Nada ocorreu no quarto branco.
*NADA OCORREU NO QUARTO BRANCO*
Pus-me a tatear o clarão pálido do quarto minúsculo. Meu quarto, pouco arejado e tão bem iluminado, não tinha muita coisa, a não ser minha podridão. Resíduos de pensamentos e nada mais. Não houve corvo para me atentar e dizer que nunca mais. Nunca mais ouvi outro barulho senão o da minha consciência calejada. Ainda não possuía nem via nada entre as quatro paredes. Pensei de novo, em mais construções de reflexões inúteis, e nada me veio. Nada me veio além desse texto. Os textos que fiz foram jogados no celular e pronto, ficaram ali. Mesmo sem ter companhia, me sentia bem acompanhado pela falta daquela rede social ingrata, vulgo Instagram. Li algumas prosas de Fernando Pessoa em seu semi-heterônimo Bernardo Soares, e daí veio a inspiração que precisava para escrever. Uma inspiração tardia que também não me acompanhava. Era o que eu sentia: todo esse nada. Refleti várias vezes se era tão pequeno poeta e se realmente de mim sobrava alguma poesia. Via os grandes de número na plataforma e enxergava também o nada. Era uma inveja e malícia que nenhum humano cogitaria negar ter sentido alguma vez, exceto pelos grandes, que parecem ocupados para sentir qualquer coisa além de si mesmos. Senti minha coluna doer enquanto tentava formar conclusões e ainda nada me ocorria. Pensei em sensações de sonhos que Fernando Pessoa usaria, mas fui impedido pelo sentimento de cópia. Seria eu tão fraudulento assim, ou seria outra coisa de minha mente vazia? Não cheguei a qualquer conclusão. Fiz o de sempre: dormi com a certeza de não ver nada amanhã também. E fui assim, seguindo em vontades de escrever sonhos, que sempre julguei não serem meus.