei que às vezes dou trabalho
Eu sei que às vezes me atrapalho
Eu sei que às vezes penso em querer
Mas sou apenas o lado do parece ser
Cada um de nós sabe se definir
Cada um de nós deve sorrir
Cada um de nós deve se permitir
Cada obstáculo que essa vida tem
Me dá vontade até de não ser ninguém
Quero viver, quero sentir
Quero ouvir, quero saber
Só não me venha dizer
Que o mundo está para cair
Lá vem ele de novo
Trazendo notícias boas
mostrando seu lado bom
Tocando o seu acordeon
Caminhando em busca desse povo
Cada cabeça é um mundo a girar
Cada mundo é um corpo perdido no espaço
Cada espaço é um sentimento de aço
E cada aço se perde em qualquer caminhar...
Bento Júnior e Bento Carvalho de Lima
João Pessoa-PB, 17 de janeiro de 1985
1137. GRITOS
Vou fazer do meu coração
tua bandeira de luta
vou gritar
ao mundo teu nome amor
e no decorrer de cada sílaba
deixarei de cantar
por saber da real politicagem
dessa outra pátria.
Bento Júnior Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de janeiro de 1990
1138. HOMEM FAMINTO
A fome do homem
que comia a mulher
era tanta que ele
lhe mastigava
a língua.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 07 de março de 1990
1139. JUVENTUDE CAMINHANTE
Pelas estradas das
linhas do coração
vou rua afora
matando a saudade
que habita em meu sonho
quando a sociedade pede
poeticamente um beijo
não se recusa
bota a boca no mundo
e grita procurando se encontrar.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 02 de março de 1990
1140. LUA AMIGA
Lua amiga minha
vem contar para mim
vem me dizer tudo
corre para os meus braços
me diz tudo que eu não sei
lua amiga minha
quero dar-te um abraço
me conta todo segredo que
eu não sei
lua amiga minha
minha melhor pousada
por onde andou todo esse tempo?
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de abril de 1990
1141. MOMENTÂNEO
Um momento eu queria sentir
e no mesmo momento te ver
sorrindo para mim
você dar sorrisos
esses mesmos são artificiais
e penso em tocar teu corpo
toco
e você toca meu corpo
tento desviar e mandar parar
deixo
eu preciso dessa porra
para sustentar meu egocentrismo.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 09 de abril de 1990
1142. MORRA
Morra
porra
não me peça
socorro
pois não me chamas
não sou nenhum santo
então
morra
porra!
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 08 de abril de 1988
1143. NADA MAIS QUE SAUDADE
Se lindo fosse
fosse tu serias
seria eu
você
e você
magia
de me ver
de me encantar
com a cor
da tua face
e me fazer crer
que você é
saudade e nada mais...
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 18 de março de 1990
1144. NEGANDO OLHO
Teus olhos
claros luz do sol
me viam
e negavam não me ver
enquanto eu te olhava
mas tu não me vias
pois me ver
não fazia bem ao
seu orgulho.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 09 de maio de 1990
1145. OH! CORAÇÃO
Oh! coração melancólico
perpetuarás sorridentemente
a contracenar com a obscuridade
da fragilidade politizada desse universo
sem conteúdo e sem forma.
Oh! coração selvagem
viverás no excelso das incertezas
e apenas terás no peito
a batida mais batida
que haverá no silêncio
do fazedor de cabeça
de uma droga de vida
conduzida por contraditórios
seres desumanos.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 01 de setembro de 1989
1146. NATUREZA SALVE E SALVE
Os pássaros cantam,
cantam suas melodias.
É engraçado que ninguém sabe
que as canções são por poucos dias.
As flores desabrocharam
com toda a sua beleza,
é engraçado que ninguém sabe
até quando será esse beleza.
Por essas e outras, dizemos,
dizemos com toda força que há,
a natureza precisa de amigos,
a natureza precisa de todos nós.
Bento Júnior e Kaline Marinha
João Pessoa-PB, 25 de outubro de 1995
1147. METAMORFOSE
Neste momento
Penso em você
E então quisera
Me transformar
Em vento.
E se assim fosse
Chegaria agora
Como brisa fresca
E tocaria leve
Sua janela.
Mas eu não
Sou vento
Agora sou só
Pensamento
E estou pensando
Em você.
E se abrir
Sua janela
Vou chegar
Agora neste momento
Em pensamento... no vento.
Você não sabe
Mas estás comigo
Neste momento
Eu quero dizer
Dos encontros
Que tivemos
Sem que fosse preciso
Estarmos juntos.
