FAMÍLIA HÍBRIDA
Minas é um mundo que cabe dentro do coração da gente.
Entre as montanhas onduladas no interior mineiro, num povoado pequeno, banhado por vários riachos de águas cristalinas, chamado de Pedra da Sereia, viviam várias famílias da agricultura local.
Havia lavouras de mandiocas doces, mandiocas de polvilho, batatas doces, abacateiros, mamoeiros, limoeiros, pomares e mais pomares, lavouras e mais lavouras de café.
Todos viviam em suas propriedades, uma reforma agrária natural.
Nesse povoado vivia seu Calisto, com sua família. Seu Calisto dizia de boca cheia e peito estufado que tinha nascido e crescido naquele lugar. E que tudo o que tinha conseguido era fruto do seu suor carpindo aquelas terras.
E olha que ele tinha conseguido uma linda fazendinha repleta de cafezais.
Lá se encontravam todos os incrementos agrícolas, dois automóveis novos, uma caminhonete para a lida, um trator e cada filho com sua moto, uma mais linda do que a outra.
Sua esposa, dona Rosária, também dizia que tinha nascido crescido e nunca tinha saído daquele lugar. Que passara a vida toda ajudando o marido labutando no do lar.
Seu Calisto com dona Rosária criaram cinco filhos e três filhas.
O mais velho chamava-se Geraldo, moço feito, moreno espigado, forte, trabalhador, tinha um problema de dicção, não era fácil entender o que ele falava.
Mauro era loiro, olhos verdes, gordo, baixinho, cabelos ruivos e crespos. Esse adorava futebol, corria mais que lagarto procurando a toca quando estava atrás da bola.
Carlota era cor de jambo, de estatura alta, cabelos caracolados, lábios grossos, olhos negros e um corpaço que deixava a rapaziada babando na sombra do bambual em tardes de domingo.
Justina era franzina, pernas finas, cabelo liso sem muito arranjo, olhos castanhos, cor amarelada, baixinha e todos diziam que ela não ia crescer. E não cresceu mesmo.
Benício era graúdo, cabelo bem lisinho, bem encorpado, tinha apelido de birrozo, adorava pedalar, corria feito louco e não gostava de cebola.
Fidalgo era um moço claro, olhos verdes, estatura alta, peludo feito urso, fisionomia parecida com o Cássio do Corinthians, não sabia falar baixo, tudo era no grito.
Juliete tinha corpo de modelo, cabelos lisos, longos e bem ruivos, de pele bem sardinha, olhos cor de mel, muito simpática, sorriso largo, dentes lindos, moça muito sábia.
E Rufino, o caçula, este era mulato, sadio, forte e briguento. Apresentava-se sempre de cabeça raspada, por ter um cabelo bem africano. Ele adorava domar mulas e burros. Era peão, sempre aguentava os oitos segundos nos lombos dos touros. Usava chapéu grande, cinto largo e fivela robusta, botina confeccionada com couro de boi e uma faca peixeira na cintura. Esse era sempre dor de cabeça para dona Rosária.
Numa casa grande e bonita, num lugar estratégico da propriedade, vivia essa família grande e diversificada.
Até aos dias atuais, na comunidade da Pedra da Sereia, as pessoas questionam sobre quem mais teve sorte naquela família, se foi seu Calisto ou se foi Dona Rosária.
O importante é criar toda a filharada, entre brancos, loiros, ruivos e negros, seu Calisto e dona Rosária criaram uma família bem diversificada.
É isso aí!
Acácio Nunes