FÁBULA DE MENINO DA ROÇA 2º CAPÍTULO

Não foi nada fácil deixar para trás, aquela enigmática magia, justo no momento que eu começava entender os milagres processados pela natureza. Sendo ela a mão de Deus, em ação agindo como o braço direito do nosso mestre e criador universal. Cuidando e agindo solidaria, tolerante com os homens que a feriam com suas ferramentas primitivas para tirar dela o pão de cada dia. Uma destruição necessária e sustentável causando pequenos arranhões ao seu meio ambiente. Uma parceria saudável e boa de ver, ao contrario do que hoje acontece com esta ganância mercantil, destruidora e desenfreada, que a natureza responde com as grandes e trágicas catástrofes. No passado ela se recompunha sem nenhuma revanche. Recriando tudo aquilo que foi destruído em harmonia com o bem estar dos homens. Atualmente em questão de minutos o homem com seu potencial mecanizado, destrói o que a natureza levou milhares de anos para criar, daí vem a resposta da natureza com os trágicos deslizamentos de terra e avalanches e demais tragédias.

Na minha inocente concepção infantil não havia maldade, apenas um sonho encantado. Aquele Inconfundível cheiro do campo exalado pelas flores da flora silvetre, levado pela suavidade da brisa, assimilado ao oxigênio, no ar que respirávamos alimentando a vida, era tão doce que parecia ser a alma e o coração, daquele meu mundo criança. Algo fascinante em minha vida, que eu jamais pude esquecer.

A cobertura no teto azul do infinito, que nas noites sem luar, coalhava de estrelas, bordando aquela cósmica imensidão, com o seu brilho encantador, e que desaparecia com o sol da manhã.Quando o astro rei vinha empurrando aneblina e aquecer a terra. A principio ainda nos meus primeiros anos da terra idade esse espetáculo da natureza foi algo incompreensível que aguçava minha curiosidade, questionando-me a respeito de tão bela magia..

Então eu me perguntava-,por onde andaria a lua naquelas noites de escuridão, se ela a pouco andou tão perto da terra, logo ali atrás da mata e até nos fizera companhia. Intrigava-me o fato de ser acompanhado por ela, nas viagens na garupa do cavalo de meu pai, até à casa de meu avô. Como poderia a lua andar tão perto da gente e estar em todos lugares ao mesmo tempo. E nos acompanhando de volta para casa.

E aqueles perfumes exalados nas paralelas da estrada. Quem os colocou nas flores. E suas cores, de onde vinham, quem foi capaz de pintar tão bem, quem desenhou tudo aquilo com tanta perfeição. E o sabor da cana de açúcar com a qual se fabricava a rapadura, a diversidade das frutas produzidas na mesma terra. A coloração dos pássaros, a perfeição de suas plumagens os desenhos ostentados por eles. O brilho ofuscante nas escamas dos lambaris com seu malabarismo naquelas poças azuladas de águas cristalinas, o ranger manhoso das galhadas dos ingazeiros impulsionados pelo vento em coro com as correntes das águas nas cachoeira deslizando sobre as pedras no pequeno riacho que nos servia, saciando nossa sede e dos animais que também nos serviam. Quanto mistério intrigava-me naquela busca imaginaria. E as pedrinhas de Santana tão bem trabalhadas, que eu as empalhava querendo imitar o velho empalhador de rapaduras.

Por que eu tive de completar sete anos e ir para escola -, para que escola se ali a natureza me dava aulas e eu crescia feliz? Tudo aquilo seria deixado para traz, pois chegaram meus sete anos, uma nova fase me aguarda.

Sem a menor ideia do que me esperava lá fomos nós de mudança, eu teria de frequentar a casa de escola. Mas eu não sabia o significado de escola. Iniciava o ano de 1950, e aquele coraçãozinho selvagem que tinha impregnado na alma o cheiro do mato estava profundamente triste, por deixar aquele meu paraíso, onde vivia mergulhado numa singular simplicidade, com a dinâmica da vida movida pela natureza, com aquele meio ambiente de gente simples que usava as roupas tecidas do algodão cru, as cabaças, os potes e panelas de barro , com seus utensílios domésticos de madeira trabalhadas, as alpercatas do couro cru ou até mesmo pisando deslaço em suas trilhas espinhosas lavrando a terra de mãos calosas, produzindo o pão de cada dia.

Mas qual não foi minha surpresa ao entrar pela primeira vez naquela sala de aula, e deparar-me com aquele anjo de voz doce, mansa e convidativa, que se chamava Maria Guerra, usando um quadro que já nem era mais negro, devido aos anos de uso. Muitas vezes tendo que usar o dedo indicador envolto em um pano molhado substituindo o giz, tamanha era a carência e falta de material para desempenhar com dignidade seu trabalho. Naquela sala de paredes descoloridas pela ação do tempo, com suas carteiras envelhecidas rabiscadas com suas marcas e arranhões que se tornaram uma verdadeira uma cicatriz histórica. Aonde aquele anjo com sua dedicação e ternura alfabetizou varias gerações antes de meus pais e depois deles, outras mais, até chegar a mim. Tive o privilegio de ser aluno apenas no primeiro semestre, pois ela se aposentou foi ter seu merecido descanso das lides escolares.

 

*****Até o proximo capítulo  caro leitor!***

 

 

OBS:( imagem  google)

 

 

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 14/05/2022
Reeditado em 14/05/2022
Código do texto: T7515931
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