UMA FÁBULA DE MENINO DA ROÇA
As reminiscências da infância que eu carrego na alma estão sempre conduzindo-me de volta ao melhor tempo de minha vida. Buscando no maravilhoso passado , os nostálgicos capítulos do meu mundo criança, revivendo os momentos bucólicos e marcantes, engavetados nessa memória do decano de agora, em que me tornei .
Sem dar bolas para o tempo, o primeiro capitulo da minha historia, foi o mais fascinante vivenciado até eu completar meus sete anos. Encantava-me, à exuberância da natureza.
Aos poucos eu fui descobrindo a dinâmica da vida através do dialeto caipira que guiava os sertanejos. Aprendi que ao findar o dia no entardecer com o sol se pondo, no seu ocaso; ao invés do crepúsculo na penumbra do escurecer, quem trazia as sombras era a boca da noite, que chegava bocejando seu hábito temperado por uma brisa ora fria ,ora acalorada pelo pavor, espalhando os medos da escuridão. Aprendi também que no alvorecer da aurora, era a madrugada que anunciava o nascer do sol que clareava o dia, apagando astros e estrelas que durante a noite marcaram os horários .
Ao meu entorno tudo era mágico, na medida que eu tomava consciência das coisas que aconteciam compondo os seguimentos da vida tudo não passava de um sonho colorido . Hipnotizado com as fantasias que povoavam minha ingênua cabecinha, me sentia figurante dum fantástico filme ecológico. A paisagem desenhada com toda arte pelas mãos de Deus nosso criador, foi o mais fascinante sonho naquele paraíso encantado. Composto por um conjunto de cores, perfumes e acordes musicados pelos murmúrios da natureza, tornou- se para mim, num exuberante santuário ecológico, ímpar, em sua biodiversidade eternizado na minha lembrança . Nesse meu sonho irretornável, tudo era belo, para àqueles meus olhinhos inocentes da tenra idade. Em noite de lua cheia ouvindo o borbulhar das correntes das águas cristalinas rolando sobre as pedras do pequeno riacho que avizinhava mossa humilde casinha eu vislumbrava os encantos de São Jorge, pertinho da terra surgindo por trás da mata ciliar que margeava seu curso, montado em seu corcel, portado seu machado. Logo com toda aquela infantoingenuidade, eu criava sua imagem ceifando as madeiras da floresta. E logo após o via subindo garboso pelas alturas, com a lua derramando candura espalhando na terra o seu prateado encantador. Conspirando com o sereno vindo do além, beijando as matas, orvalhando montes, encostas e prados e avançando ate a linha do horizonte cobrindo a paisagem com seu branco lençol de neblina. Enquanto no silencio da noite lá bem distante no cerrado, camuflado num toco de pau, gritava um urutau: foi, foi ,foi, foi!
- Mas na vida tudo passa e se transforma e ficam as recordações. Tivemos que mudar deixando para trás meu paraíso mágico e colorido. Chegou a hora de frequentar a escola. Meu segundo capitulo que será postado noutra oportunidade!
IMAGEM ( GOOGLO)