E agora é um desses instantes
Que a mim chega
Com som de sacramento
E não importa
Onde quer que você esteja
Porque eu te alcanço
Em pensamento
Com toda a maciez deste momento.
Bento Júnior e Orley Pereira
Alhandra-PB, 21 de julho de 1993
1149. NÓS
tombo
inútil
útil
idade
não é mistério
é a noite
ao lado
da janela
outros iguais
um ser apenas
olhando
um ser
apenas ouvindo
poema
sonho
inútil
útil
idade.
Bento Júnior, Sandra e Eva
João Pessoa-PB, 03 de outubro de 1986
1150. GOSTO SABOR DE ANGÚSTIA
As nossas angústias
semelhantes
em tudo
sobressaem pelos póros
como sudoríferas
gotas de medo
gosto de sabor
salvando-nos
do tal momento
de solidão e de dor
nosso intimismo pessoal
tem conotações
graves de complexos
e frustrados
desejos míopes
às vezes o nosso
mal-resolvido
orgulho
perde-se na multidão
tropeça e cai
e se vai mais uma
batalha perdida
entre muitas
que virão
a vida nos permite
longas viagens
intrínsecas
enquanto o desejo
era fazer o nosso
próprio destino
longe de ideologias
medíocres e banais
que escondem
o lado fértil e doce
da realidade abstrata
que se apossou de nós
e um sabor na boca
de angústia
vai deixando gosto
inexplicável de solidão.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 1985
1151. DISTANTE SAUDOSISTA
Um saudosismo
profundo
entre céu
e o mar
o que fica
da praia
são perguntas
sem respostas
de ficar aqui
e pensar
em outro lugar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 12 de março de 1987
1152. O TRABALHO DO TRABALHADOR
Quase primeiro de maio
Quase outro dia
É dia do trabalho
É dia do trabalhador
É dia de reflexão
É dia de chuva
É dia de falação
Por um Brasil melhor
Por um Nordeste melhor
Por uma Paraíba melhor
Por uma João Pessoa melhor
É dia de ler e estudar
Para um mundo melhor
Para um planeta melhor
É dia do trabalho
É dia do trabalhador
Somos do trabalho uma parte
Somos do trabalho um todo
Viva o dia do trabalho
Viva o trabalhador
Viva o povo que trabalha
Viva o povo que sonha
Viva o povo que reage
Viva o povo de baixo
Viva o povo de cima
Viva o povo do alto
Viva o povo do chão
Viva a luta dos trabalhadores
Viva os horrores de todas as dores
Cante o silêncio das mortes cantadas
Cante o mistério das mortes sonhadas
Cante o mistério de todas as dores
Cante as dores de todas as mortes
Cante a vida de todos os amores
Viva o trabalho
Viva o dia do trabalhador
Viva o dia da trabalhadora...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 01 de maio de 2007
1153. HIGIENE SEXUAL
Quero e posso sentir teu corpo lívido sobre o meu que ficará super louco
contracenando com algo que é teu, quero e posso desfrutar teu sexo
nutrido e bem lubrificado, quero e posso
não sou perplexo em dizer coisas assim
desfrutarei em você tudo nos transformaremos
numa só personalidade.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 19 de abril de 1985
1154. IMENSIDÃO DE MEDO
Na ansiedade de encontrar
me perdi nos encontros
que são meras coincidências
do destino
desafio
ao homem
procura razão do existir
medo?
encontrar-se frio
com a morte
perdeu-se na
imensidão.
Bento Júnior e Kennedy Costa
João Pessoa-PB, 20 de maio de 1985
1155. SORUMBÁTICO
Há momentos
num multidão
você olha de lado
e se sente
só
sozinho
caminha
e o pensar
voa
voando
em dois momentos
um com muitos
um com uma
indiferença
paciência
discussão
corre perdido
sentido
um mais um
coração.
Bento Júnior
Campina Grande-PB, 08 de março de 1994
1156. DENTRO DE MIM
Dentro de mim
uma paz exata
e faz morada,
pois dentro de mim
a morada de paz
é silêncio.
Dentro de mim
existe saudade
que na verdade
é paz,
esta verdade
que dentro de mim habita
requer silêncio.
Dentro de mim
quantos anjos moram
na verdade do tempo?
de tanto pensar
no tempo que ainda há
dentro de mim
a corrida é longa
e sendo longa
dentro de mim
tudo é silêncio!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de novembro de 2005
1157. FORA DE MIM
Um resquício
de coliforme fecal
fez pousada pensante
no escaldante
sol do meio dia.
