Tenho sido velha.
Eu sempre fui o que se poderia chamar de uma pessoa velha. Quando criança eu amava ler, escrever, tocar piano, (naquela época época eu sabia), brincar de dar aula, conversar, ouvir histórias e cuidar de cachorro. Gostava de andar na natureza. Eu era muito silenciosa e sensível .
Quando adolescente eu passava o dia ouvindo música, escrevendo poesia e tendo conversas filosóficas. Amava a natureza.
Depois precisei reagir e aprendi a falar como se tivesse sido empurrada pra isso. Saí do meu vasto mundo interior para aprender a me comunicar.
E foi à força.
Eu sai pra festas algumas vezes? Sim.
Mas não havia nada lá pra mim. Gostava de me reunir com as amigas do ensino médio pra escutar música e conversar . Mas eu queria ir pra casa escrever na minha agenda e a colorir.
Amava meus lapis de cor e canetinhas coloridas .
Sonhava em um dia ter filhos e me casar.
Eu não conseguia entender, como ainda não consigo, o que era a palavra ficar que as pessoas da minha idade tanto falavam. Como assim? Tu vai sair pra beijar alguém na boca que tu nunca viu e que provavelmente nunca mais verá? Eu pensava por que eu perderia meu precioso tempo e energia com uma coisa dessas?
Eu sonhava passear de mão dada com alguém que fizesse meu coração sair pela boca e fôssemos pro cinema ver um filme que falasse de amor., que tivesse as canções mais lindas. E que o compromisso de alma fosse se criando, rumo aos céus, num elo para sempre.
E é só isso que eu ainda consigo ver como amor.
Eu fui a festas e conheci amigos . Mas eu ia pra dançar e confraternizar com esses amigos . Se fui a 5 festas durante os últimos 20 anos foi muito. Eu gosto de me dedicar com muito cuidado e observação para essa imensa tarefa pela qual sou profundamente apaixonada que é ver o universo dos meus filhos e poder responder a cada fala deles como eu gostaria que tivessem feito comigo. E eu gosto de estar ali pra incentivar seus sonhos e atender suas necessidades.
Eu também trabalhei com paixão desde os 19 anos, em tudo que eu fiz, a maioria na área da educação. Mas também na saúde e assistência social. Eu gosto de ver o outro. De ouvir. De estar junto e se eu tiver como, então eu quero fazer o que está nas minhas mãos pra dar um retorno. Eu me sinto plena em cumprir com o que me proponho. Em fazer acontecer.
Só que tem uma coisa que ainda não coube na minha vida. (Bem, preciso guardar uma carta na manga para a velhice. )Voltar pro piano, pro canto, pro violão.
Como tenho sido uma idosa desde criança, agora quando eu envelhecer, veremos uma menina desabrochar.