GARRAFA AO MAR
Há décadas atirei uma garrafa ao mar.
Dentro dela depositei sonhos, esperanças e uma vontade quase desesperada de mudanças, além, claro, de uma série de perguntas para as quais acreditava jamais teria respostas.
Ia, em minha opinião, levar minhas buscas e aflições para o outro lado do mundo.
Lá estaria o meu príncipe encantado – e o mundo que há muito havia construído em meus pensamentos.
Atirei-a, e ainda a vi sendo engolida pelas ondas que se quebravam junto aos meus pés.
Minha sorte estava, literalmente, lançada ao mar.
Voltei feliz e esperançosa para casa.
Era apenas uma questão de tempo para se colher os resultados.
E foi-se a garrafa mundo afora, levando consigo os meus mais sinceros desejos de adolescente.
E veio o tempo futuro: dias sobrepondo a dias: meses sobrepondo a meses; e anos se amontoando uns sobre os outros.
Anos mais tarde ainda agradava que do outro lado do mar, lá dos confins do mundo, viriam as respostas para as minhas perguntas e o mapa que me levaria à felicidade que há tanto buscava.
Mas nunca vieram, nem poderiam vir.
Felizmente descobri que a felicidade que tanto busquei na juventude estava ali bem perto de mim; junto aos filhos que tive e às centenas de alunos com os quais convivi por tantos anos.