Um senhor calvo
de salto alto
pulou de medo
quando o segredo
eram fezes.
Um exame constatou
seu órgão doou
e dentro tudo
nada, nada restou.
Um resto que se vai
pelo campo a correr
bate no corpo, sai
um espirro fora de mim.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de novembro de 2005
1158. CARA FEIA
a cara fechada
um riso é impossível
ao cantar dos pássaros
a mente é invisível
os olhos lacrimejam
um ar de promiscuidade
e quanto mais se desejam
o resto é tanto difícil
sofre meu jeito feio
minha cara é só maldade
que cara feia
o homem consegue ter
está na sua veia
essa vontade de ser
de ser fechado
e um riso guardar
sei que a causa é sofrer
e quando se sofre
ser feliz é não se controlar
abrir a cara é se perder
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de novembro de 2005
1159. ONTEM A LUA
Ontem a lua estava
Linda como sempre é,
Na rede com a filha
No chão o toque do pé.
Ontem a lua estava
De tomar vinho de porre,
As folhas ao vento
Diziam que alguém morre.
Ontem a lua estava
Calma e sombria,
Despertava consciências
E na ausência explodia.
Ontem a lua estava
Olhando cada sonho dos seus,
Discutia o nascer de todos
E duvidava da palavra Deus.
Ontem a lua estava
De dá gosto de espiar,
Sem querer o clarão invadir
Invadiu todo este lugar.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 19 de novembro de 2005
1160. ESPERANDO!
Família materna das filhas
em casa esperando.
O trem que não vem,
o trem que chegará.
Todas esperam,
elas estão para chegar!
Saíram de lá
ontem à noite.
Pelas estradas
estão a percorrer.
Ainda não chegaram...
Às vinte horas
elas chegam por aqui!
Esperando o tempo
no seu compasso.
Num passo de mágica,
no atirar da pedra...
Esperando, esperando,
esperando a noite que vem!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1161. ACREDITO NOS CONTRATEMPOS DE DEUS
Acredito na força do vento
Na fé que o povo tem
Na religião de cada ser
No semblante da criança pobre
No olhar chorão de um velho
Em Deus, força cósmica do tempo
Acredito no nada de muitos
Acredito no sonho de uma mãe
Falam do mundo sem espera
Falam da espera sem ter mundo
Acredito no Ser, por humano que seja
Acredito nos contratempos, porque,
Só existe água, neste fogo que botas
Que gira, gira, girando o relógio
Que de tanto girar, estaciona
Em lugar desconhecido chamado Deus!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1162. QUATRO MULHERES
Dedicado para Norma, Carolina, Camila e Catarina (Minha Esposa e Filhas)
Tenho quatro lindas mulheres
Quatro mulheres que moram comigo.
O que mais meu amigo, tu queres
Se de todas sou grande amigo?
Tenho quatro que dormem comigo
Comigo elas dizem que são felizes,
Uma ligação de unha, carne e umbigo
Um refletir nos meus pacatos deslizes.
Amo todas as quatro,
Assisto de camarote cada ato,
Sou o masculino e delas faço parte.
Amo todas e é um amor verdadeiro,
Um desacordo é algo tão passageiro,
Porque as quatro fazem papéis na minha arte.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1163. CONDOMÍNIO SOL NASCENTE
Dedicado Aos moradores da Rua Capitão
A Rua Capitão José Gomes da Silva
tem uma nova nomenclatura,
é Condomínio Sol Nascente,
é morador que vem pra gente.
Chegou Jó e sua mulher, os dois
conheceram o povo daqui;
Falo de Paulo e Maurício...
Coitado do Jó, que sacrifício!
Sol Nascente é o nome,
poucos sabiam da história.
O condomínio hoje está forte,
Nunca abrir a rua, às armas até a morte.
Vizinhos novos vão chegando,
os terrenos estão com casas.
Elias chegou em frente de Miraldo,
o povo é um tanto organizado.
Condomínio Sol Nascente,
que bonito nome você tem!
Vamos nos condomizar, patrão
Antes que o povo nos passe a mão.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1164. SETE MULHERES EM CENA
Dedicado para Vitória, Amélia, Virgínia, Norma, Carolina,
Camila e Catarina (Minha Mãe, Minhas Avós, Minha Esposa e Minhas Filhas)
Tenho na minha história de vida
Sete mulheres como provação,
Cada uma da outra mais decidida
No decidir do meu frágil coração.
