Estátuas frias

Sinto falta da melodia que embalava as tardes de sábado, ou de qualquer outro dia.

Quando paira o silêncio em meio ao barulho que nada inspira, que nada ensina eu ainda posso ouvir a velha canção tocar-me por dentro, revivo momentos que ficaram gravados na memória, cravados na alma.

Hoje vejo uma infinitude de coisas vazias, sem sentimentos, sem conteúdo...coisas que amanhã já não existirão, não serão lembradas, não serão nada!

Hoje ouço um emaranhado de sons vazios que são apenas barulhos, sem sentimentos, sem melodia, sem vida.

... quanto aos sentimentos, onde é que eles foram parar? Nem eu sei explicar...

O mundo virou uma fábrica de estátuas, duras, frias, vamos endurecendo, esquivando-se e por fim esquecendo.

Talvez seja isso que me remete ao passado tantas, e tantas vezes, e eu fico lá revivendo, saboreando, sentindo o toque profundo de como eram todas as coisas, antes da degradação de tudo.

Vejo hoje uma ditadura de tudo que não foi feito pra durar, a infinitude de distrações que duram nada mais que horas, dias, ou 365 dias talvez.

Vejo o apelo pelo raso, substituível e caro!

A profundidade, a durabilidade tornou-se um campo minado.

Ninguém mais se permite demorar-se um pouco mais naquilo que faz o corpo tremer, os olhos marejarem de lágrimas, os pelos arrepiarem, para o mundo de hoje, o melhor é esquecer, se acovardar, lembrar pra quê? Melhor secar!

O que sobra a uma geração de sentimentos descartáveis, substituíveis, sem raízes?

Ah...que saudade que eu sinto, dos bens duráveis, que dinheiro algum podia comprar,

Ah...quanta saudade da minha mocidade, tão cheia de coragem, tão cheia de bagagens, repletas de memórias pra recordar.

Temo esse mundo oco, não sobraram nem os ecos pra alguém recordar, só ouço balbúrdias que chamam de melodias, de bocarras cheias, e mentes totalmente vazias.