Clamores
Clamores
Escrevo em línguas que não conheço
línguas antigas, que nunca ouvi
viagens por entre os mundos,
mundos desconhecidos que não conheço
E tudo é tão familiar, tão íntimo.
Vejo diante de mim, outros tempos
encobertos pela poeira do tempo
E quase posso tocar esses mundos perdidos, quase posso tocar seus sentimentos.
Sinto uma dor sangrenta, do passado de tantas que por aqui passaram, que lutaram pela sua sobrevivência
Um cenário, uma visão ao acaso, distante do toque das mãos.
Por que tanta dor, uma dor além da minha, uma dor que corta-me os pulsos só de pensar, só de imaginar tantos silêncios, vozes caladas pelo tempo
Por que esse sentir tão antigo, tão gritante, tão profundo...se eu sou tão nova neste mundo?
De onde vem esses cantos, essas línguas que conjuram crenças, essas vozes tão fortes que batem em meu peito, entorpecem meus ouvidos, como pleito?
Esses gritos de dor, posso sentir o sal das lágrimas derramadas, o odor de carnes queimadas.
Despenco no vazio, enfeitiçada por esse cenário longiguo, posso ouvi-las me chamar, dizendo que a luta também é minha e não posso me acovardar.
Sou embalada por seus mistérios, no colo de tantas Marias, sinto um doce refrigério.
Posso tocar suas faces marcadas, o sangue, o fim de suas estradas.
O silêncio fúnebre que paira, de tantas que foram massacradas em tempos antigos.
E sinto tanta dor, a dor desse tempo ao qual eu vivo, pois mudaram-se os tempos, mudaram-se costumes, mudaram-se as vestes...e ainda tentam nos escravizar, massacrar, ditar os caminhos que devemos trilhar.
E nesse torpor, sou chamada pelo som de milhares, as vozes daquelas que nos chamam hoje a erguer-se numa fé ancestral que hoje nos chamam pra guerra, pois nem a morte pode apagar nossos feitos.
Somos libertárias
Avante Marias! Sempre de cabeças erguidas, nas infindas e sangrentas batalhas!
Heterônimo
Maria Mística