Tive uma mulher que hoje mora no céu
A mãe do meu pai, um aprendizado,
Que mesmo vivendo com um coronel
Rompia barreiras, eu era por ela amado.
No mundo que nós habitamos
Seis ainda estão no contemplar dos anos.
Uma, a minha ilustre mãe Vitória.
A outra, a minha amada avó materna,
Comigo uma que é minha esposa eterna
Que me deu três filhas; uma glória!
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1165. DOMINGO É ASSIM...
Hoje é domingo
Dia sem sorte
Alguém morreu
Alguém se foi
Hoje é domingo
Mataram o boi
Viva o domingo
Meu domingo é assim...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1166. MEUS ÓCULOS
Uso óculos
Para ver o mundo melhor
Uso óculos
Para ver o mundo de perto
Uso óculos
Para ver o homem sonhar
Uso óculos
Para ver a mulher sorrir
Uso óculos
Para pagar as contas
Uso óculos
Para apenas amar
Uso óculos
Para poder cantar
Uso óculos
Para poder perder
Uso óculos
Para gostar de ler
Uso óculos
Para tudo digitar
Uso óculos para olhar o mundo
Para olhar a mulher e para olhar as filhas
Para compreender e para saber
Para ver e para ter
Para ser uso óculos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1167. AMBIÇÃO
A ambição que reina
Na pele da mulher gorda
É de tamanho imenso
Passa por cima de tudo
Faz de vítima do poder
Angustia todos por perto.
A ambição da mulher gorda
Era menos no dia de ontem
São vários os motivos dela
Quer a família empregada
Sonha com outros cargos
Mas de tudo ficam os encargos
Que a mulher gorda tem.
A ambição é coisa viciosa
Em sentido péssimo dela
Quando o mundo respira
Ela cava outras sepulturas
Para enterrar os mortos
Mortos de ambição
Ambição que tanto nos assombra.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1168. CARGO
Um requerimento
Um atendimento
Um sofrimento
Um lamento
Um constrangimento
Um momento
Um pensamento
Um discernimento
Um desentendimento
Um atendimento
Um entendimento
Um movimento
Tudo por um cargo
Tudo por uma função
Tudo por um estrago
Tudo por uma condição
Um ser social
Um ser sem nada perder
Um ser normal
Um ser para ter.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 20 de novembro de 2005
1169. EU E LUIZ
Dedicado para Luiz Gonzaga (O Rei do Baião)
Quando menino, meu pai
Com sua velha vitrola
Ouvia o Rei do Baião
De fevereiro a fevereiro
Mais forte se ouvia no São João
Seu Luiz Gonzaga
Chamava-me à atenção
Comecei a gostar de Luiz
Comecei a ouvir o Rei
Com suas canções sertanejas
Xote, xaxado, baião e forró
Um contador de causos
De manhã sem hora para acabar
Os LP`s de Luiz a tocar pra todos os filhos
Era para mim uma simbologia
Um símbolo musical
Que despertou no homem que sou
O valor da nossa cultura
O valor da nossa terra
Eu e Luiz até hoje.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005
1170. SÓ, SOMENTE SOZINHO
Quando eu chego em casa
Só, somente só, sozinho
Pela casa a vagar
A saber onde elas estão
Na pizza da noite
Na janta fora de casa
No carro a trafegar
Pelas esquinas do pensamento.
Quando me vejo só
Sou um sozinho no mundo
Viajando e ouvindo Luiz
Cada canção vai ficando
No peito de poeta.
