Medos

Olho meus olhos num espelho qualquer

Vejo um rosto cansado, envelhecido

Um olhar perdido em algum momento

Nem eu sei, confesso que esqueci

São apenas coisas remotas que vagam em meus pensamentos,

...vejo um cansaço demasiado, vejo uma imagem apagada, quisera fosse pelo tempo, seria normal, aceitável, já que o tempo passa pra todos, independentes de classes.

Antes fosse...vejo nas linhas das minhas expressões, preocupações estagnadas como doenças crônicas, indefiníveis, que persistem,

... uma camada densa que nubla até mesmo um dia de sol, sinto uma angústia nessa imagem diante de mim,

Sinto a ausência de tantas coisas, que já eram poucas, e agora parecem fugir de mim.

Um medo mórbido que sibila meus pensamentos, desenfreados, desajustados, levando pra longe o pouco de firmeza que ainda permanece.

Sinto que não sou a única nessa catástrofe que se amotina em tantas vidas, por aí perdidas

As rugas triplicam num semblante vencido por atos de bravura que debilmente repetimos, a cada luta por sobrevivência

Tem sido assim, dias pesados, sonhos guardados no armário, os sonhos temem esse ir e vir descompensado, num tempo que até dormir e viver tornou-se luxo, o pesar é inevitavel

... e os sonhos se escondem, ali, num canto, guardados, e eu já nem conto mais os dias, penso em tantas incertezas, sinto uma tristeza por saber que tudo, exatamente tudo está se deteriorando, os atos, os sentimentos, planos.

Vejo o caminhar dos meus passos numa corda bamba, à procura de um lugar seguro, longe de tantas desgraças, não vejo futuro, estamos em um deserto mendigando uma solução, andando em círculos, fechando os olhos pra esquecer nossa própria destruição.

Vejo meu rosto envelhecido por tudo que tem me consumido...

Hoje eu sei que os dias estão mais curtos, o tempo corre acelerado, e nós, os sobreviventes, ficamos inventando novos horizontes, arrastando nossas correntes, nas ruas dos tantos medos, do desalento de não saber se vamos conseguir nos olhar no espelho de cabeça erguida sem desistir.