No engarrafamento...

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Na estrada...

Há uma hora, estamos num engarrafamento

Que se prolongará por mais uma hora.

O outro lado da pista está livre...

O lado em que me encontro, atravancado.

Desligo o carro.

Como uma pêra sem lavar mesmo,

Apenas a esfrego na perna da calça jeans,

Pra limpar superficialmente.

Perniciosa espera,

Deliciosa pêra!

No carro de trás, um casal e um cachorrinho.

A mulher, entediada,

Apóia os pés nus no vidro dianteiro do carro.

Bizarros, esses pés de cinco dedos cada um,

Normalíssimos, morenos,

Dos quais o sangue é afugentado

Pela pressão contra o vidro.

Tornam-se as suas extremidades pálidas...

Depois de algum tempo de espera,

Sai do carro o casal.

Quem eu pensava ser uma mulher

Não é uma mulher,

É um adolescente, de cabelo grande!...

O motorista do caminhão ao lado

Saca do lado de dentro da porta do caminhão

Um copo de água mineral, e desaltera sua sede.

Pesco pensamentos verdes na serra que me ladeia.

Plantinhas espertas postam-se como

Senhoras curiosas nas janelas das favelas...

O sol já declina.

Em viagem, provisão é necessária,

Estou sem água, a viagem seria curta.

O caminhoneiro volta a beber sua querida água!

Nem estou com tanta sede assim,

Mas o seu gesto incentiva minha vontade...

Mereço!

Jovens atletas candidatam-se a benesses.

Os porquês não se acabam...

— “Se você deixar um pouco a internet,

Quem sabe, visita a Ivonete?”

De longe, espirituosa, brinca comigo a Ivone,

Um dia antes, ao telefone...

Mensagens dentro de garrafas singram os mares do mundo...

Nas ondas da internet, soltam-se palavras...

Era um caminhão de gás, tombado.

Desimpedida a estrada,

Prossegue a viagem...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 01/12/2007
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