Entardecia
(ao meu pai)
Se não serve mais pra tocar,
que refresque na lembrança
De quando eu era criança
Ao pé da velha parreira
Teu palheiro, a cadeira
E esse violão teu par
Que todo santo dia
Esculpindo melodias
Provocavas o luar
Às vezes, tu a cantar
Fazia parar o tempo
E eu, piá, sem compreender
Guardava tudo que um dia
Seria o que valeria,
Nessa vida aprender.
Que mesmo sem dizer
Tu gritavas na canção
O sentido de existir é
Numa milonga de entardecer,
Peleando contra o tempo,
Despejar do peito o coração,
Gineteando a mango, a vida
Pra ficar aqui nascendo
Como as flores, em setembro
Na lembrança mais querida