Correntes

 

Ouço um grito estridente

Mas calado, atado, demente.

É um lamento diacrônico

Que fala, reclama, recente.

 

No toque do tambor um vazio.

Tudo que se sente dar calafrios.

São correntes, feridas, cicatrizes.

O grito preso persiste.

 

Escuta-se a nação no retalhar da alma,

Buscar no coração compulsiva calma

Pés espalmados e frios

Em festa de extrema-unção.

 

No entrelaçar das raças aqui estou

A escutar o clamor que vem das entranhas,

O pedido de socorro das nações medonhas.

Tudo a conviver comigo.

 

A cada passo um desafio chama-me às raízes.

É o lamento dos meus ancestrais

A acordar-me para enfrentar a amnésia

Da contemporaneidade.