Quando eu chego em casa
Encontro a solidão em casa
Sou a reflexão em casa
Gosto de ficar só em casa
Sou o dono desta casa
Fico só e feliz nesta casa.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005
1171. O BOI E O LAÇO
Meu cigarro de cana
Meu blusão de vaqueiro
Meu amor que me ama
Meu sonho de ser o primeiro
O primeiro a laçar o gado
O primeiro a receber a taça
O primeiro a ser louvado
O primeiro a ter graça
A graça de ser boiadeiro
A graça de ser uma missa
A graça de ter um boi ligeiro
A graça de pedir o que se precisa
Precisa de calma para ser valente
Precisa enxergar o olhar
Precisa ser alegre e contente
Precisa ter fé para laçar
Laçar o boi na primeira sorte
Laçar os sonhos e ser esperto
Laçar o boi e vencer a morte
Laçar os sonhos de quem chegar perto.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005
1172. OFERTÓRIO
Eu te ofereço um canto
Ofereço um canto de sereia
Destes que arrepiam os ouvidos
Deixa a gente tão contido
Num canto da sala
Um canto em ofertório
Rezado num oratório
Com santos pela parede
Santo Antônio
São Pedro
São Cosme e Damião
Padre Cícero do Juazeiro
A Missa do Vaqueiro
Entoa um canto de missa
Que o cantor canta
E no nosso canto
Vamos ouvindo
O sabiá cantar na mata.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005
1173. DANOS
Já sou maior de idade
Respondo pelos meus atos
Canto quando quero
Amo e amado sou
Mas tudo vai e volta
Não entendo os danos causados
Na inflação do tempo
No dinheiro que sai do bolso
Só desenganos
Meus danos
Os enganos só de planos
Os morais da caixa
Da caixa dos pobres
Que ficam ricos do dia pra noite
Para o aluguel pagar
Uma conta abrir
Como se não tem
Dinheiro para pagar?
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 21 de novembro de 2005
1174. CHORINHO MATINAL
De manhã bem cedo
Um chorinho de Altamiro
É flauta que não se acaba
Rio de Janeiro me paga
Todo o meu retiro
Meu Botafogo, nada é segredo.
Um chorinho de Carrilho
Enche a alma sensível
Condiciona a cabeça pensante
É música ao mundo errante
Entra nos ouvidos, é permissível
A música suave de um andarilho.
De manhã ouço um chorinho
Altamiro Carrilho e sua flauta
E logo quero cantar e chorar
Porque o me quer pegar
Com certa música eletrônica alta
Mas o choro de Altamiro é só carinho.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 22 de novembro de 2005
1175. É ESPERA, É TRISTE
Fico com a moça a esperar
Os representantes do mal
Que breve irão chegar
Trazendo os argumentos
Mexendo com os sentimentos.
É triste esta espera
Por demais triste é o sonho
Que tenho de provocar
Com a verdade dita frente a frente.
O mal não apareceu
Saí sem nada resolver
Fui na Avenida
Em busca de outro mal
Consegui o número do mal.
A moça vai defender
A advogada quer defender
Eu estou confuso
Todo o meu famigerado uso
Dano moral vai para o mal.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 22 de novembro de 2005
1176. PERDER UM POEMA
Dedicado para as desatenções
Perder um poema é coisa de louco
Que perde as estribeiras
Que perde os sonhos
Perder o poema que não foi salvo
Perder o poema não feito
Perder o poema riscado
Perder o poema de um jeito
Perder o poema todo acabado.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 22 de novembro de 2005
1177. QUANDO O SER INVADE
O ser triste, só
Solitário em casa
Espera alguém
Quer sair, não consegue.
O ser solitário
Cansado, esfarrapado
Sonha com a volta
Nada pede, nada consegue.
Quando o último sofre
De ilusão nos invade
O ser fica triste
A gente nada consegue.
A busca se engrandece
O ser é apenas um
Solitário no meio do nada
Invadido nada se consegue.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 22 de novembro de 2005
1178. SOM DE VIOLA
No som matinal de nossas vidas
As violas ao longe tocam
Soam um canto de quem se entristece
É a viola...
É a viola que invade o ser
Pela manhã tão vazia
Carente de afeto, só distância
É este semblante que implode
É a viola...
É a viola que se alegra
E canta um canto matinal
Deliro com suas cordas
Sua orquestra magistral
É a viola...
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005
1179. QUARTA-FEIRA
Quarta-feira é dia de trabalho
Só o trabalho é feira
Mas que tanta besteira
Por que sempre me atrapalho?
Quarta-feira é meio de semana
Só o trabalho nos cabe
Deus é quem de tudo sabe
Ah! Que vontades de ficar na cama!
Quarta-feira é música nos ouvidos
Destas que enchem o coração
No fundo da alma tem-se a invocação
Deixem-me com os dias mal-resolvidos.
Quarta-feira roga por quinta-feira
Ampara os sonhos de um poeta
As discórdias resultam numa festa
Com amor não se brinca?
