MILÉSIMA TENTATIVA DE NOMEAR , O INOMINÁVEL
Há um sentimento em mim, protestante, frequentemente dizendo:
Este espaço é ínfimo demais pra que me caiba.
E me penso uma gaiola, prendendo particularidades, sonhos e desejos gigantes.
Mas logo uma contra ideia me golpeia, eu sou passarinho atrás dessas grades, habituado e agora frágil demais para ser liberdade.
Todos os dias há em mim uma necessidade de cortar , podar, esses galhos fracos sem folhas, oriundos de uma raiz de hábitos, acontecimentos e traumas.
Eu digo, a raiz, vamos, corte a raiz!
Mas convenhamos, raiz de gente, não é raiz de árvore, e como ervas daninhas insistem em reaparecer, num papo, num ato, num dia de sol, de chuva, no domingo, numa sexta-feira.
Tem algo aqui, gritante, me querendo na superfície, mas eu nem sei o que é fundo, e nem sei o que é superfície.
Eu tô aqui, no meio, convincente e convencendo de estar no controle, mas eu também não tenho o controle.
Quem eu sou? Tudo bem, me acalmo...
Quem sabe quem se é no meio de uma pandemia?
Mas quem sabe quem se é no silêncio?
Há uma lição na criação de personagens , que diz: conhecemos nosso personagem quando o colocamos sob pressão.
Mas essa não é uma lição que se possa aplicar a vida, porque viver, é estar sob pressão o tempo todo, e mesmo em pressão se desconhecer.
Eu sigo, existindo, e amo viver, mas não gosto da ideia de resistir, que é sem dúvida uma palavra bonita, mas eu não sou um aço resistente ao fogo, e todo dia estar numa fornalha é até poético, mas maçante.