Borboletou com a Asa Dura 25

E o Universo foi correspondido. Quando a alma esteve na situação trágica limite.

Para muitos, acordar depois de vários dias, na cama de um hospital, sem os movimentos voluntários e involuntários do corpo, com um condutor de ar conectado na traqueia, em respirador artificial, babando, onde o que tinha, era somente a mente em perfeito funcionamento, sendo informada do diagnóstico de uma grave doença, poderia escolher a morte, a desistência da vida, o modo de dar cabo a ela, obtendo os recursos que a doença oferecia para o fim; não buscar mais a respiração. PARAR DE RESPIRAR!! NÃO BUSCAR MAIS O IMPULSO PARA A RESPIRAÇÃO.

Mas aquela que buscava a verdade, a significação e sentido para a vida, encontrou, no sofrimento extremo, a liberdade para a escolha, viver, ou morrer. As circunstâncias, que para muitos, apresentando no corpo doença grave, submetendo-se as mais variadas torturas e lesão à dignidade, optariam pelo suicídio, entregando-se à doença e à morte.

Nunca, como nos dias que esteve entubada, em estado onírico ou acordada, e naqueles em bipap, que decidiu tanto por viver, buscar a se realizar na arte de respirar, para que a saliva não fosse vencedora, levando-a ao engasgo, sufocamento e morte.

Respirava das mais diversas formas, para que a saliva tornasse como espumante e o ar fluísse para dentro e fora, na ocasião da demora para aspiração.

Não queria morrer!!! Descobriu o sentido para a própria vida.

Queria respirar!

Tal atitude não foi embasada em livro, no conhecimento, na sabedoria apropriada, mas foi a maior e mais pura escolha feita por si mesma. Queria viver.

A guerra que travou em seu ser em face do mundo, da fé institucionalizada a que pertencia, da condição humana imposta como pré-condição para a existência na terra, foi interrompida, não se lembrava mais. Queria tão somente, viver.

Depois de meses, no quintal de casa, amarrada em uma cadeira de rodas porque ainda não conseguia se manter com a coluna e tronco eretos, na primeira vez que viu o céu depois da doença, foi a experiência primeira de inteireza, não era somente o céu que via no alto, mas a renascida e o céu, juntos.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 27/04/2021
Reeditado em 27/04/2021
Código do texto: T7242924
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.