Quarta-feira fim do poema
Quarta-feira é pensamento sã
Quarta-feira é gosto de maçã
Quarta-feira ainda é um dilema.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005
1180. A POLÍTICA FAZ SUCESSO
A Política faz sucesso nas ondas da corrupção
Os partidos são conhecidos os lavadores de moeda
Os políticos são conhecidos senhores incapacitados
Senhores desqualificados é a política dessa Pátria
Despatriada pelos incompetentes e pelos falsos contingentes
De roubalheira e dinheiro público é a política brasileira
Trazendo na veia da politicagem pura e aberta sacanagem
Que incomoda o ser de bem quando se conta pelo que se tem
O país do pobre ninguém é a política estampada
Na cara dos sem-vergonha
Os donos da barganha
A troca pela vida medonha
É a política que dá nojo
De olhar a palavra imunda
A imundície sai de cada bunda
É a política de uma vagabunda
Que invade o plenário da política
E é por estas e outras que
A política faz sucesso.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005
1181. OS OLHOS DA FERA
Somos os olhos
Da fera solta
Na boca da espera
Somos os olhos
Cabisbaixos
Nos cabelos da moça
Somos os olhos
Da fera solta
No umbigo do leão
Somos os olhos
De um leão bravo
Nas garras de um macaco
Somos os olhos
Do urso nordestino
O pedinte carnavalesco
Somos os olhos
Da fera solta
Da boca da espera.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005
1182. O PODER
O poder não é arrogante
É exigente
Competente
Pendente
O poder não é extravagante
É decente
Inteligente
Decente
O poder não é pedante
É competente
Experiente
Excelente
O poder não é falante
É independente
Corrente
Espetacularmente
O poder não é errante
É uma corrente
Que faz o experiente
Sendo ele inteligente
Porque o poder é competente.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005
1183. O ARENGUEIRO
O arengueiro
De tão bronqueiro que era
Passou a ser fofoqueiro
E vivendo fofocando o arengueiro
No seu país foi um estrangeiro
Como sofreu o brasileiro
Até fama de peladeiro
O bicho pegou
O arengueiro
Sorria um riso falseiro
Que maldade, companheiro
Por que arengas tanto
Meu amigo arengueiro?
Sei que o tempo é passageiro
E se toque arengueiro
Queiras tomar cuidado
Não arengues bronqueiro
Deixe o mundo inteiro
Tirar-te a fama de arengueiro
Porque vives a discutir
Por tudo e por todos
Tomes cuidado arengueiro.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005
1184. DORME COMIGO QUE AMANHÃ SERÁS MÃE
Dedicado para Norma Sueli (Minha Esposa)
Uma frase popular
Presa há muito
No baú do esquecimento
Quem ousa desafiar
O poder da palavra
Na rima do sofrimento
Dorme comigo que
Amanhã serás mãe
É a força no lançamento
Dorme comigo que
Amanhã serás mãe
A mulher tem o dom divino
De dar a luz
Parir para o mundo
Se é menina ou menino
Morador de mar e ilha
A mulher do giramundo
Em oito anos de amor profundo
Dorme comigo que
Amanhã serás mãe
Mãe de três filhas.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005
1185. AS PROSTITUTAS SE DROGAM
As prostitutas
Se drogam
Com a droga
Do sexo barato
Não tem efeito
Só resta um jeito
Tirar as prostitutas
Dos palanques
Não votar nas prostitutas
Tirar as prostitutas
Do poder central
As prostitutas agradecem
Por essa droga de poema
Prostituído pela prostituição
Da venda do sexo
Do troco do cigarro
Da droga ingerida
Nada mais é errante do que sentir
As prostitutas se prostituindo
Nas praças do poder.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 23 de novembro de 2005
1186. DOCUMENTOS
A entrega de documentos
Documenta-se
Documentando os entregamentos
O documento entregue
Aos danos servem
Os danos morais
São os anormais
Os neurônios servem
Os pensares fervem
O documento é lícito
O envelope é lacrado
O advogado quer 20%
Lacrando o dinheiro
Ele é um verdadeiro
Gosta de ganhar causa
A culpa é da casa
Documentos são arquivados
Documentos são perigosos
Documentos são invalidados
Documentos são bondosos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 24 de novembro de 2005
1187. SECRETARIA
Dedicado Aos que fazem a SEDEC/PMJP
O poema tem vantagem em dizer
Em falar de tudo que quiser
É da SEDEC que estou falando
Escutem e fiquem de pé
A SEDEC age com emoção
A SEDEC age com a razão
O dia a dia da escola
Os diretores trazem a reclamação
As direções estão no poder
Acham que são o poder
Alguns se consideram donos
Vivem uns sentados em eternos tronos
Tem muita mulher no poder
Tem muito homem no poder
A SEDEC busca uma melhor educação
Este governo tudo pela valorização.
