Pingo de chuva
Eu sinto o cheiro no ar.
É sinal de que a chuva chega devagar. Ela vem avisando, ainda não sei o porquê. Só sei que as senhoras começam a correr para panhar as roupas do varal. As galinhas se escondem no poleiro. E nós vamos direto para o banho. Só sei que é um ritual. A luz acaba. É profético. Será que a chuva avisa para dar tempo de tudo isso acontecer? Nessa época eu aprendi sobre os sinais. Aprendi também que realmente sopa combina com o tempo chuvoso. Depois de tudo isso eu ia para a janela olhar os pingos tocarem o chão. Era tão poético, num tempo em que eu ainda não sabia da poesia. O relâmpago clareava tudo e eu via aquilo acontecer: o pingo levanta um pouco de terra molhada formando um pequeno buraco. A água barrenta subia nas laterais. Depois, antes mesmo da luz do raio ir embora, tudo se acomodava. E fica tudo no lugar novamente. Depois vinha outro raio, e outro pingo e eu podia ver que aquela profecia acontecia de verdade. Como os sinais...