As Linhas tem Coração O que fazer com tantas linhas? Como produzir palavras sem borrá-las? A tinta no papel, nas magras linhas, Alarga, esquenta, agasalha. Pedaços de sílabas brincam E como jogo de xadrez exige atenção. Com que elegância se amarram as ideias? A prata é preta na mão de José, O ouro embaça na mão de Mané, O dinheiro encurta e o salário... Insiste em ser o que é. Assim é a seca do nordeste, A seca nas magras linhas Córporeas do cidadão. A fome seca, sede seca, a sede verde. Como escrever nas linhas A vida torta do torto sertão? Das tortas crianças da torna nação? Aí, Severino de Maria, amigo Sebastião, A dor envelheceu, mas insiste em não morrer. Aí João, Zefinha, Como ensinar o homem a ter bom coração, Como ensinar essa gente a crescer? Até a enxada entorta de tanta humilhação, Uns meninos estão na roça. Outros nas estradas estão A fechar os buracos com as pequeninas mãos. Aí, Brasil, acorda! Não maltrata teu povo não, Alimenta tuas crianças que o mar já virou sertão.