Contraste
Atrevo-me a te olhar e dizer; é pela tua sombra, tão nítida em minha memória, trazendo a imagem de um rosto desaparecido, dando a real impressão de que, de longe, o amor já foi possível.
Desejo; alimento para uma obsessão que a loucura permite sentir.
Eu o desejo.
O desejo tanto quanto a morte de suas lembranças.
O desejo tanto quanto desejo o mais sombrio dos dias, que me faz enxergar um possível ficar para sempre com meus fantasmas.
Olhos que te olham de longe, distante.
Minha alma te gritando baixinho enquanto nego tua ilusão ao dizer que seremos sempre nós, mas que não passam de palavras mortas.
Um mentir para si mesmo.
Um contraste, como o tom de nossas peles tão presente em teus versos.
Seus olhos fixos, um convite para um futuro incerto, ainda pior do que o próprio presente.
E se amanhã for tarde demais?
E se o tempo ousar a passar?
E se a finitude da vida me levar a perceber que o “se” foi o vilão, que o “se” foi meu algoz?