Homens e mulheres no poder
No Governo Municipal Ricardo dá as ordens
A casa vai indo normal, cada um faz seu papel
É secretário nomeado, é secretária nomeada
Todos querem trabalho, dão trabalho aos secretários
Tem vício antigo de funcionário
Falo do povo e não me atrapalho
Que a SEDEC tenha sucesso
Junto às escolas municipais
Tudo que vivemos é um processo
A SEDEC aprende e ensina demais.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 2005
1188. AOS QUE VEM DA ANTÍTESE
Dedicado para Kennedy Costa e Alberto Black (Meus Amigos)
De tempos de outrora há muitos
Tempos por trás dos muros de aço
Quebrar as barreiras do silêncio
Romper das cabeças o laço
Brincar com a palavra de tantos
E permitir a eles o compasso.
De tempos de outrora há muitos
Tempos por trás de cada semblante
Assumir os encalços e flexibilizar
Andar pelos caminhos do caminhante
Correr e parar nas sombras
Acontecer para os acertos dos errantes.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 2005
1189. FINALMENTE O FINAL
Eis que surge o final
Finalmente cheguei ao fim
Tudo feito intimamente por mim
Uma realização bem pessoal
Que enche o ser de vontades
E até no momento, finalmente
Canta o poeta suas verdades
Enquanto o Mensalão é tão presente
Que sendo presente é coisa de final
Tão final ao ponto de ser exclusivo
E aí comer as letras é preciso
A dor de cabeça é tida como normal
Que de normal já aceito o mote
E no repente do finalmente
Faço o final e dou um trote
Esse poema só pode ser lido por muita gente.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 18 de dezembro de 2005
1190. WASHINGTON, CAPITAL BÉLICA
Fui aos Estados Unidos
Fui parar em Washington
Fui comprar armas
Fui tomar um País
Fui ser empossado
Fui mandar no povo
Fui armar os soldados
Fui guerrear no Golfo
Fui tomar a base do Pacífico
Fui invadir o Índico
Fui tomar a floresta do Atlântico
Fui mostrar Jesus
Ao povo de Maomé
Fui vender cigarro
Ao dono da Souza cruz
Fui orar um terço
Na terra de Saddam
Fui negar as contas
Aos judeus de Jerusalém
Fui editar as controvérsias
Do livro do alcorão
Fui jogar futebol
Nas terras de Salomão
Fui chamado de santo
No país dos evangélicos
Fui bombardeado de sangue
Em Washington dos povos bélicos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 17 de dezembro de 2005
1191. ESTADO
Estado de calamidade
Estado de nervos
Estado doente
Estado indiferente
São tantos os estados
Da geografia
Da psicologia
Da literatura
Os estados da alma
Os estados de ânimo
Tenho estado tão sozinho
Que o meu Estado
Me obrigou a abrir uma conta
Aí meu estado emputeceu
As pessoas têm estado
Sem forças para um novo estado
Este estado que nós vivemos
Este Estado que nós sobrevivemos
Pouco a pouco morremos
Os estados estão sem dinheiro
O estado maior é caloteiro.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 17 de dezembro de 2005
1192. AMANHÃ
Amanhã é domingo
Domingo resultante
Cada poema é um calmante
Amanhã se completa
A lista que escrevo
Cada poema é um acervo
Amanhã vem a conquista
Um acerto na reta final
Cada poema é bem pessoal
Amanhã é domingo
A inspiração já de maior idade
Cada poema vem só matar saudade.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 17 de dezembro de 2005
1193. AO FIM...
Ao fim...
Assim o caderno se enche
O poema se fecha
As páginas se preenchem
Ao fim de um objetivo.
Ao fim...
Alguns já conhecem
Os poemas só agradecem
As mãos tecendo letras
Cada poema é despretensioso
Ao fim... Tudo é subjetivo.
Bento Júnior
João Pessoa-Pb, 17 de dezembro de 2005
1194. NOSTALGIA
No balanço da rede
A menina sacode
A lua aparece
A menina dorme
Penso na lua cheia
Vejo São Jorge dentro dela
Pego o pensamento e vou à lua
E trago a lua à casa
Na casa há um lobisomem
Que se transforma em poeta
E quando a poesia cansa
É o bicho que curte a lua.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 16 de dezembro de 2005
1195. DÉCIMO
Em junho o décimo andar
Subimos todos juntos
A vibrar um canto capital
De tão prazeroso a orquestra
Alimentava toda uma história
E o décimo andar
Em dezembro descemos todos
E nada se ganhou, perdemos
A justificativa da moça
Foi que já tínhamos subido demais
E o décimo andar já fora cumprido.
