GAVETAS ENTREABERTAS (117)
EU E O BURRO
Tardezinha benfazeja
saí eu a caminhar,
encontrei belo Burro,
iniciamos fabular.
Depois de tanto parlar,
me vi a comentar:
Anda solitário pela vida,
vida apenas, pena-vida,
gente de você duvida,
nenhuma pena perdida.
Sim, Burro não tem penas,
só penúria você tem,
sei que não lhe convém,
pena sem penas, apenas.
(Silmar)
EU E O MURO
Manhãzinha nebulosa,
meu destino é navegar.
Na "pernada" tenho tempo,
mas tem algo a me esperar.
Na minha frente jaz um muro
e me apego a perguntar:
É você que me atravanca,
ou sou eu, ao me parar ?
Se ao menos tivesse porta
ou degraus para avançar !
Nada disso é possível.
É uma pena esse pesar.
Só penúrias é o que traz
tal andante nesse andar.
Mas percebe o "rastejante"
que o muro é o seu altar.
(Gilberto Ravanello)