Ponteiros do Relógio
As horas correm aceleradas e a saudade
Chega limpando os trilhos.
No balanço do quintal, no vai e vem da ciranda,
Na brincadeira de roda dou pontos nela.
Em cima do sombreiro se esconde o tempo,
Ali dormem meus sentimentos desconexos,
Na expressão singular da brisa,
No cochilar dos morcegos revejo meus versos.
A saudade reboca as paredes da sala,
A flor do vaso murcha e as lá de fora
Choram orvalhos.
Sombras atrás da porta em noturnas horas
Sangram o tempo e em retrocesso se camufla.
Na lentidão perene do relógio
Um tic-tac quebra a calmaria,
Outros relógios param ...
Com a ausência do tempo no lapso da memória.
No espaço em que nos perdemos
Só o silêncio dos relógios permanecem,
O coração está num tic-tac constante
E aí mora o que restou dos ponteiros.
Existências utópicas. Asas do desejo.
Lembranças partidas pela quebra do sonho.
Refúgio cheio de labirintos que não me levam
de volta ao vão dos segundos.
Na contagem das horas, no tilintar dos copos,
No virar dos anos, fogos no céu e abraços
Que acendem em meu peito teu suave encanto
E arrebenta a saudade em estrondosos enganos.