E como fica
De junho a novembro?
Quando nosso pão se ganharia
Se eles nos deram um ganho?
Precisamos subir novamente
Este décimo andar
Por efetuarmos as contas
Que buscamos no térreo.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 16 de dezembro de 2005
1196. A LUA E O LICEU
A Lua de cima olhava
O Liceu cá embaixo ficava
A ver o clarão que ela fazia
O Liceu já foi palco
De grandes mestres da Paraíba
E a Lua ali presente sempre permitia
O brilho das noites
A inspiração dos meninos e das meninas
O relógio dava oito horas
Ou marcava quem sabe
As horas de um tempo
Onde a Lua passa e não repassa
As cores do pintado Liceu
Palco de autoridades passadas
Palco de autoridades do hoje
E a Lua, caro poeta
Sabes alguma coisa?
Oh! Lua
O Liceu é símbolo
Em nome da educação do nosso Estado
E mesmo neste estado
Tu brilhas sem nada cobrar
E o Liceu agradece.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 16 de dezembro de 2005
1197. INICIALMENTE
Os olhares se cruzaram
Os rostos se enroscaram
A palidez do gostar
O rubro do olharA gentileza do falar
O acaso do cantar
Tudo em si se encantaram.
Os lábios tão distantes
A respiração tão ofegante
A suavidade da pele dos olhos errante.
Jamais a face teve liberdade
Jamais as mãos foram tão contrariedades
Encontros de alma nas vistas da sociedade.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de dezembro de 2005
1198. A VOLTA
Ele voltou, trouxe consigo a esperança
De quem tem firmeza e competência,
E na bagagem de vossa excelência
Ainda resta em nós a confiança
De quem o tem por autoridade
Na reta final de um sistema
Onde o principal e exato tema
É a busca coercitiva da notoriedade
Assim o mestre pega na sua caneta
Assina o atestado ao som de uma corneta
E conclama a todos os povos
Que o tenha por gente, e sendo gente
A volta não é nada mais do que decente
Quando ele está de novo aos novos.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de dezembro de 2005
1199. O MUNDO INTEIRO QUER SABER
O mundo inteiro quer saber
Por onde anda aquela mulher
De cabelos negros ao vento
Um rebolado de quem nada quer
O mundo inteiro quer saber
Por onde ela deixou seus amores
Por onde camuflou suas mortes
E por que tão distante sofreu seus dissabores
O mundo inteiro quer saber
Quem matou a mulher amada
Quem comeu a comida da vida
E por último a chamou de condenada
O mundo inteiro quer saber
Se uma nasceu dos outros
Se ela é fruto da vida
Ou se na vida a comida dos loucos
O mundo inteiro quer saber
Se a mulher voltou ou não
Se a mulher já tem um dono
Ou se esta mulher faz reconciliação.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 15 de dezembro de 2005
1200. A LUA É A MINHA CANÇÃO
A Lua que me faz bem
A Lua que me dá proteção
A Lua que sempre vem
A Lua do meu coração.
A Lua da minha estrada
A Lua da minha ilusão
A Lua da Namorada
A Lua é minha canção.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 08 de março de 1992
1201. SERPENTE
Na espera de notícias
de mãos à espera
e receios temerosos,
infiltrei em teu lar
sobrevivendo como fera,
Dei de cara contigo
que vinha de lá.
Me larguei em teu lar
e me sufoquei na tua mente,
era você uma serpente
que não fazia mal e amei.
Estou pensando em ti
que joga amor
em toda uma vida.
Quero voar, não sei
quero sair, parei...
Encontrei em tua face
dessa vida marcada
alguma coisa parada,
que no meio do realce
serpentemente ficou sensata.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de outubro de 1984
1202. TORCEDOR DO FOGÃO
Viva
Viva
Viva
O torcedor do fogão
É Botafogo na cabeça
É fogo, é fogo, é fogo
É Botafogo ganhando
É Botafogo perdendo
É Botafogo empatando
É fogo na cabeça
Viva
Viva
Viva
O fogão carioca
O nosso glorioso
A estrela solitária
Viva o futebol brasileiro
Via o Batafogo de Futebol e Regatas
Viva
Viva
Viva.
Bento Júnior
João Pessoa-PB, 04 de outubro de 1984