FÁBULA DE MENINO DA ROÇA 3º CAPÍTULO

Após meus primeiros dias de aulas com aquele anjo que me encantara com sua maneira de ministrar seus ensinamentos. Chegou a vez das lições de vida, ministradas verbalmente por avô Guilhermino. Um autodidata em conhecimentos gerais, pós graduado pela faculdade universal da vida. Ele, que jamais estudou, senão como um eterno aprendiz a vida inteira, conforme sempre afirmou. E mesmo assim se tornou numa verdadeira enciclopédia humana, um líder nato enviado por Deus para servir ao próximo, durante seus 94 anos bem vividos.

Ele que naquela ocasião havia se mudado para Bom Despacho, cedendo sua residência aos meus pais para nossa moradia. Recebeu-nos com uma alegria contagiante. Assim que chegamos de mudança, ele levou-me a bica d’água que despencava para o monjolo e apanhando no seu imenso pomar, uma mexerica e ensinou-me à descascá-la mergulhada n’água para eliminar o cheiro forte exalado pela casca. Uma atitude carinhosa de avô. Encantou-me pela delicadeza de seu carinho e a magia que senti no sabor daquela deliciosa fruta, a qual eu não tinha o hábito de consumir, uma vez que não tínhamos arvores frutíferas em nossa moradia até então. Aquele gesto ficou eternizado em minha lembrança, como minha primeira lição de vida.

Dentre as lições que tive com ele, até aos seus últimos dias de vida. A mais emocionante foi em nosso primeiro passeio juntos. Uma lição ecológica talvez a mais importante. Um verdadeiro filme arquivado em meu memorial de lembranças.

Levando-me a uma parte de sua fazenda denominada Sesmaria. Saímos, ele calçando um par de polainas pretas de cano longo, usando um capacete de palha transada, num estilo daqueles antigos usados pelos policiais. A minha primeira surpresa foi o encontro com uma multidão de sapinhos pela estrada afora subindo ao nosso encontro, na direção do cerrado. Milhares de pequenos anfíbios que eu jamais vira. Impossível não pisar em alguns deles. Fiquei encantado com aquela multidão de filhotes. Perguntei de onde vinham tantos bichinhos tão pequenos. Então ele explicou-me que se tratava de uma imigração. E acrescentou quando ocorre esse fenômeno, é um sinal da natureza com seus caprichos, avisando que teremos uma sequencia de chuvas em abundancia. E os brejais vão se empanturrar com as cheias. Daí motivando essa multidão de pequenos sapos subindo para as partes mais altas para desenvolver em seu crescimento e se tornarem adultos, quando chegar a época de seca eles voltam para procriarem nos brejais. Depois seu filhotinhos vão repetir sua imigração assim que perceberem que as novas cheias se aproximam. Tudo isso é obra de Deus são fenômenos concedidos à natureza traves do desejo dele que é nosso criador.

E que é fenômeno? Perguntei.

- Fenômeno pode ser um acontecimento extraordinário inesperado pelos homens ou até mesmo um capricho da natureza!

- O que é a natureza-, voltei a perguntar?

- A natureza é um sistema criado por Deus, na medida em que você for se tornando adulto vai entender melhor seu funcionamento-, ela é automática, é o braço direito de Deus. Vou te dar exemplo: uma semente que cai na terra vem a chuva molha a terra ai o calor sol faz ela germinar e nascer ela cresce transforma num arbusto, desabrocha uma flor e produz a fruta contendo uma ou mais sementes. Semente essa que vai dar sequencia a sua espécie isso é um fenômeno natural que encontramos na natureza. Tudo isso são caprichos da natureza fenômenos que ela produz automaticamente, cumprindo assim o desejo de Deus.

Explicou-me também a respeito do ciclo de vida daqueles pequenos imigrantes sua importância no equilíbrio ambiental. E afirmou:

- na escola das letras você aprende a gramática, ler e escrever e fazer contas cálculos e tudo mais necessário para seu bem viver. Na escola da vida sua professora será a natureza, ela é a mão de Deus que nos guia e nos abençoa nos acolhendo. E punindo também, se você não zelar dela a destruindo, sofrerá as consequências acarretadas pelo clima. Ela comanda e equilibra as estações climáticas durante o ano.

Caminhávamos devagar deixando pra traz, aquela estrada branca arenosa cortada por rodas dos carros de boi. Na medida em que avançávamos meus olhos deslumbravam-se com as maravilhas daquele cenário de arvores frondosas e seculares, abrigando uma diversidade de pequenos animais e insetos silvestres. Onde uma orquestra de pássaros de todas espécies em formatos e cores, executavam seus acordes numa sinfonia encantadora. Apesar de minha pouca idade eu tive a impressão que ali estava a alma e o coração do meio ambiente e que a vida era realmente um sonho.

Mais ao fundo nos brejais alagados a cor de ouro dos imensos arrozais em cachos era de encher os olhos, no contraste com aquele lago azul denominado olho d’água, que desaguava no rio picão e que pelo meu ingênuo imaginário de matuto e bichinho do mato, se tornou num pequeno oceano. Habitado por uma diversidade de cardumes de peixes coloridos e povoado por diversas aves aquáticas que o sobrevoavam tirando do seu leito seus petiscos para sua sobrevivência, como manda a lei natural da vida selvagem. “Assim explicou meu avô”

Suas margens compostas pelos arvoredos ciliares que abrigavam os saguis e macacos saltitando sobre cipós floridos, em contraste com os filetes de raios do sol que atravessavam os arbustos refletiam como as cores de um arco Iris no espelho cristalino daquele lago o tornando magicamente encantado.

Diante daquele meu olhar xucro de pequeno mateiro silvestre a paisagem parecia um sonho, jamais eu tivera coisa tão bela à frente dos olhos .Ao fundo um tapete verde na área agropastoril que se estendia abraçando a orla dos brejais, debaixo de um céu infinitamente azul que me encantou ao visualizar a brancura de um bando de garças que sobrevoavam continuamente espionando o pântano, enquanto uma deliciosa fragrância que brisa roubava das flores tornava doce o ar que respirávamos.

Eis que de repente um gaviãozinho azul que flutuava borboleteando no ar numa altura bastante significativa, deu um mergulho rasante, pareceu-me que ia estourar o peito no chão, mas arremeteu na mesma velocidade, levando uma presa nos pés indo pousar em seu ninho no alto de um coqueiro. Fiquei admirado com aquela sena. Então meu avô explicou-me:-veja ai prova do que acabei de te dizer sobre a lei da selva ai está uma está o pássaro alimentando seu filhotes com um rato ou outra espécie qualquer. Assim funciona a lei da natureza, aquela ave além de alimentar os filhos também ajuda manter o equilíbrio ambiental.

 

 

 

OBS: (IMAGEM GOOGLE)

 

 

 

 

 

 

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 21/05/2022
Código do texto: T7520988
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.